Tem sidra brasileira querendo te conquistar: confira a avaliação de seis marcas


O fermentado de maçã ainda não virou febre por aqui como nos EUA e nem tem a tradição europeia, mas já são seis marcas nacionais

Por Dubes Sônego

Especial para o Estado

Na esteira do bom momento que vive a sidra artesanal no mercado americano, uma nova geração de produtores está tentando dar impulso à sidra no Brasil. Esqueça a imagem da bebida estigmatizada como alternativa barata ao champanhe.

Sidra é um espumante feito a partir da fermentação do suco de maçã: a fruta é prensada, fermentada e maturada. Muito refrescante, seca e pouco doce é tradicional em países e regiões produtoras de maçã.

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Por aqui ela não tem qualquer tradição. Mas as coisas estão mudando. Existem hoje ao menos cinco fabricantes, além da Cereser, que faz a sidra estigmatizada. São todos pequenos e têm em comum a ambição de mudar a percepção sobre a bebida com receitas caprichadas, novas técnicas, sabores e embalagens.

Ainda sem tradição, o mercado brasileiro hoje já conta com cinco marcas de sidra Foto: Gabriela Biló/Estadão

Os estilos em que os brasileiros mais apostam são o britânico e o americano, mais próximo das cervejas (em teor alcoólico) que do vinho, como as sidras europeias. O produto costuma ser vendido em garrafas long neck, o que abre a possibilidade de consumo no bico, em baladas. 

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Em São Paulo, alguns importadores já vinham tentando emplacar a sidra. No Carnaval de 2015, a proliferação de rótulos colocou a bebida na capa do Paladar. Na época, empresas como a Have a Nice Beer, a BeerManics e a Boxer importavam marcas como Magners (Irlanda), Woodchuck (EUA) e Aspall (Inglaterra). A prova, na época, teve doze rótulos. A produção nacional ainda não tinha variedade.

A situação, porém, começa a mudar. Já são ao menos oito os rótulos brasileiros e há promessas de novos lançamentos ainda este ano. 

A mais recente é a BFiver, criada por quatro jovens executivos que se encontraram em um MBA em marketing na FGV e resolveram apostar depois que um deles notou a tendência das sidras em Nova York. “Descobrimos que o segmento de sidras é o que mais cresce no setor de bebidas nos Estados Unidos”, conta Letícia Orlandin. E, depois de quatro anos entre estudos de mercado, busca de fornecedores e desenvolvimento de marca, o grupo lançou em fevereiro o primeiro rótulo.

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A BFiver é uma sidra seca, de inspiração europeia, com fermentação 100% natural e teor alcoólico de 11%. Vendida em garrafas de 750 ml, inicialmente em bares, restaurantes e empórios de São Paulo, vai bem com gelo e pode acompanhar carnes brancas e aves, finger food, doces e bolos.

A BFiver é produzida pela Cooperativa Agrícola de São Joaquim (Sanjo) e custa cerca de R$ 60. A cooperativa tem também uma marca própria, Bardocco, vendida no Sul do País por R$ 17, desde 2013. 

A Sanjo chegou a lançar no mercado uma sidra no estilo americano – com menor teor alcoólico (4,5%) –, a Bardoo, mas tirou de linha do ano passado, diz Douglas Nunes Cordova, gerente da Sanjo, uma das maiores produtoras de maçãs do País que prevê fazer 25 mil garrafas de sidra este ano. 

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Outra marca nacional com perspectiva de expansão é a Épo, da cervejaria Morada Cia Etílica, de Curitiba. Originalmente uma cervejaria cigana, a Morada lançou em 2016 três rótulos de sidra, e tem planos de lançar ao menos mais um em 2019, diz o sócio-diretor André Junqueira. As primeiras foram a Épo Hibi, com hibiscos e abacaxi; a Épo Hop, com lúpulo, aroma e sabor de cerveja, frutado e cítrico; e a Épo Ambu, amadeirada. Para este ano, conta, “a ideia é fazer uma sidra de maçã verde”.

