Mudança climática determina ao menos 5 novas tendências na produção de vinhos


As mudanças climáticas estão transformando tradições e práticas. No curto prazo, algumas delas realmente beneficiaram certas regiões

Por Eric Asimov

As mudanças climáticas estão transformando tradições e práticas de séculos no mundo dos vinhos. Os produtores testam adaptações, não apenas nos verões e invernos mais quentes, nas secas e nos eventos inesperados e às vezes violentos, como estranhas tempestades de granizo, geadas de primavera, inundações e incêndios florestais. O fato, porém, é que, no curto prazo, algumas dessas mudanças beneficiaram certas regiões.

Lugares, como a Inglaterra, historicamente inadequados a produção vinícola, ingressaram no negócio, com a transformação da economia local.

Em áreas como Borgonha, Barolo, Champagne e os vales do Mosel e do Reno na Alemanha, onde grandes safras eram raras, as estações mais quentes tornaram muito mais fácil a produção de vinhos excepcionais. Essa corrida de prosperidade elevou os valores da terra (e os preços do vinho). 

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Lugares, como a Inglaterra, que historicamente não eram adequados para a produção de vinhos finos, tiveram a oportunidade de ingressar no mundo global do vinho Foto: Jas Lehal/Reuters

O fato é que os efeitos acelerados das mudanças de clima estão forçando a indústria do vinho a tomar medidas decisivas para se adaptar às mudanças. Até agora, esses esforços estão focados em cinco fatores:

1. O mapa do vinho está se expandindo

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Os produtores já cultivam uvas em lugares que antes eram muito frios. Para algumas uvas como Pinot Noir, Chardonnay, Nebbiolo e Riesling, esses ambientes limítrofes permitem uma combinação de baixos rendimentos e maturação fenólica, na qual açúcar, ácido e taninos se equilibram para produzir vinhos emocionantes (plantadas em solos excessivamente férteis em climas quentes, essas uvas produzem vinhos opacos e frouxos, com pouco caráter).

À medida que o clima esquenta, os produtores estão se deslocando para o norte no Hemisfério Norte e para o sul no Sul.

A Inglaterra é um exemplo perfeito. O aquecimento fez surgir uma indústria de espumantes de classe mundial, com novas vinhas plantadas em ritmo vertiginoso, principalmente ao longo da costa sul. De Kent, no leste, através do leste e oeste de Sussex, Hampshire, Dorset e até o oeste da Cornualha, estão sendo produzidos bons vinhos espumantes, pelo mesmo método que o champanhe, mas com caráter próprio.

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Vinhedos em Salta, região na Argetina comclima desértico, pluviosidade ínfima, noites frias e dias quentes e radiação UV altíssima. Foto: Lucineia Nunes/Estadão

2. Os produtores estão buscando terrenos mais altos

Vinhedos estão sendo plantados em altitudes antes consideradas inóspitas. Não há regras invariáveis para o limite de altitude ao plantio de uvas, depende do clima, da qualidade da luz, do acesso à água e da natureza das uvas. Mas, claramente, à medida que a terra esquenta, os vinhedos estão subindo.

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Em resposta à mudança climática, a Família Torres, da Catalunha, plantou vinhedos em altitudes entre 900 e 1.200 metros de no sopé dos Pirineus. “Vinte e cinco anos atrás, teria sido impossível”, diz o gerente geral Miguel Torres Maczassek.

A região de Hautes-Côtes da Borgonha, dividida entre a Côte de Beaune e a Côte de Nuits no coração da Borgonha, não tinha grande potencial por causa da altitude de 370 a quase 400 metros. Nessa altura, as uvas demoravam a amadurecer ou não amadureciam completamente. Seus vinhos eram muito leves e finos. Agora, as uvas amadurecem bem e os vinhos melhoram cada vez mais.

