A história do engenheiro inglês que conquistou Bordeaux


Jonathan Maltus é hoje um dos maiores proprietários de vinhedos em Saint-Émilion; seus vinhos mais famosos, como o Le Dôme 2010, receberam 100 pontos do crítico Robert Parker

Por Guilherme Velloso
Atualização:

Especial para o Estado

Não foi pelo vinho que Jonathan Maltus, hoje conhecido produtor em Bordeaux, veio pela primeira vez ao Brasil, há muitos anos. Curiosamente, foi a Petrobrás. Nada a ver com a operação Lava Jato, é bom esclarecer desde logo. É que, antes de se tornar produtor de vinhos, Maltus era um bem-sucedido empresário, dono de cinco empresas internacionais de projeto e consultoria na área de petróleo e gás.

A mudança de ramo se deveu ao casamento tardio, quando tinha 36 anos (hoje tem 63). Cansada de suas constantes viagens, sua mulher alertou-o de que naquele ritmo o relacionamento teria vida curta. A solução foi vender as empresas para um grupo suíço.

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Como, por contrato, teria que ficar fora do mercado em que atuava por quatro anos, ele e a mulher decidiram passar uns tempos em Cahors, na França, onde alguns de seus amigos ingleses já residiam. Mudar não era novidade para Maltus. O pai sempre trabalhou como expatriado e ele próprio nasceu na Nigéria, onde viveu até os sete anos, antes de ser mandado para estudar na Inglaterra. 

Cahors é o berço da Malbec, hoje mais conhecida em sua versão argentina. E um de seus amigos ingleses produzia vinho. Para não ficar parado, Maltus se ofereceu para ajudá-lo em troca de conhecimento. Combinou que trabalharia de graça por um ano na vinícola do amigo, se este lhe ensinasse tudo sobre a produção de vinhos. Negócio fechado, participou das colheitas de 1992 e 1993. O fato de que ambas foram safras ruins (“clássicas, como se diria em Bordeaux”, comenta com típico sarcasmo inglês) foi mais um pretexto para levá-lo a tomar novo rumo.

Jonathan Maltus Foto: Chateau Teyssier
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Cahors não tem o charme da Borgonha ou de Bordeaux. E foi essa última, desde sempre a preferida dos ingleses, o próximo destino. Em 1994, comprou uma pequena propriedade na região de Saint-Émilion, o château Teyssier, com 5,5 hectares de vinhedos e uma bela casa em mau estado de conservação, que justifica seu nome.

A história poderia ter terminado aí, como a de muitos estrangeiros que compram propriedades históricas (a do Teyssier remonta ao início do século 18) pelo prazer de produzir o próprio vinho, mais para impressionar amigos do que pelo negócio em si. Não era o caso de Maltus, mas ele próprio reconhece, hoje, que teve a sorte de “estar no lugar certo, na hora certa”.

O início dos anos 1990 viu nascer, justamente em Saint-Émilion, o movimento que se tornou conhecido como garagista, pelas mãos do francês Jean-Luc Thunévin. A história é conhecida. Thunevin comprou uma parcela minúscula de terra na região e literalmente começou a produzir vinho na garagem de sua casa na cidade. O vinho, Château Valandraud, caiu nas graças do à época todo-poderoso crítico Robert Parker e as poucas garrafas produzidas passaram a ser vendidas a preços estratosféricos.

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Com seu faro de empresário, Maltus percebeu que deveria seguir o mesmo caminho. Com esse objetivo, vendeu a casa que ainda mantinha em Londres, conseguiu um empréstimo bancário e foi atrás do mais importante: um vinhedo de qualidade excepcional. Em 1996, descobriu um veio de ouro, com a compra de uma pequena parcela de apenas 3,2 hectares vizinha ao château Angélus, um dos mais reputados vinhos de Saint-Émilion. Com uvas provenientes desse vinhedo, lançou, no mesmo ano, a primeira safra do Le Dôme, um vinho de pequena produção (hoje em torno de mil caixas), superconcentrado e com uso quase extravagante de carvalho francês (depois de 12 meses em barricas novas, o vinho era transferido por mais 12 meses para outras barricas, igualmente novas), ao estilo do Valandraud. 

Foi como acertar na loteria. Como esperado, o vinho caiu no gosto do famoso crítico e quatro anos depois, na badalada safra de 2000, seu preço chegou a igualar o do Château Latour, considerado um dos melhores vinhos do mundo, o que o próprio Maltus, em entrevista, reconheceu não fazer sentido. Mesmo assim, o Le Dôme 2005, provado com ele em sua recente visita a São Paulo, recebeu 98 pontos do crítico e custa, no Brasil, quase R$ 2.700 a garrafa. Mas hoje não usa nem 100% de barricas novas de carvalho. Com o tempo, trocou-se potência por elegância. 

O curioso é que, ao adquirir o vinhedo do Le Dôme, Maltus imaginou estar comprando uma grande parcela de vinhas de Merlot, a base dos vinhos de Saint-Émilion, em geral complementada pela Cabernet Franc. Só algumas semanas depois da compra descobriu que, na verdade, comprara um vinhedo com pouco Merlot e muito (80%) Cabernet Franc. O acaso funcionou a seu favor. O Le Dôme tornou-se uma das melhores expressões dessa uva, com um porcentual de CF no corte (75% a 80%) que supera, inclusive, o do célebre Cheval Blanc, o padrão de referência quando se fala nessa uva. 

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O château Teyssier, primeira propriedade do inglês Jonathan Maltus na região de Saint-Émilion, Foto: château Teyssier

O sucesso do Le Dôme, cujo ápice foi a safra 2010, quando recebeu 100 pontos de Parker, possibilitou que Maltus comprasse outras parcelas de vinhedos de grande qualidade, a partir das quais produz pequenas quantidades (em torno de 300 caixas por ano) de vinhos reputados e caros, como Les Astéries e Le Carré.

Do ponto de vista simbólico, a mais importante dessas aquisições foi a do Vieux Château Mazerat, em 2008. Com apenas 4,14 hectares de vinhedos, o VCM, como é tratado pelo próprio Maltus, é a outra metade da propriedade que deu origem ao Le Dôme, que pertencia a dois irmãos (em 1996, só um quis vender a sua parte). Embora a propriedade seja a mesma, na parcela que corresponde ao VCM a proporção Merlot x Cabernet Franc é praticamente inversa à do Le Dôme (65% x 35%).

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Como bom negociante, Maltus cuidou também de ampliar a produção de seu carro-chefe, o château Teyssier, hoje o Saint-Émilion Grand Cru de maior vendagem (15 mil caixas). Paralelamente, seguindo o exemplo de muitos produtores bordaleses, lançou também o Pezat, branco e tinto, uma linha de entrada, produzida com uvas próprias e compradas de terceiros, e vendida a preços bem mais acessíveis.

No exterior, Maltus chegou a ter uma vinícola na Austrália, que vendeu em 2008. E até hoje tem uma no vale do Napa, na Califórnia, que recebeu o nome do local de sua antiga residência em Londres: World's End. O projeto nasceu, admite, de “pura ambição”, mas também para facilitar a distribuição de seus vinhos franceses no concorrido mercado norte-americano.