“Nos países nórdicos, na França, no Reino Unido e na Espanha existe uma cultura gigante de sidras. E agora, nos Estados Unidos e no Canadá está em alta a sidra artesanal”, diz Junqueira. 

 

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Escolha a sua sidra

Montamos um painel com as sidras brasileiras que encontramos no mercado – sete rótulos ao todo (faltou o de hibisco da Épo). E convidamos um time de especialistas para prová-las. O que a degustação às cegas mostrou, entretanto, é que a sidra nacional ainda tem longo caminho a percorrer. Basicamente, os especialistas acharam que a bebida não tem tipicidade – ou seja, não lembra a sidra tradicional. Em alguns casos falta sabor de maçã, em outros acidez ou gás. E quase sempre, sobra açúcar. 

A prova teve a participação dos sommeliers Gabriele Frizon e Diego Arrebola, da consultoria EntreCopos, Márcio Silva, bartender à frente do Guilhotina, e Estácio Rodrigues, sócio do Instituto da Cerveja Brasil (ICB). Confira a seguir, a avaliação de cada rótulo.

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Degustação de sidras brasileiras

1 | 7

BFIVER

Foto: Gabriela Biló/Estadão
2 | 7

ÉPO HOP

Foto: Gabriela Biló/Estadão
3 | 7

ÉPO AMBU

Foto: Gabriela Biló/Estadão
4 | 7

FLIP THE SWITCH

Foto: Gabriela Biló/Estadão
5 | 7

POISON CLASSIC

Foto: Gabriela Biló/Estadão
6 | 7

SINA

Foto: Gabriela Biló/Estadão
7 | 7

BARDOCCO

Foto: Gabriela Biló/Estadão

De olho no público cervejeiro

A Épo e a maior parte das novas sidras nacionais miram mais o público cervejeiro do que consumidores de vinhos e espumantes, explorando embalagens long neck e barris para os bares. Querem aproximar a bebida dos jovens. “A ideia é que a pessoa possa tomar no bico”, diz Junqueira. 

A intenção é a mesma na Sina, produtora independente, na Vinícola Arbugeri, dona da Poison, lançadas em 2017. A Sina é inspirada nas sidras inglesas, do empresário João Pereira Barreto Linhares, de 27 anos, e de seus sócio, Felipe Mendonça, de 28 anos. Fã de música e ex-executivo do mercado financeiro, Linhares conta que provou a bebida numa época em que viajava com frequência à Inglaterra. Conheceu um outro brasileiro fã de sidras, filho de ingleses e começaram a alimentar o projeto de fabricar um rótulo no Brasil. 

Depois de algumas experiências caseiras e de ler muito sobre a bebida, chegaram ao nome de John Murray, famoso mestre sidreiro britânico, com um currículo de projetos de sidrerias em quase todos os continentes. “Ele já estava aposentado na África do Sul. Mas topou porque nunca havia feito um projeto por aqui”, conta Linhares.

Mapearam produtores de maçã do Brasil, encontraram uma empresa para produzir e a fórmula da bebida, que, segundo o empresário, é basicamente uma sidra de método britânico, com insumos 100% nacionais – a exceção é a levedura, da Dinamarca. “É fácil de tomar”, diz. A Sina começou a ser vendida em meados de 2017, em garrafinhas de 275 ml.

Agora, a empresa está testando também embalagens em lata. No ano passado, a sidra Sina ficou em segundo lugar no World Cider Award, em Londres. E a empresa lançou, em parceria com a cervejaria paulista Dádiva, uma sidra mais sofisticada, lupulada, chamada Flip the Switch (473 ml, 7,3% de teor alcoólico). 

Na Vinícola Arbugeri, é a terceira geração da família que está puxando a expansão com as sidras. Formado em enologia, Eduardo Arbugeri, de 30 anos, conta que ele e o irmão descobriram a sidra na Alemanha e começaram a estudar como fazer a bebida em Caxias do Sul (RS). 

