Abelhas além do mel: criadores e chefs fazem alerta para risco de extinção


Elas nunca estiveram tão em alta na cozinha; no Dia Mundial da Abelha, veja como esses insetos podem melhorar a qualidade do que comemos e bebemos

Por Danielle Nagase
Abelhas nativas jataís na entrada da colmeia. Foto: André Matos Alves

“Mas que zum-zum é esse?” Nos últimos cinco dias, a MBee vem instigando a curiosidade dos seus mais de 68 mil seguidores em posts diários no seu Instagram (@mbeemel). A charada, que ainda vinha acompanhada de contagem regressiva, foi solucionada hoje e era para chamar a atenção para o Dia Mundial da Abelha, criado pela ONU em 2017 e celebrado todo dia 20 de maio. Sob risco de extinção, elas nunca estiveram tão em alta nas rodas gastronômicas, pautando iniciativas em startups, como Agrobee, e grandes marcas, como a Nescafé.

Pois a MBee, especializada em meles de abelhas nativas e de Apis mellifera – presente em mais de 450 cozinhas –, levanta a bandeira do mel como ingrediente e destaca a importância do seu consumo para a preservação desses insetos. “O Brasil é um dos maiores exportadores de mel do mundo, mas o consumo no País ainda é baixíssimo, porque as pessoas tendem a enxergar o mel como remédio. Quando introduzimos os meles nos restaurantes, principalmente os nativos, abrimos a consciência das pessoas para seu potencial gastronômico e para a existência de mais de 300 espécies de abelhas”, cravam Márcia e Eugênio Basile, sócios da MBee.  “Quanto mais gente consumir mel, mais apicultores e meliponicultores (criadores de abelhas nativas sem ferrão) vão surgir, preservando, assim, muitas espécies que estão em risco de extinção.”

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Nuances de cor dos meles de abelhas nativas MBee. Foto: Lucas Terribili

Um exemplo prático – e que a dupla se orgulha de contar – é o da abelha nativa emerina, cujo mel já era difícil de encontrar, quiçá fornecer para restaurantes. Com um potinho em mãos, Eugênio levou esse mel até Ivan Ralston para que o chef experimentasse, apenas a título de curiosidade. “Quero usar no Tuju!”, devolveu o cozinheiro.

Quando ouviu que seria impossível, já que era uma abelha que quase ninguém mais criava, teimoso que só, Ivan desafiou Eugênio: “Pois, então, viabilize essa produção, que eu compro o que for preciso”. Hoje, a MBee conta com quatro criadores de emerina, que fornecem cerca de 75 quilos desse mel por ano.

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Com doçura muito baixa e alta acidez, com notas de limão e resina, esse mel, supercomplexo, é indicado para incrementar pratos salgados. Mas não na cozinha de Raphael Vieira, do 31 Restaurante, que criou um sorvete com esse “ouro líquido”, como a MBee define os meles de abelhas nativas. “É campeão de pedidos do cardápio à la carte”, comenta o chef.

Minimilho com mel de abelha duckeola e flor de sal. Foto: Felipe Rau/Estadão

Para celebrar o Dia da Abelha, Raphael criou um menu com meles de cabo a rabo – são 12 etapas no total. A estreia do jantar ocorreu ontem, com lugares esgotados, mas haverá repeteco nos dias 27, 28 e 29 de maio (R$ 200; reservas pelo Instagram do @31restaurante).

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O mix de ervas frescas é servido com um beurre blanc com mel de abelha borá, que é ácido e complementa o molho à base de manteiga. Já o mel de guaraipo, uma abelha que gosta de frio e umidade, incrementa o feijão manteiguinha com folhas verdes tostadas. O minimilho é preparado na brasa e lambuzado com mel de duckeola, a abelha policial, que além de produzir um mel cítrico e complexo, ainda protege outras espécies de ataques de predadores.