Em sua recente passagem pelo Brasil, Maltus recebeu uma boa notícia: a de que conseguiu fechar a compra de mais 4,5 hectares de vinhedos, do total de 10 que pretende acrescentar aos 50 que já possui. Com isso, se tornará, possivelmente, o segundo maior proprietário de vinhedos em Saint-Émilion. Nada mal para um “outsider” em Bordeaux, que chegou a ser apelidado por seus vizinhos franceses, de forma obviamente pejorativa, de “Le Businessman” (o homem de negócios).

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A outra boa notícia com que sonha ainda deve demorar um pouco. Ela depende da reclassificação dos vinhos da denominação Saint-Émilion, que ocorre a cada dez anos. A próxima será em 2022. A notícia seria a inclusão do Le Dôme entre os Grand Crus Classés das categorias A e B, os mais valorizados. Foi o que ocorreu com o Valandraud, que, na última revisão, em 2012, foi entronizado como um dos 14 classe B (apenas 4 são A). 

Para que isso aconteça, uma das exigências da legislação é que o vinho seja produzido em vinícola própria. Atualmente, o Le Dôme usa as mesmas instalações do Teyssier, mas não por muito tempo. Uma nova e moderníssima instalação, quase que totalmente subterrânea, está em final de construção no Vieux Château Mazérat, onde ficam os vinhedos. Quem assina o projeto é o escritório do famoso arquiteto inglês Norman Foster, autor, entre muitas obras conhecidas, da cúpula do Reichstag em Berlim. 

A escolha do arquiteto ingles não se deveu apenas a sua fama. É de Foster o projeto da nova adega de vinificação de um dos vinhos mais admirados do mundo, o Château Margaux, inaugurada em 2015. A que Foster projetou para Maltus estará pronta para processar as safras 2019 do Le Dôme e de seu irmão quase gêmeo, o VCM. A tempo, portanto, da aguardada reclassificação.

Os vinhos de Maltus

Os vinhos de Jonathan Maltus são importados pela Premium (www.premiumwines.com.br

PEZAT BORDEAUX BLANC SEC 2016Preço: R$ 159,18 Sauvignon Blanc (95%) com 5% de Muscadelle, uva ainda presente, em pequenas proporções, em muitos Bordeaux brancos. É um vinho simples, mas redondo e gostoso, com a boa acidez característica da primeira. A Muscadelle contribui sobretudo no perfil aromático, agregando leve floral às notas cítricas e de frutas brancas (pera) da SB. Para bebericar sem compromisso como aperitivo, acompanhando por generosa porção de lulas e camarões fritos. 

  Foto: Premium Wines

CHÂTEAU TEYSSIER SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2014Preço: R$ 400,22 Carro-chefe do portfólio de Maltus, combina a maciez da Merlot (85% do corte) com a nota mineral aportada pela Cabernet Franc (15%). Mostra fruta madura (ameixas) e leve tostado, além de chocolate, proveniente do estágio em barricas. É um vinho de corpo médio, mais elegante do que potente, com taninos de muito boa textura. Embora possa ser guardado por mais alguns anos, a tentação de bebê-lo agora é grande. Ainda mais se escoltado por um confit de pato. 

  Foto: Premium Wines

LE DÔME SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2005Preço: R$ 2.629,31 Vinho que deu fama (e fortuna) ao produtor. É o inverso do VCM: 75% Cabernet Franc e 25% Merlot. Rica palheta aromática (amoras, ameixa preta, terra úmida, tabaco, torrefação). Ótima acidez e frescor. De tão sedosos, quase não se percebem os taninos, ainda bem presentes. Voluptuoso. O ideal seria prová-lo lado a lado com o VCM, mas isso é para poucos. Com comida, nada de pirotecnias: costeletas ou paleta de cordeiro com purê de batatas (de preferência, o do falecido Robuchon). 

  Foto: Premium Wines

VIEUX CHÂTEAU MAZERAT SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2010Preço: R$ 1.401,92 Não se iluda ao saber que a Merlot contribui com 65% do corte, completado por 35% de Cabernet Franc. O VCM é o chamado “soco com luva de pelica”, ou seja, a textura aveludada dos taninos esconde sua potência. De uma das melhores safras de Bordeaux neste século, é um vinho que já pode ser bebido com prazer, mas com longa vida pela frente. Pelo que oferece, tem precedência na harmonização. Por isso, carnes grelhadas, como um bom entrecôte, com legumes na manteiga.

  Foto: Premium Wines

Especial para o Estado

Não foi pelo vinho que Jonathan Maltus, hoje conhecido produtor em Bordeaux, veio pela primeira vez ao Brasil, há muitos anos. Curiosamente, foi a Petrobrás. Nada a ver com a operação Lava Jato, é bom esclarecer desde logo. É que, antes de se tornar produtor de vinhos, Maltus era um bem-sucedido empresário, dono de cinco empresas internacionais de projeto e consultoria na área de petróleo e gás.

A mudança de ramo se deveu ao casamento tardio, quando tinha 36 anos (hoje tem 63). Cansada de suas constantes viagens, sua mulher alertou-o de que naquele ritmo o relacionamento teria vida curta. A solução foi vender as empresas para um grupo suíço.

Como, por contrato, teria que ficar fora do mercado em que atuava por quatro anos, ele e a mulher decidiram passar uns tempos em Cahors, na França, onde alguns de seus amigos ingleses já residiam. Mudar não era novidade para Maltus. O pai sempre trabalhou como expatriado e ele próprio nasceu na Nigéria, onde viveu até os sete anos, antes de ser mandado para estudar na Inglaterra. 

Cahors é o berço da Malbec, hoje mais conhecida em sua versão argentina. E um de seus amigos ingleses produzia vinho. Para não ficar parado, Maltus se ofereceu para ajudá-lo em troca de conhecimento. Combinou que trabalharia de graça por um ano na vinícola do amigo, se este lhe ensinasse tudo sobre a produção de vinhos. Negócio fechado, participou das colheitas de 1992 e 1993. O fato de que ambas foram safras ruins (“clássicas, como se diria em Bordeaux”, comenta com típico sarcasmo inglês) foi mais um pretexto para levá-lo a tomar novo rumo.

Jonathan Maltus Foto: Chateau Teyssier

Cahors não tem o charme da Borgonha ou de Bordeaux. E foi essa última, desde sempre a preferida dos ingleses, o próximo destino. Em 1994, comprou uma pequena propriedade na região de Saint-Émilion, o château Teyssier, com 5,5 hectares de vinhedos e uma bela casa em mau estado de conservação, que justifica seu nome.

A história poderia ter terminado aí, como a de muitos estrangeiros que compram propriedades históricas (a do Teyssier remonta ao início do século 18) pelo prazer de produzir o próprio vinho, mais para impressionar amigos do que pelo negócio em si. Não era o caso de Maltus, mas ele próprio reconhece, hoje, que teve a sorte de “estar no lugar certo, na hora certa”.

