Café mineiro vendido em leilão internacional por R$ 18 mil a saca é servido em cafeteria de SP


O Pato Rei arrematou em leilão microlote raro produzido no cerrado mineiro, com notas como uva verde e sidra. A partir desta terça (24), será possível prová-lo nas suas duas unidades

Por Cintia Oliveira
Localizada em Patrocínio (MG), a Fazenda Daterra conta com 6.200 hectares e metade da propriedade é formada por área de preservação ambiental. A outra metade é ocupada pelos cafezais, de onde são colhidas cerca de 100 mil sacas por ano Foto: DaTerra

Embora o Brasil seja conhecido como um dos maiores produtores de café do mundo - foram 47,7 milhões de sacas colhidas nem 2021 de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) - nem sempre os cafés de qualidade superior vão parar nas xícaras dos brasileiros. Afinal, 72% da produção brasileira do ano passado foi para exportação e somente 18% de toda a safra colhida no País corresponde a café especial, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). 

Porém, isso está prestes a mudar, ao menos de maneira simbólica. No fim do ano passado, a cafeteria Pato Rei, com duas unidades na capital paulista, participou de um leilão de microlotes promovido pela fazenda Daterra, do cerrado mineiro, e superou dezenas de empresas do mundo todo ao arrematar um cobiçado microlote da marca, que tem reconhecimento internacional. Para se ter uma ideia, a barista suíça Emi Fukahori conquistou o World Brewers Cup (a copa do mundo dos baristas) em 2018 utilizando o microlote Frevo, produzido pela Daterra.

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Localizada em Patrocínio (MG), a Fazenda Daterra conta com 6.200 hectares e metade da propriedade é formada por área de preservação ambiental. A outra metade é ocupada pelos cafezais, de onde são colhidas cerca de 100 mil sacas por ano.

O kit contendo as 15 amostras de café verde da marca custam cerca de US$ 269 Foto: DaTerra

Da produção total, somente 1% são de microlotes de variedades pouco comuns em solo brasileiro, uma parceria da marca com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). E, por serem produções muito limitadas, desde 2013 a marca comercializa-os por meio de leilões, que realiza todos os anos.

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“É uma forma que encontramos de ofertar esses grãos de maneira mais justa”, explica Juliana Sorati, assessora de marketing da Daterra. Mas antes de dar o primeiro lance, é preciso adquirir com a marca um kit contendo as 15 amostras de café verde, divididos em pacotinhos de 250 gramas cada, que custam cerca de US$ 269 (cerca de R$ 1.320, na cotação atual). 

Além das instruções para realizar a torra, a cada ano os kits têm uma temática em torno da cultura brasileira. “Trata-se de uma maneira de levar um pouco do nosso País para o mundo”, comenta Juliana. A astronomia indígena brasileira, que consiste em um complexo sistema astronômico utilizado pelos povos indígenas, serviu de inspiração para a seleção de microlotes do ano passado. A base foram as pesquisas do astrônomo Germano Bruno Afonso, que chegou a participar do projeto, mas não pôde ver o resultado - ele faleceu por complicações da covid-19 em agosto do ano passado. Com isso, o seu filho, o educador Yuri Berri Afonso, finalizou o projeto como forma de tributo ao pai. 

Da produção total da DaTerra, somente 1% são de microlotes de variedades pouco comuns em solo brasileiro Foto: DaTerra
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O café é nosso

Já havia um tempo que Tiago de Mello, sócio da cafeteria Pato Rei, estava de olho nesses microlotes. Até que, no ano passado, ele tomou coragem e decidiu tentar a sorte no leilão. “Isso tem a ver com fincar uma bandeira e mostrar que existe sim consumo para esse tipo de café no Brasil”, acredita ele. Realizado em outubro do ano passado, o leilão realizado de forma online reuniu 79 empresas do mundo inteiro, que disputaram os 15 microlotes disponibilizados pela marca. 

