Com chocolate bean-to-bar, Ilhéus vê retomada do ‘turismo do cacau’


Depois de passar um período de ressaca com a praga da vassoura-de-bruxa, cidade da Bahia passa a ter fábricas artesanais como atrativo

Por Matheus Mans
Atualização:

Ilhéus é uma cidade no interior da Bahia que gira em torno de dois assuntos principais: Jorge Amado e cacau. O primeiro por ter passado sua infância ali, usando o local como inspiração para romances como Gabriela Cravo e Canela. Já o segundo assunto é pelo domínio do cacau: ao passear pela zona rural da cidade, são várias as fazendas com foco na plantação do fruto e, cada vez mais, também na produção de chocolate bean-to-bar.

O nome pode parecer complicado, mas a ideia é bem simples. Basicamente, são empresas que plantam, colhem, preparam e fazem chocolate, muitas vezes no mesmo endereço. Bean-to-bar, em inglês, significa “da semente à barra”. Também pode se chamar tree-to-bar, ou “da árvore à barra”, indicando controle completo do processo, do cultivo à produção final.

Seu Mororó, da Mendoá, na plantação de cacau da empresa Foto: Lucas Andrade/Chocolat Festival/Divulgação
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E é justamente essa renovação de Ilhéus, deixando de ser apenas a capital do cacau para se tornar a capital nacional do chocolate, que está começando a movimentar novamente o turismo e as atenções para a cidade. Jorge Amado e os cacaueiros agora competem com as fábricas de chocolate artesanais que têm um sabor único, marcado pelo terroir local.

“Ilhéus tem o maior litoral da Bahia, com praias incríveis. Dos turistas, 20% estão aqui por causa de Jorge Amado e sua obra, enquanto outros 40% escolhem Ilhéus por causa do sol e da praia. Os outros 40% estão aqui por causa do cacau e do chocolate”, explica Marco Lessa, empresário e criador do Chocolat Festival, em entrevista em Ilhéus. “Praticamente metade das pessoas hoje são atraídas por esse tema. A pessoa vem até Ilhéus por causa do cacau, o que não existia antes. Elas queriam tomar banho de praia e ir embora.”

Recomeçando tudo de novo

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Não é de hoje que a região produz cacau. Essa história começa lá atrás, ainda no Brasil imperial. Virou potência, dominou o mercado e virou o maior exportador de cacau do mundo. Até que, no fim dos anos 1980, tudo deu errado: a praga vassoura-de-bruxa, devastou os campos, comendo o fruto do cacau por dentro. Foi aí que o cenário se tornou desesperador: o País caiu de 450 mil toneladas ao ano para menos de 100 mil toneladas.

Aos poucos, porém, o estado da Bahia começou a investir em pesquisas para enfrentar a praga. “Hoje, ainda não aprendemos a eliminar a vassoura-de-bruxa, mas descobrimos técnicas para conviver com ela”, explica Raimundo Mororó, da Mendoá, uma das produtoras de cacau e fabricante de chocolate na cidade. Foi a oportunidade de voltar a produzir.

“No auge da crise, no Brasil inteiro, nós caímos pra 90 mil toneladas. Hoje, chegamos a 250 mil toneladas ao ano”, explica Lessa, ressaltando que Ilhéus domina. “Praticamente, a gente recupera 60% da nossa capacidade produtiva, estimulando a produção em outras regiões”.

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Retomada gourmet

Esse renascimento não se limitou a restaurar a produção de cacau. Com o foco em qualidade, os produtores da região passaram a investir em marcas bean-to-bar e tree-to-bar, trazendo o cacau baiano para os holofotes internacionais -- inclusive por meio do Chocolat Festival, evento anual promovido por Lessa.