O início dos anos 1990 viu nascer, justamente em Saint-Émilion, o movimento que se tornou conhecido como garagista, pelas mãos do francês Jean-Luc Thunévin. A história é conhecida. Thunevin comprou uma parcela minúscula de terra na região e literalmente começou a produzir vinho na garagem de sua casa na cidade. O vinho, Château Valandraud, caiu nas graças do à época todo-poderoso crítico Robert Parker e as poucas garrafas produzidas passaram a ser vendidas a preços estratosféricos.

Com seu faro de empresário, Maltus percebeu que deveria seguir o mesmo caminho. Com esse objetivo, vendeu a casa que ainda mantinha em Londres, conseguiu um empréstimo bancário e foi atrás do mais importante: um vinhedo de qualidade excepcional. Em 1996, descobriu um veio de ouro, com a compra de uma pequena parcela de apenas 3,2 hectares vizinha ao château Angélus, um dos mais reputados vinhos de Saint-Émilion. Com uvas provenientes desse vinhedo, lançou, no mesmo ano, a primeira safra do Le Dôme, um vinho de pequena produção (hoje em torno de mil caixas), superconcentrado e com uso quase extravagante de carvalho francês (depois de 12 meses em barricas novas, o vinho era transferido por mais 12 meses para outras barricas, igualmente novas), ao estilo do Valandraud. 

Foi como acertar na loteria. Como esperado, o vinho caiu no gosto do famoso crítico e quatro anos depois, na badalada safra de 2000, seu preço chegou a igualar o do Château Latour, considerado um dos melhores vinhos do mundo, o que o próprio Maltus, em entrevista, reconheceu não fazer sentido. Mesmo assim, o Le Dôme 2005, provado com ele em sua recente visita a São Paulo, recebeu 98 pontos do crítico e custa, no Brasil, quase R$ 2.700 a garrafa. Mas hoje não usa nem 100% de barricas novas de carvalho. Com o tempo, trocou-se potência por elegância. 

O curioso é que, ao adquirir o vinhedo do Le Dôme, Maltus imaginou estar comprando uma grande parcela de vinhas de Merlot, a base dos vinhos de Saint-Émilion, em geral complementada pela Cabernet Franc. Só algumas semanas depois da compra descobriu que, na verdade, comprara um vinhedo com pouco Merlot e muito (80%) Cabernet Franc. O acaso funcionou a seu favor. O Le Dôme tornou-se uma das melhores expressões dessa uva, com um porcentual de CF no corte (75% a 80%) que supera, inclusive, o do célebre Cheval Blanc, o padrão de referência quando se fala nessa uva. 

O château Teyssier, primeira propriedade do inglês Jonathan Maltus na região de Saint-Émilion, Foto: château Teyssier

O sucesso do Le Dôme, cujo ápice foi a safra 2010, quando recebeu 100 pontos de Parker, possibilitou que Maltus comprasse outras parcelas de vinhedos de grande qualidade, a partir das quais produz pequenas quantidades (em torno de 300 caixas por ano) de vinhos reputados e caros, como Les Astéries e Le Carré.

Do ponto de vista simbólico, a mais importante dessas aquisições foi a do Vieux Château Mazerat, em 2008. Com apenas 4,14 hectares de vinhedos, o VCM, como é tratado pelo próprio Maltus, é a outra metade da propriedade que deu origem ao Le Dôme, que pertencia a dois irmãos (em 1996, só um quis vender a sua parte). Embora a propriedade seja a mesma, na parcela que corresponde ao VCM a proporção Merlot x Cabernet Franc é praticamente inversa à do Le Dôme (65% x 35%).

Como bom negociante, Maltus cuidou também de ampliar a produção de seu carro-chefe, o château Teyssier, hoje o Saint-Émilion Grand Cru de maior vendagem (15 mil caixas). Paralelamente, seguindo o exemplo de muitos produtores bordaleses, lançou também o Pezat, branco e tinto, uma linha de entrada, produzida com uvas próprias e compradas de terceiros, e vendida a preços bem mais acessíveis.

No exterior, Maltus chegou a ter uma vinícola na Austrália, que vendeu em 2008. E até hoje tem uma no vale do Napa, na Califórnia, que recebeu o nome do local de sua antiga residência em Londres: World's End. O projeto nasceu, admite, de “pura ambição”, mas também para facilitar a distribuição de seus vinhos franceses no concorrido mercado norte-americano.

Em sua recente passagem pelo Brasil, Maltus recebeu uma boa notícia: a de que conseguiu fechar a compra de mais 4,5 hectares de vinhedos, do total de 10 que pretende acrescentar aos 50 que já possui. Com isso, se tornará, possivelmente, o segundo maior proprietário de vinhedos em Saint-Émilion. Nada mal para um “outsider” em Bordeaux, que chegou a ser apelidado por seus vizinhos franceses, de forma obviamente pejorativa, de “Le Businessman” (o homem de negócios).

A outra boa notícia com que sonha ainda deve demorar um pouco. Ela depende da reclassificação dos vinhos da denominação Saint-Émilion, que ocorre a cada dez anos. A próxima será em 2022. A notícia seria a inclusão do Le Dôme entre os Grand Crus Classés das categorias A e B, os mais valorizados. Foi o que ocorreu com o Valandraud, que, na última revisão, em 2012, foi entronizado como um dos 14 classe B (apenas 4 são A). 

Para que isso aconteça, uma das exigências da legislação é que o vinho seja produzido em vinícola própria. Atualmente, o Le Dôme usa as mesmas instalações do Teyssier, mas não por muito tempo. Uma nova e moderníssima instalação, quase que totalmente subterrânea, está em final de construção no Vieux Château Mazérat, onde ficam os vinhedos. Quem assina o projeto é o escritório do famoso arquiteto inglês Norman Foster, autor, entre muitas obras conhecidas, da cúpula do Reichstag em Berlim. 

A escolha do arquiteto ingles não se deveu apenas a sua fama. É de Foster o projeto da nova adega de vinificação de um dos vinhos mais admirados do mundo, o Château Margaux, inaugurada em 2015. A que Foster projetou para Maltus estará pronta para processar as safras 2019 do Le Dôme e de seu irmão quase gêmeo, o VCM. A tempo, portanto, da aguardada reclassificação.

Os vinhos de Maltus

Os vinhos de Jonathan Maltus são importados pela Premium (www.premiumwines.com.br

PEZAT BORDEAUX BLANC SEC 2016Preço: R$ 159,18 Sauvignon Blanc (95%) com 5% de Muscadelle, uva ainda presente, em pequenas proporções, em muitos Bordeaux brancos. É um vinho simples, mas redondo e gostoso, com a boa acidez característica da primeira. A Muscadelle contribui sobretudo no perfil aromático, agregando leve floral às notas cítricas e de frutas brancas (pera) da SB. Para bebericar sem compromisso como aperitivo, acompanhando por generosa porção de lulas e camarões fritos. 

