Chocólatra inveterada, engenheira coleciona barras do mundo inteiro


Na coleção de chocolate de Zélia Frangioni, são mais de 300 barras de várias partes do mundo, um retrato do universo bean to bar, com cacau de origem identificada

Por Ana Paula Boni

Tem gente que coleciona sapato, bolsa, e tem gente que coleciona chocolate. Essa frase pode ser ouvida repetidas vezes da boca da engenheira Zélia Frangioni como uma espécie de justificativa sobre seu vício ser mais barato que outros (e certamente mais prazeroso). São três anos comprando barras de chocolate pelo mundo, em viagens ou por meio de sites, e a coleção vai mudando de acordo com a validade do chocolate e com o apetite da chocólatra. Mas todas as embalagens são guardadas, como um registro do que ela experimentou.

Mar de chocolate. Zélia Frangioni e sua coleção de barras Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Um parêntese antes que a história prossiga: Zélia até come chocolate comum, como o Lindt (“Tem dias que chocolate bom é chocolate ao alcance do braço”), mas sua coleção é um panorama do chocolate de origem pelo mundo. Tem barras bean to bar feitas em pequena escala, com o cuidado do trabalho artesanal que conecta toda a cadeia, a partir de cacauicultores de paragens como a região litorânea venezuelana do Chuao.

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Zélia recebe a reportagem em seu apartamento em São Paulo sem saber dizer quantas barras guarda na adega climatizada - uma adega de vinhos que foi comprada há dois anos e nunca viu uma só garrafa. Depois que a repórter soma 158 barras importadas dentro da adega (sem levar em conta as unidades repetidas), Zélia abre o armário e de lá, uma espécie de limbo para as que passaram da validade, saem mais 137 (e não que a validade não seja um conceito a ser discutido). Além disso, ainda tem dezenas de barras brasileiras, incluindo tudo o que pode se contar de bean to bar feito em variados Estados. E outras dezenas de embalagens vazias que ela guarda em seu escritório como registro.

A coleção começou como uma forma de experimentar chocolate para escrever sobre eles. Engenheira química que migrou para a área de TI, Zélia passou a fazer programação (e também design) de sites por volta de 1999, quando a internet ainda engatinhava no Brasil. Anos depois, queria experimentar o formato de blog para clientes. “Mas todo mundo só queria fazer site. Então, pensei, vou fazer um blog de uma coisa que adoro.” Assim nasceu, em 2013, a ideia do Chocólatras Online

Na adega.Barra da marca húngara Rózsavölgyi Foto: Tiago Queiroz|Estadão
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Até colocar o blog no ar, em setembro de 2014, Zélia percebeu que não sabia nada de bean to bar. "Eu sempre fui chocólatra. E naquela época o luxo era Lindt, que ainda não se vendia em supermercado. Eu não queria escrever besteira, daí fui estudar." Foi pesquisar, lá fora, a origem do termo bean to bar, do chocolate gourmet, entre outros, e fez sua primeira encomenda on-line, do chocolate francês Z.

Enquanto no exterior estava um pouco mais impulsionado o setor do chocolate com cacau de origem (de microlotes identificados, sem blend, tal como no ramo do café), por aqui o mercado era quase nulo, com a Amma nadando sozinha desde 2010. Como chocólatra e pesquisadora, Zélia acabou por ajudar, com seu blog, a difundir a cultura do chocolate de origem por aqui, em paralelo ao surgimento de marcas como Luisa Abram e Mission Chocolates.

A origem. “Descobri que o chocolate pode ter o gosto do cacau de um lugar específico do mundo”, conta ela, que que fez dois cursos de degustação de chocolate em Londres no ano passado e gosta de brincar de identificar as origens. No ano passado, durante o International Chocolate Awards, do qual foi jurada, só ouvia falar em Ucayali - então precisava conhecer essa origem da Amazônia peruana, que faz fronteira com o Acre.

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“Agora, meu foco é esse. Não vou mais atrás de marcas, mas de origens.” Entre as suas eleitas, estão o Chuao (na Venezuela, que carrega notas amendoadas), a Tanzânia e o Vietnã. Também guarda exemplares do Guanaja da Valrhona, marca francesa que com essa localidade hondurenha foi a primeira a identificar a origem do cacau numa barra de chocolate, há 30 anos.