Malte, ricota da casa e melato de Bracatinga, sobremesa do Menu da Abelha. Foto:

Entre os pontos altos, estão o arroz com “garum” de pólen – o chef usou koji e pólen de abelha nativa na reprodução desse molho milenar, que levou seis meses para ficar pronto – e o mel negro, que “cozinhou” com amburana por 120 dias em estufa a 60 graus, “levando a conta de luz do restaurante às alturas”, brinca o chef. Esse mel negro incrementa um naco do cogumelo Lactarius, colhido nas matas virgens de Parelheiros.

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Meles de tiúba, jupará, uruçu-boca-de-renda, emerina, além do melato de Bracatinga, um líquido viscoso e quase amargo, produzido a cada dois anos no sul no Brasil, também são usados no Menu da Abelha. “A ideia é trazer visibilidade para as abelhas nativas e fazer um alerta quanto a seu risco de extinção”, explica o chef.

A polinização das abelhas

Além dos diversos meles, própolis e pólens, a contribuição gastronômica das abelhas vai além do que os olhos menos atentos conseguem ver. “Costumo falar que a atividade mais importante das abelhas não é a produção de mel, mas, sim, os frutos que elas geram com a polinização”, afirma Eugênio. Diversas plantas precisam de um agente para polinizar suas flores – cerca de 70% dos cultivos agrícolas dependem, em algum grau, da polinização das abelhas.

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De olho nisso, a Agrobee tem conectado produtores rurais a criadores de abelhas, que alugam caixas de colmeias de Apis mellifera – aquela abelha mais famosa, com ferrão e listrinhas pretas e amarelas – para que elas polinizem a lavoura em questão durante a florada.

Favo de abelha Apis mellifera recém-retirado da colmeia, no apiário da MBee. Foto: Gilberto Bronko

Parceira da startup, a Nescafé adota o chamado sistema de polinização assistida em cafezais por todo o País – são de mais 100 hectares, espalhados pela Bahia, Chapada Diamantina e Cerrado Mineiro. Os grãos cultivados se destinam à nova linha Origens do Brasil Colmeia, de café especial torrado e moído, que chega às prateleiras juntamente com um potinho do mel de flor de café, que as abelhas produzem enquanto estão alocadas nos cafezais. Com a presença das abelhas, além da maior produtividade, os pés de café produzem grãos maiores e de melhor qualidade.

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Mas, olhe só, apenas lavouras que dispensam o uso de agrotóxicos (ou que usem compostos de baixa toxicidade) podem receber colmeias, já que as abelhas são extremamente sensíveis. “Ter lavouras com polinização feita por abelhas pode ser um indicativo de manejo ecológico e saudável”, ressalta o especialista Ensei Neto, autor do blog Um Café para Dividir, publicado pelo Paladar.

O polêmico mel de laboratório

Apicultores e meliponicultores brasileiros ficaram em polvorosa com um vídeo que viralizou recentemente na internet sobre o “mel” produzido pela israelense Bee-io, que “parece mel, tem cheiro de mel, gosto de mel, mas não vem de uma abelha”. O tal líquido seria produzido em laboratório, a partir do néctar de flores e da proteína extraída do estômago da abelha, com o intuito de “salvar a existência desses insetos”.

Em resposta, produtores de mel, como a MBee, Heborá e Tupyguá, além de representantes de entidades de preservação das abelhas, como a SOS Abelhas Sem Ferrão,g ravaram outro vídeo, “para combater a desinformação sobre as abelhas e os seus produtos”.

“Esse vídeo parte da premissa equivocada de que produzir mel explora as abelhas, quando o que tem salvado muitas espécies é a própria atividade de criação”, alerta Andrea Barrichello, da Beeliving, de Parelheiros. “O que mata as abelhas é o sistema agrícola convencional baseado em monocultura e o uso abusivo de agrotóxicos”, complementa a bióloga e doutora em polinização Juliana Feres, da Heborá.