  Foto: Premium Wines

CHÂTEAU TEYSSIER SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2014Preço: R$ 400,22 Carro-chefe do portfólio de Maltus, combina a maciez da Merlot (85% do corte) com a nota mineral aportada pela Cabernet Franc (15%). Mostra fruta madura (ameixas) e leve tostado, além de chocolate, proveniente do estágio em barricas. É um vinho de corpo médio, mais elegante do que potente, com taninos de muito boa textura. Embora possa ser guardado por mais alguns anos, a tentação de bebê-lo agora é grande. Ainda mais se escoltado por um confit de pato. 

  Foto: Premium Wines

LE DÔME SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2005Preço: R$ 2.629,31 Vinho que deu fama (e fortuna) ao produtor. É o inverso do VCM: 75% Cabernet Franc e 25% Merlot. Rica palheta aromática (amoras, ameixa preta, terra úmida, tabaco, torrefação). Ótima acidez e frescor. De tão sedosos, quase não se percebem os taninos, ainda bem presentes. Voluptuoso. O ideal seria prová-lo lado a lado com o VCM, mas isso é para poucos. Com comida, nada de pirotecnias: costeletas ou paleta de cordeiro com purê de batatas (de preferência, o do falecido Robuchon). 

  Foto: Premium Wines

VIEUX CHÂTEAU MAZERAT SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2010Preço: R$ 1.401,92 Não se iluda ao saber que a Merlot contribui com 65% do corte, completado por 35% de Cabernet Franc. O VCM é o chamado “soco com luva de pelica”, ou seja, a textura aveludada dos taninos esconde sua potência. De uma das melhores safras de Bordeaux neste século, é um vinho que já pode ser bebido com prazer, mas com longa vida pela frente. Pelo que oferece, tem precedência na harmonização. Por isso, carnes grelhadas, como um bom entrecôte, com legumes na manteiga.

  Foto: Premium Wines

Especial para o Estado

Não foi pelo vinho que Jonathan Maltus, hoje conhecido produtor em Bordeaux, veio pela primeira vez ao Brasil, há muitos anos. Curiosamente, foi a Petrobrás. Nada a ver com a operação Lava Jato, é bom esclarecer desde logo. É que, antes de se tornar produtor de vinhos, Maltus era um bem-sucedido empresário, dono de cinco empresas internacionais de projeto e consultoria na área de petróleo e gás.

A mudança de ramo se deveu ao casamento tardio, quando tinha 36 anos (hoje tem 63). Cansada de suas constantes viagens, sua mulher alertou-o de que naquele ritmo o relacionamento teria vida curta. A solução foi vender as empresas para um grupo suíço.

Como, por contrato, teria que ficar fora do mercado em que atuava por quatro anos, ele e a mulher decidiram passar uns tempos em Cahors, na França, onde alguns de seus amigos ingleses já residiam. Mudar não era novidade para Maltus. O pai sempre trabalhou como expatriado e ele próprio nasceu na Nigéria, onde viveu até os sete anos, antes de ser mandado para estudar na Inglaterra. 

Cahors é o berço da Malbec, hoje mais conhecida em sua versão argentina. E um de seus amigos ingleses produzia vinho. Para não ficar parado, Maltus se ofereceu para ajudá-lo em troca de conhecimento. Combinou que trabalharia de graça por um ano na vinícola do amigo, se este lhe ensinasse tudo sobre a produção de vinhos. Negócio fechado, participou das colheitas de 1992 e 1993. O fato de que ambas foram safras ruins (“clássicas, como se diria em Bordeaux”, comenta com típico sarcasmo inglês) foi mais um pretexto para levá-lo a tomar novo rumo.

Jonathan Maltus Foto: Chateau Teyssier

Cahors não tem o charme da Borgonha ou de Bordeaux. E foi essa última, desde sempre a preferida dos ingleses, o próximo destino. Em 1994, comprou uma pequena propriedade na região de Saint-Émilion, o château Teyssier, com 5,5 hectares de vinhedos e uma bela casa em mau estado de conservação, que justifica seu nome.

A história poderia ter terminado aí, como a de muitos estrangeiros que compram propriedades históricas (a do Teyssier remonta ao início do século 18) pelo prazer de produzir o próprio vinho, mais para impressionar amigos do que pelo negócio em si. Não era o caso de Maltus, mas ele próprio reconhece, hoje, que teve a sorte de “estar no lugar certo, na hora certa”.

O início dos anos 1990 viu nascer, justamente em Saint-Émilion, o movimento que se tornou conhecido como garagista, pelas mãos do francês Jean-Luc Thunévin. A história é conhecida. Thunevin comprou uma parcela minúscula de terra na região e literalmente começou a produzir vinho na garagem de sua casa na cidade. O vinho, Château Valandraud, caiu nas graças do à época todo-poderoso crítico Robert Parker e as poucas garrafas produzidas passaram a ser vendidas a preços estratosféricos.

Com seu faro de empresário, Maltus percebeu que deveria seguir o mesmo caminho. Com esse objetivo, vendeu a casa que ainda mantinha em Londres, conseguiu um empréstimo bancário e foi atrás do mais importante: um vinhedo de qualidade excepcional. Em 1996, descobriu um veio de ouro, com a compra de uma pequena parcela de apenas 3,2 hectares vizinha ao château Angélus, um dos mais reputados vinhos de Saint-Émilion. Com uvas provenientes desse vinhedo, lançou, no mesmo ano, a primeira safra do Le Dôme, um vinho de pequena produção (hoje em torno de mil caixas), superconcentrado e com uso quase extravagante de carvalho francês (depois de 12 meses em barricas novas, o vinho era transferido por mais 12 meses para outras barricas, igualmente novas), ao estilo do Valandraud. 

Foi como acertar na loteria. Como esperado, o vinho caiu no gosto do famoso crítico e quatro anos depois, na badalada safra de 2000, seu preço chegou a igualar o do Château Latour, considerado um dos melhores vinhos do mundo, o que o próprio Maltus, em entrevista, reconheceu não fazer sentido. Mesmo assim, o Le Dôme 2005, provado com ele em sua recente visita a São Paulo, recebeu 98 pontos do crítico e custa, no Brasil, quase R$ 2.700 a garrafa. Mas hoje não usa nem 100% de barricas novas de carvalho. Com o tempo, trocou-se potência por elegância. 

O curioso é que, ao adquirir o vinhedo do Le Dôme, Maltus imaginou estar comprando uma grande parcela de vinhas de Merlot, a base dos vinhos de Saint-Émilion, em geral complementada pela Cabernet Franc. Só algumas semanas depois da compra descobriu que, na verdade, comprara um vinhedo com pouco Merlot e muito (80%) Cabernet Franc. O acaso funcionou a seu favor. O Le Dôme tornou-se uma das melhores expressões dessa uva, com um porcentual de CF no corte (75% a 80%) que supera, inclusive, o do célebre Cheval Blanc, o padrão de referência quando se fala nessa uva. 

O château Teyssier, primeira propriedade do inglês Jonathan Maltus na região de Saint-Émilion, Foto: château Teyssier

O sucesso do Le Dôme, cujo ápice foi a safra 2010, quando recebeu 100 pontos de Parker, possibilitou que Maltus comprasse outras parcelas de vinhedos de grande qualidade, a partir das quais produz pequenas quantidades (em torno de 300 caixas por ano) de vinhos reputados e caros, como Les Astéries e Le Carré.