Bolívia faz vinhos complexos e sofisticados - quase todos em regiões altíssimas

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Vinhedos da Uvairenda plantados a 1.750 metros de altitude, na cidade de Samaipata, na Bolívia. Foto: Vinícola Uvairenda

3. Os produtores estão restringindo a luz solar

Durante séculos, uma fórmula governou o plantio de algumas das maiores vinhas do mundo no Hemisfério Norte: o plantio nas encostas, com solos adequados, voltados para o sul ou sudeste, onde receberiam mais sol e calor para amadurecer. 

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Isso valia nos vales de Douro, em Portugal, Mosel ou Reno, na Alemanha, no norte do Vale do Ródano, na França, na Borgonha ou em Barolo. No Hemisfério Sul, o inverso era verdadeiro: as encostas voltadas para o norte eram as mais procuradas. Com o clima mudando, no entanto, o problema não é mais como amadurecer, mas como evitar o amadurecimento excessivo das uvas. Isso está levando produtores a se reorientar. 

No vale de Yarra, na Austrália, por exemplo, os produtores estão repensando a orientação de vinhedos ao norte e já plantam Chenin Blanc, Pinot Noir e Nebbiolo, voltadas para o sul, buscando clima mais frio.

A vista do Douro desde a Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo, vinícola e hotel de luxo Foto: Quinta Nova|Divulgação

4. As regiões estão avaliando o uso de diferentes uvas

Para muitos produtores, particularmente pequenas propriedades familiares ou aqueles de denominações históricas, plantar novos vinhedos em ambientes mais frios, como no caso da Austrália, não são uma opção. Em vez disso, eles avaliam a mudança da essência do que vêm fazendo, em alguns casos há séculos. Isso pode significar abbandonar uvas tradicionais há muito associadas à sua região e selecionar as mais apropriadas para as mudanças climáticas.

Pode parecer impossível imaginar Bordeaux sem Cabernet Sauvignon e Merlot, ou Champanhe sem Pinot Noir e Chardonnay, mas a perspectiva de um futuro muito mais quente pode exigir que mesmo as regiões vinícolas mais famosas repensem seus métodos.

Isso já está acontecendo experimentalmente em Bordeaux e no Napa Valley, duas regiões de prestígio estreitamente associadas ao Cabernet Sauvignon. Em Bordeaux, onde os produtores podem usar apenas uvas permitidas pelas autoridades da denominação, sete uvas adicionais foram selecionadas para experimentos para determinar se elas podem ser usadas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Eles incluem quatro uvas vermelhas, Touriga Nacional, uma das principais uvas do Porto; Marselan, um cruzamento entre Cabernet Sauvignon e Grenache; Castets, uma variedade quase esquecida, resistente a certas doenças; e Arinarnoa, um cruzamento entre Cabernet e Tannat com amadurecimento tardio, que pode proteger contra geadas da primavera.

Espere ouvir mais experiências em muitas outras regiões.

Vinhas queimadas em Restinclieres, perto de Montpellier, na França Foto: Sylvain Thomas/AFP

5. O clima não é mais tão previsível

Para os agricultores e, especialmente, os produtores de uva, a experiência conta muito. Não há dois anos idênticos, mas com o tempo eles já teriam visto muitos eventos climáticos diferentes e aprendido como reagir na maioria dos casos. Registros meticulosos ao longo de décadas, até séculos, eram de grande ajuda. Mesmo que o tempo sempre surpreendesse, os agricultores experientes geralmente sabiam o que esperar. Com as mudanças climáticas, isso não é mais verdade.

“Chove quando nunca costumava chover, chove no verão quando estava seco, é seco no inverno quando costumava chover”, afirma a italiana Gaia Gaja, da vinícola Gaja, que produz vinho em Barbaresco e Barolo há gerações. Ela disse que o aumento da umidade no verão fez com que as pragas se reproduzissem mais rapidamente, com quatro ciclos por ano em vez dos dois como de costume. Incêndios florestais, inundações, secas – as regiões vinícolas terão de aprender a lidar regularmente com essas devastações que antes eram raras.

A viticultura, por sua natureza, já é uma atividade complicada. À medida em que os climas do mundo estão sendo intensamente e rapidamente transformados, torna-se cada vez mais difícil produzir vinhos segundo tradições locais.

