A vida das uvas que viram vinho


O mais recente volume produzido sob a direção da wine writer britânica Jancis Robinson já é lançado como compra indispensável para quem gosta de vinhos. Tem 1.280 páginas, mede 29 x 19,2 x 7,8 cm, pesa quase 5 quilos com a caixa que o envolve e custa £ 78 (R$ 254) mais frete na Amazon inglesa (www.amazon.co.uk). Seu título também é colossal: Wine Grapes: A Complete Guide to 1.368 Vine Varieties, Including their Origins and Flavours (Uvas viníferas: um guia completo para 1.386 variedades de uva, incluindo suas origens e sabores).

Por luizhorta
Atualização:

Ao abri-lo, com os verbetes explicativos e todos os nomes que queríamos saber mas não tínhamos a quem perguntar, e as mais belas pranchas coloridas, na melhor tradição de ilustradores botânicos ingleses, estilo Margaret Mee, a única pergunta é: como consegui viver tanto tempo sem esse livro? Ele foi imediatamente compor minha cada vez mais pesada prateleira de referências – curiosamente, formada só de livros com o dedo de Jancis: o Atlas Mundial do Vinho, o Oxford Companion to Wine, o How to Taste. Ela deixará um legado de pedagogia vinícola sem paralelo.

FOTOS: Reprodução

Mas como entrevistá-la sobre o lançamento? Trocamos alguns e-mails e ela confessou que já tinha esgotado o assunto. Na verdade, eu mesmo dera a deixa de que ela, nesta altura, já deveria estar farta de falar sobre o livro… Jancis agradeceu minha compreensão: “Sim, já disse tudo, acho”. Mas, sabidamente workaholic e amiga do Brasil, ela deu a entender que gostaria de oferecer algo original ao Paladar.

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Cogitamos uma lista das perguntas mais frequentes que ela vem recebendo, e foi a solução. Jancis até pensou em colocar o questionário disponível para as centenas de centenas de pedidos de entrevistas que se seguirão. Nasceu assim o “Jancis entrevista Jancis sobre seu novo livro”, um trabalho urdido em cumplicidade, visando a deixá-la em paz.

Suei, mesmo assim, para dar um toque local e achar uma pergunta nova (o que, no caso, era mais ou menos como achar um ângulo novo para fotografar a torre Eiffel…). Mas, bem lá no final, consegui encaixar um comentário pessoal que acabou gerando uma anedota.

Em quanto tempo o livro ficou pronto? Em que o processo de produção diferiu dos anteriores? Levou quatro anos desde que minha assistente Julia Harding e José Vouillamoz (botânico e geneticista de uvas) se encontraram num almoço, em Londres. Ele sugeriu um livro sobre as variedades mais famosas e internacionais de uvas. Eu sugeri que fosse sobre as uvas que produzem vinhos mais comercializados. Estive muito envolvida na formatação e nas decisões editoriais que foram surgindo, mas a parte mais ampla de pesquisa inicial e redação ficou por conta dos outros dois Js (Julia e José). Escrevi a parte sobre as principais uvas (curiosamente, o que era a ideia original de José) e, depois, passei o verão de 2011 revisando e reescrevendo os textos, polindo aqui e ali, acrescentando dados. Finalmente, escrevi parte da introdução. Os quatro anos que a coisa toda durou consumiram mais tempo deles que meu, embora tenha tido um envolvimento quase obsessivo de minha parte nos últimos seis meses. Foi o livro feito de forma mais colaborativa de todos os que participei até hoje.

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Como o leitor vai aproveitar a obra, na sua expectativa? Ele vai ter uma série de momentos ‘veja só!’ e ‘quem diria!’ ao descobrir a relação de parentesco entre as castas (há mais de 300 conexões nunca antes reveladas, só para começar, além daquelas conhecidas apenas por terem sido mencionadas em discretos papers acadêmicos). Também vai gostar de entender como a história social moldou e determinou a distribuição geográfica das variedades de uvas pelo mundo. E curiosidades sobre uvas pouco conhecidas, a razão para desejarmos manter sua biodiversidade e a importância de recuperar castas praticamente extintas.