Cacau da plantação da Mendoá, em Ilhéus Foto: Lucas Andrade/Chocolat Festival/Divulgação
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Em sua 15ª edição, o evento de Ilhéus ajuda a fortalecer o cacau da região nacional e internacionalmente: o festival recebeu cerca de 65 mil pessoas e movimentou cerca de 25 milhões de reais, entre comercialização de produtos, negócios realizados e a ocupação da rede hoteleira, comércio, lazer e serviços. Ao passear pelo evento, aliás, dá para notar como há gente de todos os lugares em busca de mais informações sobre mercado, cacau e as barras. Assim, no geral, há um sentimento de que as coisas estão realmente mudando.

“A gente está criando algo diferenciado com rastreabilidade 100% do cacau e um foco em sustentabilidade que é raro em outras regiões do mundo, como a África”, explica Carlos Tomich, produtor da Fazenda Capela Velha e dono da marca DOCACAO . Para ele, o diferencial da produção brasileira reside em seu compromisso com a sustentabilidade e a preservação ambiental, uma prática consolidada pela Cabruca, um sistema agroflorestal tradicional da região que se vale de árvores fazendo a sombra para o cacaueiro.

Hoje, Ilhéus abriga mais de 300 marcas bean-to-bar, cada uma oferecendo um chocolate com sabor único, que atrai turistas de várias partes do Brasil e do mundo. Além disso, o apelo turístico das fazendas que oferecem experiências imersivas, como passeios e degustações, tem se tornado um dos grandes atrativos. “O preconceito com o chocolate brasileiro acaba na hora que o turista degusta o produto”, observa Tomichi. “Quando a pessoa entende o processo e experimenta o chocolate, o preconceito desaparece.”

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Esse movimento tem transformado Ilhéus, fortalecendo o turismo local. “A gente precisa mostrar que o produtor brasileiro é resiliente. Ele passou por 20 ou 30 anos de dificuldades, mas hoje está produzindo com qualidade”, finaliza Tomichi. “Ilhéus está de volta ao mapa, não só como capital do cacau, mas como centro de produção de chocolate de excelência”.

Ilhéus é uma cidade no interior da Bahia que gira em torno de dois assuntos principais: Jorge Amado e cacau. O primeiro por ter passado sua infância ali, usando o local como inspiração para romances como Gabriela Cravo e Canela. Já o segundo assunto é pelo domínio do cacau: ao passear pela zona rural da cidade, são várias as fazendas com foco na plantação do fruto e, cada vez mais, também na produção de chocolate bean-to-bar.

O nome pode parecer complicado, mas a ideia é bem simples. Basicamente, são empresas que plantam, colhem, preparam e fazem chocolate, muitas vezes no mesmo endereço. Bean-to-bar, em inglês, significa “da semente à barra”. Também pode se chamar tree-to-bar, ou “da árvore à barra”, indicando controle completo do processo, do cultivo à produção final.

Seu Mororó, da Mendoá, na plantação de cacau da empresa Foto: Lucas Andrade/Chocolat Festival/Divulgação

E é justamente essa renovação de Ilhéus, deixando de ser apenas a capital do cacau para se tornar a capital nacional do chocolate, que está começando a movimentar novamente o turismo e as atenções para a cidade. Jorge Amado e os cacaueiros agora competem com as fábricas de chocolate artesanais que têm um sabor único, marcado pelo terroir local.

“Ilhéus tem o maior litoral da Bahia, com praias incríveis. Dos turistas, 20% estão aqui por causa de Jorge Amado e sua obra, enquanto outros 40% escolhem Ilhéus por causa do sol e da praia. Os outros 40% estão aqui por causa do cacau e do chocolate”, explica Marco Lessa, empresário e criador do Chocolat Festival, em entrevista em Ilhéus. “Praticamente metade das pessoas hoje são atraídas por esse tema. A pessoa vem até Ilhéus por causa do cacau, o que não existia antes. Elas queriam tomar banho de praia e ir embora.”

Recomeçando tudo de novo

Não é de hoje que a região produz cacau. Essa história começa lá atrás, ainda no Brasil imperial. Virou potência, dominou o mercado e virou o maior exportador de cacau do mundo. Até que, no fim dos anos 1980, tudo deu errado: a praga vassoura-de-bruxa, devastou os campos, comendo o fruto do cacau por dentro. Foi aí que o cenário se tornou desesperador: o País caiu de 450 mil toneladas ao ano para menos de 100 mil toneladas.