Do ponto de vista simbólico, a mais importante dessas aquisições foi a do Vieux Château Mazerat, em 2008. Com apenas 4,14 hectares de vinhedos, o VCM, como é tratado pelo próprio Maltus, é a outra metade da propriedade que deu origem ao Le Dôme, que pertencia a dois irmãos (em 1996, só um quis vender a sua parte). Embora a propriedade seja a mesma, na parcela que corresponde ao VCM a proporção Merlot x Cabernet Franc é praticamente inversa à do Le Dôme (65% x 35%).

Como bom negociante, Maltus cuidou também de ampliar a produção de seu carro-chefe, o château Teyssier, hoje o Saint-Émilion Grand Cru de maior vendagem (15 mil caixas). Paralelamente, seguindo o exemplo de muitos produtores bordaleses, lançou também o Pezat, branco e tinto, uma linha de entrada, produzida com uvas próprias e compradas de terceiros, e vendida a preços bem mais acessíveis.

No exterior, Maltus chegou a ter uma vinícola na Austrália, que vendeu em 2008. E até hoje tem uma no vale do Napa, na Califórnia, que recebeu o nome do local de sua antiga residência em Londres: World's End. O projeto nasceu, admite, de “pura ambição”, mas também para facilitar a distribuição de seus vinhos franceses no concorrido mercado norte-americano.

Em sua recente passagem pelo Brasil, Maltus recebeu uma boa notícia: a de que conseguiu fechar a compra de mais 4,5 hectares de vinhedos, do total de 10 que pretende acrescentar aos 50 que já possui. Com isso, se tornará, possivelmente, o segundo maior proprietário de vinhedos em Saint-Émilion. Nada mal para um “outsider” em Bordeaux, que chegou a ser apelidado por seus vizinhos franceses, de forma obviamente pejorativa, de “Le Businessman” (o homem de negócios).

A outra boa notícia com que sonha ainda deve demorar um pouco. Ela depende da reclassificação dos vinhos da denominação Saint-Émilion, que ocorre a cada dez anos. A próxima será em 2022. A notícia seria a inclusão do Le Dôme entre os Grand Crus Classés das categorias A e B, os mais valorizados. Foi o que ocorreu com o Valandraud, que, na última revisão, em 2012, foi entronizado como um dos 14 classe B (apenas 4 são A). 

Para que isso aconteça, uma das exigências da legislação é que o vinho seja produzido em vinícola própria. Atualmente, o Le Dôme usa as mesmas instalações do Teyssier, mas não por muito tempo. Uma nova e moderníssima instalação, quase que totalmente subterrânea, está em final de construção no Vieux Château Mazérat, onde ficam os vinhedos. Quem assina o projeto é o escritório do famoso arquiteto inglês Norman Foster, autor, entre muitas obras conhecidas, da cúpula do Reichstag em Berlim. 

A escolha do arquiteto ingles não se deveu apenas a sua fama. É de Foster o projeto da nova adega de vinificação de um dos vinhos mais admirados do mundo, o Château Margaux, inaugurada em 2015. A que Foster projetou para Maltus estará pronta para processar as safras 2019 do Le Dôme e de seu irmão quase gêmeo, o VCM. A tempo, portanto, da aguardada reclassificação.

Os vinhos de Maltus

Os vinhos de Jonathan Maltus são importados pela Premium (www.premiumwines.com.br

PEZAT BORDEAUX BLANC SEC 2016Preço: R$ 159,18 Sauvignon Blanc (95%) com 5% de Muscadelle, uva ainda presente, em pequenas proporções, em muitos Bordeaux brancos. É um vinho simples, mas redondo e gostoso, com a boa acidez característica da primeira. A Muscadelle contribui sobretudo no perfil aromático, agregando leve floral às notas cítricas e de frutas brancas (pera) da SB. Para bebericar sem compromisso como aperitivo, acompanhando por generosa porção de lulas e camarões fritos. 

  Foto: Premium Wines

CHÂTEAU TEYSSIER SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2014Preço: R$ 400,22 Carro-chefe do portfólio de Maltus, combina a maciez da Merlot (85% do corte) com a nota mineral aportada pela Cabernet Franc (15%). Mostra fruta madura (ameixas) e leve tostado, além de chocolate, proveniente do estágio em barricas. É um vinho de corpo médio, mais elegante do que potente, com taninos de muito boa textura. Embora possa ser guardado por mais alguns anos, a tentação de bebê-lo agora é grande. Ainda mais se escoltado por um confit de pato. 

  Foto: Premium Wines

LE DÔME SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2005Preço: R$ 2.629,31 Vinho que deu fama (e fortuna) ao produtor. É o inverso do VCM: 75% Cabernet Franc e 25% Merlot. Rica palheta aromática (amoras, ameixa preta, terra úmida, tabaco, torrefação). Ótima acidez e frescor. De tão sedosos, quase não se percebem os taninos, ainda bem presentes. Voluptuoso. O ideal seria prová-lo lado a lado com o VCM, mas isso é para poucos. Com comida, nada de pirotecnias: costeletas ou paleta de cordeiro com purê de batatas (de preferência, o do falecido Robuchon). 

  Foto: Premium Wines

VIEUX CHÂTEAU MAZERAT SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2010Preço: R$ 1.401,92 Não se iluda ao saber que a Merlot contribui com 65% do corte, completado por 35% de Cabernet Franc. O VCM é o chamado “soco com luva de pelica”, ou seja, a textura aveludada dos taninos esconde sua potência. De uma das melhores safras de Bordeaux neste século, é um vinho que já pode ser bebido com prazer, mas com longa vida pela frente. Pelo que oferece, tem precedência na harmonização. Por isso, carnes grelhadas, como um bom entrecôte, com legumes na manteiga.

  Foto: Premium Wines

Especial para o Estado

Não foi pelo vinho que Jonathan Maltus, hoje conhecido produtor em Bordeaux, veio pela primeira vez ao Brasil, há muitos anos. Curiosamente, foi a Petrobrás. Nada a ver com a operação Lava Jato, é bom esclarecer desde logo. É que, antes de se tornar produtor de vinhos, Maltus era um bem-sucedido empresário, dono de cinco empresas internacionais de projeto e consultoria na área de petróleo e gás.

A mudança de ramo se deveu ao casamento tardio, quando tinha 36 anos (hoje tem 63). Cansada de suas constantes viagens, sua mulher alertou-o de que naquele ritmo o relacionamento teria vida curta. A solução foi vender as empresas para um grupo suíço.

Como, por contrato, teria que ficar fora do mercado em que atuava por quatro anos, ele e a mulher decidiram passar uns tempos em Cahors, na França, onde alguns de seus amigos ingleses já residiam. Mudar não era novidade para Maltus. O pai sempre trabalhou como expatriado e ele próprio nasceu na Nigéria, onde viveu até os sete anos, antes de ser mandado para estudar na Inglaterra. 

