Conheça a jovem enóloga brasileira que faz vinho para o melhor restaurante do mundo


Pietra Possamai usa uvas “pisqueras” em rótulos vendidos no Central e outros dos melhores restaurantes peruanos

Por Fernanda Meneguetti
Atualização:

Vinte sete anos, treze safras e mais de cem vinhos naturais. Dentre eles um exclusivo para o melhor restaurante do mundo, o Central, em Lima. Aos 14 anos, Pietra Possamai entrou para o IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul) e, em complemento ao ensino médio, passava as tardes em aulas de viticultura e enologia.

Embora estivesse em Bento Gonçalves, capital do vinho brasileiro, a futura enóloga não tinha nenhum produtor ou connoisseur na família, apenas a sugestão de uma tia para ter um diferencial na formação: “Minhas amigas saíam do colégio e iam para a praça, eu ia estudar. Não foi amor à primeira vista, mas pela autoexigência, encontrei delicadeza na dureza por quase 3 anos e com 17 anos estava na Almaúnica”.

Da vinícola do Vale dos Vinhedos para a Bodega Murga, no Peru, não foi um pulo. A sorte até ajudou, mas não de cara: “Vim em 2018 para ficar seis meses com meu namorado, sem falar uma palavra de espanhol, mas a universidade tinha me dado uma gama de coisas para fazer. É como se a enologia dissesse: fome tu não vais passar, algum malabar tu vais fazer”.

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Na Murga, Pietra Possamai e sua cachorra Campanita, que inspirou o rosado natural de mesmo nome Foto: divulgação

O equilibrismo de Pietra consistia em imprimir 12 currículos por dia e distribuir por lojas, hotéis e agências de turismo que não viam a menor diferença entre enóloga e vendedora. Frustrada e de volta ao Brasil, recebeu a ligação de Arturo Inga, engenheiro, provador oficial de pisco, sommelier e mais importante de tudo: sócio da Bodega Murga.

A gaúcha enveredou pela missão de descobrir o vinho natural peruano – in loco. “Saí do avião e passei três horas no carro com o Arturo, que é uma enciclopédia. Quando chegamos, fui direto separar uva e só sentia me observarem: quem é essa maluca de 22 anos tacando o pânico no primeiro dia de teste?”, relembra Pietra.

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Na vibe tacadora de pânico profissional, ela viveu os dois anos e meio da pandemia aos pés dos vinhedos, entrosando-se com uvas pisqueras aromáticas, caso das albillas e itálias, e não aromáticas, como as mollares, quebrantas e negras criollas. “Já estava até conversando com árvore” quando Flor Rey, a sommelière argentina do Maido (o 6º melhor restaurante do mundo), aceitou degustar algumas de suas invenções.

“Até então os vinhos nem tinham preço, a gente ficava levando e vendo o que as pessoas opinavam. Eu tinha feito um pét-nat doce, um troço sem rótulo, que eu nunca tinha aberto, e não sei por que levei para uma das melhores sommelières da América Latina provar”, conta.

Flor não só provou como comprou 500 garrafas para harmonizar com a sobremesa do chef Mitshuaru Tsumura, mais conhecido como Micha: “Como eu ia sonhar que o primeiro cliente seria o Maido? Para um enólogo um dos elogios mais legais é ter um vinho em um menu degustação, porque é uma segunda maneira de conversar. Tu conversas uma vez com o sommelier e outra com o cliente”.

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No Vale de Pisco, os vinhedos de uvas crioulas da Bodega Murga Foto: divulgação

A tal da segunda conversa rendeu chuva de posts nas redes sociais e de buscas no aplicativo Vivino. Rendeu também a entrada no Astrid y Gastón, restaurante que alçou o Peru no mapa mundial da alta gastronomia. Desde então, Pietra fez mais algumas dezenas de experimentos. Alguns se esgotaram, vinte e um seguem à venda no site da Bodega Murga (bodegamurga.com).