Inspirada nas sidras alemãs e espanholas, a bebida foi lançada em meados de 2017, em garrafas long neck de 275 ml. Adoçada com mosto de maçã, tem 6,3% de graduação alcoólica e fermentação natural. Para este ano, a ideia é lançar uma sidra seca e, em seguida, expandir o portfólio com versões saborizadas. “Nosso desafio é fazer a pessoa pegar na mão, tirar a tampa e beber”, afirma. “Porque, uma vez que provam, as pessoas gostam”, aposta o produtor.

É muito difícil que a sidra alcance, por aqui, em um horizonte próximo, o prestígio e a popularidade que tem no Reino Unido e em importantes regiões produtoras de maçã na Europa, as Astúrias, na Espanha e a Normandia, na França. Ou que vire a febre que tem sido nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Canadá, nos últimos anos. 

A produção ainda é mínima: na Arbugeri entre 20 mil e 25 mil litros; na Sanjo, beira os 10 mil, incluindo os lotes pedidos pela BFiver; a Épo, com seus três rótulos, chega a 60 mil; Sina, 60 mil também. Mas já é um começo.

E há rumores de que o time pode crescer em breve. “Tenho um pé no mundo cervejeiro também e, pelo que vejo, tem mais gente testando e pesquisando sobre sidra”, diz Arbugeri. “Se você me perguntar nessa mesma época, no ano que vem, aposto que vou ter mais uns seis nomes de sidra nacional para indicar.”

/ Colaborou Renata Helena Rodrigues

Especial para o Estado

Na esteira do bom momento que vive a sidra artesanal no mercado americano, uma nova geração de produtores está tentando dar impulso à sidra no Brasil. Esqueça a imagem da bebida estigmatizada como alternativa barata ao champanhe.

Sidra é um espumante feito a partir da fermentação do suco de maçã: a fruta é prensada, fermentada e maturada. Muito refrescante, seca e pouco doce é tradicional em países e regiões produtoras de maçã.

Por aqui ela não tem qualquer tradição. Mas as coisas estão mudando. Existem hoje ao menos cinco fabricantes, além da Cereser, que faz a sidra estigmatizada. São todos pequenos e têm em comum a ambição de mudar a percepção sobre a bebida com receitas caprichadas, novas técnicas, sabores e embalagens.

Ainda sem tradição, o mercado brasileiro hoje já conta com cinco marcas de sidra Foto: Gabriela Biló/Estadão

Os estilos em que os brasileiros mais apostam são o britânico e o americano, mais próximo das cervejas (em teor alcoólico) que do vinho, como as sidras europeias. O produto costuma ser vendido em garrafas long neck, o que abre a possibilidade de consumo no bico, em baladas. 

Em São Paulo, alguns importadores já vinham tentando emplacar a sidra. No Carnaval de 2015, a proliferação de rótulos colocou a bebida na capa do Paladar. Na época, empresas como a Have a Nice Beer, a BeerManics e a Boxer importavam marcas como Magners (Irlanda), Woodchuck (EUA) e Aspall (Inglaterra). A prova, na época, teve doze rótulos. A produção nacional ainda não tinha variedade.

A situação, porém, começa a mudar. Já são ao menos oito os rótulos brasileiros e há promessas de novos lançamentos ainda este ano. 

A mais recente é a BFiver, criada por quatro jovens executivos que se encontraram em um MBA em marketing na FGV e resolveram apostar depois que um deles notou a tendência das sidras em Nova York. “Descobrimos que o segmento de sidras é o que mais cresce no setor de bebidas nos Estados Unidos”, conta Letícia Orlandin. E, depois de quatro anos entre estudos de mercado, busca de fornecedores e desenvolvimento de marca, o grupo lançou em fevereiro o primeiro rótulo.

A BFiver é uma sidra seca, de inspiração europeia, com fermentação 100% natural e teor alcoólico de 11%. Vendida em garrafas de 750 ml, inicialmente em bares, restaurantes e empórios de São Paulo, vai bem com gelo e pode acompanhar carnes brancas e aves, finger food, doces e bolos.

