Vereadores de si mesmos


Estudo mostra que vários vereadores de SP se elegem não por sua ligação com regiões da cidade, mas por seus posicionamentos ideológicos – que nada têm a ver com os problemas paulistanos

Por Notas & Informações

A pedido do Estadão, o Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (LAPPCOM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fez um levantamento do perfil dos dez vereadores mais votados para a Câmara Municipal de São Paulo na eleição passada. O resultado é impressionante – e assustador. A maioria desses vereadores (60%) não tem qualquer ligação territorial com a cidade. Foram os chamados “candidatos de opinião”, ou seja, políticos eleitos, primordialmente, pelo engajamento que provocaram nas redes sociais. Segundo o estudo, a exploração de crenças religiosas, questões ligadas à legislação penal e toda sorte de pautas ideológicas e/ou identitárias parece render mais votos do que a apresentação de propostas para melhorar a educação, a saúde ou a zeladoria na cidade. O busílis é que nenhum desses temas de apelo eleitoral está no rol de competências do Poder Legislativo municipal.

Tradicionalmente, os vereadores sempre estiveram ligados a bairros ou distritos. Muitas vezes, os candidatos construíram uma vida de serviços prestados a seus concidadãos antes de chegarem à Câmara Municipal. O triunfo eleitoral, nos melhores exemplos dessa trajetória, representou o coroamento de uma vocação para o serviço público, além do exercício da solidariedade. Claro que nem sempre a relação de proximidade física com o eleitor produziu bons vereadores. Mas, na maioria das vezes, o conhecimento da realidade experimentada por quem o parlamentar supostamente deveria representar costumava facilitar as coisas.

Ao que parece, esse tipo de vereança está ficando para trás. Não cabe ingenuidade. As redes sociais vieram para ficar e brigar com os fatos não muda a realidade. É por meio delas que não poucos candidatos veiculam suas plataformas políticas e dialogam com potenciais eleitores. Foi assim na eleição passada e nada indica, segundo os especialistas ouvidos por este jornal, que será diferente na eleição deste ano. “As redes sociais facilitam essa dinâmica e permitem um melhor estabelecimento de nichos”, afirmou ao Estadão a coordenadora do LAPPCOM, Mayra Goulart. A professora destacou ainda que essa comunicação mais segmentada representa uma “vantagem competitiva” para o “candidato de opinião” em relação àqueles com base eleitoral estabelecida por território – mais propensos, portanto, a serem conhecidos apenas em âmbito local.

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O sucesso desse tipo de candidatura, mais ideológica e menos propositiva, também guarda relação com uma certa desatenção de boa parte do eleitorado com os rumos da eleição municipal. Eleições gerais, em especial para cargos do Poder Executivo, costumam mexer mais com o ânimo dos eleitores, mobilizando-os em torno de discussões minimamente aprofundadas sobre os destinos de seu Estado e do País. É um erro grave, porém, tratar a eleição municipal como uma eleição “menor”. Muito ao contrário.

Sempre cabe lembrar a célebre constatação de Franco Montoro: “Ninguém vive na União ou no Estado, as pessoas vivem no município”. Portanto, a falta de uma boa representação na Câmara Municipal, onde são tratados temas vitais para o desenvolvimento humano na cidade, leva a uma degeneração da política municipal que produz efeitos muito mais perceptíveis na vida dos cidadãos do que eventuais decisões tomadas nas esferas estadual e federal.

Se, por um lado, não dá para mudar a realidade desse nem tão novo modelo de campanha eleitoral, por outro, é possível alertar os eleitores para os prejuízos que essa distorção da vereança causa para uma cidade complexa como São Paulo. É enorme o desserviço que esses “candidatos de opinião” prestam aos munícipes como um todo. Sem laços territoriais – algo que seria muito bem resolvido com uma reforma política que instituísse o voto distrital no País –, são incapazes de estabelecer vínculos com a comunidade e dar o devido tratamento às suas aflições. No fundo, são candidatos que podem até ter muitos votos, mas não representam ninguém, exercendo seus mandatos como vereadores de si mesmos.

