Cinco minutos de conversa e você já está trocando ideias com a chef Talitha Barros como se ela fosse uma amiga de infância. Dez minutos é o tempo que ela leva para preparar cada um dos pratos à base de arroz servidos em seu restaurante, o simpático Conceição Discos, um dos lugares mais festejados da Vila Buarque, em São Paulo. Há exatos nove anos ela abria as portas do que pode-se classificar como um combo festivo de música e comida. Para os malabarismos que pratica diariamente com as panelas, ela treina. De verdade. Duas vez por dia ela corre para a academia vizinha ao restaurante para nadar e fazer musculação. “Minha previdência é estar bem preparada para o trabalho a vida inteira”, conta como quem revela um tempero secreto. Antes de abrir seu próprio espaço, a chef passeou por outros balcões, como o do restaurante japonês em que trabalhou com comida pela primeira vez. Viveu temporadas gloriosas em clássicos da cidade como o Le Casserole, trabalhou com Benny Goldenberg no Manggiare, foi cozinheira na casa de Pedro Moreira Sales. Tudo isso antes de estrelar seu próprio reality show na cozinha.
“Percebi que pessoas compram pessoas quando acordei do sonho do querer só cozinhar”, diz. “Fui amadurecendo ao longo do tempo e notei que as pessoas compram também a minha história, não existe só cozinhar, precisei me abrir como pessoa e não só como cozinheira”. Ao cozinhar na frente de clientes dispostos a mais do que um dedinho de prosa, Talitha é indiscutivelmente a figura em destaque em um cenário criado como se fosse sua própria casa. Mas que também aprendeu a ouvir muito mais do que falar.”Tem muita história nesse balcão, pessoas que se conheceram aqui, gente que paquera e namora aqui, crianças que vinham com sete, oito anos e hoje, adultas, vêm tomar uma cerveja”, conta.
A hospitalidade é serventia da casa. Mas o cardápio pensado com a cabeça de uma antropóloga também tem seu valor. A chef diplomada em Ciências Sociais resolveu escolher o arroz como protagonista em sua cozinha por ele ser um grande símbolo à mesa para os brasileiros. "O arroz agulhinha branco é sinônimo do "aqui tem uma refeição", explica. "Através dele eu consigo passear por sabores e contar uma história bem paulista, essa colcha de retalhos que é São Paulo; o arroz me remete à formação da cidade que, na mesma região da zona cerealista, abrigava anteriormente as plantações de arroz".
Essa volta recorrente ao passado vai além dos dados históricos incluídos no cardápio. Está presente também na decoração do Conceição e na coleção de vinis vendidos na casa. “Só consigo propor o consumo do que eu mesma consumo”, diz. “Tenho orgulho de tudo o que está aqui dentro e costumo dizer que cozinhar é minha vida, mas a música é o amor da minha vida”. Para quem duvidar desse argumento, há provas... Assim que abriu o restaurante, levou pra lá a coleção particular com mais de 800 títulos que foi vendida logo na estreia da casa. Hoje, Talitha faz a curadoria e a compra de todos os vinis disponíveis para os clientes. Uma pessoa tão ligada na trilha sonora do dia-a-dia que é capaz de largar uma panela no fogo para virar o lado de um disco no meio do expediente. Talitha também é uma das idealizadoras, ao lado do amigo saxofonista Thiago França, pelo bloco da Espetacular Charanga do França, que sai todo ano da frente do restaurante e que logo na primeira edição reuniu mais de três mil pessoas. Alma festiva é para quem tem, né amores?