Cahors é o berço da Malbec, hoje mais conhecida em sua versão argentina. E um de seus amigos ingleses produzia vinho. Para não ficar parado, Maltus se ofereceu para ajudá-lo em troca de conhecimento. Combinou que trabalharia de graça por um ano na vinícola do amigo, se este lhe ensinasse tudo sobre a produção de vinhos. Negócio fechado, participou das colheitas de 1992 e 1993. O fato de que ambas foram safras ruins (“clássicas, como se diria em Bordeaux”, comenta com típico sarcasmo inglês) foi mais um pretexto para levá-lo a tomar novo rumo.

Jonathan Maltus Foto: Chateau Teyssier

Cahors não tem o charme da Borgonha ou de Bordeaux. E foi essa última, desde sempre a preferida dos ingleses, o próximo destino. Em 1994, comprou uma pequena propriedade na região de Saint-Émilion, o château Teyssier, com 5,5 hectares de vinhedos e uma bela casa em mau estado de conservação, que justifica seu nome.

A história poderia ter terminado aí, como a de muitos estrangeiros que compram propriedades históricas (a do Teyssier remonta ao início do século 18) pelo prazer de produzir o próprio vinho, mais para impressionar amigos do que pelo negócio em si. Não era o caso de Maltus, mas ele próprio reconhece, hoje, que teve a sorte de “estar no lugar certo, na hora certa”.

O início dos anos 1990 viu nascer, justamente em Saint-Émilion, o movimento que se tornou conhecido como garagista, pelas mãos do francês Jean-Luc Thunévin. A história é conhecida. Thunevin comprou uma parcela minúscula de terra na região e literalmente começou a produzir vinho na garagem de sua casa na cidade. O vinho, Château Valandraud, caiu nas graças do à época todo-poderoso crítico Robert Parker e as poucas garrafas produzidas passaram a ser vendidas a preços estratosféricos.

Com seu faro de empresário, Maltus percebeu que deveria seguir o mesmo caminho. Com esse objetivo, vendeu a casa que ainda mantinha em Londres, conseguiu um empréstimo bancário e foi atrás do mais importante: um vinhedo de qualidade excepcional. Em 1996, descobriu um veio de ouro, com a compra de uma pequena parcela de apenas 3,2 hectares vizinha ao château Angélus, um dos mais reputados vinhos de Saint-Émilion. Com uvas provenientes desse vinhedo, lançou, no mesmo ano, a primeira safra do Le Dôme, um vinho de pequena produção (hoje em torno de mil caixas), superconcentrado e com uso quase extravagante de carvalho francês (depois de 12 meses em barricas novas, o vinho era transferido por mais 12 meses para outras barricas, igualmente novas), ao estilo do Valandraud. 

Foi como acertar na loteria. Como esperado, o vinho caiu no gosto do famoso crítico e quatro anos depois, na badalada safra de 2000, seu preço chegou a igualar o do Château Latour, considerado um dos melhores vinhos do mundo, o que o próprio Maltus, em entrevista, reconheceu não fazer sentido. Mesmo assim, o Le Dôme 2005, provado com ele em sua recente visita a São Paulo, recebeu 98 pontos do crítico e custa, no Brasil, quase R$ 2.700 a garrafa. Mas hoje não usa nem 100% de barricas novas de carvalho. Com o tempo, trocou-se potência por elegância. 

O curioso é que, ao adquirir o vinhedo do Le Dôme, Maltus imaginou estar comprando uma grande parcela de vinhas de Merlot, a base dos vinhos de Saint-Émilion, em geral complementada pela Cabernet Franc. Só algumas semanas depois da compra descobriu que, na verdade, comprara um vinhedo com pouco Merlot e muito (80%) Cabernet Franc. O acaso funcionou a seu favor. O Le Dôme tornou-se uma das melhores expressões dessa uva, com um porcentual de CF no corte (75% a 80%) que supera, inclusive, o do célebre Cheval Blanc, o padrão de referência quando se fala nessa uva. 

O château Teyssier, primeira propriedade do inglês Jonathan Maltus na região de Saint-Émilion, Foto: château Teyssier

O sucesso do Le Dôme, cujo ápice foi a safra 2010, quando recebeu 100 pontos de Parker, possibilitou que Maltus comprasse outras parcelas de vinhedos de grande qualidade, a partir das quais produz pequenas quantidades (em torno de 300 caixas por ano) de vinhos reputados e caros, como Les Astéries e Le Carré.

Do ponto de vista simbólico, a mais importante dessas aquisições foi a do Vieux Château Mazerat, em 2008. Com apenas 4,14 hectares de vinhedos, o VCM, como é tratado pelo próprio Maltus, é a outra metade da propriedade que deu origem ao Le Dôme, que pertencia a dois irmãos (em 1996, só um quis vender a sua parte). Embora a propriedade seja a mesma, na parcela que corresponde ao VCM a proporção Merlot x Cabernet Franc é praticamente inversa à do Le Dôme (65% x 35%).

Como bom negociante, Maltus cuidou também de ampliar a produção de seu carro-chefe, o château Teyssier, hoje o Saint-Émilion Grand Cru de maior vendagem (15 mil caixas). Paralelamente, seguindo o exemplo de muitos produtores bordaleses, lançou também o Pezat, branco e tinto, uma linha de entrada, produzida com uvas próprias e compradas de terceiros, e vendida a preços bem mais acessíveis.

No exterior, Maltus chegou a ter uma vinícola na Austrália, que vendeu em 2008. E até hoje tem uma no vale do Napa, na Califórnia, que recebeu o nome do local de sua antiga residência em Londres: World's End. O projeto nasceu, admite, de “pura ambição”, mas também para facilitar a distribuição de seus vinhos franceses no concorrido mercado norte-americano.

Em sua recente passagem pelo Brasil, Maltus recebeu uma boa notícia: a de que conseguiu fechar a compra de mais 4,5 hectares de vinhedos, do total de 10 que pretende acrescentar aos 50 que já possui. Com isso, se tornará, possivelmente, o segundo maior proprietário de vinhedos em Saint-Émilion. Nada mal para um “outsider” em Bordeaux, que chegou a ser apelidado por seus vizinhos franceses, de forma obviamente pejorativa, de “Le Businessman” (o homem de negócios).

A outra boa notícia com que sonha ainda deve demorar um pouco. Ela depende da reclassificação dos vinhos da denominação Saint-Émilion, que ocorre a cada dez anos. A próxima será em 2022. A notícia seria a inclusão do Le Dôme entre os Grand Crus Classés das categorias A e B, os mais valorizados. Foi o que ocorreu com o Valandraud, que, na última revisão, em 2012, foi entronizado como um dos 14 classe B (apenas 4 são A). 

Para que isso aconteça, uma das exigências da legislação é que o vinho seja produzido em vinícola própria. Atualmente, o Le Dôme usa as mesmas instalações do Teyssier, mas não por muito tempo. Uma nova e moderníssima instalação, quase que totalmente subterrânea, está em final de construção no Vieux Château Mazérat, onde ficam os vinhedos. Quem assina o projeto é o escritório do famoso arquiteto inglês Norman Foster, autor, entre muitas obras conhecidas, da cúpula do Reichstag em Berlim. 