Embora não haja restrições para participar do leilão, geralmente são torrefações, participantes de campeonatos internacionais e cafeterias da Europa, Estados Unidos, Ásia e Oriente Médio que arrematam esses lotes mais raros. Por isso, o feito da cafeteria paulistana é relativamente inédito no Brasil.

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O Pato Rei arrematou o microlote Yar Ragapaw, por US$ 28,10 a libra (1 libra pesa 453g) Foto: Felipe Rau/Estadão

“Nós sabemos o quanto é difícil para empresas brasileiras adquirirem esses cafés, já que são precificados em dólar, mas ficamos muito felizes em saber que o público brasileiro terá a chance de prová-los”, comenta a assessora de marketing da Daterra.

O sócio do Pato Rei arrematou o microlote Yar Ragapaw, que se refere a constelação da canoa, por US$ 28,10 a libra (1 libra pesa 453g). Ao todo, foram adquiridos 24,2 kg do café e custaram cerca de US$ 1.500 (aproximadamente R$ 7.300, de acordo com a cotação atual).

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Mas o microlote arrematado pela Pato Rei não foi o mais caro do leilão. O microlote Guaxu, inspirado na constelação do cervo, da variedade etíope gesha, com notas florais e sabor de clericot, morango e cana-de-açúcar, custou cerca de US$ 58,20 a libra e cerca de R$ 40 mil a saca (para se ter uma ideia, a média de preço de uma saca de café especial, que pesa 60 kg, é de aproximadamente R$ 1.100, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Café, a ABIC) - esse foi arrematado pela torrefação Taste Map, da Lituânia. 

Tiago Mello, proprietárioda cafeteria Pato Rei Foto: Felipe Rau/Estadão

O microlote adquirido pela cafeteria paulistana no leilão consiste em uma liga entre duas variedades: laurina e aramosa. Também conhecida como Bourbon Pointu, a laurina é uma variedade rara das Ilhas da Reunião, no Oceano Índico, e tem notas de frutas amarelas. Já a aramosa consiste em um cruzamento entre arábica e racemosa e tem aromas florais e sabor de uvas. “São grãos muito pequenos e frágeis, que têm menor teor de cafeína, o que os torna mais suscetíveis a insetos e doenças. Tentamos cultivar essas variedades há mais de 20 anos e faz pouco tempo que conseguimos iniciar a comercialização”, explica Juliana. O café chegou ao Pato Rei no fim do ano passado, mas Mello manteve os grãos verdes congelados. “Demorei para lançar porque estava tentando encontrar a melhor torra paracafé tão especial quanto esse”, conta Mello. O resultado é um café que foge completamente de notas como nozes e chocolate - um clássico dos cafés especiais. Com sabor frutado, que lembra maçã e uva verde, o café tem uma acidez fosfórica, “que lembra aquele primeiro gole de Coca-Cola”, define o sócio do Pato Rei. Na boca, ainda é possível sentir notas de uva verde, maçã e sidra.

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A partir desta terça (24), Dia Nacional do Café, o microlote faz a sua estreia nas duas unidades da cafeteria no formato de experiência Foto: Felipe Rau/Estadão

A partir desta terça (24), Dia Nacional do Café, o microlote faz a sua estreia nas duas unidades da cafeteria no formato de experiência. Na primeira, o coado é extraído com a Gina (método composto de uma válvula com a qual é possível controlar o fluxo da água que passa pelo café) é servido tanto quente quanto gelado (R$ 32) - as duas temperaturas proporcionam diferentes percepções de sabor.

No caso do espresso experiência (R$ 48), as bebidas são servidas na versão pura e com leite. À primeira vista, combinar um café tão especial com leite pode parecer uma heresia, mas não se trata de um leite convencional: na cafeteria, a bebida láctea passa por um processo de destilação a frio, com o qual é possível retirar os líquidos e ficar apenas a parte mais untuosa do leite, o que deixa a bebida super cremosa. Também será possível levar os grãos para casa (R$ 160, 100g). Trata-se de uma oportunidade única para os coffee geeks de plantão, que raramente teriam acesso a esses cafés. 