Aos poucos, porém, o estado da Bahia começou a investir em pesquisas para enfrentar a praga. “Hoje, ainda não aprendemos a eliminar a vassoura-de-bruxa, mas descobrimos técnicas para conviver com ela”, explica Raimundo Mororó, da Mendoá, uma das produtoras de cacau e fabricante de chocolate na cidade. Foi a oportunidade de voltar a produzir.

“No auge da crise, no Brasil inteiro, nós caímos pra 90 mil toneladas. Hoje, chegamos a 250 mil toneladas ao ano”, explica Lessa, ressaltando que Ilhéus domina. “Praticamente, a gente recupera 60% da nossa capacidade produtiva, estimulando a produção em outras regiões”.

Retomada gourmet

Esse renascimento não se limitou a restaurar a produção de cacau. Com o foco em qualidade, os produtores da região passaram a investir em marcas bean-to-bar e tree-to-bar, trazendo o cacau baiano para os holofotes internacionais -- inclusive por meio do Chocolat Festival, evento anual promovido por Lessa.

Cacau da plantação da Mendoá, em Ilhéus Foto: Lucas Andrade/Chocolat Festival/Divulgação

Em sua 15ª edição, o evento de Ilhéus ajuda a fortalecer o cacau da região nacional e internacionalmente: o festival recebeu cerca de 65 mil pessoas e movimentou cerca de 25 milhões de reais, entre comercialização de produtos, negócios realizados e a ocupação da rede hoteleira, comércio, lazer e serviços. Ao passear pelo evento, aliás, dá para notar como há gente de todos os lugares em busca de mais informações sobre mercado, cacau e as barras. Assim, no geral, há um sentimento de que as coisas estão realmente mudando.

“A gente está criando algo diferenciado com rastreabilidade 100% do cacau e um foco em sustentabilidade que é raro em outras regiões do mundo, como a África”, explica Carlos Tomich, produtor da Fazenda Capela Velha e dono da marca DOCACAO . Para ele, o diferencial da produção brasileira reside em seu compromisso com a sustentabilidade e a preservação ambiental, uma prática consolidada pela Cabruca, um sistema agroflorestal tradicional da região que se vale de árvores fazendo a sombra para o cacaueiro.

Hoje, Ilhéus abriga mais de 300 marcas bean-to-bar, cada uma oferecendo um chocolate com sabor único, que atrai turistas de várias partes do Brasil e do mundo. Além disso, o apelo turístico das fazendas que oferecem experiências imersivas, como passeios e degustações, tem se tornado um dos grandes atrativos. “O preconceito com o chocolate brasileiro acaba na hora que o turista degusta o produto”, observa Tomichi. “Quando a pessoa entende o processo e experimenta o chocolate, o preconceito desaparece.”

Esse movimento tem transformado Ilhéus, fortalecendo o turismo local. “A gente precisa mostrar que o produtor brasileiro é resiliente. Ele passou por 20 ou 30 anos de dificuldades, mas hoje está produzindo com qualidade”, finaliza Tomichi. “Ilhéus está de volta ao mapa, não só como capital do cacau, mas como centro de produção de chocolate de excelência”.

Ilhéus é uma cidade no interior da Bahia que gira em torno de dois assuntos principais: Jorge Amado e cacau. O primeiro por ter passado sua infância ali, usando o local como inspiração para romances como Gabriela Cravo e Canela. Já o segundo assunto é pelo domínio do cacau: ao passear pela zona rural da cidade, são várias as fazendas com foco na plantação do fruto e, cada vez mais, também na produção de chocolate bean-to-bar.