LEIA MAIS:+ Pará entra no mercado de chocolate de origem; confira cinco marcas+ Amazônia tem milhares de variedades de cacau selvagem+ A Bahia faz chocolate

Além das origens, Zélia ainda tem barras preferidas, como a Chuao (de cacau da Venezuela) feita pelo francês François Pralus; a Chuao da marca americana Amano; a Bêntre 78% (de cacau do Vietnã) da marca vietnamita Marou; e a barra Tanzânia da americana Dandelion, entre outras barras de chocolaterias como a italiana Amedei e as americanas Castronovo e Dick Taylor.

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Todas essas volta e meia reaparecem na adega, onde também há espaço para barras inusitadas. É o caso da Taza, marca de Boston que usa receita mexicana, de textura rústica, mais grossa. Ou da Al Nassma 70%, de Dubai, que usa leite de camela. Ou ainda da Naive, um chocolate da Lituânia que usa kefir na receita. Amigos também passaram a trazer barras de fora para ela, de lonjuras como Rússia e Japão.

Caixas com chocolates , guardados sob refrigeração Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Tamanho conhecimento do mundo do chocolate, com uma biblioteca crescente, levou Zélia a criar também o site-fórum Chocoweb e ainda o prêmio Bean to Bar Brasil, no ano passado. Os chocolates são provados às cegas com um detalhe extra: quem se inscreve ganha uma fôrma padrão em que deve colocar o chocolate. A ideia é deixar todas as barras iguais e, assim, os jurados, que são chocolateiros, não sabem em quem estão votando. A avaliação deste ano será no dia 25 de agosto. No ano passado, foram 23 marcas inscritas de vários Estados. 

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“Lá fora, eles veem a gente como a África, de cacau de qualidade média, commodity. Acho que o chocolate brasileiro já está diferente, mas ainda deve mudar muito. Temos de melhorar o processo todo”, diz.

Tem gente que coleciona sapato, bolsa, e tem gente que coleciona chocolate. Essa frase pode ser ouvida repetidas vezes da boca da engenheira Zélia Frangioni como uma espécie de justificativa sobre seu vício ser mais barato que outros (e certamente mais prazeroso). São três anos comprando barras de chocolate pelo mundo, em viagens ou por meio de sites, e a coleção vai mudando de acordo com a validade do chocolate e com o apetite da chocólatra. Mas todas as embalagens são guardadas, como um registro do que ela experimentou.

Mar de chocolate. Zélia Frangioni e sua coleção de barras Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Um parêntese antes que a história prossiga: Zélia até come chocolate comum, como o Lindt (“Tem dias que chocolate bom é chocolate ao alcance do braço”), mas sua coleção é um panorama do chocolate de origem pelo mundo. Tem barras bean to bar feitas em pequena escala, com o cuidado do trabalho artesanal que conecta toda a cadeia, a partir de cacauicultores de paragens como a região litorânea venezuelana do Chuao.

Zélia recebe a reportagem em seu apartamento em São Paulo sem saber dizer quantas barras guarda na adega climatizada - uma adega de vinhos que foi comprada há dois anos e nunca viu uma só garrafa. Depois que a repórter soma 158 barras importadas dentro da adega (sem levar em conta as unidades repetidas), Zélia abre o armário e de lá, uma espécie de limbo para as que passaram da validade, saem mais 137 (e não que a validade não seja um conceito a ser discutido). Além disso, ainda tem dezenas de barras brasileiras, incluindo tudo o que pode se contar de bean to bar feito em variados Estados. E outras dezenas de embalagens vazias que ela guarda em seu escritório como registro.

A coleção começou como uma forma de experimentar chocolate para escrever sobre eles. Engenheira química que migrou para a área de TI, Zélia passou a fazer programação (e também design) de sites por volta de 1999, quando a internet ainda engatinhava no Brasil. Anos depois, queria experimentar o formato de blog para clientes. “Mas todo mundo só queria fazer site. Então, pensei, vou fazer um blog de uma coisa que adoro.” Assim nasceu, em 2013, a ideia do Chocólatras Online

Na adega.Barra da marca húngara Rózsavölgyi Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Até colocar o blog no ar, em setembro de 2014, Zélia percebeu que não sabia nada de bean to bar. "Eu sempre fui chocólatra. E naquela época o luxo era Lindt, que ainda não se vendia em supermercado. Eu não queria escrever besteira, daí fui estudar." Foi pesquisar, lá fora, a origem do termo bean to bar, do chocolate gourmet, entre outros, e fez sua primeira encomenda on-line, do chocolate francês Z.