A BFiver é produzida pela Cooperativa Agrícola de São Joaquim (Sanjo) e custa cerca de R$ 60. A cooperativa tem também uma marca própria, Bardocco, vendida no Sul do País por R$ 17, desde 2013. 

A Sanjo chegou a lançar no mercado uma sidra no estilo americano – com menor teor alcoólico (4,5%) –, a Bardoo, mas tirou de linha do ano passado, diz Douglas Nunes Cordova, gerente da Sanjo, uma das maiores produtoras de maçãs do País que prevê fazer 25 mil garrafas de sidra este ano. 

Outra marca nacional com perspectiva de expansão é a Épo, da cervejaria Morada Cia Etílica, de Curitiba. Originalmente uma cervejaria cigana, a Morada lançou em 2016 três rótulos de sidra, e tem planos de lançar ao menos mais um em 2019, diz o sócio-diretor André Junqueira. As primeiras foram a Épo Hibi, com hibiscos e abacaxi; a Épo Hop, com lúpulo, aroma e sabor de cerveja, frutado e cítrico; e a Épo Ambu, amadeirada. Para este ano, conta, “a ideia é fazer uma sidra de maçã verde”.

“Nos países nórdicos, na França, no Reino Unido e na Espanha existe uma cultura gigante de sidras. E agora, nos Estados Unidos e no Canadá está em alta a sidra artesanal”, diz Junqueira. 

 

Escolha a sua sidra

Montamos um painel com as sidras brasileiras que encontramos no mercado – sete rótulos ao todo (faltou o de hibisco da Épo). E convidamos um time de especialistas para prová-las. O que a degustação às cegas mostrou, entretanto, é que a sidra nacional ainda tem longo caminho a percorrer. Basicamente, os especialistas acharam que a bebida não tem tipicidade – ou seja, não lembra a sidra tradicional. Em alguns casos falta sabor de maçã, em outros acidez ou gás. E quase sempre, sobra açúcar. 

A prova teve a participação dos sommeliers Gabriele Frizon e Diego Arrebola, da consultoria EntreCopos, Márcio Silva, bartender à frente do Guilhotina, e Estácio Rodrigues, sócio do Instituto da Cerveja Brasil (ICB). Confira a seguir, a avaliação de cada rótulo.

Degustação de sidras brasileiras

1 | 7

BFIVER

Foto: Gabriela Biló/Estadão
2 | 7

ÉPO HOP

Foto: Gabriela Biló/Estadão
3 | 7

ÉPO AMBU

Foto: Gabriela Biló/Estadão
4 | 7

FLIP THE SWITCH

Foto: Gabriela Biló/Estadão
5 | 7

POISON CLASSIC

Foto: Gabriela Biló/Estadão
6 | 7

SINA

Foto: Gabriela Biló/Estadão
7 | 7

BARDOCCO

Foto: Gabriela Biló/Estadão

De olho no público cervejeiro

A Épo e a maior parte das novas sidras nacionais miram mais o público cervejeiro do que consumidores de vinhos e espumantes, explorando embalagens long neck e barris para os bares. Querem aproximar a bebida dos jovens. “A ideia é que a pessoa possa tomar no bico”, diz Junqueira. 

A intenção é a mesma na Sina, produtora independente, na Vinícola Arbugeri, dona da Poison, lançadas em 2017. A Sina é inspirada nas sidras inglesas, do empresário João Pereira Barreto Linhares, de 27 anos, e de seus sócio, Felipe Mendonça, de 28 anos. Fã de música e ex-executivo do mercado financeiro, Linhares conta que provou a bebida numa época em que viajava com frequência à Inglaterra. Conheceu um outro brasileiro fã de sidras, filho de ingleses e começaram a alimentar o projeto de fabricar um rótulo no Brasil. 