Em cartaz, o Agathodemon (S/ 105 ou quase R$ 140), um blend 50% mollar e 50% itália, com 11% de álcool e cor rosada, que exala notas herbáceas, pera e raspas de limão, encontrado no menu da chef Pía León, no Kjölle, atualmente listado como 28º melhor restaurante do mundo.

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Seu marido, Virgilio Martinez, também tem um rótulo da gaúcha, no caso 722 unidades do exclusivo Central, “um vinho feito 100% molllar, uma uva de casca fina e suco doce que sai de plantas bebês, de três anos de idade, e passam 184 dentro de uma ânfora revestida com cera de abelha. É inigualável”.

Os outros clientes, incluindo restaurantes limenhos premiados como Mayta, Mérito e Fiesta, têm à disposição o mais escasso dos produtos, ou uma das menos de 300 garrafas do Dríade, um 100% albilla, de amarelo “caliente” e perfume de flores brancas, frutos secos e “especiarias muito delicadas” (S/ 95, uns R$ 125).

A enóloga Pietra Possamai e alguns de seus rótulos para a Bodega Murga, no Peru Foto: divulgação
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Têm também o mais pop: o Sophia L’Orange (S/ 110 ou R$ 145), uma co-fermentação de uvas quebranta e mollar que começou com 200 garrafas e, na safra de 2021, rendeu 4700. “O Sophia tem essa questão do vinho laranja, que se tornou uma coisa super comercial. O mercado aceita chamar de laranja um vinho com maceração de 10 horas, nos maceramos 30 dias para ter essa versão super seca, mas fácil e divertida”, explica Pietra.

Falando em diversão, a enóloga que quando criança sonhava em ter uma cafeteria na Itália entretém-se “voando bastante”. Ela cria cada bebida, seus nomes e suas histórias. Não desenha, mas pauta e escolhe suas etiquetas. Orgulha-se que algumas delas já sejam exportadas para Estados Unidos, Dubai e Porto Rico, no entanto, quer mesmo é entrar no Brasil.

Vinte sete anos, treze safras e mais de cem vinhos naturais. Dentre eles um exclusivo para o melhor restaurante do mundo, o Central, em Lima. Aos 14 anos, Pietra Possamai entrou para o IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul) e, em complemento ao ensino médio, passava as tardes em aulas de viticultura e enologia.

Embora estivesse em Bento Gonçalves, capital do vinho brasileiro, a futura enóloga não tinha nenhum produtor ou connoisseur na família, apenas a sugestão de uma tia para ter um diferencial na formação: “Minhas amigas saíam do colégio e iam para a praça, eu ia estudar. Não foi amor à primeira vista, mas pela autoexigência, encontrei delicadeza na dureza por quase 3 anos e com 17 anos estava na Almaúnica”.

Da vinícola do Vale dos Vinhedos para a Bodega Murga, no Peru, não foi um pulo. A sorte até ajudou, mas não de cara: “Vim em 2018 para ficar seis meses com meu namorado, sem falar uma palavra de espanhol, mas a universidade tinha me dado uma gama de coisas para fazer. É como se a enologia dissesse: fome tu não vais passar, algum malabar tu vais fazer”.

Na Murga, Pietra Possamai e sua cachorra Campanita, que inspirou o rosado natural de mesmo nome Foto: divulgação

O equilibrismo de Pietra consistia em imprimir 12 currículos por dia e distribuir por lojas, hotéis e agências de turismo que não viam a menor diferença entre enóloga e vendedora. Frustrada e de volta ao Brasil, recebeu a ligação de Arturo Inga, engenheiro, provador oficial de pisco, sommelier e mais importante de tudo: sócio da Bodega Murga.

A gaúcha enveredou pela missão de descobrir o vinho natural peruano – in loco. “Saí do avião e passei três horas no carro com o Arturo, que é uma enciclopédia. Quando chegamos, fui direto separar uva e só sentia me observarem: quem é essa maluca de 22 anos tacando o pânico no primeiro dia de teste?”, relembra Pietra.

