Chef Eudes Assis faz marmita e ajuda desabrigados vítimas da tragédia no litoral norte de São Paulo


Fornecendo marmitas e angariando fundos através de uma vaquinha virtual, chef leva conforto às vítimas

Por Claudia Lima
Atualização:
O chef Eudes Assis, do restaurante Taioba Gastronomia, no litoral norte de São Paulo Foto: Ricardo Castilho Jr I Custom Credit

Na última semana, o nome Eudes Assis esteve em evidência nos jornais e nas redes sociais. Mas, desta vez, não foi por conta de seus atributos gastronômicos. Desde o último final de semana, o chef, dono do restaurante Taioba Gastronomia, localizado no sertão de Camburi, no litoral norte de São Paulo, está mobilizado para ajudar as vítimas das chuvas que ocorreram na região no sábado. Eudes, 46 anos, só teve noção dos estragos da chuva na manhã do domingo, ao abrir a porta de sua casa, deparar-se com a destruição total do entorno. Imediatamente correu para o restaurante, que encontrou inundado pelas águas, sem luz e coberto de lama.

Mesmo diante da cena de terror, começou a postar um vídeo em suas redes sociais em que pedia doações para as vítimas da tragédia. Em paralelo, seu filho, Gabriel, organizou uma vaquinha virtual para angariar fundos para a compra de insumos. De bicicleta, o chef foi para a cozinha da ONG do Projeto Buscapé, preparar, junto com voluntários, as marmitas que são entregues para os desabrigados por - como diz ele- “motoanjos”, motoboys que chegam a lugares inacessíveis.

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Eudes segue assim desde então. Em conversa exclusiva pelo telefone com Paladar, o chef contou, com a voz cansada quase falhando, que a rotina por lá anda puxada. Mas, que, embora a tristeza seja evidente, ele não gosta e não tem tempo para se lamentar. Todos os dias, por aproximadamente 16 horas, o chef comanda uma equipe de mais de 200 voluntários que se revezam para cozinhar para as vítimas dos alagamentos e também para as equipes do exército, médicos, bombeiros e policiais civis que vêm trabalhando na linha de frente desde então.

A empreitada tem dado certo. Até o momento, foram arrecadados mais de R$ 1 milhão - o chef espera que a meta de R$ 1,5 milhões seja batida em poucos dias. E, além da comida, Eudes pede que sejam enviados utensílios como bancadas, facas, tábuas e panelas.

Nascido e criado em Toque Toque Grande, também no litoral norte, Eudes é o caçula de 14 irmãos. Começou a trabalhar muito cedo para ajudar na renda familiar vendendo sorvete na praia de Maresias. Sua primeira experiência na cozinha foi lavando pratos, depois foi ajudante e finalmente cozinheiro. Na época, sonhava mesmo era em ser chef, profissão que admirava nas páginas de revistas. A primeira chance veio aos 17 anos, através do chef Luciano Boseggia, que tinha casa em Boiçucanga. “Meu primeiro estágio em um grande restaurante foi no Fasano. Ali peguei o gosto pela cozinha e decidi ir para Águas de São Pedro fazer o curso de chef, onde passei seis meses”, lembra. De volta a São Paulo, Eudes fez um curso de confeitaria e panificação e em seguida decidiu voltar para o litoral e usar tudo o que aprendeu em cozinhas como a do restaurante Manacá, do chef Edinho Engel. “Nessa época, coloquei na cabeça que queria estudar na França, contrariando meu pai, que sonhava que eu comprasse um terreninho e ficasse por aqui.”

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Primeira pessoa da família a andar de avião, lá foi ele para a meca da gastronomia mundial. Além de cursar a Le Cordon Bleu em Paris e o Institut Paul Bocuse em Lyon, Eudes ganhou uma tremenda expertise na cozinha graças aos estágios em que fez. A dedicação ao trabalho era tanta, que não raro recebia propostas de trabalho. Mas ele não queria fincar os pés em um só lugar - ao contrário, queria conhecer tudo o que pudesse. E ao ver um anúncio de um barco que estava recrutando cozinheiros, não pensou muito para se arriscar. “Quando fui fazer a entrevista, descobri que o dono era brasileiro. Um mês, estava embarcando para Gênova, na Itália”, conta. A vida em alto mar durou seis anos e o levou a conhecer Croácia, Portugal, Caribe e Espanha, entre outros 32 países. Em algumas oportunidades, abraçava as oportunidades, inclusive de estagiar com chefs . Foi assim na Espanha, onde estagiou no El Buli do chef Ferrán Adriá e “Ali aquele garoto matuto abriu a cabeça”, ri.

De volta ao Brasil, sabia o que queria fazer: abrir um restaurante de comida caiçara, resgatando receitas que guardava na memória, muitas delas preparadas por sua mãe. No cardápio, não iria faltar pratos como a Taioba, Arroz Lambe-Lambe de Mariscos e o Azul Marinho, peixe com banana verde feito na panela de ferro. “O peixe leva este nome porque a nódoa da banana em contato com o ferro tem uma reação química que deixa o prato azulado. É uma comida local, que os caiçaras sempre comeram”, lembra. “Na época, ninguém usava o termo caiçara, ele era tido como pejorativo, a cozinha das pessoas pobres do litoral. Mas para mim, sempre remeteu à comida feita pela minha mãe e pelo povo daqui”, lembra.