Depois de algumas experiências caseiras e de ler muito sobre a bebida, chegaram ao nome de John Murray, famoso mestre sidreiro britânico, com um currículo de projetos de sidrerias em quase todos os continentes. “Ele já estava aposentado na África do Sul. Mas topou porque nunca havia feito um projeto por aqui”, conta Linhares.

Mapearam produtores de maçã do Brasil, encontraram uma empresa para produzir e a fórmula da bebida, que, segundo o empresário, é basicamente uma sidra de método britânico, com insumos 100% nacionais – a exceção é a levedura, da Dinamarca. “É fácil de tomar”, diz. A Sina começou a ser vendida em meados de 2017, em garrafinhas de 275 ml.

Agora, a empresa está testando também embalagens em lata. No ano passado, a sidra Sina ficou em segundo lugar no World Cider Award, em Londres. E a empresa lançou, em parceria com a cervejaria paulista Dádiva, uma sidra mais sofisticada, lupulada, chamada Flip the Switch (473 ml, 7,3% de teor alcoólico). 

Na Vinícola Arbugeri, é a terceira geração da família que está puxando a expansão com as sidras. Formado em enologia, Eduardo Arbugeri, de 30 anos, conta que ele e o irmão descobriram a sidra na Alemanha e começaram a estudar como fazer a bebida em Caxias do Sul (RS). 

Inspirada nas sidras alemãs e espanholas, a bebida foi lançada em meados de 2017, em garrafas long neck de 275 ml. Adoçada com mosto de maçã, tem 6,3% de graduação alcoólica e fermentação natural. Para este ano, a ideia é lançar uma sidra seca e, em seguida, expandir o portfólio com versões saborizadas. “Nosso desafio é fazer a pessoa pegar na mão, tirar a tampa e beber”, afirma. “Porque, uma vez que provam, as pessoas gostam”, aposta o produtor.

É muito difícil que a sidra alcance, por aqui, em um horizonte próximo, o prestígio e a popularidade que tem no Reino Unido e em importantes regiões produtoras de maçã na Europa, as Astúrias, na Espanha e a Normandia, na França. Ou que vire a febre que tem sido nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Canadá, nos últimos anos. 

A produção ainda é mínima: na Arbugeri entre 20 mil e 25 mil litros; na Sanjo, beira os 10 mil, incluindo os lotes pedidos pela BFiver; a Épo, com seus três rótulos, chega a 60 mil; Sina, 60 mil também. Mas já é um começo.

E há rumores de que o time pode crescer em breve. “Tenho um pé no mundo cervejeiro também e, pelo que vejo, tem mais gente testando e pesquisando sobre sidra”, diz Arbugeri. “Se você me perguntar nessa mesma época, no ano que vem, aposto que vou ter mais uns seis nomes de sidra nacional para indicar.”

/ Colaborou Renata Helena Rodrigues

Especial para o Estado

Na esteira do bom momento que vive a sidra artesanal no mercado americano, uma nova geração de produtores está tentando dar impulso à sidra no Brasil. Esqueça a imagem da bebida estigmatizada como alternativa barata ao champanhe.

Sidra é um espumante feito a partir da fermentação do suco de maçã: a fruta é prensada, fermentada e maturada. Muito refrescante, seca e pouco doce é tradicional em países e regiões produtoras de maçã.

Por aqui ela não tem qualquer tradição. Mas as coisas estão mudando. Existem hoje ao menos cinco fabricantes, além da Cereser, que faz a sidra estigmatizada. São todos pequenos e têm em comum a ambição de mudar a percepção sobre a bebida com receitas caprichadas, novas técnicas, sabores e embalagens.

Ainda sem tradição, o mercado brasileiro hoje já conta com cinco marcas de sidra Foto: Gabriela Biló/Estadão

Os estilos em que os brasileiros mais apostam são o britânico e o americano, mais próximo das cervejas (em teor alcoólico) que do vinho, como as sidras europeias. O produto costuma ser vendido em garrafas long neck, o que abre a possibilidade de consumo no bico, em baladas. 