Serviço

Pato Rei 

- Rua Ferreira de Araújo, 353, Pinheiros - Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini, 1127, Cidade Monções

Localizada em Patrocínio (MG), a Fazenda Daterra conta com 6.200 hectares e metade da propriedade é formada por área de preservação ambiental. A outra metade é ocupada pelos cafezais, de onde são colhidas cerca de 100 mil sacas por ano Foto: DaTerra

Embora o Brasil seja conhecido como um dos maiores produtores de café do mundo - foram 47,7 milhões de sacas colhidas nem 2021 de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) - nem sempre os cafés de qualidade superior vão parar nas xícaras dos brasileiros. Afinal, 72% da produção brasileira do ano passado foi para exportação e somente 18% de toda a safra colhida no País corresponde a café especial, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). 

Porém, isso está prestes a mudar, ao menos de maneira simbólica. No fim do ano passado, a cafeteria Pato Rei, com duas unidades na capital paulista, participou de um leilão de microlotes promovido pela fazenda Daterra, do cerrado mineiro, e superou dezenas de empresas do mundo todo ao arrematar um cobiçado microlote da marca, que tem reconhecimento internacional. Para se ter uma ideia, a barista suíça Emi Fukahori conquistou o World Brewers Cup (a copa do mundo dos baristas) em 2018 utilizando o microlote Frevo, produzido pela Daterra.

Localizada em Patrocínio (MG), a Fazenda Daterra conta com 6.200 hectares e metade da propriedade é formada por área de preservação ambiental. A outra metade é ocupada pelos cafezais, de onde são colhidas cerca de 100 mil sacas por ano.

O kit contendo as 15 amostras de café verde da marca custam cerca de US$ 269 Foto: DaTerra

Da produção total, somente 1% são de microlotes de variedades pouco comuns em solo brasileiro, uma parceria da marca com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). E, por serem produções muito limitadas, desde 2013 a marca comercializa-os por meio de leilões, que realiza todos os anos.

“É uma forma que encontramos de ofertar esses grãos de maneira mais justa”, explica Juliana Sorati, assessora de marketing da Daterra. Mas antes de dar o primeiro lance, é preciso adquirir com a marca um kit contendo as 15 amostras de café verde, divididos em pacotinhos de 250 gramas cada, que custam cerca de US$ 269 (cerca de R$ 1.320, na cotação atual). 

Além das instruções para realizar a torra, a cada ano os kits têm uma temática em torno da cultura brasileira. “Trata-se de uma maneira de levar um pouco do nosso País para o mundo”, comenta Juliana. A astronomia indígena brasileira, que consiste em um complexo sistema astronômico utilizado pelos povos indígenas, serviu de inspiração para a seleção de microlotes do ano passado. A base foram as pesquisas do astrônomo Germano Bruno Afonso, que chegou a participar do projeto, mas não pôde ver o resultado - ele faleceu por complicações da covid-19 em agosto do ano passado. Com isso, o seu filho, o educador Yuri Berri Afonso, finalizou o projeto como forma de tributo ao pai. 

Da produção total da DaTerra, somente 1% são de microlotes de variedades pouco comuns em solo brasileiro Foto: DaTerra

O café é nosso

Já havia um tempo que Tiago de Mello, sócio da cafeteria Pato Rei, estava de olho nesses microlotes. Até que, no ano passado, ele tomou coragem e decidiu tentar a sorte no leilão. “Isso tem a ver com fincar uma bandeira e mostrar que existe sim consumo para esse tipo de café no Brasil”, acredita ele. Realizado em outubro do ano passado, o leilão realizado de forma online reuniu 79 empresas do mundo inteiro, que disputaram os 15 microlotes disponibilizados pela marca. 