Entender melhor as uvas aumenta o prazer de beber vinho? Bem pensado. Acho que aumenta, sim, pois todo tipo de conhecimento em torno da bebida leva a melhor apreciação dos vinhos.

Sua casa é em Londres, mas você vive viajando. Como é um dia típico de Jancis? Passo muitas horas alimentando meu site, JancisRobinson.com, e escrevendo, trabalhando em livros futuros, quase sempre na cama… Programas de viagem pedem bastante atenção para serem organizados, e tomam tempo também. Finalmente me levanto e vou a uma ou duas degustações. E ainda alguma degustação em casa, antes de ser alimentada por meu marido, Nick Lander, crítico de restaurantes do Financial Times (Nick Lander também foi dono de restaurante e cozinha bem. Ele publicou um livro recente, The Art of the Restaurateur, do qual o Paladar falou a respeito com destaque). Ou saímos os dois para comer.

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O volume de trabalho que você produz, principalmente no site, é estonteante. Escrever é algo que faz com facilidade? Sim, sai fácil. Não sou grande estilista, mas espero que o que escreva seja claro, relativamente divertido e bem informativo. (Concordo, mas protesto quanto ao que ela diz sobre estilo: Jancis é ótima cronista e seu estilo é saboroso. Ela finge que não leu o elogio.)

Algumas noites você vai deitar resmungando: ‘Oh Deus, chega de Romanée Conti!’? Cansa? Nem vejo tanto Romanée. São duas ou três vezes por ano e puramente como degustação, tecnicamente e sem muita emoção. Mas entendo o que você quer dizer. Nunca me canso de vinhos, confesso. Apesar de o excesso de amostras não solicitadas ficarem chegando em quantidade quase ameaçadora…

Numa noite de sexta, depois de ter passado o dia degustando, você tira uma folga de vinho ou abre uma garrafa favorita? Há uma diferença enorme entre o modo como encaro degustação (com concentração, alerta, alguma tensão, precisando tomar notas de todas as minhas reações) e o jeito como bebo (relaxadamente, deixando o prazer me envolver, sem preocupação). Nunca me canso dos dois, mas a primeira ilumina e informa o segundo.

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Wine Grapes é um livro avançado, para especialistas, ou basta interesse para apreciá-lo? Acho que é um livro para todo mundo que gosta de vinhos. Há um glossário no final. Evitamos usar jargão e muito termo técnico, ou presumir que as pessoas já soubessem do que falamos. É um livro amplo.

Na semana passada você recebeu uma condecoração do embaixador português, por serviços prestados aos vinhos de Portugal. Achei chique você usar um colar com as cores da bandeira portuguesa… Você reparou nisso? Foi pura coincidência, escolhi o colar para combinar com o vestido que Nick tinha me presenteado para a ocasião. Meus filhos gostaram mais da medalha portuguesa que da Ordem do Império Britânico que a rainha Elizabeth me outorgou tempos atrás. Gostei da homenagem, não senti que merecia, mas gostei muito dos vinhos servidos na recepção: Quinta do Vallado, da adega pessoal do embaixador, espumante Aliança, espumante rosado Luís Pato, porto dos Symingtons e um delicioso Madeira Barbeito.

Jancis Robinson alguma vez fica bêbada? Nunca me arrependi de nada da noite anterior. Mas já perdi meu Blackberry uma vez. Argh!

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WINE GRAPES Autor: Jancis Robinson, Julia Harding e José Vouillamoz Editora: Allen Lane (1.280 págs. £ 78, na Amazon.co.uk)

>> Veja todos os textos publicados na edição de 15/11/12 do ‘Paladar

Ao abri-lo, com os verbetes explicativos e todos os nomes que queríamos saber mas não tínhamos a quem perguntar, e as mais belas pranchas coloridas, na melhor tradição de ilustradores botânicos ingleses, estilo Margaret Mee, a única pergunta é: como consegui viver tanto tempo sem esse livro? Ele foi imediatamente compor minha cada vez mais pesada prateleira de referências – curiosamente, formada só de livros com o dedo de Jancis: o Atlas Mundial do Vinho, o Oxford Companion to Wine, o How to Taste. Ela deixará um legado de pedagogia vinícola sem paralelo.