A pedido do Estadão, o Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (LAPPCOM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fez um levantamento do perfil dos dez vereadores mais votados para a Câmara Municipal de São Paulo na eleição passada. O resultado é impressionante – e assustador. A maioria desses vereadores (60%) não tem qualquer ligação territorial com a cidade. Foram os chamados “candidatos de opinião”, ou seja, políticos eleitos, primordialmente, pelo engajamento que provocaram nas redes sociais. Segundo o estudo, a exploração de crenças religiosas, questões ligadas à legislação penal e toda sorte de pautas ideológicas e/ou identitárias parece render mais votos do que a apresentação de propostas para melhorar a educação, a saúde ou a zeladoria na cidade. O busílis é que nenhum desses temas de apelo eleitoral está no rol de competências do Poder Legislativo municipal.

Tradicionalmente, os vereadores sempre estiveram ligados a bairros ou distritos. Muitas vezes, os candidatos construíram uma vida de serviços prestados a seus concidadãos antes de chegarem à Câmara Municipal. O triunfo eleitoral, nos melhores exemplos dessa trajetória, representou o coroamento de uma vocação para o serviço público, além do exercício da solidariedade. Claro que nem sempre a relação de proximidade física com o eleitor produziu bons vereadores. Mas, na maioria das vezes, o conhecimento da realidade experimentada por quem o parlamentar supostamente deveria representar costumava facilitar as coisas.

Ao que parece, esse tipo de vereança está ficando para trás. Não cabe ingenuidade. As redes sociais vieram para ficar e brigar com os fatos não muda a realidade. É por meio delas que não poucos candidatos veiculam suas plataformas políticas e dialogam com potenciais eleitores. Foi assim na eleição passada e nada indica, segundo os especialistas ouvidos por este jornal, que será diferente na eleição deste ano. “As redes sociais facilitam essa dinâmica e permitem um melhor estabelecimento de nichos”, afirmou ao Estadão a coordenadora do LAPPCOM, Mayra Goulart. A professora destacou ainda que essa comunicação mais segmentada representa uma “vantagem competitiva” para o “candidato de opinião” em relação àqueles com base eleitoral estabelecida por território – mais propensos, portanto, a serem conhecidos apenas em âmbito local.

O sucesso desse tipo de candidatura, mais ideológica e menos propositiva, também guarda relação com uma certa desatenção de boa parte do eleitorado com os rumos da eleição municipal. Eleições gerais, em especial para cargos do Poder Executivo, costumam mexer mais com o ânimo dos eleitores, mobilizando-os em torno de discussões minimamente aprofundadas sobre os destinos de seu Estado e do País. É um erro grave, porém, tratar a eleição municipal como uma eleição “menor”. Muito ao contrário.

Sempre cabe lembrar a célebre constatação de Franco Montoro: “Ninguém vive na União ou no Estado, as pessoas vivem no município”. Portanto, a falta de uma boa representação na Câmara Municipal, onde são tratados temas vitais para o desenvolvimento humano na cidade, leva a uma degeneração da política municipal que produz efeitos muito mais perceptíveis na vida dos cidadãos do que eventuais decisões tomadas nas esferas estadual e federal.

Se, por um lado, não dá para mudar a realidade desse nem tão novo modelo de campanha eleitoral, por outro, é possível alertar os eleitores para os prejuízos que essa distorção da vereança causa para uma cidade complexa como São Paulo. É enorme o desserviço que esses “candidatos de opinião” prestam aos munícipes como um todo. Sem laços territoriais – algo que seria muito bem resolvido com uma reforma política que instituísse o voto distrital no País –, são incapazes de estabelecer vínculos com a comunidade e dar o devido tratamento às suas aflições. No fundo, são candidatos que podem até ter muitos votos, mas não representam ninguém, exercendo seus mandatos como vereadores de si mesmos.