O nome pode parecer complicado, mas a ideia é bem simples. Basicamente, são empresas que plantam, colhem, preparam e fazem chocolate, muitas vezes no mesmo endereço. Bean-to-bar, em inglês, significa “da semente à barra”. Também pode se chamar tree-to-bar, ou “da árvore à barra”, indicando controle completo do processo, do cultivo à produção final.

Seu Mororó, da Mendoá, na plantação de cacau da empresa Foto: Lucas Andrade/Chocolat Festival/Divulgação

E é justamente essa renovação de Ilhéus, deixando de ser apenas a capital do cacau para se tornar a capital nacional do chocolate, que está começando a movimentar novamente o turismo e as atenções para a cidade. Jorge Amado e os cacaueiros agora competem com as fábricas de chocolate artesanais que têm um sabor único, marcado pelo terroir local.

“Ilhéus tem o maior litoral da Bahia, com praias incríveis. Dos turistas, 20% estão aqui por causa de Jorge Amado e sua obra, enquanto outros 40% escolhem Ilhéus por causa do sol e da praia. Os outros 40% estão aqui por causa do cacau e do chocolate”, explica Marco Lessa, empresário e criador do Chocolat Festival, em entrevista em Ilhéus. “Praticamente metade das pessoas hoje são atraídas por esse tema. A pessoa vem até Ilhéus por causa do cacau, o que não existia antes. Elas queriam tomar banho de praia e ir embora.”

Recomeçando tudo de novo

Não é de hoje que a região produz cacau. Essa história começa lá atrás, ainda no Brasil imperial. Virou potência, dominou o mercado e virou o maior exportador de cacau do mundo. Até que, no fim dos anos 1980, tudo deu errado: a praga vassoura-de-bruxa, devastou os campos, comendo o fruto do cacau por dentro. Foi aí que o cenário se tornou desesperador: o País caiu de 450 mil toneladas ao ano para menos de 100 mil toneladas.

Aos poucos, porém, o estado da Bahia começou a investir em pesquisas para enfrentar a praga. “Hoje, ainda não aprendemos a eliminar a vassoura-de-bruxa, mas descobrimos técnicas para conviver com ela”, explica Raimundo Mororó, da Mendoá, uma das produtoras de cacau e fabricante de chocolate na cidade. Foi a oportunidade de voltar a produzir.

“No auge da crise, no Brasil inteiro, nós caímos pra 90 mil toneladas. Hoje, chegamos a 250 mil toneladas ao ano”, explica Lessa, ressaltando que Ilhéus domina. “Praticamente, a gente recupera 60% da nossa capacidade produtiva, estimulando a produção em outras regiões”.

Retomada gourmet

Esse renascimento não se limitou a restaurar a produção de cacau. Com o foco em qualidade, os produtores da região passaram a investir em marcas bean-to-bar e tree-to-bar, trazendo o cacau baiano para os holofotes internacionais -- inclusive por meio do Chocolat Festival, evento anual promovido por Lessa.

Cacau da plantação da Mendoá, em Ilhéus Foto: Lucas Andrade/Chocolat Festival/Divulgação

Em sua 15ª edição, o evento de Ilhéus ajuda a fortalecer o cacau da região nacional e internacionalmente: o festival recebeu cerca de 65 mil pessoas e movimentou cerca de 25 milhões de reais, entre comercialização de produtos, negócios realizados e a ocupação da rede hoteleira, comércio, lazer e serviços. Ao passear pelo evento, aliás, dá para notar como há gente de todos os lugares em busca de mais informações sobre mercado, cacau e as barras. Assim, no geral, há um sentimento de que as coisas estão realmente mudando.

“A gente está criando algo diferenciado com rastreabilidade 100% do cacau e um foco em sustentabilidade que é raro em outras regiões do mundo, como a África”, explica Carlos Tomich, produtor da Fazenda Capela Velha e dono da marca DOCACAO . Para ele, o diferencial da produção brasileira reside em seu compromisso com a sustentabilidade e a preservação ambiental, uma prática consolidada pela Cabruca, um sistema agroflorestal tradicional da região que se vale de árvores fazendo a sombra para o cacaueiro.