  Foto: Christian Hartmann|Reuters

/ Tradução de Claudia Bozzo 

As mudanças climáticas estão transformando tradições e práticas de séculos no mundo dos vinhos. Os produtores testam adaptações, não apenas nos verões e invernos mais quentes, nas secas e nos eventos inesperados e às vezes violentos, como estranhas tempestades de granizo, geadas de primavera, inundações e incêndios florestais. O fato, porém, é que, no curto prazo, algumas dessas mudanças beneficiaram certas regiões.

Lugares, como a Inglaterra, historicamente inadequados a produção vinícola, ingressaram no negócio, com a transformação da economia local.

Em áreas como Borgonha, Barolo, Champagne e os vales do Mosel e do Reno na Alemanha, onde grandes safras eram raras, as estações mais quentes tornaram muito mais fácil a produção de vinhos excepcionais. Essa corrida de prosperidade elevou os valores da terra (e os preços do vinho). 

Lugares, como a Inglaterra, que historicamente não eram adequados para a produção de vinhos finos, tiveram a oportunidade de ingressar no mundo global do vinho Foto: Jas Lehal/Reuters

O fato é que os efeitos acelerados das mudanças de clima estão forçando a indústria do vinho a tomar medidas decisivas para se adaptar às mudanças. Até agora, esses esforços estão focados em cinco fatores:

1. O mapa do vinho está se expandindo

Os produtores já cultivam uvas em lugares que antes eram muito frios. Para algumas uvas como Pinot Noir, Chardonnay, Nebbiolo e Riesling, esses ambientes limítrofes permitem uma combinação de baixos rendimentos e maturação fenólica, na qual açúcar, ácido e taninos se equilibram para produzir vinhos emocionantes (plantadas em solos excessivamente férteis em climas quentes, essas uvas produzem vinhos opacos e frouxos, com pouco caráter).

À medida que o clima esquenta, os produtores estão se deslocando para o norte no Hemisfério Norte e para o sul no Sul.

A Inglaterra é um exemplo perfeito. O aquecimento fez surgir uma indústria de espumantes de classe mundial, com novas vinhas plantadas em ritmo vertiginoso, principalmente ao longo da costa sul. De Kent, no leste, através do leste e oeste de Sussex, Hampshire, Dorset e até o oeste da Cornualha, estão sendo produzidos bons vinhos espumantes, pelo mesmo método que o champanhe, mas com caráter próprio.

Vinhedos em Salta, região na Argetina comclima desértico, pluviosidade ínfima, noites frias e dias quentes e radiação UV altíssima. Foto: Lucineia Nunes/Estadão

2. Os produtores estão buscando terrenos mais altos

Vinhedos estão sendo plantados em altitudes antes consideradas inóspitas. Não há regras invariáveis para o limite de altitude ao plantio de uvas, depende do clima, da qualidade da luz, do acesso à água e da natureza das uvas. Mas, claramente, à medida que a terra esquenta, os vinhedos estão subindo.

Em resposta à mudança climática, a Família Torres, da Catalunha, plantou vinhedos em altitudes entre 900 e 1.200 metros de no sopé dos Pirineus. “Vinte e cinco anos atrás, teria sido impossível”, diz o gerente geral Miguel Torres Maczassek.

A região de Hautes-Côtes da Borgonha, dividida entre a Côte de Beaune e a Côte de Nuits no coração da Borgonha, não tinha grande potencial por causa da altitude de 370 a quase 400 metros. Nessa altura, as uvas demoravam a amadurecer ou não amadureciam completamente. Seus vinhos eram muito leves e finos. Agora, as uvas amadurecem bem e os vinhos melhoram cada vez mais.

Bolívia faz vinhos complexos e sofisticados - quase todos em regiões altíssimas

Vinhedos da Uvairenda plantados a 1.750 metros de altitude, na cidade de Samaipata, na Bolívia. Foto: Vinícola Uvairenda

3. Os produtores estão restringindo a luz solar

Durante séculos, uma fórmula governou o plantio de algumas das maiores vinhas do mundo no Hemisfério Norte: o plantio nas encostas, com solos adequados, voltados para o sul ou sudeste, onde receberiam mais sol e calor para amadurecer. 