Enquanto no exterior estava um pouco mais impulsionado o setor do chocolate com cacau de origem (de microlotes identificados, sem blend, tal como no ramo do café), por aqui o mercado era quase nulo, com a Amma nadando sozinha desde 2010. Como chocólatra e pesquisadora, Zélia acabou por ajudar, com seu blog, a difundir a cultura do chocolate de origem por aqui, em paralelo ao surgimento de marcas como Luisa Abram e Mission Chocolates.

A origem. “Descobri que o chocolate pode ter o gosto do cacau de um lugar específico do mundo”, conta ela, que que fez dois cursos de degustação de chocolate em Londres no ano passado e gosta de brincar de identificar as origens. No ano passado, durante o International Chocolate Awards, do qual foi jurada, só ouvia falar em Ucayali - então precisava conhecer essa origem da Amazônia peruana, que faz fronteira com o Acre.

“Agora, meu foco é esse. Não vou mais atrás de marcas, mas de origens.” Entre as suas eleitas, estão o Chuao (na Venezuela, que carrega notas amendoadas), a Tanzânia e o Vietnã. Também guarda exemplares do Guanaja da Valrhona, marca francesa que com essa localidade hondurenha foi a primeira a identificar a origem do cacau numa barra de chocolate, há 30 anos.

LEIA MAIS:+ Pará entra no mercado de chocolate de origem; confira cinco marcas+ Amazônia tem milhares de variedades de cacau selvagem+ A Bahia faz chocolate

Além das origens, Zélia ainda tem barras preferidas, como a Chuao (de cacau da Venezuela) feita pelo francês François Pralus; a Chuao da marca americana Amano; a Bêntre 78% (de cacau do Vietnã) da marca vietnamita Marou; e a barra Tanzânia da americana Dandelion, entre outras barras de chocolaterias como a italiana Amedei e as americanas Castronovo e Dick Taylor.

Todas essas volta e meia reaparecem na adega, onde também há espaço para barras inusitadas. É o caso da Taza, marca de Boston que usa receita mexicana, de textura rústica, mais grossa. Ou da Al Nassma 70%, de Dubai, que usa leite de camela. Ou ainda da Naive, um chocolate da Lituânia que usa kefir na receita. Amigos também passaram a trazer barras de fora para ela, de lonjuras como Rússia e Japão.

Caixas com chocolates , guardados sob refrigeração Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Tamanho conhecimento do mundo do chocolate, com uma biblioteca crescente, levou Zélia a criar também o site-fórum Chocoweb e ainda o prêmio Bean to Bar Brasil, no ano passado. Os chocolates são provados às cegas com um detalhe extra: quem se inscreve ganha uma fôrma padrão em que deve colocar o chocolate. A ideia é deixar todas as barras iguais e, assim, os jurados, que são chocolateiros, não sabem em quem estão votando. A avaliação deste ano será no dia 25 de agosto. No ano passado, foram 23 marcas inscritas de vários Estados. 

“Lá fora, eles veem a gente como a África, de cacau de qualidade média, commodity. Acho que o chocolate brasileiro já está diferente, mas ainda deve mudar muito. Temos de melhorar o processo todo”, diz.

Tem gente que coleciona sapato, bolsa, e tem gente que coleciona chocolate. Essa frase pode ser ouvida repetidas vezes da boca da engenheira Zélia Frangioni como uma espécie de justificativa sobre seu vício ser mais barato que outros (e certamente mais prazeroso). São três anos comprando barras de chocolate pelo mundo, em viagens ou por meio de sites, e a coleção vai mudando de acordo com a validade do chocolate e com o apetite da chocólatra. Mas todas as embalagens são guardadas, como um registro do que ela experimentou.