A escolha do arquiteto ingles não se deveu apenas a sua fama. É de Foster o projeto da nova adega de vinificação de um dos vinhos mais admirados do mundo, o Château Margaux, inaugurada em 2015. A que Foster projetou para Maltus estará pronta para processar as safras 2019 do Le Dôme e de seu irmão quase gêmeo, o VCM. A tempo, portanto, da aguardada reclassificação.

Os vinhos de Maltus

Os vinhos de Jonathan Maltus são importados pela Premium (www.premiumwines.com.br

PEZAT BORDEAUX BLANC SEC 2016Preço: R$ 159,18 Sauvignon Blanc (95%) com 5% de Muscadelle, uva ainda presente, em pequenas proporções, em muitos Bordeaux brancos. É um vinho simples, mas redondo e gostoso, com a boa acidez característica da primeira. A Muscadelle contribui sobretudo no perfil aromático, agregando leve floral às notas cítricas e de frutas brancas (pera) da SB. Para bebericar sem compromisso como aperitivo, acompanhando por generosa porção de lulas e camarões fritos. 

  Foto: Premium Wines

CHÂTEAU TEYSSIER SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2014Preço: R$ 400,22 Carro-chefe do portfólio de Maltus, combina a maciez da Merlot (85% do corte) com a nota mineral aportada pela Cabernet Franc (15%). Mostra fruta madura (ameixas) e leve tostado, além de chocolate, proveniente do estágio em barricas. É um vinho de corpo médio, mais elegante do que potente, com taninos de muito boa textura. Embora possa ser guardado por mais alguns anos, a tentação de bebê-lo agora é grande. Ainda mais se escoltado por um confit de pato. 

  Foto: Premium Wines

LE DÔME SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2005Preço: R$ 2.629,31 Vinho que deu fama (e fortuna) ao produtor. É o inverso do VCM: 75% Cabernet Franc e 25% Merlot. Rica palheta aromática (amoras, ameixa preta, terra úmida, tabaco, torrefação). Ótima acidez e frescor. De tão sedosos, quase não se percebem os taninos, ainda bem presentes. Voluptuoso. O ideal seria prová-lo lado a lado com o VCM, mas isso é para poucos. Com comida, nada de pirotecnias: costeletas ou paleta de cordeiro com purê de batatas (de preferência, o do falecido Robuchon). 

  Foto: Premium Wines

VIEUX CHÂTEAU MAZERAT SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2010Preço: R$ 1.401,92 Não se iluda ao saber que a Merlot contribui com 65% do corte, completado por 35% de Cabernet Franc. O VCM é o chamado “soco com luva de pelica”, ou seja, a textura aveludada dos taninos esconde sua potência. De uma das melhores safras de Bordeaux neste século, é um vinho que já pode ser bebido com prazer, mas com longa vida pela frente. Pelo que oferece, tem precedência na harmonização. Por isso, carnes grelhadas, como um bom entrecôte, com legumes na manteiga.

  Foto: Premium Wines

Especial para o Estado

Não foi pelo vinho que Jonathan Maltus, hoje conhecido produtor em Bordeaux, veio pela primeira vez ao Brasil, há muitos anos. Curiosamente, foi a Petrobrás. Nada a ver com a operação Lava Jato, é bom esclarecer desde logo. É que, antes de se tornar produtor de vinhos, Maltus era um bem-sucedido empresário, dono de cinco empresas internacionais de projeto e consultoria na área de petróleo e gás.

A mudança de ramo se deveu ao casamento tardio, quando tinha 36 anos (hoje tem 63). Cansada de suas constantes viagens, sua mulher alertou-o de que naquele ritmo o relacionamento teria vida curta. A solução foi vender as empresas para um grupo suíço.

Como, por contrato, teria que ficar fora do mercado em que atuava por quatro anos, ele e a mulher decidiram passar uns tempos em Cahors, na França, onde alguns de seus amigos ingleses já residiam. Mudar não era novidade para Maltus. O pai sempre trabalhou como expatriado e ele próprio nasceu na Nigéria, onde viveu até os sete anos, antes de ser mandado para estudar na Inglaterra. 

Cahors é o berço da Malbec, hoje mais conhecida em sua versão argentina. E um de seus amigos ingleses produzia vinho. Para não ficar parado, Maltus se ofereceu para ajudá-lo em troca de conhecimento. Combinou que trabalharia de graça por um ano na vinícola do amigo, se este lhe ensinasse tudo sobre a produção de vinhos. Negócio fechado, participou das colheitas de 1992 e 1993. O fato de que ambas foram safras ruins (“clássicas, como se diria em Bordeaux”, comenta com típico sarcasmo inglês) foi mais um pretexto para levá-lo a tomar novo rumo.

Jonathan Maltus Foto: Chateau Teyssier

Cahors não tem o charme da Borgonha ou de Bordeaux. E foi essa última, desde sempre a preferida dos ingleses, o próximo destino. Em 1994, comprou uma pequena propriedade na região de Saint-Émilion, o château Teyssier, com 5,5 hectares de vinhedos e uma bela casa em mau estado de conservação, que justifica seu nome.

A história poderia ter terminado aí, como a de muitos estrangeiros que compram propriedades históricas (a do Teyssier remonta ao início do século 18) pelo prazer de produzir o próprio vinho, mais para impressionar amigos do que pelo negócio em si. Não era o caso de Maltus, mas ele próprio reconhece, hoje, que teve a sorte de “estar no lugar certo, na hora certa”.

O início dos anos 1990 viu nascer, justamente em Saint-Émilion, o movimento que se tornou conhecido como garagista, pelas mãos do francês Jean-Luc Thunévin. A história é conhecida. Thunevin comprou uma parcela minúscula de terra na região e literalmente começou a produzir vinho na garagem de sua casa na cidade. O vinho, Château Valandraud, caiu nas graças do à época todo-poderoso crítico Robert Parker e as poucas garrafas produzidas passaram a ser vendidas a preços estratosféricos.

Com seu faro de empresário, Maltus percebeu que deveria seguir o mesmo caminho. Com esse objetivo, vendeu a casa que ainda mantinha em Londres, conseguiu um empréstimo bancário e foi atrás do mais importante: um vinhedo de qualidade excepcional. Em 1996, descobriu um veio de ouro, com a compra de uma pequena parcela de apenas 3,2 hectares vizinha ao château Angélus, um dos mais reputados vinhos de Saint-Émilion. Com uvas provenientes desse vinhedo, lançou, no mesmo ano, a primeira safra do Le Dôme, um vinho de pequena produção (hoje em torno de mil caixas), superconcentrado e com uso quase extravagante de carvalho francês (depois de 12 meses em barricas novas, o vinho era transferido por mais 12 meses para outras barricas, igualmente novas), ao estilo do Valandraud. 

Foi como acertar na loteria. Como esperado, o vinho caiu no gosto do famoso crítico e quatro anos depois, na badalada safra de 2000, seu preço chegou a igualar o do Château Latour, considerado um dos melhores vinhos do mundo, o que o próprio Maltus, em entrevista, reconheceu não fazer sentido. Mesmo assim, o Le Dôme 2005, provado com ele em sua recente visita a São Paulo, recebeu 98 pontos do crítico e custa, no Brasil, quase R$ 2.700 a garrafa. Mas hoje não usa nem 100% de barricas novas de carvalho. Com o tempo, trocou-se potência por elegância. 