Na vibe tacadora de pânico profissional, ela viveu os dois anos e meio da pandemia aos pés dos vinhedos, entrosando-se com uvas pisqueras aromáticas, caso das albillas e itálias, e não aromáticas, como as mollares, quebrantas e negras criollas. “Já estava até conversando com árvore” quando Flor Rey, a sommelière argentina do Maido (o 6º melhor restaurante do mundo), aceitou degustar algumas de suas invenções.

“Até então os vinhos nem tinham preço, a gente ficava levando e vendo o que as pessoas opinavam. Eu tinha feito um pét-nat doce, um troço sem rótulo, que eu nunca tinha aberto, e não sei por que levei para uma das melhores sommelières da América Latina provar”, conta.

Flor não só provou como comprou 500 garrafas para harmonizar com a sobremesa do chef Mitshuaru Tsumura, mais conhecido como Micha: “Como eu ia sonhar que o primeiro cliente seria o Maido? Para um enólogo um dos elogios mais legais é ter um vinho em um menu degustação, porque é uma segunda maneira de conversar. Tu conversas uma vez com o sommelier e outra com o cliente”.

No Vale de Pisco, os vinhedos de uvas crioulas da Bodega Murga Foto: divulgação

A tal da segunda conversa rendeu chuva de posts nas redes sociais e de buscas no aplicativo Vivino. Rendeu também a entrada no Astrid y Gastón, restaurante que alçou o Peru no mapa mundial da alta gastronomia. Desde então, Pietra fez mais algumas dezenas de experimentos. Alguns se esgotaram, vinte e um seguem à venda no site da Bodega Murga (bodegamurga.com).

Em cartaz, o Agathodemon (S/ 105 ou quase R$ 140), um blend 50% mollar e 50% itália, com 11% de álcool e cor rosada, que exala notas herbáceas, pera e raspas de limão, encontrado no menu da chef Pía León, no Kjölle, atualmente listado como 28º melhor restaurante do mundo.

Seu marido, Virgilio Martinez, também tem um rótulo da gaúcha, no caso 722 unidades do exclusivo Central, “um vinho feito 100% molllar, uma uva de casca fina e suco doce que sai de plantas bebês, de três anos de idade, e passam 184 dentro de uma ânfora revestida com cera de abelha. É inigualável”.

Os outros clientes, incluindo restaurantes limenhos premiados como Mayta, Mérito e Fiesta, têm à disposição o mais escasso dos produtos, ou uma das menos de 300 garrafas do Dríade, um 100% albilla, de amarelo “caliente” e perfume de flores brancas, frutos secos e “especiarias muito delicadas” (S/ 95, uns R$ 125).

A enóloga Pietra Possamai e alguns de seus rótulos para a Bodega Murga, no Peru Foto: divulgação

Têm também o mais pop: o Sophia L’Orange (S/ 110 ou R$ 145), uma co-fermentação de uvas quebranta e mollar que começou com 200 garrafas e, na safra de 2021, rendeu 4700. “O Sophia tem essa questão do vinho laranja, que se tornou uma coisa super comercial. O mercado aceita chamar de laranja um vinho com maceração de 10 horas, nos maceramos 30 dias para ter essa versão super seca, mas fácil e divertida”, explica Pietra.

Falando em diversão, a enóloga que quando criança sonhava em ter uma cafeteria na Itália entretém-se “voando bastante”. Ela cria cada bebida, seus nomes e suas histórias. Não desenha, mas pauta e escolhe suas etiquetas. Orgulha-se que algumas delas já sejam exportadas para Estados Unidos, Dubai e Porto Rico, no entanto, quer mesmo é entrar no Brasil.

Vinte sete anos, treze safras e mais de cem vinhos naturais. Dentre eles um exclusivo para o melhor restaurante do mundo, o Central, em Lima. Aos 14 anos, Pietra Possamai entrou para o IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul) e, em complemento ao ensino médio, passava as tardes em aulas de viticultura e enologia.

Embora estivesse em Bento Gonçalves, capital do vinho brasileiro, a futura enóloga não tinha nenhum produtor ou connoisseur na família, apenas a sugestão de uma tia para ter um diferencial na formação: “Minhas amigas saíam do colégio e iam para a praça, eu ia estudar. Não foi amor à primeira vista, mas pela autoexigência, encontrei delicadeza na dureza por quase 3 anos e com 17 anos estava na Almaúnica”.