Mar de chocolate. Zélia Frangioni e sua coleção de barras Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Um parêntese antes que a história prossiga: Zélia até come chocolate comum, como o Lindt (“Tem dias que chocolate bom é chocolate ao alcance do braço”), mas sua coleção é um panorama do chocolate de origem pelo mundo. Tem barras bean to bar feitas em pequena escala, com o cuidado do trabalho artesanal que conecta toda a cadeia, a partir de cacauicultores de paragens como a região litorânea venezuelana do Chuao.

Zélia recebe a reportagem em seu apartamento em São Paulo sem saber dizer quantas barras guarda na adega climatizada - uma adega de vinhos que foi comprada há dois anos e nunca viu uma só garrafa. Depois que a repórter soma 158 barras importadas dentro da adega (sem levar em conta as unidades repetidas), Zélia abre o armário e de lá, uma espécie de limbo para as que passaram da validade, saem mais 137 (e não que a validade não seja um conceito a ser discutido). Além disso, ainda tem dezenas de barras brasileiras, incluindo tudo o que pode se contar de bean to bar feito em variados Estados. E outras dezenas de embalagens vazias que ela guarda em seu escritório como registro.

A coleção começou como uma forma de experimentar chocolate para escrever sobre eles. Engenheira química que migrou para a área de TI, Zélia passou a fazer programação (e também design) de sites por volta de 1999, quando a internet ainda engatinhava no Brasil. Anos depois, queria experimentar o formato de blog para clientes. “Mas todo mundo só queria fazer site. Então, pensei, vou fazer um blog de uma coisa que adoro.” Assim nasceu, em 2013, a ideia do Chocólatras Online

Na adega.Barra da marca húngara Rózsavölgyi Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Até colocar o blog no ar, em setembro de 2014, Zélia percebeu que não sabia nada de bean to bar. "Eu sempre fui chocólatra. E naquela época o luxo era Lindt, que ainda não se vendia em supermercado. Eu não queria escrever besteira, daí fui estudar." Foi pesquisar, lá fora, a origem do termo bean to bar, do chocolate gourmet, entre outros, e fez sua primeira encomenda on-line, do chocolate francês Z.

Enquanto no exterior estava um pouco mais impulsionado o setor do chocolate com cacau de origem (de microlotes identificados, sem blend, tal como no ramo do café), por aqui o mercado era quase nulo, com a Amma nadando sozinha desde 2010. Como chocólatra e pesquisadora, Zélia acabou por ajudar, com seu blog, a difundir a cultura do chocolate de origem por aqui, em paralelo ao surgimento de marcas como Luisa Abram e Mission Chocolates.

A origem. “Descobri que o chocolate pode ter o gosto do cacau de um lugar específico do mundo”, conta ela, que que fez dois cursos de degustação de chocolate em Londres no ano passado e gosta de brincar de identificar as origens. No ano passado, durante o International Chocolate Awards, do qual foi jurada, só ouvia falar em Ucayali - então precisava conhecer essa origem da Amazônia peruana, que faz fronteira com o Acre.

“Agora, meu foco é esse. Não vou mais atrás de marcas, mas de origens.” Entre as suas eleitas, estão o Chuao (na Venezuela, que carrega notas amendoadas), a Tanzânia e o Vietnã. Também guarda exemplares do Guanaja da Valrhona, marca francesa que com essa localidade hondurenha foi a primeira a identificar a origem do cacau numa barra de chocolate, há 30 anos.

LEIA MAIS:+ Pará entra no mercado de chocolate de origem; confira cinco marcas+ Amazônia tem milhares de variedades de cacau selvagem+ A Bahia faz chocolate

Além das origens, Zélia ainda tem barras preferidas, como a Chuao (de cacau da Venezuela) feita pelo francês François Pralus; a Chuao da marca americana Amano; a Bêntre 78% (de cacau do Vietnã) da marca vietnamita Marou; e a barra Tanzânia da americana Dandelion, entre outras barras de chocolaterias como a italiana Amedei e as americanas Castronovo e Dick Taylor.

Todas essas volta e meia reaparecem na adega, onde também há espaço para barras inusitadas. É o caso da Taza, marca de Boston que usa receita mexicana, de textura rústica, mais grossa. Ou da Al Nassma 70%, de Dubai, que usa leite de camela. Ou ainda da Naive, um chocolate da Lituânia que usa kefir na receita. Amigos também passaram a trazer barras de fora para ela, de lonjuras como Rússia e Japão.