FOTOS: Reprodução

Mas como entrevistá-la sobre o lançamento? Trocamos alguns e-mails e ela confessou que já tinha esgotado o assunto. Na verdade, eu mesmo dera a deixa de que ela, nesta altura, já deveria estar farta de falar sobre o livro… Jancis agradeceu minha compreensão: “Sim, já disse tudo, acho”. Mas, sabidamente workaholic e amiga do Brasil, ela deu a entender que gostaria de oferecer algo original ao Paladar.

Cogitamos uma lista das perguntas mais frequentes que ela vem recebendo, e foi a solução. Jancis até pensou em colocar o questionário disponível para as centenas de centenas de pedidos de entrevistas que se seguirão. Nasceu assim o “Jancis entrevista Jancis sobre seu novo livro”, um trabalho urdido em cumplicidade, visando a deixá-la em paz.

Suei, mesmo assim, para dar um toque local e achar uma pergunta nova (o que, no caso, era mais ou menos como achar um ângulo novo para fotografar a torre Eiffel…). Mas, bem lá no final, consegui encaixar um comentário pessoal que acabou gerando uma anedota.

Em quanto tempo o livro ficou pronto? Em que o processo de produção diferiu dos anteriores? Levou quatro anos desde que minha assistente Julia Harding e José Vouillamoz (botânico e geneticista de uvas) se encontraram num almoço, em Londres. Ele sugeriu um livro sobre as variedades mais famosas e internacionais de uvas. Eu sugeri que fosse sobre as uvas que produzem vinhos mais comercializados. Estive muito envolvida na formatação e nas decisões editoriais que foram surgindo, mas a parte mais ampla de pesquisa inicial e redação ficou por conta dos outros dois Js (Julia e José). Escrevi a parte sobre as principais uvas (curiosamente, o que era a ideia original de José) e, depois, passei o verão de 2011 revisando e reescrevendo os textos, polindo aqui e ali, acrescentando dados. Finalmente, escrevi parte da introdução. Os quatro anos que a coisa toda durou consumiram mais tempo deles que meu, embora tenha tido um envolvimento quase obsessivo de minha parte nos últimos seis meses. Foi o livro feito de forma mais colaborativa de todos os que participei até hoje.

Como o leitor vai aproveitar a obra, na sua expectativa? Ele vai ter uma série de momentos ‘veja só!’ e ‘quem diria!’ ao descobrir a relação de parentesco entre as castas (há mais de 300 conexões nunca antes reveladas, só para começar, além daquelas conhecidas apenas por terem sido mencionadas em discretos papers acadêmicos). Também vai gostar de entender como a história social moldou e determinou a distribuição geográfica das variedades de uvas pelo mundo. E curiosidades sobre uvas pouco conhecidas, a razão para desejarmos manter sua biodiversidade e a importância de recuperar castas praticamente extintas.

Entender melhor as uvas aumenta o prazer de beber vinho? Bem pensado. Acho que aumenta, sim, pois todo tipo de conhecimento em torno da bebida leva a melhor apreciação dos vinhos.

Sua casa é em Londres, mas você vive viajando. Como é um dia típico de Jancis? Passo muitas horas alimentando meu site, JancisRobinson.com, e escrevendo, trabalhando em livros futuros, quase sempre na cama… Programas de viagem pedem bastante atenção para serem organizados, e tomam tempo também. Finalmente me levanto e vou a uma ou duas degustações. E ainda alguma degustação em casa, antes de ser alimentada por meu marido, Nick Lander, crítico de restaurantes do Financial Times (Nick Lander também foi dono de restaurante e cozinha bem. Ele publicou um livro recente, The Art of the Restaurateur, do qual o Paladar falou a respeito com destaque). Ou saímos os dois para comer.