“A solução mais simples e eficaz para salvar as abelhas é recuperarmos as áreas de mata degradadas (para fornecer alimento e biodiversidade às abelhas) e produzir nosso alimento sem o uso de agrotóxicos”, rebate Bárbara Tupiniquim, da Tupyguá.

Abelhas nativas jataís na entrada da colmeia. Foto: André Matos Alves

“Mas que zum-zum é esse?” Nos últimos cinco dias, a MBee vem instigando a curiosidade dos seus mais de 68 mil seguidores em posts diários no seu Instagram (@mbeemel). A charada, que ainda vinha acompanhada de contagem regressiva, foi solucionada hoje e era para chamar a atenção para o Dia Mundial da Abelha, criado pela ONU em 2017 e celebrado todo dia 20 de maio. Sob risco de extinção, elas nunca estiveram tão em alta nas rodas gastronômicas, pautando iniciativas em startups, como Agrobee, e grandes marcas, como a Nescafé.

Pois a MBee, especializada em meles de abelhas nativas e de Apis mellifera – presente em mais de 450 cozinhas –, levanta a bandeira do mel como ingrediente e destaca a importância do seu consumo para a preservação desses insetos. “O Brasil é um dos maiores exportadores de mel do mundo, mas o consumo no País ainda é baixíssimo, porque as pessoas tendem a enxergar o mel como remédio. Quando introduzimos os meles nos restaurantes, principalmente os nativos, abrimos a consciência das pessoas para seu potencial gastronômico e para a existência de mais de 300 espécies de abelhas”, cravam Márcia e Eugênio Basile, sócios da MBee.  “Quanto mais gente consumir mel, mais apicultores e meliponicultores (criadores de abelhas nativas sem ferrão) vão surgir, preservando, assim, muitas espécies que estão em risco de extinção.”

Nuances de cor dos meles de abelhas nativas MBee. Foto: Lucas Terribili

Um exemplo prático – e que a dupla se orgulha de contar – é o da abelha nativa emerina, cujo mel já era difícil de encontrar, quiçá fornecer para restaurantes. Com um potinho em mãos, Eugênio levou esse mel até Ivan Ralston para que o chef experimentasse, apenas a título de curiosidade. “Quero usar no Tuju!”, devolveu o cozinheiro.

Quando ouviu que seria impossível, já que era uma abelha que quase ninguém mais criava, teimoso que só, Ivan desafiou Eugênio: “Pois, então, viabilize essa produção, que eu compro o que for preciso”. Hoje, a MBee conta com quatro criadores de emerina, que fornecem cerca de 75 quilos desse mel por ano.

Com doçura muito baixa e alta acidez, com notas de limão e resina, esse mel, supercomplexo, é indicado para incrementar pratos salgados. Mas não na cozinha de Raphael Vieira, do 31 Restaurante, que criou um sorvete com esse “ouro líquido”, como a MBee define os meles de abelhas nativas. “É campeão de pedidos do cardápio à la carte”, comenta o chef.

Minimilho com mel de abelha duckeola e flor de sal. Foto: Felipe Rau/Estadão

Para celebrar o Dia da Abelha, Raphael criou um menu com meles de cabo a rabo – são 12 etapas no total. A estreia do jantar ocorreu ontem, com lugares esgotados, mas haverá repeteco nos dias 27, 28 e 29 de maio (R$ 200; reservas pelo Instagram do @31restaurante).

O mix de ervas frescas é servido com um beurre blanc com mel de abelha borá, que é ácido e complementa o molho à base de manteiga. Já o mel de guaraipo, uma abelha que gosta de frio e umidade, incrementa o feijão manteiguinha com folhas verdes tostadas. O minimilho é preparado na brasa e lambuzado com mel de duckeola, a abelha policial, que além de produzir um mel cítrico e complexo, ainda protege outras espécies de ataques de predadores.