Isso valia nos vales de Douro, em Portugal, Mosel ou Reno, na Alemanha, no norte do Vale do Ródano, na França, na Borgonha ou em Barolo. No Hemisfério Sul, o inverso era verdadeiro: as encostas voltadas para o norte eram as mais procuradas. Com o clima mudando, no entanto, o problema não é mais como amadurecer, mas como evitar o amadurecimento excessivo das uvas. Isso está levando produtores a se reorientar. 

No vale de Yarra, na Austrália, por exemplo, os produtores estão repensando a orientação de vinhedos ao norte e já plantam Chenin Blanc, Pinot Noir e Nebbiolo, voltadas para o sul, buscando clima mais frio.

A vista do Douro desde a Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo, vinícola e hotel de luxo Foto: Quinta Nova|Divulgação

4. As regiões estão avaliando o uso de diferentes uvas

Para muitos produtores, particularmente pequenas propriedades familiares ou aqueles de denominações históricas, plantar novos vinhedos em ambientes mais frios, como no caso da Austrália, não são uma opção. Em vez disso, eles avaliam a mudança da essência do que vêm fazendo, em alguns casos há séculos. Isso pode significar abbandonar uvas tradicionais há muito associadas à sua região e selecionar as mais apropriadas para as mudanças climáticas.

Pode parecer impossível imaginar Bordeaux sem Cabernet Sauvignon e Merlot, ou Champanhe sem Pinot Noir e Chardonnay, mas a perspectiva de um futuro muito mais quente pode exigir que mesmo as regiões vinícolas mais famosas repensem seus métodos.

Isso já está acontecendo experimentalmente em Bordeaux e no Napa Valley, duas regiões de prestígio estreitamente associadas ao Cabernet Sauvignon. Em Bordeaux, onde os produtores podem usar apenas uvas permitidas pelas autoridades da denominação, sete uvas adicionais foram selecionadas para experimentos para determinar se elas podem ser usadas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Eles incluem quatro uvas vermelhas, Touriga Nacional, uma das principais uvas do Porto; Marselan, um cruzamento entre Cabernet Sauvignon e Grenache; Castets, uma variedade quase esquecida, resistente a certas doenças; e Arinarnoa, um cruzamento entre Cabernet e Tannat com amadurecimento tardio, que pode proteger contra geadas da primavera.

Espere ouvir mais experiências em muitas outras regiões.

Vinhas queimadas em Restinclieres, perto de Montpellier, na França Foto: Sylvain Thomas/AFP

5. O clima não é mais tão previsível

Para os agricultores e, especialmente, os produtores de uva, a experiência conta muito. Não há dois anos idênticos, mas com o tempo eles já teriam visto muitos eventos climáticos diferentes e aprendido como reagir na maioria dos casos. Registros meticulosos ao longo de décadas, até séculos, eram de grande ajuda. Mesmo que o tempo sempre surpreendesse, os agricultores experientes geralmente sabiam o que esperar. Com as mudanças climáticas, isso não é mais verdade.

“Chove quando nunca costumava chover, chove no verão quando estava seco, é seco no inverno quando costumava chover”, afirma a italiana Gaia Gaja, da vinícola Gaja, que produz vinho em Barbaresco e Barolo há gerações. Ela disse que o aumento da umidade no verão fez com que as pragas se reproduzissem mais rapidamente, com quatro ciclos por ano em vez dos dois como de costume. Incêndios florestais, inundações, secas – as regiões vinícolas terão de aprender a lidar regularmente com essas devastações que antes eram raras.

A viticultura, por sua natureza, já é uma atividade complicada. À medida em que os climas do mundo estão sendo intensamente e rapidamente transformados, torna-se cada vez mais difícil produzir vinhos segundo tradições locais.