O volume de trabalho que você produz, principalmente no site, é estonteante. Escrever é algo que faz com facilidade? Sim, sai fácil. Não sou grande estilista, mas espero que o que escreva seja claro, relativamente divertido e bem informativo. (Concordo, mas protesto quanto ao que ela diz sobre estilo: Jancis é ótima cronista e seu estilo é saboroso. Ela finge que não leu o elogio.)

Algumas noites você vai deitar resmungando: ‘Oh Deus, chega de Romanée Conti!’? Cansa? Nem vejo tanto Romanée. São duas ou três vezes por ano e puramente como degustação, tecnicamente e sem muita emoção. Mas entendo o que você quer dizer. Nunca me canso de vinhos, confesso. Apesar de o excesso de amostras não solicitadas ficarem chegando em quantidade quase ameaçadora…

Numa noite de sexta, depois de ter passado o dia degustando, você tira uma folga de vinho ou abre uma garrafa favorita? Há uma diferença enorme entre o modo como encaro degustação (com concentração, alerta, alguma tensão, precisando tomar notas de todas as minhas reações) e o jeito como bebo (relaxadamente, deixando o prazer me envolver, sem preocupação). Nunca me canso dos dois, mas a primeira ilumina e informa o segundo.

Wine Grapes é um livro avançado, para especialistas, ou basta interesse para apreciá-lo? Acho que é um livro para todo mundo que gosta de vinhos. Há um glossário no final. Evitamos usar jargão e muito termo técnico, ou presumir que as pessoas já soubessem do que falamos. É um livro amplo.

Na semana passada você recebeu uma condecoração do embaixador português, por serviços prestados aos vinhos de Portugal. Achei chique você usar um colar com as cores da bandeira portuguesa… Você reparou nisso? Foi pura coincidência, escolhi o colar para combinar com o vestido que Nick tinha me presenteado para a ocasião. Meus filhos gostaram mais da medalha portuguesa que da Ordem do Império Britânico que a rainha Elizabeth me outorgou tempos atrás. Gostei da homenagem, não senti que merecia, mas gostei muito dos vinhos servidos na recepção: Quinta do Vallado, da adega pessoal do embaixador, espumante Aliança, espumante rosado Luís Pato, porto dos Symingtons e um delicioso Madeira Barbeito.

Jancis Robinson alguma vez fica bêbada? Nunca me arrependi de nada da noite anterior. Mas já perdi meu Blackberry uma vez. Argh!

WINE GRAPES Autor: Jancis Robinson, Julia Harding e José Vouillamoz Editora: Allen Lane (1.280 págs. £ 78, na Amazon.co.uk)

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Ao abri-lo, com os verbetes explicativos e todos os nomes que queríamos saber mas não tínhamos a quem perguntar, e as mais belas pranchas coloridas, na melhor tradição de ilustradores botânicos ingleses, estilo Margaret Mee, a única pergunta é: como consegui viver tanto tempo sem esse livro? Ele foi imediatamente compor minha cada vez mais pesada prateleira de referências – curiosamente, formada só de livros com o dedo de Jancis: o Atlas Mundial do Vinho, o Oxford Companion to Wine, o How to Taste. Ela deixará um legado de pedagogia vinícola sem paralelo.

FOTOS: Reprodução

Mas como entrevistá-la sobre o lançamento? Trocamos alguns e-mails e ela confessou que já tinha esgotado o assunto. Na verdade, eu mesmo dera a deixa de que ela, nesta altura, já deveria estar farta de falar sobre o livro… Jancis agradeceu minha compreensão: “Sim, já disse tudo, acho”. Mas, sabidamente workaholic e amiga do Brasil, ela deu a entender que gostaria de oferecer algo original ao Paladar.