O Taioba Restaurante abriu as portas no sertão de Camburi e hoje é referência na região. Mas nem sempre foi assim. “Quando vim com esta ideia, as pessoas me achavam louco. A rodovia Rio-Santos dividia as classes sociais e estar do lado de cá da estrada, no lado mais simples, parecia fora de propósito”, conta. “O que me faz ficar aqui é trazer visibilidade para o sertão, provar para as pessoas que se a comida é boa as pessoas vêm e ajudar a comunidade. Tudo o que tem no restaurante vem do Camburi, da cerveja ao artesanato e à marcenaria, tudo é feito pelas pessoas daqui. Tem de ser bom para todo mundo”, diz.

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Mesmo sendo um chef premiado por publicações da área e reconhecido por seus pares, Eudes não perde sua essência e orgulha-se em dizer que seus espaços são democráticos. “Aqui no Taioba comem juntos. O milionário da Praia da Baleia, a professora da escola, o cara que trabalha no depósito de construção. Não existe lugar para carteirada, aqui todo mundo fica na fila de espera do mesmo jeito”, diz. Além do restaurante, Eudes também comanda uma padaria, a Padoca do Chef e um bufê que realiza casamentos e eventos, e ainda arruma tempo para se dedicar a projetos sociais.

É o caso do Projeto Buscapé, ONG criada pela polícia militar onde o chef atua como vice-presidente e promove eventos como o Arraiá Buscapé, festa junina que, há 10 anos, junta chefs renomados como Alex Atala, Janaina Rueda e Bel Coelho, entre outros, dão aulas, comandam barracas e ajudam a angariam fundos para o projeto que ajuda pessoas em vulnerabilidade da região. “Esse arraial construiu o prédio que hoje está produzindo as marmitas. Desde sempre, meus amigos chefs nunca soltaram a minha mão. E agora, menos ainda”, conta ele.

Mesmo com toda a exposição que ganhou nos últimos dias, Eudes não acha que deva receber elogios. “Acho engraçado quando as pessoas me dão parabéns. Eu sou um empreendedor social, este é meu trabalho. E não faço sozinho, tem muita gente da comunidade querendo ajudar, fazer o bem. A comida servida está boa, bem temperada, colorida. As pessoas que estão abrigadas nos ginásios e nas escolas, quem está trabalhando precisam sentir esse conforto. É importante que seja assim”, explica. “Claro, eu fico grato, mas não me infla o ego. Vejo como uma missão, uma forma de devolver à sociedade todas as oportunidades que eu recebi”, reflete Eudes, que pretende em breve montar um conselho com médicos, empresários, conselho tutelar e religiosos para juntos, pensar na melhor maneira de usar o dinheiro arrecadado.

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Embora saiba que ainda levará muito tempo para a reconstrução do litoral, Eudes tem esperança em relação ao futuro: “Quando tudo isso acabar - e vai acabar - as pessoas precisam voltar para o litoral. Precisamos voltar a consumir das pessoas daqui, fazer a economia girar novamente e reconstruir este lugar. Vai dar certo.”

O chef Eudes Assis, do restaurante Taioba Gastronomia, no litoral norte de São Paulo Foto: Ricardo Castilho Jr I Custom Credit

Na última semana, o nome Eudes Assis esteve em evidência nos jornais e nas redes sociais. Mas, desta vez, não foi por conta de seus atributos gastronômicos. Desde o último final de semana, o chef, dono do restaurante Taioba Gastronomia, localizado no sertão de Camburi, no litoral norte de São Paulo, está mobilizado para ajudar as vítimas das chuvas que ocorreram na região no sábado. Eudes, 46 anos, só teve noção dos estragos da chuva na manhã do domingo, ao abrir a porta de sua casa, deparar-se com a destruição total do entorno. Imediatamente correu para o restaurante, que encontrou inundado pelas águas, sem luz e coberto de lama.

Mesmo diante da cena de terror, começou a postar um vídeo em suas redes sociais em que pedia doações para as vítimas da tragédia. Em paralelo, seu filho, Gabriel, organizou uma vaquinha virtual para angariar fundos para a compra de insumos. De bicicleta, o chef foi para a cozinha da ONG do Projeto Buscapé, preparar, junto com voluntários, as marmitas que são entregues para os desabrigados por - como diz ele- “motoanjos”, motoboys que chegam a lugares inacessíveis.

Eudes segue assim desde então. Em conversa exclusiva pelo telefone com Paladar, o chef contou, com a voz cansada quase falhando, que a rotina por lá anda puxada. Mas, que, embora a tristeza seja evidente, ele não gosta e não tem tempo para se lamentar. Todos os dias, por aproximadamente 16 horas, o chef comanda uma equipe de mais de 200 voluntários que se revezam para cozinhar para as vítimas dos alagamentos e também para as equipes do exército, médicos, bombeiros e policiais civis que vêm trabalhando na linha de frente desde então.