Caixas com chocolates , guardados sob refrigeração Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Tamanho conhecimento do mundo do chocolate, com uma biblioteca crescente, levou Zélia a criar também o site-fórum Chocoweb e ainda o prêmio Bean to Bar Brasil, no ano passado. Os chocolates são provados às cegas com um detalhe extra: quem se inscreve ganha uma fôrma padrão em que deve colocar o chocolate. A ideia é deixar todas as barras iguais e, assim, os jurados, que são chocolateiros, não sabem em quem estão votando. A avaliação deste ano será no dia 25 de agosto. No ano passado, foram 23 marcas inscritas de vários Estados. 

“Lá fora, eles veem a gente como a África, de cacau de qualidade média, commodity. Acho que o chocolate brasileiro já está diferente, mas ainda deve mudar muito. Temos de melhorar o processo todo”, diz.

Tem gente que coleciona sapato, bolsa, e tem gente que coleciona chocolate. Essa frase pode ser ouvida repetidas vezes da boca da engenheira Zélia Frangioni como uma espécie de justificativa sobre seu vício ser mais barato que outros (e certamente mais prazeroso). São três anos comprando barras de chocolate pelo mundo, em viagens ou por meio de sites, e a coleção vai mudando de acordo com a validade do chocolate e com o apetite da chocólatra. Mas todas as embalagens são guardadas, como um registro do que ela experimentou.

Mar de chocolate. Zélia Frangioni e sua coleção de barras Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Um parêntese antes que a história prossiga: Zélia até come chocolate comum, como o Lindt (“Tem dias que chocolate bom é chocolate ao alcance do braço”), mas sua coleção é um panorama do chocolate de origem pelo mundo. Tem barras bean to bar feitas em pequena escala, com o cuidado do trabalho artesanal que conecta toda a cadeia, a partir de cacauicultores de paragens como a região litorânea venezuelana do Chuao.

Zélia recebe a reportagem em seu apartamento em São Paulo sem saber dizer quantas barras guarda na adega climatizada - uma adega de vinhos que foi comprada há dois anos e nunca viu uma só garrafa. Depois que a repórter soma 158 barras importadas dentro da adega (sem levar em conta as unidades repetidas), Zélia abre o armário e de lá, uma espécie de limbo para as que passaram da validade, saem mais 137 (e não que a validade não seja um conceito a ser discutido). Além disso, ainda tem dezenas de barras brasileiras, incluindo tudo o que pode se contar de bean to bar feito em variados Estados. E outras dezenas de embalagens vazias que ela guarda em seu escritório como registro.

A coleção começou como uma forma de experimentar chocolate para escrever sobre eles. Engenheira química que migrou para a área de TI, Zélia passou a fazer programação (e também design) de sites por volta de 1999, quando a internet ainda engatinhava no Brasil. Anos depois, queria experimentar o formato de blog para clientes. “Mas todo mundo só queria fazer site. Então, pensei, vou fazer um blog de uma coisa que adoro.” Assim nasceu, em 2013, a ideia do Chocólatras Online

Na adega.Barra da marca húngara Rózsavölgyi Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Até colocar o blog no ar, em setembro de 2014, Zélia percebeu que não sabia nada de bean to bar. "Eu sempre fui chocólatra. E naquela época o luxo era Lindt, que ainda não se vendia em supermercado. Eu não queria escrever besteira, daí fui estudar." Foi pesquisar, lá fora, a origem do termo bean to bar, do chocolate gourmet, entre outros, e fez sua primeira encomenda on-line, do chocolate francês Z.

Enquanto no exterior estava um pouco mais impulsionado o setor do chocolate com cacau de origem (de microlotes identificados, sem blend, tal como no ramo do café), por aqui o mercado era quase nulo, com a Amma nadando sozinha desde 2010. Como chocólatra e pesquisadora, Zélia acabou por ajudar, com seu blog, a difundir a cultura do chocolate de origem por aqui, em paralelo ao surgimento de marcas como Luisa Abram e Mission Chocolates.