  Foto: Christian Hartmann|Reuters

/ Tradução de Claudia Bozzo 

As mudanças climáticas estão transformando tradições e práticas de séculos no mundo dos vinhos. Os produtores testam adaptações, não apenas nos verões e invernos mais quentes, nas secas e nos eventos inesperados e às vezes violentos, como estranhas tempestades de granizo, geadas de primavera, inundações e incêndios florestais. O fato, porém, é que, no curto prazo, algumas dessas mudanças beneficiaram certas regiões.

Lugares, como a Inglaterra, historicamente inadequados a produção vinícola, ingressaram no negócio, com a transformação da economia local.

Em áreas como Borgonha, Barolo, Champagne e os vales do Mosel e do Reno na Alemanha, onde grandes safras eram raras, as estações mais quentes tornaram muito mais fácil a produção de vinhos excepcionais. Essa corrida de prosperidade elevou os valores da terra (e os preços do vinho). 

Lugares, como a Inglaterra, que historicamente não eram adequados para a produção de vinhos finos, tiveram a oportunidade de ingressar no mundo global do vinho Foto: Jas Lehal/Reuters

O fato é que os efeitos acelerados das mudanças de clima estão forçando a indústria do vinho a tomar medidas decisivas para se adaptar às mudanças. Até agora, esses esforços estão focados em cinco fatores:

1. O mapa do vinho está se expandindo

Os produtores já cultivam uvas em lugares que antes eram muito frios. Para algumas uvas como Pinot Noir, Chardonnay, Nebbiolo e Riesling, esses ambientes limítrofes permitem uma combinação de baixos rendimentos e maturação fenólica, na qual açúcar, ácido e taninos se equilibram para produzir vinhos emocionantes (plantadas em solos excessivamente férteis em climas quentes, essas uvas produzem vinhos opacos e frouxos, com pouco caráter).

À medida que o clima esquenta, os produtores estão se deslocando para o norte no Hemisfério Norte e para o sul no Sul.

A Inglaterra é um exemplo perfeito. O aquecimento fez surgir uma indústria de espumantes de classe mundial, com novas vinhas plantadas em ritmo vertiginoso, principalmente ao longo da costa sul. De Kent, no leste, através do leste e oeste de Sussex, Hampshire, Dorset e até o oeste da Cornualha, estão sendo produzidos bons vinhos espumantes, pelo mesmo método que o champanhe, mas com caráter próprio.

Vinhedos em Salta, região na Argetina comclima desértico, pluviosidade ínfima, noites frias e dias quentes e radiação UV altíssima. Foto: Lucineia Nunes/Estadão

2. Os produtores estão buscando terrenos mais altos

Vinhedos estão sendo plantados em altitudes antes consideradas inóspitas. Não há regras invariáveis para o limite de altitude ao plantio de uvas, depende do clima, da qualidade da luz, do acesso à água e da natureza das uvas. Mas, claramente, à medida que a terra esquenta, os vinhedos estão subindo.

Em resposta à mudança climática, a Família Torres, da Catalunha, plantou vinhedos em altitudes entre 900 e 1.200 metros de no sopé dos Pirineus. “Vinte e cinco anos atrás, teria sido impossível”, diz o gerente geral Miguel Torres Maczassek.

A região de Hautes-Côtes da Borgonha, dividida entre a Côte de Beaune e a Côte de Nuits no coração da Borgonha, não tinha grande potencial por causa da altitude de 370 a quase 400 metros. Nessa altura, as uvas demoravam a amadurecer ou não amadureciam completamente. Seus vinhos eram muito leves e finos. Agora, as uvas amadurecem bem e os vinhos melhoram cada vez mais.

Bolívia faz vinhos complexos e sofisticados - quase todos em regiões altíssimas

Vinhedos da Uvairenda plantados a 1.750 metros de altitude, na cidade de Samaipata, na Bolívia. Foto: Vinícola Uvairenda

3. Os produtores estão restringindo a luz solar

Durante séculos, uma fórmula governou o plantio de algumas das maiores vinhas do mundo no Hemisfério Norte: o plantio nas encostas, com solos adequados, voltados para o sul ou sudeste, onde receberiam mais sol e calor para amadurecer. 