A empreitada tem dado certo. Até o momento, foram arrecadados mais de R$ 1 milhão - o chef espera que a meta de R$ 1,5 milhões seja batida em poucos dias. E, além da comida, Eudes pede que sejam enviados utensílios como bancadas, facas, tábuas e panelas.

Nascido e criado em Toque Toque Grande, também no litoral norte, Eudes é o caçula de 14 irmãos. Começou a trabalhar muito cedo para ajudar na renda familiar vendendo sorvete na praia de Maresias. Sua primeira experiência na cozinha foi lavando pratos, depois foi ajudante e finalmente cozinheiro. Na época, sonhava mesmo era em ser chef, profissão que admirava nas páginas de revistas. A primeira chance veio aos 17 anos, através do chef Luciano Boseggia, que tinha casa em Boiçucanga. “Meu primeiro estágio em um grande restaurante foi no Fasano. Ali peguei o gosto pela cozinha e decidi ir para Águas de São Pedro fazer o curso de chef, onde passei seis meses”, lembra. De volta a São Paulo, Eudes fez um curso de confeitaria e panificação e em seguida decidiu voltar para o litoral e usar tudo o que aprendeu em cozinhas como a do restaurante Manacá, do chef Edinho Engel. “Nessa época, coloquei na cabeça que queria estudar na França, contrariando meu pai, que sonhava que eu comprasse um terreninho e ficasse por aqui.”

Primeira pessoa da família a andar de avião, lá foi ele para a meca da gastronomia mundial. Além de cursar a Le Cordon Bleu em Paris e o Institut Paul Bocuse em Lyon, Eudes ganhou uma tremenda expertise na cozinha graças aos estágios em que fez. A dedicação ao trabalho era tanta, que não raro recebia propostas de trabalho. Mas ele não queria fincar os pés em um só lugar - ao contrário, queria conhecer tudo o que pudesse. E ao ver um anúncio de um barco que estava recrutando cozinheiros, não pensou muito para se arriscar. “Quando fui fazer a entrevista, descobri que o dono era brasileiro. Um mês, estava embarcando para Gênova, na Itália”, conta. A vida em alto mar durou seis anos e o levou a conhecer Croácia, Portugal, Caribe e Espanha, entre outros 32 países. Em algumas oportunidades, abraçava as oportunidades, inclusive de estagiar com chefs . Foi assim na Espanha, onde estagiou no El Buli do chef Ferrán Adriá e “Ali aquele garoto matuto abriu a cabeça”, ri.

De volta ao Brasil, sabia o que queria fazer: abrir um restaurante de comida caiçara, resgatando receitas que guardava na memória, muitas delas preparadas por sua mãe. No cardápio, não iria faltar pratos como a Taioba, Arroz Lambe-Lambe de Mariscos e o Azul Marinho, peixe com banana verde feito na panela de ferro. “O peixe leva este nome porque a nódoa da banana em contato com o ferro tem uma reação química que deixa o prato azulado. É uma comida local, que os caiçaras sempre comeram”, lembra. “Na época, ninguém usava o termo caiçara, ele era tido como pejorativo, a cozinha das pessoas pobres do litoral. Mas para mim, sempre remeteu à comida feita pela minha mãe e pelo povo daqui”, lembra.

O Taioba Restaurante abriu as portas no sertão de Camburi e hoje é referência na região. Mas nem sempre foi assim. “Quando vim com esta ideia, as pessoas me achavam louco. A rodovia Rio-Santos dividia as classes sociais e estar do lado de cá da estrada, no lado mais simples, parecia fora de propósito”, conta. “O que me faz ficar aqui é trazer visibilidade para o sertão, provar para as pessoas que se a comida é boa as pessoas vêm e ajudar a comunidade. Tudo o que tem no restaurante vem do Camburi, da cerveja ao artesanato e à marcenaria, tudo é feito pelas pessoas daqui. Tem de ser bom para todo mundo”, diz.

Mesmo sendo um chef premiado por publicações da área e reconhecido por seus pares, Eudes não perde sua essência e orgulha-se em dizer que seus espaços são democráticos. “Aqui no Taioba comem juntos. O milionário da Praia da Baleia, a professora da escola, o cara que trabalha no depósito de construção. Não existe lugar para carteirada, aqui todo mundo fica na fila de espera do mesmo jeito”, diz. Além do restaurante, Eudes também comanda uma padaria, a Padoca do Chef e um bufê que realiza casamentos e eventos, e ainda arruma tempo para se dedicar a projetos sociais.

É o caso do Projeto Buscapé, ONG criada pela polícia militar onde o chef atua como vice-presidente e promove eventos como o Arraiá Buscapé, festa junina que, há 10 anos, junta chefs renomados como Alex Atala, Janaina Rueda e Bel Coelho, entre outros, dão aulas, comandam barracas e ajudam a angariam fundos para o projeto que ajuda pessoas em vulnerabilidade da região. “Esse arraial construiu o prédio que hoje está produzindo as marmitas. Desde sempre, meus amigos chefs nunca soltaram a minha mão. E agora, menos ainda”, conta ele.