Hoje, Ilhéus abriga mais de 300 marcas bean-to-bar, cada uma oferecendo um chocolate com sabor único, que atrai turistas de várias partes do Brasil e do mundo. Além disso, o apelo turístico das fazendas que oferecem experiências imersivas, como passeios e degustações, tem se tornado um dos grandes atrativos. “O preconceito com o chocolate brasileiro acaba na hora que o turista degusta o produto”, observa Tomichi. “Quando a pessoa entende o processo e experimenta o chocolate, o preconceito desaparece.”

Esse movimento tem transformado Ilhéus, fortalecendo o turismo local. “A gente precisa mostrar que o produtor brasileiro é resiliente. Ele passou por 20 ou 30 anos de dificuldades, mas hoje está produzindo com qualidade”, finaliza Tomichi. “Ilhéus está de volta ao mapa, não só como capital do cacau, mas como centro de produção de chocolate de excelência”.

Ilhéus é uma cidade no interior da Bahia que gira em torno de dois assuntos principais: Jorge Amado e cacau. O primeiro por ter passado sua infância ali, usando o local como inspiração para romances como Gabriela Cravo e Canela. Já o segundo assunto é pelo domínio do cacau: ao passear pela zona rural da cidade, são várias as fazendas com foco na plantação do fruto e, cada vez mais, também na produção de chocolate bean-to-bar.

O nome pode parecer complicado, mas a ideia é bem simples. Basicamente, são empresas que plantam, colhem, preparam e fazem chocolate, muitas vezes no mesmo endereço. Bean-to-bar, em inglês, significa “da semente à barra”. Também pode se chamar tree-to-bar, ou “da árvore à barra”, indicando controle completo do processo, do cultivo à produção final.

Seu Mororó, da Mendoá, na plantação de cacau da empresa Foto: Lucas Andrade/Chocolat Festival/Divulgação

E é justamente essa renovação de Ilhéus, deixando de ser apenas a capital do cacau para se tornar a capital nacional do chocolate, que está começando a movimentar novamente o turismo e as atenções para a cidade. Jorge Amado e os cacaueiros agora competem com as fábricas de chocolate artesanais que têm um sabor único, marcado pelo terroir local.

“Ilhéus tem o maior litoral da Bahia, com praias incríveis. Dos turistas, 20% estão aqui por causa de Jorge Amado e sua obra, enquanto outros 40% escolhem Ilhéus por causa do sol e da praia. Os outros 40% estão aqui por causa do cacau e do chocolate”, explica Marco Lessa, empresário e criador do Chocolat Festival, em entrevista em Ilhéus. “Praticamente metade das pessoas hoje são atraídas por esse tema. A pessoa vem até Ilhéus por causa do cacau, o que não existia antes. Elas queriam tomar banho de praia e ir embora.”

Recomeçando tudo de novo

Não é de hoje que a região produz cacau. Essa história começa lá atrás, ainda no Brasil imperial. Virou potência, dominou o mercado e virou o maior exportador de cacau do mundo. Até que, no fim dos anos 1980, tudo deu errado: a praga vassoura-de-bruxa, devastou os campos, comendo o fruto do cacau por dentro. Foi aí que o cenário se tornou desesperador: o País caiu de 450 mil toneladas ao ano para menos de 100 mil toneladas.

Aos poucos, porém, o estado da Bahia começou a investir em pesquisas para enfrentar a praga. “Hoje, ainda não aprendemos a eliminar a vassoura-de-bruxa, mas descobrimos técnicas para conviver com ela”, explica Raimundo Mororó, da Mendoá, uma das produtoras de cacau e fabricante de chocolate na cidade. Foi a oportunidade de voltar a produzir.

“No auge da crise, no Brasil inteiro, nós caímos pra 90 mil toneladas. Hoje, chegamos a 250 mil toneladas ao ano”, explica Lessa, ressaltando que Ilhéus domina. “Praticamente, a gente recupera 60% da nossa capacidade produtiva, estimulando a produção em outras regiões”.