Embora não haja restrições para participar do leilão, geralmente são torrefações, participantes de campeonatos internacionais e cafeterias da Europa, Estados Unidos, Ásia e Oriente Médio que arrematam esses lotes mais raros. Por isso, o feito da cafeteria paulistana é relativamente inédito no Brasil.

O Pato Rei arrematou o microlote Yar Ragapaw, por US$ 28,10 a libra (1 libra pesa 453g) Foto: Felipe Rau/Estadão

“Nós sabemos o quanto é difícil para empresas brasileiras adquirirem esses cafés, já que são precificados em dólar, mas ficamos muito felizes em saber que o público brasileiro terá a chance de prová-los”, comenta a assessora de marketing da Daterra.

O sócio do Pato Rei arrematou o microlote Yar Ragapaw, que se refere a constelação da canoa, por US$ 28,10 a libra (1 libra pesa 453g). Ao todo, foram adquiridos 24,2 kg do café e custaram cerca de US$ 1.500 (aproximadamente R$ 7.300, de acordo com a cotação atual).

Mas o microlote arrematado pela Pato Rei não foi o mais caro do leilão. O microlote Guaxu, inspirado na constelação do cervo, da variedade etíope gesha, com notas florais e sabor de clericot, morango e cana-de-açúcar, custou cerca de US$ 58,20 a libra e cerca de R$ 40 mil a saca (para se ter uma ideia, a média de preço de uma saca de café especial, que pesa 60 kg, é de aproximadamente R$ 1.100, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Café, a ABIC) - esse foi arrematado pela torrefação Taste Map, da Lituânia. 

Tiago Mello, proprietárioda cafeteria Pato Rei Foto: Felipe Rau/Estadão

O microlote adquirido pela cafeteria paulistana no leilão consiste em uma liga entre duas variedades: laurina e aramosa. Também conhecida como Bourbon Pointu, a laurina é uma variedade rara das Ilhas da Reunião, no Oceano Índico, e tem notas de frutas amarelas. Já a aramosa consiste em um cruzamento entre arábica e racemosa e tem aromas florais e sabor de uvas. “São grãos muito pequenos e frágeis, que têm menor teor de cafeína, o que os torna mais suscetíveis a insetos e doenças. Tentamos cultivar essas variedades há mais de 20 anos e faz pouco tempo que conseguimos iniciar a comercialização”, explica Juliana. O café chegou ao Pato Rei no fim do ano passado, mas Mello manteve os grãos verdes congelados. “Demorei para lançar porque estava tentando encontrar a melhor torra paracafé tão especial quanto esse”, conta Mello. O resultado é um café que foge completamente de notas como nozes e chocolate - um clássico dos cafés especiais. Com sabor frutado, que lembra maçã e uva verde, o café tem uma acidez fosfórica, “que lembra aquele primeiro gole de Coca-Cola”, define o sócio do Pato Rei. Na boca, ainda é possível sentir notas de uva verde, maçã e sidra.

A partir desta terça (24), Dia Nacional do Café, o microlote faz a sua estreia nas duas unidades da cafeteria no formato de experiência Foto: Felipe Rau/Estadão

A partir desta terça (24), Dia Nacional do Café, o microlote faz a sua estreia nas duas unidades da cafeteria no formato de experiência. Na primeira, o coado é extraído com a Gina (método composto de uma válvula com a qual é possível controlar o fluxo da água que passa pelo café) é servido tanto quente quanto gelado (R$ 32) - as duas temperaturas proporcionam diferentes percepções de sabor.

No caso do espresso experiência (R$ 48), as bebidas são servidas na versão pura e com leite. À primeira vista, combinar um café tão especial com leite pode parecer uma heresia, mas não se trata de um leite convencional: na cafeteria, a bebida láctea passa por um processo de destilação a frio, com o qual é possível retirar os líquidos e ficar apenas a parte mais untuosa do leite, o que deixa a bebida super cremosa. Também será possível levar os grãos para casa (R$ 160, 100g). Trata-se de uma oportunidade única para os coffee geeks de plantão, que raramente teriam acesso a esses cafés. 