Mesmo com toda a exposição que ganhou nos últimos dias, Eudes não acha que deva receber elogios. “Acho engraçado quando as pessoas me dão parabéns. Eu sou um empreendedor social, este é meu trabalho. E não faço sozinho, tem muita gente da comunidade querendo ajudar, fazer o bem. A comida servida está boa, bem temperada, colorida. As pessoas que estão abrigadas nos ginásios e nas escolas, quem está trabalhando precisam sentir esse conforto. É importante que seja assim”, explica. “Claro, eu fico grato, mas não me infla o ego. Vejo como uma missão, uma forma de devolver à sociedade todas as oportunidades que eu recebi”, reflete Eudes, que pretende em breve montar um conselho com médicos, empresários, conselho tutelar e religiosos para juntos, pensar na melhor maneira de usar o dinheiro arrecadado.

Embora saiba que ainda levará muito tempo para a reconstrução do litoral, Eudes tem esperança em relação ao futuro: “Quando tudo isso acabar - e vai acabar - as pessoas precisam voltar para o litoral. Precisamos voltar a consumir das pessoas daqui, fazer a economia girar novamente e reconstruir este lugar. Vai dar certo.”

O chef Eudes Assis, do restaurante Taioba Gastronomia, no litoral norte de São Paulo Foto: Ricardo Castilho Jr I Custom Credit

Na última semana, o nome Eudes Assis esteve em evidência nos jornais e nas redes sociais. Mas, desta vez, não foi por conta de seus atributos gastronômicos. Desde o último final de semana, o chef, dono do restaurante Taioba Gastronomia, localizado no sertão de Camburi, no litoral norte de São Paulo, está mobilizado para ajudar as vítimas das chuvas que ocorreram na região no sábado. Eudes, 46 anos, só teve noção dos estragos da chuva na manhã do domingo, ao abrir a porta de sua casa, deparar-se com a destruição total do entorno. Imediatamente correu para o restaurante, que encontrou inundado pelas águas, sem luz e coberto de lama.

Mesmo diante da cena de terror, começou a postar um vídeo em suas redes sociais em que pedia doações para as vítimas da tragédia. Em paralelo, seu filho, Gabriel, organizou uma vaquinha virtual para angariar fundos para a compra de insumos. De bicicleta, o chef foi para a cozinha da ONG do Projeto Buscapé, preparar, junto com voluntários, as marmitas que são entregues para os desabrigados por - como diz ele- “motoanjos”, motoboys que chegam a lugares inacessíveis.

Eudes segue assim desde então. Em conversa exclusiva pelo telefone com Paladar, o chef contou, com a voz cansada quase falhando, que a rotina por lá anda puxada. Mas, que, embora a tristeza seja evidente, ele não gosta e não tem tempo para se lamentar. Todos os dias, por aproximadamente 16 horas, o chef comanda uma equipe de mais de 200 voluntários que se revezam para cozinhar para as vítimas dos alagamentos e também para as equipes do exército, médicos, bombeiros e policiais civis que vêm trabalhando na linha de frente desde então.

A empreitada tem dado certo. Até o momento, foram arrecadados mais de R$ 1 milhão - o chef espera que a meta de R$ 1,5 milhões seja batida em poucos dias. E, além da comida, Eudes pede que sejam enviados utensílios como bancadas, facas, tábuas e panelas.

Nascido e criado em Toque Toque Grande, também no litoral norte, Eudes é o caçula de 14 irmãos. Começou a trabalhar muito cedo para ajudar na renda familiar vendendo sorvete na praia de Maresias. Sua primeira experiência na cozinha foi lavando pratos, depois foi ajudante e finalmente cozinheiro. Na época, sonhava mesmo era em ser chef, profissão que admirava nas páginas de revistas. A primeira chance veio aos 17 anos, através do chef Luciano Boseggia, que tinha casa em Boiçucanga. “Meu primeiro estágio em um grande restaurante foi no Fasano. Ali peguei o gosto pela cozinha e decidi ir para Águas de São Pedro fazer o curso de chef, onde passei seis meses”, lembra. De volta a São Paulo, Eudes fez um curso de confeitaria e panificação e em seguida decidiu voltar para o litoral e usar tudo o que aprendeu em cozinhas como a do restaurante Manacá, do chef Edinho Engel. “Nessa época, coloquei na cabeça que queria estudar na França, contrariando meu pai, que sonhava que eu comprasse um terreninho e ficasse por aqui.”

Primeira pessoa da família a andar de avião, lá foi ele para a meca da gastronomia mundial. Além de cursar a Le Cordon Bleu em Paris e o Institut Paul Bocuse em Lyon, Eudes ganhou uma tremenda expertise na cozinha graças aos estágios em que fez. A dedicação ao trabalho era tanta, que não raro recebia propostas de trabalho. Mas ele não queria fincar os pés em um só lugar - ao contrário, queria conhecer tudo o que pudesse. E ao ver um anúncio de um barco que estava recrutando cozinheiros, não pensou muito para se arriscar. “Quando fui fazer a entrevista, descobri que o dono era brasileiro. Um mês, estava embarcando para Gênova, na Itália”, conta. A vida em alto mar durou seis anos e o levou a conhecer Croácia, Portugal, Caribe e Espanha, entre outros 32 países. Em algumas oportunidades, abraçava as oportunidades, inclusive de estagiar com chefs . Foi assim na Espanha, onde estagiou no El Buli do chef Ferrán Adriá e “Ali aquele garoto matuto abriu a cabeça”, ri.