Retomada gourmet

Esse renascimento não se limitou a restaurar a produção de cacau. Com o foco em qualidade, os produtores da região passaram a investir em marcas bean-to-bar e tree-to-bar, trazendo o cacau baiano para os holofotes internacionais -- inclusive por meio do Chocolat Festival, evento anual promovido por Lessa.

Cacau da plantação da Mendoá, em Ilhéus Foto: Lucas Andrade/Chocolat Festival/Divulgação

Em sua 15ª edição, o evento de Ilhéus ajuda a fortalecer o cacau da região nacional e internacionalmente: o festival recebeu cerca de 65 mil pessoas e movimentou cerca de 25 milhões de reais, entre comercialização de produtos, negócios realizados e a ocupação da rede hoteleira, comércio, lazer e serviços. Ao passear pelo evento, aliás, dá para notar como há gente de todos os lugares em busca de mais informações sobre mercado, cacau e as barras. Assim, no geral, há um sentimento de que as coisas estão realmente mudando.

“A gente está criando algo diferenciado com rastreabilidade 100% do cacau e um foco em sustentabilidade que é raro em outras regiões do mundo, como a África”, explica Carlos Tomich, produtor da Fazenda Capela Velha e dono da marca DOCACAO . Para ele, o diferencial da produção brasileira reside em seu compromisso com a sustentabilidade e a preservação ambiental, uma prática consolidada pela Cabruca, um sistema agroflorestal tradicional da região que se vale de árvores fazendo a sombra para o cacaueiro.

Hoje, Ilhéus abriga mais de 300 marcas bean-to-bar, cada uma oferecendo um chocolate com sabor único, que atrai turistas de várias partes do Brasil e do mundo. Além disso, o apelo turístico das fazendas que oferecem experiências imersivas, como passeios e degustações, tem se tornado um dos grandes atrativos. “O preconceito com o chocolate brasileiro acaba na hora que o turista degusta o produto”, observa Tomichi. “Quando a pessoa entende o processo e experimenta o chocolate, o preconceito desaparece.”

Esse movimento tem transformado Ilhéus, fortalecendo o turismo local. “A gente precisa mostrar que o produtor brasileiro é resiliente. Ele passou por 20 ou 30 anos de dificuldades, mas hoje está produzindo com qualidade”, finaliza Tomichi. “Ilhéus está de volta ao mapa, não só como capital do cacau, mas como centro de produção de chocolate de excelência”.

Ilhéus é uma cidade no interior da Bahia que gira em torno de dois assuntos principais: Jorge Amado e cacau. O primeiro por ter passado sua infância ali, usando o local como inspiração para romances como Gabriela Cravo e Canela. Já o segundo assunto é pelo domínio do cacau: ao passear pela zona rural da cidade, são várias as fazendas com foco na plantação do fruto e, cada vez mais, também na produção de chocolate bean-to-bar.

O nome pode parecer complicado, mas a ideia é bem simples. Basicamente, são empresas que plantam, colhem, preparam e fazem chocolate, muitas vezes no mesmo endereço. Bean-to-bar, em inglês, significa “da semente à barra”. Também pode se chamar tree-to-bar, ou “da árvore à barra”, indicando controle completo do processo, do cultivo à produção final.

Seu Mororó, da Mendoá, na plantação de cacau da empresa Foto: Lucas Andrade/Chocolat Festival/Divulgação

E é justamente essa renovação de Ilhéus, deixando de ser apenas a capital do cacau para se tornar a capital nacional do chocolate, que está começando a movimentar novamente o turismo e as atenções para a cidade. Jorge Amado e os cacaueiros agora competem com as fábricas de chocolate artesanais que têm um sabor único, marcado pelo terroir local.

