Ao irem às urnas hoje, os eleitores devem ter em conta que governar São Paulo não é um “experimento” tampouco um “laboratório” para coisa alguma. Idoneidade moral, capacidade administrativa, habilidade política, prudência e espírito público são atributos indispensáveis para uma boa gestão de qualquer cidade. Em uma megalópole como São Paulo, a falta de uma dessas competências pessoais em seu prefeito – apenas uma – já imporia custos severos aos munícipes que mais dependem do poder público para ter acesso ao básico para uma vida digna.
O alerta é necessário porque a campanha do primeiro turno foi marcada não só pela indigência dos debates, mas principalmente pela desmoralização do próprio eleitor, reduzido à condição de seguidor de rede social cuja “curtida” foi disputada literalmente a tapa por alguns candidatos absolutamente desqualificados, sobretudo o sr. Pablo Marçal.
Tal comportamento contraria muitos dos valores que este jornal defende. Para o Estadão, a política é essencialmente a persuasão pela palavra, num confronto de ideias regulado por leis e por padrões mínimos de civilidade. É dever dos que disputam cargos eletivos preservar a sanidade do espaço público, em que todos se submetem aos mesmos limites, em nome do bem comum. O exercício do poder por parte de quem não conhece esses limites carece de legitimidade.
São Paulo não admite despreparo, muito menos o exercício de uma vaidade desmedida e irresponsável. Basta sair às ruas e, para onde quer que se olhe, lá estarão os inúmeros desafios e potencialidades desta grande cidade a reclamarem a dedicação exclusiva e a competência de quem se dispõe a administrá-la. Hoje, milhões de eleitores vão às urnas para escolher prefeitos e vereadores, não influenciadores ou coaches. Escolhas políticas devem decorrer de uma detida análise da experiência dos candidatos, suas propostas e suas associações, haja vista que geram consequências por, no mínimo, quatro anos.
Aqui vivem cerca de 11,5 milhões de habitantes, uma população maior que a de alguns países. Para 2025, prevê-se um orçamento de quase R$ 120 bilhões, montante recorde na história da cidade de São Paulo. O cuidado com essas pessoas e o bom manejo dos recursos públicos exigem dos candidatos à Prefeitura um plano de governo digno do nome, vale dizer, um diagnóstico preciso dos problemas urbanos e a formulação das políticas públicas mais indicadas para resolvê-los.
Isso soa óbvio, mas é algo que o Estadão se vê compelido a relembrar neste dia crucial para o futuro da capital paulista porque esta, afinal, é a eleição que foi parar numa delegacia de polícia. É possível inferir que os paulistanos conheçam relativamente bem os candidatos à Prefeitura, mas quase nada foi dito sobre ideias para governar a cidade mais rica do País. Como é notório, ofensas pessoais e violência física deram o tom de uma campanha absolutamente estéril.
A despeito de sua pujança econômica, São Paulo ainda é uma cidade com problemas muito sérios na oferta de serviços públicos nas áreas de saúde, educação, transporte e zeladoria urbana – sem falar, claro, na segurança pública. É responsabilidade do governo do Estado prover a segurança aos cidadãos, mas é fundamental o papel que a Prefeitura exerce na redução dos indicadores de violência. Ou seja, São Paulo precisa de boa governança.
E a governança de São Paulo exige habilidade política, uma qualidade que obviamente falta aos aventureiros cuja única promessa de campanha é destruir o “sistema”, na base da ofensa, da violência e da desfaçatez. Certamente há eleitores para os quais a política é intrinsecamente corrupta e abjeta, razão pela qual se encantam com os que pretendem desmoralizá-la. Mas, quando a esbórnia da campanha acabar, o vencedor terá que administrar uma cidade gigantesca e complexa com milhões de moradores, e não um perfil irresponsável de rede social com milhões de seguidores.
Então, nesse momento, o voto dado de maneira inconsequente cobrará seu preço.