Serviço

Pato Rei 

- Rua Ferreira de Araújo, 353, Pinheiros - Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini, 1127, Cidade Monções

Localizada em Patrocínio (MG), a Fazenda Daterra conta com 6.200 hectares e metade da propriedade é formada por área de preservação ambiental. A outra metade é ocupada pelos cafezais, de onde são colhidas cerca de 100 mil sacas por ano Foto: DaTerra

Embora o Brasil seja conhecido como um dos maiores produtores de café do mundo - foram 47,7 milhões de sacas colhidas nem 2021 de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) - nem sempre os cafés de qualidade superior vão parar nas xícaras dos brasileiros. Afinal, 72% da produção brasileira do ano passado foi para exportação e somente 18% de toda a safra colhida no País corresponde a café especial, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). 

Porém, isso está prestes a mudar, ao menos de maneira simbólica. No fim do ano passado, a cafeteria Pato Rei, com duas unidades na capital paulista, participou de um leilão de microlotes promovido pela fazenda Daterra, do cerrado mineiro, e superou dezenas de empresas do mundo todo ao arrematar um cobiçado microlote da marca, que tem reconhecimento internacional. Para se ter uma ideia, a barista suíça Emi Fukahori conquistou o World Brewers Cup (a copa do mundo dos baristas) em 2018 utilizando o microlote Frevo, produzido pela Daterra.

Localizada em Patrocínio (MG), a Fazenda Daterra conta com 6.200 hectares e metade da propriedade é formada por área de preservação ambiental. A outra metade é ocupada pelos cafezais, de onde são colhidas cerca de 100 mil sacas por ano.

O kit contendo as 15 amostras de café verde da marca custam cerca de US$ 269 Foto: DaTerra

Da produção total, somente 1% são de microlotes de variedades pouco comuns em solo brasileiro, uma parceria da marca com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). E, por serem produções muito limitadas, desde 2013 a marca comercializa-os por meio de leilões, que realiza todos os anos.

“É uma forma que encontramos de ofertar esses grãos de maneira mais justa”, explica Juliana Sorati, assessora de marketing da Daterra. Mas antes de dar o primeiro lance, é preciso adquirir com a marca um kit contendo as 15 amostras de café verde, divididos em pacotinhos de 250 gramas cada, que custam cerca de US$ 269 (cerca de R$ 1.320, na cotação atual). 

Além das instruções para realizar a torra, a cada ano os kits têm uma temática em torno da cultura brasileira. “Trata-se de uma maneira de levar um pouco do nosso País para o mundo”, comenta Juliana. A astronomia indígena brasileira, que consiste em um complexo sistema astronômico utilizado pelos povos indígenas, serviu de inspiração para a seleção de microlotes do ano passado. A base foram as pesquisas do astrônomo Germano Bruno Afonso, que chegou a participar do projeto, mas não pôde ver o resultado - ele faleceu por complicações da covid-19 em agosto do ano passado. Com isso, o seu filho, o educador Yuri Berri Afonso, finalizou o projeto como forma de tributo ao pai. 

Da produção total da DaTerra, somente 1% são de microlotes de variedades pouco comuns em solo brasileiro Foto: DaTerra

O café é nosso

Já havia um tempo que Tiago de Mello, sócio da cafeteria Pato Rei, estava de olho nesses microlotes. Até que, no ano passado, ele tomou coragem e decidiu tentar a sorte no leilão. “Isso tem a ver com fincar uma bandeira e mostrar que existe sim consumo para esse tipo de café no Brasil”, acredita ele. Realizado em outubro do ano passado, o leilão realizado de forma online reuniu 79 empresas do mundo inteiro, que disputaram os 15 microlotes disponibilizados pela marca. 

Embora não haja restrições para participar do leilão, geralmente são torrefações, participantes de campeonatos internacionais e cafeterias da Europa, Estados Unidos, Ásia e Oriente Médio que arrematam esses lotes mais raros. Por isso, o feito da cafeteria paulistana é relativamente inédito no Brasil.