De volta ao Brasil, sabia o que queria fazer: abrir um restaurante de comida caiçara, resgatando receitas que guardava na memória, muitas delas preparadas por sua mãe. No cardápio, não iria faltar pratos como a Taioba, Arroz Lambe-Lambe de Mariscos e o Azul Marinho, peixe com banana verde feito na panela de ferro. “O peixe leva este nome porque a nódoa da banana em contato com o ferro tem uma reação química que deixa o prato azulado. É uma comida local, que os caiçaras sempre comeram”, lembra. “Na época, ninguém usava o termo caiçara, ele era tido como pejorativo, a cozinha das pessoas pobres do litoral. Mas para mim, sempre remeteu à comida feita pela minha mãe e pelo povo daqui”, lembra.

O Taioba Restaurante abriu as portas no sertão de Camburi e hoje é referência na região. Mas nem sempre foi assim. “Quando vim com esta ideia, as pessoas me achavam louco. A rodovia Rio-Santos dividia as classes sociais e estar do lado de cá da estrada, no lado mais simples, parecia fora de propósito”, conta. “O que me faz ficar aqui é trazer visibilidade para o sertão, provar para as pessoas que se a comida é boa as pessoas vêm e ajudar a comunidade. Tudo o que tem no restaurante vem do Camburi, da cerveja ao artesanato e à marcenaria, tudo é feito pelas pessoas daqui. Tem de ser bom para todo mundo”, diz.

Mesmo sendo um chef premiado por publicações da área e reconhecido por seus pares, Eudes não perde sua essência e orgulha-se em dizer que seus espaços são democráticos. “Aqui no Taioba comem juntos. O milionário da Praia da Baleia, a professora da escola, o cara que trabalha no depósito de construção. Não existe lugar para carteirada, aqui todo mundo fica na fila de espera do mesmo jeito”, diz. Além do restaurante, Eudes também comanda uma padaria, a Padoca do Chef e um bufê que realiza casamentos e eventos, e ainda arruma tempo para se dedicar a projetos sociais.

É o caso do Projeto Buscapé, ONG criada pela polícia militar onde o chef atua como vice-presidente e promove eventos como o Arraiá Buscapé, festa junina que, há 10 anos, junta chefs renomados como Alex Atala, Janaina Rueda e Bel Coelho, entre outros, dão aulas, comandam barracas e ajudam a angariam fundos para o projeto que ajuda pessoas em vulnerabilidade da região. “Esse arraial construiu o prédio que hoje está produzindo as marmitas. Desde sempre, meus amigos chefs nunca soltaram a minha mão. E agora, menos ainda”, conta ele.

Mesmo com toda a exposição que ganhou nos últimos dias, Eudes não acha que deva receber elogios. “Acho engraçado quando as pessoas me dão parabéns. Eu sou um empreendedor social, este é meu trabalho. E não faço sozinho, tem muita gente da comunidade querendo ajudar, fazer o bem. A comida servida está boa, bem temperada, colorida. As pessoas que estão abrigadas nos ginásios e nas escolas, quem está trabalhando precisam sentir esse conforto. É importante que seja assim”, explica. “Claro, eu fico grato, mas não me infla o ego. Vejo como uma missão, uma forma de devolver à sociedade todas as oportunidades que eu recebi”, reflete Eudes, que pretende em breve montar um conselho com médicos, empresários, conselho tutelar e religiosos para juntos, pensar na melhor maneira de usar o dinheiro arrecadado.

Embora saiba que ainda levará muito tempo para a reconstrução do litoral, Eudes tem esperança em relação ao futuro: “Quando tudo isso acabar - e vai acabar - as pessoas precisam voltar para o litoral. Precisamos voltar a consumir das pessoas daqui, fazer a economia girar novamente e reconstruir este lugar. Vai dar certo.”

O chef Eudes Assis, do restaurante Taioba Gastronomia, no litoral norte de São Paulo Foto: Ricardo Castilho Jr I Custom Credit

Na última semana, o nome Eudes Assis esteve em evidência nos jornais e nas redes sociais. Mas, desta vez, não foi por conta de seus atributos gastronômicos. Desde o último final de semana, o chef, dono do restaurante Taioba Gastronomia, localizado no sertão de Camburi, no litoral norte de São Paulo, está mobilizado para ajudar as vítimas das chuvas que ocorreram na região no sábado. Eudes, 46 anos, só teve noção dos estragos da chuva na manhã do domingo, ao abrir a porta de sua casa, deparar-se com a destruição total do entorno. Imediatamente correu para o restaurante, que encontrou inundado pelas águas, sem luz e coberto de lama.