A pedido do Estadão, o Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (LAPPCOM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fez um levantamento do perfil dos dez vereadores mais votados para a Câmara Municipal de São Paulo na eleição passada. O resultado é impressionante – e assustador. A maioria desses vereadores (60%) não tem qualquer ligação territorial com a cidade. Foram os chamados “candidatos de opinião”, ou seja, políticos eleitos, primordialmente, pelo engajamento que provocaram nas redes sociais. Segundo o estudo, a exploração de crenças religiosas, questões ligadas à legislação penal e toda sorte de pautas ideológicas e/ou identitárias parece render mais votos do que a apresentação de propostas para melhorar a educação, a saúde ou a zeladoria na cidade. O busílis é que nenhum desses temas de apelo eleitoral está no rol de competências do Poder Legislativo municipal.

Tradicionalmente, os vereadores sempre estiveram ligados a bairros ou distritos. Muitas vezes, os candidatos construíram uma vida de serviços prestados a seus concidadãos antes de chegarem à Câmara Municipal. O triunfo eleitoral, nos melhores exemplos dessa trajetória, representou o coroamento de uma vocação para o serviço público, além do exercício da solidariedade. Claro que nem sempre a relação de proximidade física com o eleitor produziu bons vereadores. Mas, na maioria das vezes, o conhecimento da realidade experimentada por quem o parlamentar supostamente deveria representar costumava facilitar as coisas.

Ao que parece, esse tipo de vereança está ficando para trás. Não cabe ingenuidade. As redes sociais vieram para ficar e brigar com os fatos não muda a realidade. É por meio delas que não poucos candidatos veiculam suas plataformas políticas e dialogam com potenciais eleitores. Foi assim na eleição passada e nada indica, segundo os especialistas ouvidos por este jornal, que será diferente na eleição deste ano. “As redes sociais facilitam essa dinâmica e permitem um melhor estabelecimento de nichos”, afirmou ao Estadão a coordenadora do LAPPCOM, Mayra Goulart. A professora destacou ainda que essa comunicação mais segmentada representa uma “vantagem competitiva” para o “candidato de opinião” em relação àqueles com base eleitoral estabelecida por território – mais propensos, portanto, a serem conhecidos apenas em âmbito local.

O sucesso desse tipo de candidatura, mais ideológica e menos propositiva, também guarda relação com uma certa desatenção de boa parte do eleitorado com os rumos da eleição municipal. Eleições gerais, em especial para cargos do Poder Executivo, costumam mexer mais com o ânimo dos eleitores, mobilizando-os em torno de discussões minimamente aprofundadas sobre os destinos de seu Estado e do País. É um erro grave, porém, tratar a eleição municipal como uma eleição “menor”. Muito ao contrário.

Sempre cabe lembrar a célebre constatação de Franco Montoro: “Ninguém vive na União ou no Estado, as pessoas vivem no município”. Portanto, a falta de uma boa representação na Câmara Municipal, onde são tratados temas vitais para o desenvolvimento humano na cidade, leva a uma degeneração da política municipal que produz efeitos muito mais perceptíveis na vida dos cidadãos do que eventuais decisões tomadas nas esferas estadual e federal.

Se, por um lado, não dá para mudar a realidade desse nem tão novo modelo de campanha eleitoral, por outro, é possível alertar os eleitores para os prejuízos que essa distorção da vereança causa para uma cidade complexa como São Paulo. É enorme o desserviço que esses “candidatos de opinião” prestam aos munícipes como um todo. Sem laços territoriais – algo que seria muito bem resolvido com uma reforma política que instituísse o voto distrital no País –, são incapazes de estabelecer vínculos com a comunidade e dar o devido tratamento às suas aflições. No fundo, são candidatos que podem até ter muitos votos, mas não representam ninguém, exercendo seus mandatos como vereadores de si mesmos.

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