O Pato Rei arrematou o microlote Yar Ragapaw, por US$ 28,10 a libra (1 libra pesa 453g) Foto: Felipe Rau/Estadão

“Nós sabemos o quanto é difícil para empresas brasileiras adquirirem esses cafés, já que são precificados em dólar, mas ficamos muito felizes em saber que o público brasileiro terá a chance de prová-los”, comenta a assessora de marketing da Daterra.

O sócio do Pato Rei arrematou o microlote Yar Ragapaw, que se refere a constelação da canoa, por US$ 28,10 a libra (1 libra pesa 453g). Ao todo, foram adquiridos 24,2 kg do café e custaram cerca de US$ 1.500 (aproximadamente R$ 7.300, de acordo com a cotação atual).

Mas o microlote arrematado pela Pato Rei não foi o mais caro do leilão. O microlote Guaxu, inspirado na constelação do cervo, da variedade etíope gesha, com notas florais e sabor de clericot, morango e cana-de-açúcar, custou cerca de US$ 58,20 a libra e cerca de R$ 40 mil a saca (para se ter uma ideia, a média de preço de uma saca de café especial, que pesa 60 kg, é de aproximadamente R$ 1.100, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Café, a ABIC) - esse foi arrematado pela torrefação Taste Map, da Lituânia. 

Tiago Mello, proprietárioda cafeteria Pato Rei Foto: Felipe Rau/Estadão

O microlote adquirido pela cafeteria paulistana no leilão consiste em uma liga entre duas variedades: laurina e aramosa. Também conhecida como Bourbon Pointu, a laurina é uma variedade rara das Ilhas da Reunião, no Oceano Índico, e tem notas de frutas amarelas. Já a aramosa consiste em um cruzamento entre arábica e racemosa e tem aromas florais e sabor de uvas. “São grãos muito pequenos e frágeis, que têm menor teor de cafeína, o que os torna mais suscetíveis a insetos e doenças. Tentamos cultivar essas variedades há mais de 20 anos e faz pouco tempo que conseguimos iniciar a comercialização”, explica Juliana. O café chegou ao Pato Rei no fim do ano passado, mas Mello manteve os grãos verdes congelados. “Demorei para lançar porque estava tentando encontrar a melhor torra paracafé tão especial quanto esse”, conta Mello. O resultado é um café que foge completamente de notas como nozes e chocolate - um clássico dos cafés especiais. Com sabor frutado, que lembra maçã e uva verde, o café tem uma acidez fosfórica, “que lembra aquele primeiro gole de Coca-Cola”, define o sócio do Pato Rei. Na boca, ainda é possível sentir notas de uva verde, maçã e sidra.

A partir desta terça (24), Dia Nacional do Café, o microlote faz a sua estreia nas duas unidades da cafeteria no formato de experiência Foto: Felipe Rau/Estadão

A partir desta terça (24), Dia Nacional do Café, o microlote faz a sua estreia nas duas unidades da cafeteria no formato de experiência. Na primeira, o coado é extraído com a Gina (método composto de uma válvula com a qual é possível controlar o fluxo da água que passa pelo café) é servido tanto quente quanto gelado (R$ 32) - as duas temperaturas proporcionam diferentes percepções de sabor.

No caso do espresso experiência (R$ 48), as bebidas são servidas na versão pura e com leite. À primeira vista, combinar um café tão especial com leite pode parecer uma heresia, mas não se trata de um leite convencional: na cafeteria, a bebida láctea passa por um processo de destilação a frio, com o qual é possível retirar os líquidos e ficar apenas a parte mais untuosa do leite, o que deixa a bebida super cremosa. Também será possível levar os grãos para casa (R$ 160, 100g). Trata-se de uma oportunidade única para os coffee geeks de plantão, que raramente teriam acesso a esses cafés. 

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