Cogitamos uma lista das perguntas mais frequentes que ela vem recebendo, e foi a solução. Jancis até pensou em colocar o questionário disponível para as centenas de centenas de pedidos de entrevistas que se seguirão. Nasceu assim o “Jancis entrevista Jancis sobre seu novo livro”, um trabalho urdido em cumplicidade, visando a deixá-la em paz.

Suei, mesmo assim, para dar um toque local e achar uma pergunta nova (o que, no caso, era mais ou menos como achar um ângulo novo para fotografar a torre Eiffel…). Mas, bem lá no final, consegui encaixar um comentário pessoal que acabou gerando uma anedota.

Em quanto tempo o livro ficou pronto? Em que o processo de produção diferiu dos anteriores? Levou quatro anos desde que minha assistente Julia Harding e José Vouillamoz (botânico e geneticista de uvas) se encontraram num almoço, em Londres. Ele sugeriu um livro sobre as variedades mais famosas e internacionais de uvas. Eu sugeri que fosse sobre as uvas que produzem vinhos mais comercializados. Estive muito envolvida na formatação e nas decisões editoriais que foram surgindo, mas a parte mais ampla de pesquisa inicial e redação ficou por conta dos outros dois Js (Julia e José). Escrevi a parte sobre as principais uvas (curiosamente, o que era a ideia original de José) e, depois, passei o verão de 2011 revisando e reescrevendo os textos, polindo aqui e ali, acrescentando dados. Finalmente, escrevi parte da introdução. Os quatro anos que a coisa toda durou consumiram mais tempo deles que meu, embora tenha tido um envolvimento quase obsessivo de minha parte nos últimos seis meses. Foi o livro feito de forma mais colaborativa de todos os que participei até hoje.

Como o leitor vai aproveitar a obra, na sua expectativa? Ele vai ter uma série de momentos ‘veja só!’ e ‘quem diria!’ ao descobrir a relação de parentesco entre as castas (há mais de 300 conexões nunca antes reveladas, só para começar, além daquelas conhecidas apenas por terem sido mencionadas em discretos papers acadêmicos). Também vai gostar de entender como a história social moldou e determinou a distribuição geográfica das variedades de uvas pelo mundo. E curiosidades sobre uvas pouco conhecidas, a razão para desejarmos manter sua biodiversidade e a importância de recuperar castas praticamente extintas.

Entender melhor as uvas aumenta o prazer de beber vinho? Bem pensado. Acho que aumenta, sim, pois todo tipo de conhecimento em torno da bebida leva a melhor apreciação dos vinhos.

Sua casa é em Londres, mas você vive viajando. Como é um dia típico de Jancis? Passo muitas horas alimentando meu site, JancisRobinson.com, e escrevendo, trabalhando em livros futuros, quase sempre na cama… Programas de viagem pedem bastante atenção para serem organizados, e tomam tempo também. Finalmente me levanto e vou a uma ou duas degustações. E ainda alguma degustação em casa, antes de ser alimentada por meu marido, Nick Lander, crítico de restaurantes do Financial Times (Nick Lander também foi dono de restaurante e cozinha bem. Ele publicou um livro recente, The Art of the Restaurateur, do qual o Paladar falou a respeito com destaque). Ou saímos os dois para comer.

O volume de trabalho que você produz, principalmente no site, é estonteante. Escrever é algo que faz com facilidade? Sim, sai fácil. Não sou grande estilista, mas espero que o que escreva seja claro, relativamente divertido e bem informativo. (Concordo, mas protesto quanto ao que ela diz sobre estilo: Jancis é ótima cronista e seu estilo é saboroso. Ela finge que não leu o elogio.)