Da vinícola do Vale dos Vinhedos para a Bodega Murga, no Peru, não foi um pulo. A sorte até ajudou, mas não de cara: “Vim em 2018 para ficar seis meses com meu namorado, sem falar uma palavra de espanhol, mas a universidade tinha me dado uma gama de coisas para fazer. É como se a enologia dissesse: fome tu não vais passar, algum malabar tu vais fazer”.

Na Murga, Pietra Possamai e sua cachorra Campanita, que inspirou o rosado natural de mesmo nome Foto: divulgação

O equilibrismo de Pietra consistia em imprimir 12 currículos por dia e distribuir por lojas, hotéis e agências de turismo que não viam a menor diferença entre enóloga e vendedora. Frustrada e de volta ao Brasil, recebeu a ligação de Arturo Inga, engenheiro, provador oficial de pisco, sommelier e mais importante de tudo: sócio da Bodega Murga.

A gaúcha enveredou pela missão de descobrir o vinho natural peruano – in loco. “Saí do avião e passei três horas no carro com o Arturo, que é uma enciclopédia. Quando chegamos, fui direto separar uva e só sentia me observarem: quem é essa maluca de 22 anos tacando o pânico no primeiro dia de teste?”, relembra Pietra.

Na vibe tacadora de pânico profissional, ela viveu os dois anos e meio da pandemia aos pés dos vinhedos, entrosando-se com uvas pisqueras aromáticas, caso das albillas e itálias, e não aromáticas, como as mollares, quebrantas e negras criollas. “Já estava até conversando com árvore” quando Flor Rey, a sommelière argentina do Maido (o 6º melhor restaurante do mundo), aceitou degustar algumas de suas invenções.

“Até então os vinhos nem tinham preço, a gente ficava levando e vendo o que as pessoas opinavam. Eu tinha feito um pét-nat doce, um troço sem rótulo, que eu nunca tinha aberto, e não sei por que levei para uma das melhores sommelières da América Latina provar”, conta.

Flor não só provou como comprou 500 garrafas para harmonizar com a sobremesa do chef Mitshuaru Tsumura, mais conhecido como Micha: “Como eu ia sonhar que o primeiro cliente seria o Maido? Para um enólogo um dos elogios mais legais é ter um vinho em um menu degustação, porque é uma segunda maneira de conversar. Tu conversas uma vez com o sommelier e outra com o cliente”.

No Vale de Pisco, os vinhedos de uvas crioulas da Bodega Murga Foto: divulgação

A tal da segunda conversa rendeu chuva de posts nas redes sociais e de buscas no aplicativo Vivino. Rendeu também a entrada no Astrid y Gastón, restaurante que alçou o Peru no mapa mundial da alta gastronomia. Desde então, Pietra fez mais algumas dezenas de experimentos. Alguns se esgotaram, vinte e um seguem à venda no site da Bodega Murga (bodegamurga.com).

Em cartaz, o Agathodemon (S/ 105 ou quase R$ 140), um blend 50% mollar e 50% itália, com 11% de álcool e cor rosada, que exala notas herbáceas, pera e raspas de limão, encontrado no menu da chef Pía León, no Kjölle, atualmente listado como 28º melhor restaurante do mundo.

Seu marido, Virgilio Martinez, também tem um rótulo da gaúcha, no caso 722 unidades do exclusivo Central, “um vinho feito 100% molllar, uma uva de casca fina e suco doce que sai de plantas bebês, de três anos de idade, e passam 184 dentro de uma ânfora revestida com cera de abelha. É inigualável”.

Os outros clientes, incluindo restaurantes limenhos premiados como Mayta, Mérito e Fiesta, têm à disposição o mais escasso dos produtos, ou uma das menos de 300 garrafas do Dríade, um 100% albilla, de amarelo “caliente” e perfume de flores brancas, frutos secos e “especiarias muito delicadas” (S/ 95, uns R$ 125).