Mesmo diante da cena de terror, começou a postar um vídeo em suas redes sociais em que pedia doações para as vítimas da tragédia. Em paralelo, seu filho, Gabriel, organizou uma vaquinha virtual para angariar fundos para a compra de insumos. De bicicleta, o chef foi para a cozinha da ONG do Projeto Buscapé, preparar, junto com voluntários, as marmitas que são entregues para os desabrigados por - como diz ele- “motoanjos”, motoboys que chegam a lugares inacessíveis.

Eudes segue assim desde então. Em conversa exclusiva pelo telefone com Paladar, o chef contou, com a voz cansada quase falhando, que a rotina por lá anda puxada. Mas, que, embora a tristeza seja evidente, ele não gosta e não tem tempo para se lamentar. Todos os dias, por aproximadamente 16 horas, o chef comanda uma equipe de mais de 200 voluntários que se revezam para cozinhar para as vítimas dos alagamentos e também para as equipes do exército, médicos, bombeiros e policiais civis que vêm trabalhando na linha de frente desde então.

A empreitada tem dado certo. Até o momento, foram arrecadados mais de R$ 1 milhão - o chef espera que a meta de R$ 1,5 milhões seja batida em poucos dias. E, além da comida, Eudes pede que sejam enviados utensílios como bancadas, facas, tábuas e panelas.

Nascido e criado em Toque Toque Grande, também no litoral norte, Eudes é o caçula de 14 irmãos. Começou a trabalhar muito cedo para ajudar na renda familiar vendendo sorvete na praia de Maresias. Sua primeira experiência na cozinha foi lavando pratos, depois foi ajudante e finalmente cozinheiro. Na época, sonhava mesmo era em ser chef, profissão que admirava nas páginas de revistas. A primeira chance veio aos 17 anos, através do chef Luciano Boseggia, que tinha casa em Boiçucanga. “Meu primeiro estágio em um grande restaurante foi no Fasano. Ali peguei o gosto pela cozinha e decidi ir para Águas de São Pedro fazer o curso de chef, onde passei seis meses”, lembra. De volta a São Paulo, Eudes fez um curso de confeitaria e panificação e em seguida decidiu voltar para o litoral e usar tudo o que aprendeu em cozinhas como a do restaurante Manacá, do chef Edinho Engel. “Nessa época, coloquei na cabeça que queria estudar na França, contrariando meu pai, que sonhava que eu comprasse um terreninho e ficasse por aqui.”

Primeira pessoa da família a andar de avião, lá foi ele para a meca da gastronomia mundial. Além de cursar a Le Cordon Bleu em Paris e o Institut Paul Bocuse em Lyon, Eudes ganhou uma tremenda expertise na cozinha graças aos estágios em que fez. A dedicação ao trabalho era tanta, que não raro recebia propostas de trabalho. Mas ele não queria fincar os pés em um só lugar - ao contrário, queria conhecer tudo o que pudesse. E ao ver um anúncio de um barco que estava recrutando cozinheiros, não pensou muito para se arriscar. “Quando fui fazer a entrevista, descobri que o dono era brasileiro. Um mês, estava embarcando para Gênova, na Itália”, conta. A vida em alto mar durou seis anos e o levou a conhecer Croácia, Portugal, Caribe e Espanha, entre outros 32 países. Em algumas oportunidades, abraçava as oportunidades, inclusive de estagiar com chefs . Foi assim na Espanha, onde estagiou no El Buli do chef Ferrán Adriá e “Ali aquele garoto matuto abriu a cabeça”, ri.

De volta ao Brasil, sabia o que queria fazer: abrir um restaurante de comida caiçara, resgatando receitas que guardava na memória, muitas delas preparadas por sua mãe. No cardápio, não iria faltar pratos como a Taioba, Arroz Lambe-Lambe de Mariscos e o Azul Marinho, peixe com banana verde feito na panela de ferro. “O peixe leva este nome porque a nódoa da banana em contato com o ferro tem uma reação química que deixa o prato azulado. É uma comida local, que os caiçaras sempre comeram”, lembra. “Na época, ninguém usava o termo caiçara, ele era tido como pejorativo, a cozinha das pessoas pobres do litoral. Mas para mim, sempre remeteu à comida feita pela minha mãe e pelo povo daqui”, lembra.

O Taioba Restaurante abriu as portas no sertão de Camburi e hoje é referência na região. Mas nem sempre foi assim. “Quando vim com esta ideia, as pessoas me achavam louco. A rodovia Rio-Santos dividia as classes sociais e estar do lado de cá da estrada, no lado mais simples, parecia fora de propósito”, conta. “O que me faz ficar aqui é trazer visibilidade para o sertão, provar para as pessoas que se a comida é boa as pessoas vêm e ajudar a comunidade. Tudo o que tem no restaurante vem do Camburi, da cerveja ao artesanato e à marcenaria, tudo é feito pelas pessoas daqui. Tem de ser bom para todo mundo”, diz.