Em São Paulo, alguns importadores já vinham tentando emplacar a sidra. No Carnaval de 2015, a proliferação de rótulos colocou a bebida na capa do Paladar. Na época, empresas como a Have a Nice Beer, a BeerManics e a Boxer importavam marcas como Magners (Irlanda), Woodchuck (EUA) e Aspall (Inglaterra). A prova, na época, teve doze rótulos. A produção nacional ainda não tinha variedade.

A situação, porém, começa a mudar. Já são ao menos oito os rótulos brasileiros e há promessas de novos lançamentos ainda este ano. 

A mais recente é a BFiver, criada por quatro jovens executivos que se encontraram em um MBA em marketing na FGV e resolveram apostar depois que um deles notou a tendência das sidras em Nova York. “Descobrimos que o segmento de sidras é o que mais cresce no setor de bebidas nos Estados Unidos”, conta Letícia Orlandin. E, depois de quatro anos entre estudos de mercado, busca de fornecedores e desenvolvimento de marca, o grupo lançou em fevereiro o primeiro rótulo.

A BFiver é uma sidra seca, de inspiração europeia, com fermentação 100% natural e teor alcoólico de 11%. Vendida em garrafas de 750 ml, inicialmente em bares, restaurantes e empórios de São Paulo, vai bem com gelo e pode acompanhar carnes brancas e aves, finger food, doces e bolos.

A BFiver é produzida pela Cooperativa Agrícola de São Joaquim (Sanjo) e custa cerca de R$ 60. A cooperativa tem também uma marca própria, Bardocco, vendida no Sul do País por R$ 17, desde 2013. 

A Sanjo chegou a lançar no mercado uma sidra no estilo americano – com menor teor alcoólico (4,5%) –, a Bardoo, mas tirou de linha do ano passado, diz Douglas Nunes Cordova, gerente da Sanjo, uma das maiores produtoras de maçãs do País que prevê fazer 25 mil garrafas de sidra este ano. 

Outra marca nacional com perspectiva de expansão é a Épo, da cervejaria Morada Cia Etílica, de Curitiba. Originalmente uma cervejaria cigana, a Morada lançou em 2016 três rótulos de sidra, e tem planos de lançar ao menos mais um em 2019, diz o sócio-diretor André Junqueira. As primeiras foram a Épo Hibi, com hibiscos e abacaxi; a Épo Hop, com lúpulo, aroma e sabor de cerveja, frutado e cítrico; e a Épo Ambu, amadeirada. Para este ano, conta, “a ideia é fazer uma sidra de maçã verde”.

“Nos países nórdicos, na França, no Reino Unido e na Espanha existe uma cultura gigante de sidras. E agora, nos Estados Unidos e no Canadá está em alta a sidra artesanal”, diz Junqueira. 

 

Escolha a sua sidra

Montamos um painel com as sidras brasileiras que encontramos no mercado – sete rótulos ao todo (faltou o de hibisco da Épo). E convidamos um time de especialistas para prová-las. O que a degustação às cegas mostrou, entretanto, é que a sidra nacional ainda tem longo caminho a percorrer. Basicamente, os especialistas acharam que a bebida não tem tipicidade – ou seja, não lembra a sidra tradicional. Em alguns casos falta sabor de maçã, em outros acidez ou gás. E quase sempre, sobra açúcar. 

A prova teve a participação dos sommeliers Gabriele Frizon e Diego Arrebola, da consultoria EntreCopos, Márcio Silva, bartender à frente do Guilhotina, e Estácio Rodrigues, sócio do Instituto da Cerveja Brasil (ICB). Confira a seguir, a avaliação de cada rótulo.