A enóloga Pietra Possamai e alguns de seus rótulos para a Bodega Murga, no Peru Foto: divulgação

Têm também o mais pop: o Sophia L’Orange (S/ 110 ou R$ 145), uma co-fermentação de uvas quebranta e mollar que começou com 200 garrafas e, na safra de 2021, rendeu 4700. “O Sophia tem essa questão do vinho laranja, que se tornou uma coisa super comercial. O mercado aceita chamar de laranja um vinho com maceração de 10 horas, nos maceramos 30 dias para ter essa versão super seca, mas fácil e divertida”, explica Pietra.

Falando em diversão, a enóloga que quando criança sonhava em ter uma cafeteria na Itália entretém-se “voando bastante”. Ela cria cada bebida, seus nomes e suas histórias. Não desenha, mas pauta e escolhe suas etiquetas. Orgulha-se que algumas delas já sejam exportadas para Estados Unidos, Dubai e Porto Rico, no entanto, quer mesmo é entrar no Brasil.

Vinte sete anos, treze safras e mais de cem vinhos naturais. Dentre eles um exclusivo para o melhor restaurante do mundo, o Central, em Lima. Aos 14 anos, Pietra Possamai entrou para o IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul) e, em complemento ao ensino médio, passava as tardes em aulas de viticultura e enologia.

Embora estivesse em Bento Gonçalves, capital do vinho brasileiro, a futura enóloga não tinha nenhum produtor ou connoisseur na família, apenas a sugestão de uma tia para ter um diferencial na formação: “Minhas amigas saíam do colégio e iam para a praça, eu ia estudar. Não foi amor à primeira vista, mas pela autoexigência, encontrei delicadeza na dureza por quase 3 anos e com 17 anos estava na Almaúnica”.

Da vinícola do Vale dos Vinhedos para a Bodega Murga, no Peru, não foi um pulo. A sorte até ajudou, mas não de cara: “Vim em 2018 para ficar seis meses com meu namorado, sem falar uma palavra de espanhol, mas a universidade tinha me dado uma gama de coisas para fazer. É como se a enologia dissesse: fome tu não vais passar, algum malabar tu vais fazer”.

Na Murga, Pietra Possamai e sua cachorra Campanita, que inspirou o rosado natural de mesmo nome Foto: divulgação

O equilibrismo de Pietra consistia em imprimir 12 currículos por dia e distribuir por lojas, hotéis e agências de turismo que não viam a menor diferença entre enóloga e vendedora. Frustrada e de volta ao Brasil, recebeu a ligação de Arturo Inga, engenheiro, provador oficial de pisco, sommelier e mais importante de tudo: sócio da Bodega Murga.

A gaúcha enveredou pela missão de descobrir o vinho natural peruano – in loco. “Saí do avião e passei três horas no carro com o Arturo, que é uma enciclopédia. Quando chegamos, fui direto separar uva e só sentia me observarem: quem é essa maluca de 22 anos tacando o pânico no primeiro dia de teste?”, relembra Pietra.

Na vibe tacadora de pânico profissional, ela viveu os dois anos e meio da pandemia aos pés dos vinhedos, entrosando-se com uvas pisqueras aromáticas, caso das albillas e itálias, e não aromáticas, como as mollares, quebrantas e negras criollas. “Já estava até conversando com árvore” quando Flor Rey, a sommelière argentina do Maido (o 6º melhor restaurante do mundo), aceitou degustar algumas de suas invenções.

“Até então os vinhos nem tinham preço, a gente ficava levando e vendo o que as pessoas opinavam. Eu tinha feito um pét-nat doce, um troço sem rótulo, que eu nunca tinha aberto, e não sei por que levei para uma das melhores sommelières da América Latina provar”, conta.

Flor não só provou como comprou 500 garrafas para harmonizar com a sobremesa do chef Mitshuaru Tsumura, mais conhecido como Micha: “Como eu ia sonhar que o primeiro cliente seria o Maido? Para um enólogo um dos elogios mais legais é ter um vinho em um menu degustação, porque é uma segunda maneira de conversar. Tu conversas uma vez com o sommelier e outra com o cliente”.