Mesmo sendo um chef premiado por publicações da área e reconhecido por seus pares, Eudes não perde sua essência e orgulha-se em dizer que seus espaços são democráticos. “Aqui no Taioba comem juntos. O milionário da Praia da Baleia, a professora da escola, o cara que trabalha no depósito de construção. Não existe lugar para carteirada, aqui todo mundo fica na fila de espera do mesmo jeito”, diz. Além do restaurante, Eudes também comanda uma padaria, a Padoca do Chef e um bufê que realiza casamentos e eventos, e ainda arruma tempo para se dedicar a projetos sociais.

É o caso do Projeto Buscapé, ONG criada pela polícia militar onde o chef atua como vice-presidente e promove eventos como o Arraiá Buscapé, festa junina que, há 10 anos, junta chefs renomados como Alex Atala, Janaina Rueda e Bel Coelho, entre outros, dão aulas, comandam barracas e ajudam a angariam fundos para o projeto que ajuda pessoas em vulnerabilidade da região. “Esse arraial construiu o prédio que hoje está produzindo as marmitas. Desde sempre, meus amigos chefs nunca soltaram a minha mão. E agora, menos ainda”, conta ele.

Mesmo com toda a exposição que ganhou nos últimos dias, Eudes não acha que deva receber elogios. “Acho engraçado quando as pessoas me dão parabéns. Eu sou um empreendedor social, este é meu trabalho. E não faço sozinho, tem muita gente da comunidade querendo ajudar, fazer o bem. A comida servida está boa, bem temperada, colorida. As pessoas que estão abrigadas nos ginásios e nas escolas, quem está trabalhando precisam sentir esse conforto. É importante que seja assim”, explica. “Claro, eu fico grato, mas não me infla o ego. Vejo como uma missão, uma forma de devolver à sociedade todas as oportunidades que eu recebi”, reflete Eudes, que pretende em breve montar um conselho com médicos, empresários, conselho tutelar e religiosos para juntos, pensar na melhor maneira de usar o dinheiro arrecadado.

Embora saiba que ainda levará muito tempo para a reconstrução do litoral, Eudes tem esperança em relação ao futuro: “Quando tudo isso acabar - e vai acabar - as pessoas precisam voltar para o litoral. Precisamos voltar a consumir das pessoas daqui, fazer a economia girar novamente e reconstruir este lugar. Vai dar certo.”

O chef Eudes Assis, do restaurante Taioba Gastronomia, no litoral norte de São Paulo Foto: Ricardo Castilho Jr I Custom Credit

Na última semana, o nome Eudes Assis esteve em evidência nos jornais e nas redes sociais. Mas, desta vez, não foi por conta de seus atributos gastronômicos. Desde o último final de semana, o chef, dono do restaurante Taioba Gastronomia, localizado no sertão de Camburi, no litoral norte de São Paulo, está mobilizado para ajudar as vítimas das chuvas que ocorreram na região no sábado. Eudes, 46 anos, só teve noção dos estragos da chuva na manhã do domingo, ao abrir a porta de sua casa, deparar-se com a destruição total do entorno. Imediatamente correu para o restaurante, que encontrou inundado pelas águas, sem luz e coberto de lama.

Mesmo diante da cena de terror, começou a postar um vídeo em suas redes sociais em que pedia doações para as vítimas da tragédia. Em paralelo, seu filho, Gabriel, organizou uma vaquinha virtual para angariar fundos para a compra de insumos. De bicicleta, o chef foi para a cozinha da ONG do Projeto Buscapé, preparar, junto com voluntários, as marmitas que são entregues para os desabrigados por - como diz ele- “motoanjos”, motoboys que chegam a lugares inacessíveis.

Eudes segue assim desde então. Em conversa exclusiva pelo telefone com Paladar, o chef contou, com a voz cansada quase falhando, que a rotina por lá anda puxada. Mas, que, embora a tristeza seja evidente, ele não gosta e não tem tempo para se lamentar. Todos os dias, por aproximadamente 16 horas, o chef comanda uma equipe de mais de 200 voluntários que se revezam para cozinhar para as vítimas dos alagamentos e também para as equipes do exército, médicos, bombeiros e policiais civis que vêm trabalhando na linha de frente desde então.

A empreitada tem dado certo. Até o momento, foram arrecadados mais de R$ 1 milhão - o chef espera que a meta de R$ 1,5 milhões seja batida em poucos dias. E, além da comida, Eudes pede que sejam enviados utensílios como bancadas, facas, tábuas e panelas.

Nascido e criado em Toque Toque Grande, também no litoral norte, Eudes é o caçula de 14 irmãos. Começou a trabalhar muito cedo para ajudar na renda familiar vendendo sorvete na praia de Maresias. Sua primeira experiência na cozinha foi lavando pratos, depois foi ajudante e finalmente cozinheiro. Na época, sonhava mesmo era em ser chef, profissão que admirava nas páginas de revistas. A primeira chance veio aos 17 anos, através do chef Luciano Boseggia, que tinha casa em Boiçucanga. “Meu primeiro estágio em um grande restaurante foi no Fasano. Ali peguei o gosto pela cozinha e decidi ir para Águas de São Pedro fazer o curso de chef, onde passei seis meses”, lembra. De volta a São Paulo, Eudes fez um curso de confeitaria e panificação e em seguida decidiu voltar para o litoral e usar tudo o que aprendeu em cozinhas como a do restaurante Manacá, do chef Edinho Engel. “Nessa época, coloquei na cabeça que queria estudar na França, contrariando meu pai, que sonhava que eu comprasse um terreninho e ficasse por aqui.”