A origem. “Descobri que o chocolate pode ter o gosto do cacau de um lugar específico do mundo”, conta ela, que que fez dois cursos de degustação de chocolate em Londres no ano passado e gosta de brincar de identificar as origens. No ano passado, durante o International Chocolate Awards, do qual foi jurada, só ouvia falar em Ucayali - então precisava conhecer essa origem da Amazônia peruana, que faz fronteira com o Acre.

“Agora, meu foco é esse. Não vou mais atrás de marcas, mas de origens.” Entre as suas eleitas, estão o Chuao (na Venezuela, que carrega notas amendoadas), a Tanzânia e o Vietnã. Também guarda exemplares do Guanaja da Valrhona, marca francesa que com essa localidade hondurenha foi a primeira a identificar a origem do cacau numa barra de chocolate, há 30 anos.

LEIA MAIS:+ Pará entra no mercado de chocolate de origem; confira cinco marcas+ Amazônia tem milhares de variedades de cacau selvagem+ A Bahia faz chocolate

Além das origens, Zélia ainda tem barras preferidas, como a Chuao (de cacau da Venezuela) feita pelo francês François Pralus; a Chuao da marca americana Amano; a Bêntre 78% (de cacau do Vietnã) da marca vietnamita Marou; e a barra Tanzânia da americana Dandelion, entre outras barras de chocolaterias como a italiana Amedei e as americanas Castronovo e Dick Taylor.

Todas essas volta e meia reaparecem na adega, onde também há espaço para barras inusitadas. É o caso da Taza, marca de Boston que usa receita mexicana, de textura rústica, mais grossa. Ou da Al Nassma 70%, de Dubai, que usa leite de camela. Ou ainda da Naive, um chocolate da Lituânia que usa kefir na receita. Amigos também passaram a trazer barras de fora para ela, de lonjuras como Rússia e Japão.

Caixas com chocolates , guardados sob refrigeração Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Tamanho conhecimento do mundo do chocolate, com uma biblioteca crescente, levou Zélia a criar também o site-fórum Chocoweb e ainda o prêmio Bean to Bar Brasil, no ano passado. Os chocolates são provados às cegas com um detalhe extra: quem se inscreve ganha uma fôrma padrão em que deve colocar o chocolate. A ideia é deixar todas as barras iguais e, assim, os jurados, que são chocolateiros, não sabem em quem estão votando. A avaliação deste ano será no dia 25 de agosto. No ano passado, foram 23 marcas inscritas de vários Estados. 

“Lá fora, eles veem a gente como a África, de cacau de qualidade média, commodity. Acho que o chocolate brasileiro já está diferente, mas ainda deve mudar muito. Temos de melhorar o processo todo”, diz.

Tem gente que coleciona sapato, bolsa, e tem gente que coleciona chocolate. Essa frase pode ser ouvida repetidas vezes da boca da engenheira Zélia Frangioni como uma espécie de justificativa sobre seu vício ser mais barato que outros (e certamente mais prazeroso). São três anos comprando barras de chocolate pelo mundo, em viagens ou por meio de sites, e a coleção vai mudando de acordo com a validade do chocolate e com o apetite da chocólatra. Mas todas as embalagens são guardadas, como um registro do que ela experimentou.

Mar de chocolate. Zélia Frangioni e sua coleção de barras Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Um parêntese antes que a história prossiga: Zélia até come chocolate comum, como o Lindt (“Tem dias que chocolate bom é chocolate ao alcance do braço”), mas sua coleção é um panorama do chocolate de origem pelo mundo. Tem barras bean to bar feitas em pequena escala, com o cuidado do trabalho artesanal que conecta toda a cadeia, a partir de cacauicultores de paragens como a região litorânea venezuelana do Chuao.

Zélia recebe a reportagem em seu apartamento em São Paulo sem saber dizer quantas barras guarda na adega climatizada - uma adega de vinhos que foi comprada há dois anos e nunca viu uma só garrafa. Depois que a repórter soma 158 barras importadas dentro da adega (sem levar em conta as unidades repetidas), Zélia abre o armário e de lá, uma espécie de limbo para as que passaram da validade, saem mais 137 (e não que a validade não seja um conceito a ser discutido). Além disso, ainda tem dezenas de barras brasileiras, incluindo tudo o que pode se contar de bean to bar feito em variados Estados. E outras dezenas de embalagens vazias que ela guarda em seu escritório como registro.