Malte, ricota da casa e melato de Bracatinga, sobremesa do Menu da Abelha. Foto:

Entre os pontos altos, estão o arroz com “garum” de pólen – o chef usou koji e pólen de abelha nativa na reprodução desse molho milenar, que levou seis meses para ficar pronto – e o mel negro, que “cozinhou” com amburana por 120 dias em estufa a 60 graus, “levando a conta de luz do restaurante às alturas”, brinca o chef. Esse mel negro incrementa um naco do cogumelo Lactarius, colhido nas matas virgens de Parelheiros.

Meles de tiúba, jupará, uruçu-boca-de-renda, emerina, além do melato de Bracatinga, um líquido viscoso e quase amargo, produzido a cada dois anos no sul no Brasil, também são usados no Menu da Abelha. “A ideia é trazer visibilidade para as abelhas nativas e fazer um alerta quanto a seu risco de extinção”, explica o chef.

A polinização das abelhas

Além dos diversos meles, própolis e pólens, a contribuição gastronômica das abelhas vai além do que os olhos menos atentos conseguem ver. “Costumo falar que a atividade mais importante das abelhas não é a produção de mel, mas, sim, os frutos que elas geram com a polinização”, afirma Eugênio. Diversas plantas precisam de um agente para polinizar suas flores – cerca de 70% dos cultivos agrícolas dependem, em algum grau, da polinização das abelhas.

De olho nisso, a Agrobee tem conectado produtores rurais a criadores de abelhas, que alugam caixas de colmeias de Apis mellifera – aquela abelha mais famosa, com ferrão e listrinhas pretas e amarelas – para que elas polinizem a lavoura em questão durante a florada.

Favo de abelha Apis mellifera recém-retirado da colmeia, no apiário da MBee. Foto: Gilberto Bronko

Parceira da startup, a Nescafé adota o chamado sistema de polinização assistida em cafezais por todo o País – são de mais 100 hectares, espalhados pela Bahia, Chapada Diamantina e Cerrado Mineiro. Os grãos cultivados se destinam à nova linha Origens do Brasil Colmeia, de café especial torrado e moído, que chega às prateleiras juntamente com um potinho do mel de flor de café, que as abelhas produzem enquanto estão alocadas nos cafezais. Com a presença das abelhas, além da maior produtividade, os pés de café produzem grãos maiores e de melhor qualidade.

Mas, olhe só, apenas lavouras que dispensam o uso de agrotóxicos (ou que usem compostos de baixa toxicidade) podem receber colmeias, já que as abelhas são extremamente sensíveis. “Ter lavouras com polinização feita por abelhas pode ser um indicativo de manejo ecológico e saudável”, ressalta o especialista Ensei Neto, autor do blog Um Café para Dividir, publicado pelo Paladar.

O polêmico mel de laboratório

Apicultores e meliponicultores brasileiros ficaram em polvorosa com um vídeo que viralizou recentemente na internet sobre o “mel” produzido pela israelense Bee-io, que “parece mel, tem cheiro de mel, gosto de mel, mas não vem de uma abelha”. O tal líquido seria produzido em laboratório, a partir do néctar de flores e da proteína extraída do estômago da abelha, com o intuito de “salvar a existência desses insetos”.

Em resposta, produtores de mel, como a MBee, Heborá e Tupyguá, além de representantes de entidades de preservação das abelhas, como a SOS Abelhas Sem Ferrão,g ravaram outro vídeo, “para combater a desinformação sobre as abelhas e os seus produtos”.

“Esse vídeo parte da premissa equivocada de que produzir mel explora as abelhas, quando o que tem salvado muitas espécies é a própria atividade de criação”, alerta Andrea Barrichello, da Beeliving, de Parelheiros. “O que mata as abelhas é o sistema agrícola convencional baseado em monocultura e o uso abusivo de agrotóxicos”, complementa a bióloga e doutora em polinização Juliana Feres, da Heborá.

“A solução mais simples e eficaz para salvar as abelhas é recuperarmos as áreas de mata degradadas (para fornecer alimento e biodiversidade às abelhas) e produzir nosso alimento sem o uso de agrotóxicos”, rebate Bárbara Tupiniquim, da Tupyguá.