“Ilhéus tem o maior litoral da Bahia, com praias incríveis. Dos turistas, 20% estão aqui por causa de Jorge Amado e sua obra, enquanto outros 40% escolhem Ilhéus por causa do sol e da praia. Os outros 40% estão aqui por causa do cacau e do chocolate”, explica Marco Lessa, empresário e criador do Chocolat Festival, em entrevista em Ilhéus. “Praticamente metade das pessoas hoje são atraídas por esse tema. A pessoa vem até Ilhéus por causa do cacau, o que não existia antes. Elas queriam tomar banho de praia e ir embora.”

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Não é de hoje que a região produz cacau. Essa história começa lá atrás, ainda no Brasil imperial. Virou potência, dominou o mercado e virou o maior exportador de cacau do mundo. Até que, no fim dos anos 1980, tudo deu errado: a praga vassoura-de-bruxa, devastou os campos, comendo o fruto do cacau por dentro. Foi aí que o cenário se tornou desesperador: o País caiu de 450 mil toneladas ao ano para menos de 100 mil toneladas.

Aos poucos, porém, o estado da Bahia começou a investir em pesquisas para enfrentar a praga. “Hoje, ainda não aprendemos a eliminar a vassoura-de-bruxa, mas descobrimos técnicas para conviver com ela”, explica Raimundo Mororó, da Mendoá, uma das produtoras de cacau e fabricante de chocolate na cidade. Foi a oportunidade de voltar a produzir.

“No auge da crise, no Brasil inteiro, nós caímos pra 90 mil toneladas. Hoje, chegamos a 250 mil toneladas ao ano”, explica Lessa, ressaltando que Ilhéus domina. “Praticamente, a gente recupera 60% da nossa capacidade produtiva, estimulando a produção em outras regiões”.

Retomada gourmet

Esse renascimento não se limitou a restaurar a produção de cacau. Com o foco em qualidade, os produtores da região passaram a investir em marcas bean-to-bar e tree-to-bar, trazendo o cacau baiano para os holofotes internacionais -- inclusive por meio do Chocolat Festival, evento anual promovido por Lessa.

Cacau da plantação da Mendoá, em Ilhéus Foto: Lucas Andrade/Chocolat Festival/Divulgação

Em sua 15ª edição, o evento de Ilhéus ajuda a fortalecer o cacau da região nacional e internacionalmente: o festival recebeu cerca de 65 mil pessoas e movimentou cerca de 25 milhões de reais, entre comercialização de produtos, negócios realizados e a ocupação da rede hoteleira, comércio, lazer e serviços. Ao passear pelo evento, aliás, dá para notar como há gente de todos os lugares em busca de mais informações sobre mercado, cacau e as barras. Assim, no geral, há um sentimento de que as coisas estão realmente mudando.

“A gente está criando algo diferenciado com rastreabilidade 100% do cacau e um foco em sustentabilidade que é raro em outras regiões do mundo, como a África”, explica Carlos Tomich, produtor da Fazenda Capela Velha e dono da marca DOCACAO . Para ele, o diferencial da produção brasileira reside em seu compromisso com a sustentabilidade e a preservação ambiental, uma prática consolidada pela Cabruca, um sistema agroflorestal tradicional da região que se vale de árvores fazendo a sombra para o cacaueiro.

Hoje, Ilhéus abriga mais de 300 marcas bean-to-bar, cada uma oferecendo um chocolate com sabor único, que atrai turistas de várias partes do Brasil e do mundo. Além disso, o apelo turístico das fazendas que oferecem experiências imersivas, como passeios e degustações, tem se tornado um dos grandes atrativos. “O preconceito com o chocolate brasileiro acaba na hora que o turista degusta o produto”, observa Tomichi. “Quando a pessoa entende o processo e experimenta o chocolate, o preconceito desaparece.”

Esse movimento tem transformado Ilhéus, fortalecendo o turismo local. “A gente precisa mostrar que o produtor brasileiro é resiliente. Ele passou por 20 ou 30 anos de dificuldades, mas hoje está produzindo com qualidade”, finaliza Tomichi. “Ilhéus está de volta ao mapa, não só como capital do cacau, mas como centro de produção de chocolate de excelência”.

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