A coleção começou como uma forma de experimentar chocolate para escrever sobre eles. Engenheira química que migrou para a área de TI, Zélia passou a fazer programação (e também design) de sites por volta de 1999, quando a internet ainda engatinhava no Brasil. Anos depois, queria experimentar o formato de blog para clientes. “Mas todo mundo só queria fazer site. Então, pensei, vou fazer um blog de uma coisa que adoro.” Assim nasceu, em 2013, a ideia do Chocólatras Online

Na adega.Barra da marca húngara Rózsavölgyi Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Até colocar o blog no ar, em setembro de 2014, Zélia percebeu que não sabia nada de bean to bar. "Eu sempre fui chocólatra. E naquela época o luxo era Lindt, que ainda não se vendia em supermercado. Eu não queria escrever besteira, daí fui estudar." Foi pesquisar, lá fora, a origem do termo bean to bar, do chocolate gourmet, entre outros, e fez sua primeira encomenda on-line, do chocolate francês Z.

Enquanto no exterior estava um pouco mais impulsionado o setor do chocolate com cacau de origem (de microlotes identificados, sem blend, tal como no ramo do café), por aqui o mercado era quase nulo, com a Amma nadando sozinha desde 2010. Como chocólatra e pesquisadora, Zélia acabou por ajudar, com seu blog, a difundir a cultura do chocolate de origem por aqui, em paralelo ao surgimento de marcas como Luisa Abram e Mission Chocolates.

A origem. “Descobri que o chocolate pode ter o gosto do cacau de um lugar específico do mundo”, conta ela, que que fez dois cursos de degustação de chocolate em Londres no ano passado e gosta de brincar de identificar as origens. No ano passado, durante o International Chocolate Awards, do qual foi jurada, só ouvia falar em Ucayali - então precisava conhecer essa origem da Amazônia peruana, que faz fronteira com o Acre.

“Agora, meu foco é esse. Não vou mais atrás de marcas, mas de origens.” Entre as suas eleitas, estão o Chuao (na Venezuela, que carrega notas amendoadas), a Tanzânia e o Vietnã. Também guarda exemplares do Guanaja da Valrhona, marca francesa que com essa localidade hondurenha foi a primeira a identificar a origem do cacau numa barra de chocolate, há 30 anos.

LEIA MAIS:+ Pará entra no mercado de chocolate de origem; confira cinco marcas+ Amazônia tem milhares de variedades de cacau selvagem+ A Bahia faz chocolate

Além das origens, Zélia ainda tem barras preferidas, como a Chuao (de cacau da Venezuela) feita pelo francês François Pralus; a Chuao da marca americana Amano; a Bêntre 78% (de cacau do Vietnã) da marca vietnamita Marou; e a barra Tanzânia da americana Dandelion, entre outras barras de chocolaterias como a italiana Amedei e as americanas Castronovo e Dick Taylor.

Todas essas volta e meia reaparecem na adega, onde também há espaço para barras inusitadas. É o caso da Taza, marca de Boston que usa receita mexicana, de textura rústica, mais grossa. Ou da Al Nassma 70%, de Dubai, que usa leite de camela. Ou ainda da Naive, um chocolate da Lituânia que usa kefir na receita. Amigos também passaram a trazer barras de fora para ela, de lonjuras como Rússia e Japão.

Caixas com chocolates , guardados sob refrigeração Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Tamanho conhecimento do mundo do chocolate, com uma biblioteca crescente, levou Zélia a criar também o site-fórum Chocoweb e ainda o prêmio Bean to Bar Brasil, no ano passado. Os chocolates são provados às cegas com um detalhe extra: quem se inscreve ganha uma fôrma padrão em que deve colocar o chocolate. A ideia é deixar todas as barras iguais e, assim, os jurados, que são chocolateiros, não sabem em quem estão votando. A avaliação deste ano será no dia 25 de agosto. No ano passado, foram 23 marcas inscritas de vários Estados. 

“Lá fora, eles veem a gente como a África, de cacau de qualidade média, commodity. Acho que o chocolate brasileiro já está diferente, mas ainda deve mudar muito. Temos de melhorar o processo todo”, diz.

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