Abelhas nativas jataís na entrada da colmeia. Foto: André Matos Alves

“Mas que zum-zum é esse?” Nos últimos cinco dias, a MBee vem instigando a curiosidade dos seus mais de 68 mil seguidores em posts diários no seu Instagram (@mbeemel). A charada, que ainda vinha acompanhada de contagem regressiva, foi solucionada hoje e era para chamar a atenção para o Dia Mundial da Abelha, criado pela ONU em 2017 e celebrado todo dia 20 de maio. Sob risco de extinção, elas nunca estiveram tão em alta nas rodas gastronômicas, pautando iniciativas em startups, como Agrobee, e grandes marcas, como a Nescafé.

Pois a MBee, especializada em meles de abelhas nativas e de Apis mellifera – presente em mais de 450 cozinhas –, levanta a bandeira do mel como ingrediente e destaca a importância do seu consumo para a preservação desses insetos. “O Brasil é um dos maiores exportadores de mel do mundo, mas o consumo no País ainda é baixíssimo, porque as pessoas tendem a enxergar o mel como remédio. Quando introduzimos os meles nos restaurantes, principalmente os nativos, abrimos a consciência das pessoas para seu potencial gastronômico e para a existência de mais de 300 espécies de abelhas”, cravam Márcia e Eugênio Basile, sócios da MBee.  “Quanto mais gente consumir mel, mais apicultores e meliponicultores (criadores de abelhas nativas sem ferrão) vão surgir, preservando, assim, muitas espécies que estão em risco de extinção.”

Nuances de cor dos meles de abelhas nativas MBee. Foto: Lucas Terribili

Um exemplo prático – e que a dupla se orgulha de contar – é o da abelha nativa emerina, cujo mel já era difícil de encontrar, quiçá fornecer para restaurantes. Com um potinho em mãos, Eugênio levou esse mel até Ivan Ralston para que o chef experimentasse, apenas a título de curiosidade. “Quero usar no Tuju!”, devolveu o cozinheiro.

Quando ouviu que seria impossível, já que era uma abelha que quase ninguém mais criava, teimoso que só, Ivan desafiou Eugênio: “Pois, então, viabilize essa produção, que eu compro o que for preciso”. Hoje, a MBee conta com quatro criadores de emerina, que fornecem cerca de 75 quilos desse mel por ano.

Com doçura muito baixa e alta acidez, com notas de limão e resina, esse mel, supercomplexo, é indicado para incrementar pratos salgados. Mas não na cozinha de Raphael Vieira, do 31 Restaurante, que criou um sorvete com esse “ouro líquido”, como a MBee define os meles de abelhas nativas. “É campeão de pedidos do cardápio à la carte”, comenta o chef.

Minimilho com mel de abelha duckeola e flor de sal. Foto: Felipe Rau/Estadão

Para celebrar o Dia da Abelha, Raphael criou um menu com meles de cabo a rabo – são 12 etapas no total. A estreia do jantar ocorreu ontem, com lugares esgotados, mas haverá repeteco nos dias 27, 28 e 29 de maio (R$ 200; reservas pelo Instagram do @31restaurante).

O mix de ervas frescas é servido com um beurre blanc com mel de abelha borá, que é ácido e complementa o molho à base de manteiga. Já o mel de guaraipo, uma abelha que gosta de frio e umidade, incrementa o feijão manteiguinha com folhas verdes tostadas. O minimilho é preparado na brasa e lambuzado com mel de duckeola, a abelha policial, que além de produzir um mel cítrico e complexo, ainda protege outras espécies de ataques de predadores.