No Vale de Pisco, os vinhedos de uvas crioulas da Bodega Murga Foto: divulgação

A tal da segunda conversa rendeu chuva de posts nas redes sociais e de buscas no aplicativo Vivino. Rendeu também a entrada no Astrid y Gastón, restaurante que alçou o Peru no mapa mundial da alta gastronomia. Desde então, Pietra fez mais algumas dezenas de experimentos. Alguns se esgotaram, vinte e um seguem à venda no site da Bodega Murga (bodegamurga.com).

Em cartaz, o Agathodemon (S/ 105 ou quase R$ 140), um blend 50% mollar e 50% itália, com 11% de álcool e cor rosada, que exala notas herbáceas, pera e raspas de limão, encontrado no menu da chef Pía León, no Kjölle, atualmente listado como 28º melhor restaurante do mundo.

Seu marido, Virgilio Martinez, também tem um rótulo da gaúcha, no caso 722 unidades do exclusivo Central, “um vinho feito 100% molllar, uma uva de casca fina e suco doce que sai de plantas bebês, de três anos de idade, e passam 184 dentro de uma ânfora revestida com cera de abelha. É inigualável”.

Os outros clientes, incluindo restaurantes limenhos premiados como Mayta, Mérito e Fiesta, têm à disposição o mais escasso dos produtos, ou uma das menos de 300 garrafas do Dríade, um 100% albilla, de amarelo “caliente” e perfume de flores brancas, frutos secos e “especiarias muito delicadas” (S/ 95, uns R$ 125).

A enóloga Pietra Possamai e alguns de seus rótulos para a Bodega Murga, no Peru Foto: divulgação

Têm também o mais pop: o Sophia L’Orange (S/ 110 ou R$ 145), uma co-fermentação de uvas quebranta e mollar que começou com 200 garrafas e, na safra de 2021, rendeu 4700. “O Sophia tem essa questão do vinho laranja, que se tornou uma coisa super comercial. O mercado aceita chamar de laranja um vinho com maceração de 10 horas, nos maceramos 30 dias para ter essa versão super seca, mas fácil e divertida”, explica Pietra.

Falando em diversão, a enóloga que quando criança sonhava em ter uma cafeteria na Itália entretém-se “voando bastante”. Ela cria cada bebida, seus nomes e suas histórias. Não desenha, mas pauta e escolhe suas etiquetas. Orgulha-se que algumas delas já sejam exportadas para Estados Unidos, Dubai e Porto Rico, no entanto, quer mesmo é entrar no Brasil.

Vinte sete anos, treze safras e mais de cem vinhos naturais. Dentre eles um exclusivo para o melhor restaurante do mundo, o Central, em Lima. Aos 14 anos, Pietra Possamai entrou para o IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul) e, em complemento ao ensino médio, passava as tardes em aulas de viticultura e enologia.

Embora estivesse em Bento Gonçalves, capital do vinho brasileiro, a futura enóloga não tinha nenhum produtor ou connoisseur na família, apenas a sugestão de uma tia para ter um diferencial na formação: “Minhas amigas saíam do colégio e iam para a praça, eu ia estudar. Não foi amor à primeira vista, mas pela autoexigência, encontrei delicadeza na dureza por quase 3 anos e com 17 anos estava na Almaúnica”.

Da vinícola do Vale dos Vinhedos para a Bodega Murga, no Peru, não foi um pulo. A sorte até ajudou, mas não de cara: “Vim em 2018 para ficar seis meses com meu namorado, sem falar uma palavra de espanhol, mas a universidade tinha me dado uma gama de coisas para fazer. É como se a enologia dissesse: fome tu não vais passar, algum malabar tu vais fazer”.

Na Murga, Pietra Possamai e sua cachorra Campanita, que inspirou o rosado natural de mesmo nome Foto: divulgação

O equilibrismo de Pietra consistia em imprimir 12 currículos por dia e distribuir por lojas, hotéis e agências de turismo que não viam a menor diferença entre enóloga e vendedora. Frustrada e de volta ao Brasil, recebeu a ligação de Arturo Inga, engenheiro, provador oficial de pisco, sommelier e mais importante de tudo: sócio da Bodega Murga.