Primeira pessoa da família a andar de avião, lá foi ele para a meca da gastronomia mundial. Além de cursar a Le Cordon Bleu em Paris e o Institut Paul Bocuse em Lyon, Eudes ganhou uma tremenda expertise na cozinha graças aos estágios em que fez. A dedicação ao trabalho era tanta, que não raro recebia propostas de trabalho. Mas ele não queria fincar os pés em um só lugar - ao contrário, queria conhecer tudo o que pudesse. E ao ver um anúncio de um barco que estava recrutando cozinheiros, não pensou muito para se arriscar. “Quando fui fazer a entrevista, descobri que o dono era brasileiro. Um mês, estava embarcando para Gênova, na Itália”, conta. A vida em alto mar durou seis anos e o levou a conhecer Croácia, Portugal, Caribe e Espanha, entre outros 32 países. Em algumas oportunidades, abraçava as oportunidades, inclusive de estagiar com chefs . Foi assim na Espanha, onde estagiou no El Buli do chef Ferrán Adriá e “Ali aquele garoto matuto abriu a cabeça”, ri.

De volta ao Brasil, sabia o que queria fazer: abrir um restaurante de comida caiçara, resgatando receitas que guardava na memória, muitas delas preparadas por sua mãe. No cardápio, não iria faltar pratos como a Taioba, Arroz Lambe-Lambe de Mariscos e o Azul Marinho, peixe com banana verde feito na panela de ferro. “O peixe leva este nome porque a nódoa da banana em contato com o ferro tem uma reação química que deixa o prato azulado. É uma comida local, que os caiçaras sempre comeram”, lembra. “Na época, ninguém usava o termo caiçara, ele era tido como pejorativo, a cozinha das pessoas pobres do litoral. Mas para mim, sempre remeteu à comida feita pela minha mãe e pelo povo daqui”, lembra.

O Taioba Restaurante abriu as portas no sertão de Camburi e hoje é referência na região. Mas nem sempre foi assim. “Quando vim com esta ideia, as pessoas me achavam louco. A rodovia Rio-Santos dividia as classes sociais e estar do lado de cá da estrada, no lado mais simples, parecia fora de propósito”, conta. “O que me faz ficar aqui é trazer visibilidade para o sertão, provar para as pessoas que se a comida é boa as pessoas vêm e ajudar a comunidade. Tudo o que tem no restaurante vem do Camburi, da cerveja ao artesanato e à marcenaria, tudo é feito pelas pessoas daqui. Tem de ser bom para todo mundo”, diz.

Mesmo sendo um chef premiado por publicações da área e reconhecido por seus pares, Eudes não perde sua essência e orgulha-se em dizer que seus espaços são democráticos. “Aqui no Taioba comem juntos. O milionário da Praia da Baleia, a professora da escola, o cara que trabalha no depósito de construção. Não existe lugar para carteirada, aqui todo mundo fica na fila de espera do mesmo jeito”, diz. Além do restaurante, Eudes também comanda uma padaria, a Padoca do Chef e um bufê que realiza casamentos e eventos, e ainda arruma tempo para se dedicar a projetos sociais.

É o caso do Projeto Buscapé, ONG criada pela polícia militar onde o chef atua como vice-presidente e promove eventos como o Arraiá Buscapé, festa junina que, há 10 anos, junta chefs renomados como Alex Atala, Janaina Rueda e Bel Coelho, entre outros, dão aulas, comandam barracas e ajudam a angariam fundos para o projeto que ajuda pessoas em vulnerabilidade da região. “Esse arraial construiu o prédio que hoje está produzindo as marmitas. Desde sempre, meus amigos chefs nunca soltaram a minha mão. E agora, menos ainda”, conta ele.

Mesmo com toda a exposição que ganhou nos últimos dias, Eudes não acha que deva receber elogios. “Acho engraçado quando as pessoas me dão parabéns. Eu sou um empreendedor social, este é meu trabalho. E não faço sozinho, tem muita gente da comunidade querendo ajudar, fazer o bem. A comida servida está boa, bem temperada, colorida. As pessoas que estão abrigadas nos ginásios e nas escolas, quem está trabalhando precisam sentir esse conforto. É importante que seja assim”, explica. “Claro, eu fico grato, mas não me infla o ego. Vejo como uma missão, uma forma de devolver à sociedade todas as oportunidades que eu recebi”, reflete Eudes, que pretende em breve montar um conselho com médicos, empresários, conselho tutelar e religiosos para juntos, pensar na melhor maneira de usar o dinheiro arrecadado.

Embora saiba que ainda levará muito tempo para a reconstrução do litoral, Eudes tem esperança em relação ao futuro: “Quando tudo isso acabar - e vai acabar - as pessoas precisam voltar para o litoral. Precisamos voltar a consumir das pessoas daqui, fazer a economia girar novamente e reconstruir este lugar. Vai dar certo.”

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