Isso valia nos vales de Douro, em Portugal, Mosel ou Reno, na Alemanha, no norte do Vale do Ródano, na França, na Borgonha ou em Barolo. No Hemisfério Sul, o inverso era verdadeiro: as encostas voltadas para o norte eram as mais procuradas. Com o clima mudando, no entanto, o problema não é mais como amadurecer, mas como evitar o amadurecimento excessivo das uvas. Isso está levando produtores a se reorientar. 

No vale de Yarra, na Austrália, por exemplo, os produtores estão repensando a orientação de vinhedos ao norte e já plantam Chenin Blanc, Pinot Noir e Nebbiolo, voltadas para o sul, buscando clima mais frio.

A vista do Douro desde a Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo, vinícola e hotel de luxo Foto: Quinta Nova|Divulgação

4. As regiões estão avaliando o uso de diferentes uvas

Para muitos produtores, particularmente pequenas propriedades familiares ou aqueles de denominações históricas, plantar novos vinhedos em ambientes mais frios, como no caso da Austrália, não são uma opção. Em vez disso, eles avaliam a mudança da essência do que vêm fazendo, em alguns casos há séculos. Isso pode significar abbandonar uvas tradicionais há muito associadas à sua região e selecionar as mais apropriadas para as mudanças climáticas.

Pode parecer impossível imaginar Bordeaux sem Cabernet Sauvignon e Merlot, ou Champanhe sem Pinot Noir e Chardonnay, mas a perspectiva de um futuro muito mais quente pode exigir que mesmo as regiões vinícolas mais famosas repensem seus métodos.

Isso já está acontecendo experimentalmente em Bordeaux e no Napa Valley, duas regiões de prestígio estreitamente associadas ao Cabernet Sauvignon. Em Bordeaux, onde os produtores podem usar apenas uvas permitidas pelas autoridades da denominação, sete uvas adicionais foram selecionadas para experimentos para determinar se elas podem ser usadas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Eles incluem quatro uvas vermelhas, Touriga Nacional, uma das principais uvas do Porto; Marselan, um cruzamento entre Cabernet Sauvignon e Grenache; Castets, uma variedade quase esquecida, resistente a certas doenças; e Arinarnoa, um cruzamento entre Cabernet e Tannat com amadurecimento tardio, que pode proteger contra geadas da primavera.

Espere ouvir mais experiências em muitas outras regiões.

Vinhas queimadas em Restinclieres, perto de Montpellier, na França Foto: Sylvain Thomas/AFP

5. O clima não é mais tão previsível

Para os agricultores e, especialmente, os produtores de uva, a experiência conta muito. Não há dois anos idênticos, mas com o tempo eles já teriam visto muitos eventos climáticos diferentes e aprendido como reagir na maioria dos casos. Registros meticulosos ao longo de décadas, até séculos, eram de grande ajuda. Mesmo que o tempo sempre surpreendesse, os agricultores experientes geralmente sabiam o que esperar. Com as mudanças climáticas, isso não é mais verdade.

“Chove quando nunca costumava chover, chove no verão quando estava seco, é seco no inverno quando costumava chover”, afirma a italiana Gaia Gaja, da vinícola Gaja, que produz vinho em Barbaresco e Barolo há gerações. Ela disse que o aumento da umidade no verão fez com que as pragas se reproduzissem mais rapidamente, com quatro ciclos por ano em vez dos dois como de costume. Incêndios florestais, inundações, secas – as regiões vinícolas terão de aprender a lidar regularmente com essas devastações que antes eram raras.

A viticultura, por sua natureza, já é uma atividade complicada. À medida em que os climas do mundo estão sendo intensamente e rapidamente transformados, torna-se cada vez mais difícil produzir vinhos segundo tradições locais.

  Foto: Christian Hartmann|Reuters

/ Tradução de Claudia Bozzo 

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