A gaúcha enveredou pela missão de descobrir o vinho natural peruano – in loco. “Saí do avião e passei três horas no carro com o Arturo, que é uma enciclopédia. Quando chegamos, fui direto separar uva e só sentia me observarem: quem é essa maluca de 22 anos tacando o pânico no primeiro dia de teste?”, relembra Pietra.

Na vibe tacadora de pânico profissional, ela viveu os dois anos e meio da pandemia aos pés dos vinhedos, entrosando-se com uvas pisqueras aromáticas, caso das albillas e itálias, e não aromáticas, como as mollares, quebrantas e negras criollas. “Já estava até conversando com árvore” quando Flor Rey, a sommelière argentina do Maido (o 6º melhor restaurante do mundo), aceitou degustar algumas de suas invenções.

“Até então os vinhos nem tinham preço, a gente ficava levando e vendo o que as pessoas opinavam. Eu tinha feito um pét-nat doce, um troço sem rótulo, que eu nunca tinha aberto, e não sei por que levei para uma das melhores sommelières da América Latina provar”, conta.

Flor não só provou como comprou 500 garrafas para harmonizar com a sobremesa do chef Mitshuaru Tsumura, mais conhecido como Micha: “Como eu ia sonhar que o primeiro cliente seria o Maido? Para um enólogo um dos elogios mais legais é ter um vinho em um menu degustação, porque é uma segunda maneira de conversar. Tu conversas uma vez com o sommelier e outra com o cliente”.

No Vale de Pisco, os vinhedos de uvas crioulas da Bodega Murga Foto: divulgação

A tal da segunda conversa rendeu chuva de posts nas redes sociais e de buscas no aplicativo Vivino. Rendeu também a entrada no Astrid y Gastón, restaurante que alçou o Peru no mapa mundial da alta gastronomia. Desde então, Pietra fez mais algumas dezenas de experimentos. Alguns se esgotaram, vinte e um seguem à venda no site da Bodega Murga (bodegamurga.com).

Em cartaz, o Agathodemon (S/ 105 ou quase R$ 140), um blend 50% mollar e 50% itália, com 11% de álcool e cor rosada, que exala notas herbáceas, pera e raspas de limão, encontrado no menu da chef Pía León, no Kjölle, atualmente listado como 28º melhor restaurante do mundo.

Seu marido, Virgilio Martinez, também tem um rótulo da gaúcha, no caso 722 unidades do exclusivo Central, “um vinho feito 100% molllar, uma uva de casca fina e suco doce que sai de plantas bebês, de três anos de idade, e passam 184 dentro de uma ânfora revestida com cera de abelha. É inigualável”.

Os outros clientes, incluindo restaurantes limenhos premiados como Mayta, Mérito e Fiesta, têm à disposição o mais escasso dos produtos, ou uma das menos de 300 garrafas do Dríade, um 100% albilla, de amarelo “caliente” e perfume de flores brancas, frutos secos e “especiarias muito delicadas” (S/ 95, uns R$ 125).

A enóloga Pietra Possamai e alguns de seus rótulos para a Bodega Murga, no Peru Foto: divulgação

Têm também o mais pop: o Sophia L’Orange (S/ 110 ou R$ 145), uma co-fermentação de uvas quebranta e mollar que começou com 200 garrafas e, na safra de 2021, rendeu 4700. “O Sophia tem essa questão do vinho laranja, que se tornou uma coisa super comercial. O mercado aceita chamar de laranja um vinho com maceração de 10 horas, nos maceramos 30 dias para ter essa versão super seca, mas fácil e divertida”, explica Pietra.

Falando em diversão, a enóloga que quando criança sonhava em ter uma cafeteria na Itália entretém-se “voando bastante”. Ela cria cada bebida, seus nomes e suas histórias. Não desenha, mas pauta e escolhe suas etiquetas. Orgulha-se que algumas delas já sejam exportadas para Estados Unidos, Dubai e Porto Rico, no entanto, quer mesmo é entrar no Brasil.

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