Malte, ricota da casa e melato de Bracatinga, sobremesa do Menu da Abelha. Foto:

Entre os pontos altos, estão o arroz com “garum” de pólen – o chef usou koji e pólen de abelha nativa na reprodução desse molho milenar, que levou seis meses para ficar pronto – e o mel negro, que “cozinhou” com amburana por 120 dias em estufa a 60 graus, “levando a conta de luz do restaurante às alturas”, brinca o chef. Esse mel negro incrementa um naco do cogumelo Lactarius, colhido nas matas virgens de Parelheiros.

Meles de tiúba, jupará, uruçu-boca-de-renda, emerina, além do melato de Bracatinga, um líquido viscoso e quase amargo, produzido a cada dois anos no sul no Brasil, também são usados no Menu da Abelha. “A ideia é trazer visibilidade para as abelhas nativas e fazer um alerta quanto a seu risco de extinção”, explica o chef.

A polinização das abelhas

Além dos diversos meles, própolis e pólens, a contribuição gastronômica das abelhas vai além do que os olhos menos atentos conseguem ver. “Costumo falar que a atividade mais importante das abelhas não é a produção de mel, mas, sim, os frutos que elas geram com a polinização”, afirma Eugênio. Diversas plantas precisam de um agente para polinizar suas flores – cerca de 70% dos cultivos agrícolas dependem, em algum grau, da polinização das abelhas.

De olho nisso, a Agrobee tem conectado produtores rurais a criadores de abelhas, que alugam caixas de colmeias de Apis mellifera – aquela abelha mais famosa, com ferrão e listrinhas pretas e amarelas – para que elas polinizem a lavoura em questão durante a florada.

Favo de abelha Apis mellifera recém-retirado da colmeia, no apiário da MBee. Foto: Gilberto Bronko

Parceira da startup, a Nescafé adota o chamado sistema de polinização assistida em cafezais por todo o País – são de mais 100 hectares, espalhados pela Bahia, Chapada Diamantina e Cerrado Mineiro. Os grãos cultivados se destinam à nova linha Origens do Brasil Colmeia, de café especial torrado e moído, que chega às prateleiras juntamente com um potinho do mel de flor de café, que as abelhas produzem enquanto estão alocadas nos cafezais. Com a presença das abelhas, além da maior produtividade, os pés de café produzem grãos maiores e de melhor qualidade.

Mas, olhe só, apenas lavouras que dispensam o uso de agrotóxicos (ou que usem compostos de baixa toxicidade) podem receber colmeias, já que as abelhas são extremamente sensíveis. “Ter lavouras com polinização feita por abelhas pode ser um indicativo de manejo ecológico e saudável”, ressalta o especialista Ensei Neto, autor do blog Um Café para Dividir, publicado pelo Paladar.

O polêmico mel de laboratório

Apicultores e meliponicultores brasileiros ficaram em polvorosa com um vídeo que viralizou recentemente na internet sobre o “mel” produzido pela israelense Bee-io, que “parece mel, tem cheiro de mel, gosto de mel, mas não vem de uma abelha”. O tal líquido seria produzido em laboratório, a partir do néctar de flores e da proteína extraída do estômago da abelha, com o intuito de “salvar a existência desses insetos”.

Em resposta, produtores de mel, como a MBee, Heborá e Tupyguá, além de representantes de entidades de preservação das abelhas, como a SOS Abelhas Sem Ferrão,g ravaram outro vídeo, “para combater a desinformação sobre as abelhas e os seus produtos”.

“Esse vídeo parte da premissa equivocada de que produzir mel explora as abelhas, quando o que tem salvado muitas espécies é a própria atividade de criação”, alerta Andrea Barrichello, da Beeliving, de Parelheiros. “O que mata as abelhas é o sistema agrícola convencional baseado em monocultura e o uso abusivo de agrotóxicos”, complementa a bióloga e doutora em polinização Juliana Feres, da Heborá.

“A solução mais simples e eficaz para salvar as abelhas é recuperarmos as áreas de mata degradadas (para fornecer alimento e biodiversidade às abelhas) e produzir nosso alimento sem o uso de agrotóxicos”, rebate Bárbara Tupiniquim, da Tupyguá.

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