Degustação de sidras brasileiras

1 | 7

BFIVER

Foto: Gabriela Biló/Estadão
2 | 7

ÉPO HOP

Foto: Gabriela Biló/Estadão
3 | 7

ÉPO AMBU

Foto: Gabriela Biló/Estadão
4 | 7

FLIP THE SWITCH

Foto: Gabriela Biló/Estadão
5 | 7

POISON CLASSIC

Foto: Gabriela Biló/Estadão
6 | 7

SINA

Foto: Gabriela Biló/Estadão
7 | 7

BARDOCCO

Foto: Gabriela Biló/Estadão

De olho no público cervejeiro

A Épo e a maior parte das novas sidras nacionais miram mais o público cervejeiro do que consumidores de vinhos e espumantes, explorando embalagens long neck e barris para os bares. Querem aproximar a bebida dos jovens. “A ideia é que a pessoa possa tomar no bico”, diz Junqueira. 

A intenção é a mesma na Sina, produtora independente, na Vinícola Arbugeri, dona da Poison, lançadas em 2017. A Sina é inspirada nas sidras inglesas, do empresário João Pereira Barreto Linhares, de 27 anos, e de seus sócio, Felipe Mendonça, de 28 anos. Fã de música e ex-executivo do mercado financeiro, Linhares conta que provou a bebida numa época em que viajava com frequência à Inglaterra. Conheceu um outro brasileiro fã de sidras, filho de ingleses e começaram a alimentar o projeto de fabricar um rótulo no Brasil. 

Depois de algumas experiências caseiras e de ler muito sobre a bebida, chegaram ao nome de John Murray, famoso mestre sidreiro britânico, com um currículo de projetos de sidrerias em quase todos os continentes. “Ele já estava aposentado na África do Sul. Mas topou porque nunca havia feito um projeto por aqui”, conta Linhares.

Mapearam produtores de maçã do Brasil, encontraram uma empresa para produzir e a fórmula da bebida, que, segundo o empresário, é basicamente uma sidra de método britânico, com insumos 100% nacionais – a exceção é a levedura, da Dinamarca. “É fácil de tomar”, diz. A Sina começou a ser vendida em meados de 2017, em garrafinhas de 275 ml.

Agora, a empresa está testando também embalagens em lata. No ano passado, a sidra Sina ficou em segundo lugar no World Cider Award, em Londres. E a empresa lançou, em parceria com a cervejaria paulista Dádiva, uma sidra mais sofisticada, lupulada, chamada Flip the Switch (473 ml, 7,3% de teor alcoólico). 

Na Vinícola Arbugeri, é a terceira geração da família que está puxando a expansão com as sidras. Formado em enologia, Eduardo Arbugeri, de 30 anos, conta que ele e o irmão descobriram a sidra na Alemanha e começaram a estudar como fazer a bebida em Caxias do Sul (RS). 

Inspirada nas sidras alemãs e espanholas, a bebida foi lançada em meados de 2017, em garrafas long neck de 275 ml. Adoçada com mosto de maçã, tem 6,3% de graduação alcoólica e fermentação natural. Para este ano, a ideia é lançar uma sidra seca e, em seguida, expandir o portfólio com versões saborizadas. “Nosso desafio é fazer a pessoa pegar na mão, tirar a tampa e beber”, afirma. “Porque, uma vez que provam, as pessoas gostam”, aposta o produtor.

É muito difícil que a sidra alcance, por aqui, em um horizonte próximo, o prestígio e a popularidade que tem no Reino Unido e em importantes regiões produtoras de maçã na Europa, as Astúrias, na Espanha e a Normandia, na França. Ou que vire a febre que tem sido nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Canadá, nos últimos anos. 

A produção ainda é mínima: na Arbugeri entre 20 mil e 25 mil litros; na Sanjo, beira os 10 mil, incluindo os lotes pedidos pela BFiver; a Épo, com seus três rótulos, chega a 60 mil; Sina, 60 mil também. Mas já é um começo.

E há rumores de que o time pode crescer em breve. “Tenho um pé no mundo cervejeiro também e, pelo que vejo, tem mais gente testando e pesquisando sobre sidra”, diz Arbugeri. “Se você me perguntar nessa mesma época, no ano que vem, aposto que vou ter mais uns seis nomes de sidra nacional para indicar.”

/ Colaborou Renata Helena Rodrigues

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