Algumas noites você vai deitar resmungando: ‘Oh Deus, chega de Romanée Conti!’? Cansa? Nem vejo tanto Romanée. São duas ou três vezes por ano e puramente como degustação, tecnicamente e sem muita emoção. Mas entendo o que você quer dizer. Nunca me canso de vinhos, confesso. Apesar de o excesso de amostras não solicitadas ficarem chegando em quantidade quase ameaçadora…

Numa noite de sexta, depois de ter passado o dia degustando, você tira uma folga de vinho ou abre uma garrafa favorita? Há uma diferença enorme entre o modo como encaro degustação (com concentração, alerta, alguma tensão, precisando tomar notas de todas as minhas reações) e o jeito como bebo (relaxadamente, deixando o prazer me envolver, sem preocupação). Nunca me canso dos dois, mas a primeira ilumina e informa o segundo.

Wine Grapes é um livro avançado, para especialistas, ou basta interesse para apreciá-lo? Acho que é um livro para todo mundo que gosta de vinhos. Há um glossário no final. Evitamos usar jargão e muito termo técnico, ou presumir que as pessoas já soubessem do que falamos. É um livro amplo.

Na semana passada você recebeu uma condecoração do embaixador português, por serviços prestados aos vinhos de Portugal. Achei chique você usar um colar com as cores da bandeira portuguesa… Você reparou nisso? Foi pura coincidência, escolhi o colar para combinar com o vestido que Nick tinha me presenteado para a ocasião. Meus filhos gostaram mais da medalha portuguesa que da Ordem do Império Britânico que a rainha Elizabeth me outorgou tempos atrás. Gostei da homenagem, não senti que merecia, mas gostei muito dos vinhos servidos na recepção: Quinta do Vallado, da adega pessoal do embaixador, espumante Aliança, espumante rosado Luís Pato, porto dos Symingtons e um delicioso Madeira Barbeito.

Jancis Robinson alguma vez fica bêbada? Nunca me arrependi de nada da noite anterior. Mas já perdi meu Blackberry uma vez. Argh!

WINE GRAPES Autor: Jancis Robinson, Julia Harding e José Vouillamoz Editora: Allen Lane (1.280 págs. £ 78, na Amazon.co.uk)

>> Veja todos os textos publicados na edição de 15/11/12 do ‘Paladar

Ao abri-lo, com os verbetes explicativos e todos os nomes que queríamos saber mas não tínhamos a quem perguntar, e as mais belas pranchas coloridas, na melhor tradição de ilustradores botânicos ingleses, estilo Margaret Mee, a única pergunta é: como consegui viver tanto tempo sem esse livro? Ele foi imediatamente compor minha cada vez mais pesada prateleira de referências – curiosamente, formada só de livros com o dedo de Jancis: o Atlas Mundial do Vinho, o Oxford Companion to Wine, o How to Taste. Ela deixará um legado de pedagogia vinícola sem paralelo.

FOTOS: Reprodução

Mas como entrevistá-la sobre o lançamento? Trocamos alguns e-mails e ela confessou que já tinha esgotado o assunto. Na verdade, eu mesmo dera a deixa de que ela, nesta altura, já deveria estar farta de falar sobre o livro… Jancis agradeceu minha compreensão: “Sim, já disse tudo, acho”. Mas, sabidamente workaholic e amiga do Brasil, ela deu a entender que gostaria de oferecer algo original ao Paladar.

Cogitamos uma lista das perguntas mais frequentes que ela vem recebendo, e foi a solução. Jancis até pensou em colocar o questionário disponível para as centenas de centenas de pedidos de entrevistas que se seguirão. Nasceu assim o “Jancis entrevista Jancis sobre seu novo livro”, um trabalho urdido em cumplicidade, visando a deixá-la em paz.

Suei, mesmo assim, para dar um toque local e achar uma pergunta nova (o que, no caso, era mais ou menos como achar um ângulo novo para fotografar a torre Eiffel…). Mas, bem lá no final, consegui encaixar um comentário pessoal que acabou gerando uma anedota.