O curioso é que, ao adquirir o vinhedo do Le Dôme, Maltus imaginou estar comprando uma grande parcela de vinhas de Merlot, a base dos vinhos de Saint-Émilion, em geral complementada pela Cabernet Franc. Só algumas semanas depois da compra descobriu que, na verdade, comprara um vinhedo com pouco Merlot e muito (80%) Cabernet Franc. O acaso funcionou a seu favor. O Le Dôme tornou-se uma das melhores expressões dessa uva, com um porcentual de CF no corte (75% a 80%) que supera, inclusive, o do célebre Cheval Blanc, o padrão de referência quando se fala nessa uva. 

O château Teyssier, primeira propriedade do inglês Jonathan Maltus na região de Saint-Émilion, Foto: château Teyssier

O sucesso do Le Dôme, cujo ápice foi a safra 2010, quando recebeu 100 pontos de Parker, possibilitou que Maltus comprasse outras parcelas de vinhedos de grande qualidade, a partir das quais produz pequenas quantidades (em torno de 300 caixas por ano) de vinhos reputados e caros, como Les Astéries e Le Carré.

Do ponto de vista simbólico, a mais importante dessas aquisições foi a do Vieux Château Mazerat, em 2008. Com apenas 4,14 hectares de vinhedos, o VCM, como é tratado pelo próprio Maltus, é a outra metade da propriedade que deu origem ao Le Dôme, que pertencia a dois irmãos (em 1996, só um quis vender a sua parte). Embora a propriedade seja a mesma, na parcela que corresponde ao VCM a proporção Merlot x Cabernet Franc é praticamente inversa à do Le Dôme (65% x 35%).

Como bom negociante, Maltus cuidou também de ampliar a produção de seu carro-chefe, o château Teyssier, hoje o Saint-Émilion Grand Cru de maior vendagem (15 mil caixas). Paralelamente, seguindo o exemplo de muitos produtores bordaleses, lançou também o Pezat, branco e tinto, uma linha de entrada, produzida com uvas próprias e compradas de terceiros, e vendida a preços bem mais acessíveis.

No exterior, Maltus chegou a ter uma vinícola na Austrália, que vendeu em 2008. E até hoje tem uma no vale do Napa, na Califórnia, que recebeu o nome do local de sua antiga residência em Londres: World's End. O projeto nasceu, admite, de “pura ambição”, mas também para facilitar a distribuição de seus vinhos franceses no concorrido mercado norte-americano.

Em sua recente passagem pelo Brasil, Maltus recebeu uma boa notícia: a de que conseguiu fechar a compra de mais 4,5 hectares de vinhedos, do total de 10 que pretende acrescentar aos 50 que já possui. Com isso, se tornará, possivelmente, o segundo maior proprietário de vinhedos em Saint-Émilion. Nada mal para um “outsider” em Bordeaux, que chegou a ser apelidado por seus vizinhos franceses, de forma obviamente pejorativa, de “Le Businessman” (o homem de negócios).

A outra boa notícia com que sonha ainda deve demorar um pouco. Ela depende da reclassificação dos vinhos da denominação Saint-Émilion, que ocorre a cada dez anos. A próxima será em 2022. A notícia seria a inclusão do Le Dôme entre os Grand Crus Classés das categorias A e B, os mais valorizados. Foi o que ocorreu com o Valandraud, que, na última revisão, em 2012, foi entronizado como um dos 14 classe B (apenas 4 são A). 

Para que isso aconteça, uma das exigências da legislação é que o vinho seja produzido em vinícola própria. Atualmente, o Le Dôme usa as mesmas instalações do Teyssier, mas não por muito tempo. Uma nova e moderníssima instalação, quase que totalmente subterrânea, está em final de construção no Vieux Château Mazérat, onde ficam os vinhedos. Quem assina o projeto é o escritório do famoso arquiteto inglês Norman Foster, autor, entre muitas obras conhecidas, da cúpula do Reichstag em Berlim. 

A escolha do arquiteto ingles não se deveu apenas a sua fama. É de Foster o projeto da nova adega de vinificação de um dos vinhos mais admirados do mundo, o Château Margaux, inaugurada em 2015. A que Foster projetou para Maltus estará pronta para processar as safras 2019 do Le Dôme e de seu irmão quase gêmeo, o VCM. A tempo, portanto, da aguardada reclassificação.

Os vinhos de Maltus

Os vinhos de Jonathan Maltus são importados pela Premium (www.premiumwines.com.br

PEZAT BORDEAUX BLANC SEC 2016Preço: R$ 159,18 Sauvignon Blanc (95%) com 5% de Muscadelle, uva ainda presente, em pequenas proporções, em muitos Bordeaux brancos. É um vinho simples, mas redondo e gostoso, com a boa acidez característica da primeira. A Muscadelle contribui sobretudo no perfil aromático, agregando leve floral às notas cítricas e de frutas brancas (pera) da SB. Para bebericar sem compromisso como aperitivo, acompanhando por generosa porção de lulas e camarões fritos. 

  Foto: Premium Wines

CHÂTEAU TEYSSIER SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2014Preço: R$ 400,22 Carro-chefe do portfólio de Maltus, combina a maciez da Merlot (85% do corte) com a nota mineral aportada pela Cabernet Franc (15%). Mostra fruta madura (ameixas) e leve tostado, além de chocolate, proveniente do estágio em barricas. É um vinho de corpo médio, mais elegante do que potente, com taninos de muito boa textura. Embora possa ser guardado por mais alguns anos, a tentação de bebê-lo agora é grande. Ainda mais se escoltado por um confit de pato. 

  Foto: Premium Wines

LE DÔME SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2005Preço: R$ 2.629,31 Vinho que deu fama (e fortuna) ao produtor. É o inverso do VCM: 75% Cabernet Franc e 25% Merlot. Rica palheta aromática (amoras, ameixa preta, terra úmida, tabaco, torrefação). Ótima acidez e frescor. De tão sedosos, quase não se percebem os taninos, ainda bem presentes. Voluptuoso. O ideal seria prová-lo lado a lado com o VCM, mas isso é para poucos. Com comida, nada de pirotecnias: costeletas ou paleta de cordeiro com purê de batatas (de preferência, o do falecido Robuchon). 

  Foto: Premium Wines

VIEUX CHÂTEAU MAZERAT SAINT-ÉMILION GRAND CRU 2010Preço: R$ 1.401,92 Não se iluda ao saber que a Merlot contribui com 65% do corte, completado por 35% de Cabernet Franc. O VCM é o chamado “soco com luva de pelica”, ou seja, a textura aveludada dos taninos esconde sua potência. De uma das melhores safras de Bordeaux neste século, é um vinho que já pode ser bebido com prazer, mas com longa vida pela frente. Pelo que oferece, tem precedência na harmonização. Por isso, carnes grelhadas, como um bom entrecôte, com legumes na manteiga.

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