Em quanto tempo o livro ficou pronto? Em que o processo de produção diferiu dos anteriores? Levou quatro anos desde que minha assistente Julia Harding e José Vouillamoz (botânico e geneticista de uvas) se encontraram num almoço, em Londres. Ele sugeriu um livro sobre as variedades mais famosas e internacionais de uvas. Eu sugeri que fosse sobre as uvas que produzem vinhos mais comercializados. Estive muito envolvida na formatação e nas decisões editoriais que foram surgindo, mas a parte mais ampla de pesquisa inicial e redação ficou por conta dos outros dois Js (Julia e José). Escrevi a parte sobre as principais uvas (curiosamente, o que era a ideia original de José) e, depois, passei o verão de 2011 revisando e reescrevendo os textos, polindo aqui e ali, acrescentando dados. Finalmente, escrevi parte da introdução. Os quatro anos que a coisa toda durou consumiram mais tempo deles que meu, embora tenha tido um envolvimento quase obsessivo de minha parte nos últimos seis meses. Foi o livro feito de forma mais colaborativa de todos os que participei até hoje.

Como o leitor vai aproveitar a obra, na sua expectativa? Ele vai ter uma série de momentos ‘veja só!’ e ‘quem diria!’ ao descobrir a relação de parentesco entre as castas (há mais de 300 conexões nunca antes reveladas, só para começar, além daquelas conhecidas apenas por terem sido mencionadas em discretos papers acadêmicos). Também vai gostar de entender como a história social moldou e determinou a distribuição geográfica das variedades de uvas pelo mundo. E curiosidades sobre uvas pouco conhecidas, a razão para desejarmos manter sua biodiversidade e a importância de recuperar castas praticamente extintas.

Entender melhor as uvas aumenta o prazer de beber vinho? Bem pensado. Acho que aumenta, sim, pois todo tipo de conhecimento em torno da bebida leva a melhor apreciação dos vinhos.

Sua casa é em Londres, mas você vive viajando. Como é um dia típico de Jancis? Passo muitas horas alimentando meu site, JancisRobinson.com, e escrevendo, trabalhando em livros futuros, quase sempre na cama… Programas de viagem pedem bastante atenção para serem organizados, e tomam tempo também. Finalmente me levanto e vou a uma ou duas degustações. E ainda alguma degustação em casa, antes de ser alimentada por meu marido, Nick Lander, crítico de restaurantes do Financial Times (Nick Lander também foi dono de restaurante e cozinha bem. Ele publicou um livro recente, The Art of the Restaurateur, do qual o Paladar falou a respeito com destaque). Ou saímos os dois para comer.

O volume de trabalho que você produz, principalmente no site, é estonteante. Escrever é algo que faz com facilidade? Sim, sai fácil. Não sou grande estilista, mas espero que o que escreva seja claro, relativamente divertido e bem informativo. (Concordo, mas protesto quanto ao que ela diz sobre estilo: Jancis é ótima cronista e seu estilo é saboroso. Ela finge que não leu o elogio.)

Algumas noites você vai deitar resmungando: ‘Oh Deus, chega de Romanée Conti!’? Cansa? Nem vejo tanto Romanée. São duas ou três vezes por ano e puramente como degustação, tecnicamente e sem muita emoção. Mas entendo o que você quer dizer. Nunca me canso de vinhos, confesso. Apesar de o excesso de amostras não solicitadas ficarem chegando em quantidade quase ameaçadora…

Numa noite de sexta, depois de ter passado o dia degustando, você tira uma folga de vinho ou abre uma garrafa favorita? Há uma diferença enorme entre o modo como encaro degustação (com concentração, alerta, alguma tensão, precisando tomar notas de todas as minhas reações) e o jeito como bebo (relaxadamente, deixando o prazer me envolver, sem preocupação). Nunca me canso dos dois, mas a primeira ilumina e informa o segundo.

Wine Grapes é um livro avançado, para especialistas, ou basta interesse para apreciá-lo? Acho que é um livro para todo mundo que gosta de vinhos. Há um glossário no final. Evitamos usar jargão e muito termo técnico, ou presumir que as pessoas já soubessem do que falamos. É um livro amplo.

Na semana passada você recebeu uma condecoração do embaixador português, por serviços prestados aos vinhos de Portugal. Achei chique você usar um colar com as cores da bandeira portuguesa… Você reparou nisso? Foi pura coincidência, escolhi o colar para combinar com o vestido que Nick tinha me presenteado para a ocasião. Meus filhos gostaram mais da medalha portuguesa que da Ordem do Império Britânico que a rainha Elizabeth me outorgou tempos atrás. Gostei da homenagem, não senti que merecia, mas gostei muito dos vinhos servidos na recepção: Quinta do Vallado, da adega pessoal do embaixador, espumante Aliança, espumante rosado Luís Pato, porto dos Symingtons e um delicioso Madeira Barbeito.

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FOTOS: Reprodução

Mas como entrevistá-la sobre o lançamento? Trocamos alguns e-mails e ela confessou que já tinha esgotado o assunto. Na verdade, eu mesmo dera a deixa de que ela, nesta altura, já deveria estar farta de falar sobre o livro… Jancis agradeceu minha compreensão: “Sim, já disse tudo, acho”. Mas, sabidamente workaholic e amiga do Brasil, ela deu a entender que gostaria de oferecer algo original ao Paladar.

Cogitamos uma lista das perguntas mais frequentes que ela vem recebendo, e foi a solução. Jancis até pensou em colocar o questionário disponível para as centenas de centenas de pedidos de entrevistas que se seguirão. Nasceu assim o “Jancis entrevista Jancis sobre seu novo livro”, um trabalho urdido em cumplicidade, visando a deixá-la em paz.

Suei, mesmo assim, para dar um toque local e achar uma pergunta nova (o que, no caso, era mais ou menos como achar um ângulo novo para fotografar a torre Eiffel…). Mas, bem lá no final, consegui encaixar um comentário pessoal que acabou gerando uma anedota.

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Sua casa é em Londres, mas você vive viajando. Como é um dia típico de Jancis? Passo muitas horas alimentando meu site, JancisRobinson.com, e escrevendo, trabalhando em livros futuros, quase sempre na cama… Programas de viagem pedem bastante atenção para serem organizados, e tomam tempo também. Finalmente me levanto e vou a uma ou duas degustações. E ainda alguma degustação em casa, antes de ser alimentada por meu marido, Nick Lander, crítico de restaurantes do Financial Times (Nick Lander também foi dono de restaurante e cozinha bem. Ele publicou um livro recente, The Art of the Restaurateur, do qual o Paladar falou a respeito com destaque). Ou saímos os dois para comer.

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Algumas noites você vai deitar resmungando: ‘Oh Deus, chega de Romanée Conti!’? Cansa? Nem vejo tanto Romanée. São duas ou três vezes por ano e puramente como degustação, tecnicamente e sem muita emoção. Mas entendo o que você quer dizer. Nunca me canso de vinhos, confesso. Apesar de o excesso de amostras não solicitadas ficarem chegando em quantidade quase ameaçadora…

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Wine Grapes é um livro avançado, para especialistas, ou basta interesse para apreciá-lo? Acho que é um livro para todo mundo que gosta de vinhos. Há um glossário no final. Evitamos usar jargão e muito termo técnico, ou presumir que as pessoas já soubessem do que falamos. É um livro amplo.

Na semana passada você recebeu uma condecoração do embaixador português, por serviços prestados aos vinhos de Portugal. Achei chique você usar um colar com as cores da bandeira portuguesa… Você reparou nisso? Foi pura coincidência, escolhi o colar para combinar com o vestido que Nick tinha me presenteado para a ocasião. Meus filhos gostaram mais da medalha portuguesa que da Ordem do Império Britânico que a rainha Elizabeth me outorgou tempos atrás. Gostei da homenagem, não senti que merecia, mas gostei muito dos vinhos servidos na recepção: Quinta do Vallado, da adega pessoal do embaixador, espumante Aliança, espumante rosado Luís Pato, porto dos Symingtons e um delicioso Madeira Barbeito.

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