Fazer pierogi ucraniano 'me enraíza na minha árvore genealógica'


Como a Guerra da Ucrânia reascendeu em descentes ucranianos as heranças da cozinha do País; confira uma receita de família do tradicional pierogi

Por Jim Webster
Pierogi ucraniano pode ser apreciado fervido ou fervido e depois refogado, como na foto Foto: Scott Suchman/The Washington Post

Quando tudo fica pesado demais e sinto que preciso fazer alguma coisa, mesmo quando não há absolutamente nada que eu possa fazer, geralmente vou para a cozinha.

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Às vezes o gesto resulta numa torta ou num jantar meio exagerado para amigos. Nos últimos anos, foram muitas fornadas de bagels assados para aliviar o estresse. Fiquei muito bom nisso – e foi uma bem-vinda distração semanal da monotonia pandêmica.

A situação na Ucrânia despertou um novo nível de ansiedade. Ou melhor, reintroduziu a ansiedade com a qual cresci como membro da geração X. No ensino médio, na década de 1980, fui obrigado a fazer uma aula chamada “Americanismo versus comunismo”.

A cultura pop que me formou na juventude trazia inúmeros enredos que giravam em torno da ideia de sobreviver num mundo pós-apocalíptico, ou de adolescentes rebeldes salvando o país de invasores malignos.

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Fazia um bom par de décadas desde a última vez em que tivemos de nos preocupar seriamente com essa narrativa distópica, mas aqui estamos nós mais uma vez. E realmente não há nada que eu possa fazer a respeito. Então estou indo para a cozinha.

Não me alinho fortemente com nenhuma etnia em particular, mas me lembro de quando era criança: sempre que encontrávamos a família da minha mãe, íamos ver meu bisavô, Gigi, com quem eu ficava fascinado por causa de seu forte sotaque e suas histórias do “velho país”. Só muitos anos depois eu viria a saber que o velho país de que ele falava era a Ucrânia – e mesmo assim eu não tinha certeza do que isso significava, porque naqueles tempos o país fazia parte da União Soviética.

Imaginava que a Ucrânia fosse um estado, mais ou menos como a Pensilvânia, onde morávamos na época. E recentemente soube que meu bisavô veio para a América em algum momento depois da virada do século, como emigrante clandestino, de barco, escapando da agitação que estava se intensificando pouco antes da Revolução Russa.

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A receita da avó, deixada emum caderno escrito à mão, reconecta os familiaresàs suas raízes ancestrais Foto: Scott Suchman/The Washington Post

A coisa de que eu me lembro mais vividamente naquelas festas era a comida. Sempre tinha couves recheadas, que a minha avó fazia e eu adorava muito porque me faziam sentir que gostava de pelo menos um legume. E tinha também enormes tonéis de kielbasa e chucrute. Beterraba com rabanete era um dos meus favoritos, um condimento que eu colocava em tudo à vista.

Mas o prato que me deixava de olho na mesa era o pierogi. Minha avó, Nastazia, também fazia. Era uma espécie de bolinho de massa recheado com queijo e purê de batata, e eles falavam direto ao coração e às entranhas do voraz comedor de carboidrato que eu viria a ser.

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Na mesa, o pierogi era servido simplesmente com cebolas refogadas em toneladas de manteiga. E sempre havia creme azedo ao lado, o que deixava tudo muito melhor. Eu sempre me postava perto da mesa, com medo de que os pierogi fossem embora antes que eu chegasse a minha vez. Numa ocasião, cheguei a comer tanto que até passei mal. Depois disso, impuseram algumas restrições ao meu acesso à iguaria. Senti que era injusto, mas de vez em quando eu conseguia roubar alguns além da minha cota.

Outras vezes, os pierogi eram cozidos primeiro e depois fritos, dando ao pacote já perfeito um interesse extra de textura. Não tenho preferência. Os dois jeitos são meus favoritos.

Eu gostaria de ter prestado mais atenção às histórias, perguntado mais quando ainda havia alguém para responder. E gostaria de saber o suficiente para poder comparar os eventos atuais com as coisas que Gigi contava, mesmo que acabasse por partir meu coração. Ou justamente para partir meu coração, para sofrer aquela dor muito particular de ter uma conexão profunda com um lugar e sentir um horror inato pelo que está acontecendo lá.

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Receitas repassadas por gerações

Mas eu tenho as receitas. Minha avó escreveu um livro manuscrito com as receitas da família, e o último capítulo é dedicado a pratos ucranianos. Na última vez em que fiz o pierogi dela, fiz porque estava tentando lidar com o fato de que ela não tinha muito tempo de vida. E senti que fazer a receita seria a conexão de que eu precisava naquele momento.

+ RECEITA: Confira a receita de um pierogi tradicional ucraniano

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Agora estou fazendo uma conexão com um lugar onde nunca estive e ancestrais sobre os quais não sei quase nada. Mas, quem sabe?, também com primos vivos e distantes que se encontrem nalgum galho distante da minha árvore genealógica. Tão distante que não apareceriam em nenhuma amostra de DNA online. Agora talvez eles estejam passando por algo que não consigo imaginar, obrigados a defender sua própria casa. Ou a abandoná-la. Talvez, se isso não estivesse acontecendo, eu nunca teria me perguntado sobre sua existência.

Talvez eu não tenha quase nada em comum com eles. Mas talvez, apenas talvez, nossas receitas de pierogi venham da mesma raiz.

Pierogi ucraniano pode ser apreciado fervido ou fervido e depois refogado, como na foto Foto: Scott Suchman/The Washington Post

Quando tudo fica pesado demais e sinto que preciso fazer alguma coisa, mesmo quando não há absolutamente nada que eu possa fazer, geralmente vou para a cozinha.

Às vezes o gesto resulta numa torta ou num jantar meio exagerado para amigos. Nos últimos anos, foram muitas fornadas de bagels assados para aliviar o estresse. Fiquei muito bom nisso – e foi uma bem-vinda distração semanal da monotonia pandêmica.

A situação na Ucrânia despertou um novo nível de ansiedade. Ou melhor, reintroduziu a ansiedade com a qual cresci como membro da geração X. No ensino médio, na década de 1980, fui obrigado a fazer uma aula chamada “Americanismo versus comunismo”.

A cultura pop que me formou na juventude trazia inúmeros enredos que giravam em torno da ideia de sobreviver num mundo pós-apocalíptico, ou de adolescentes rebeldes salvando o país de invasores malignos.

Fazia um bom par de décadas desde a última vez em que tivemos de nos preocupar seriamente com essa narrativa distópica, mas aqui estamos nós mais uma vez. E realmente não há nada que eu possa fazer a respeito. Então estou indo para a cozinha.

Não me alinho fortemente com nenhuma etnia em particular, mas me lembro de quando era criança: sempre que encontrávamos a família da minha mãe, íamos ver meu bisavô, Gigi, com quem eu ficava fascinado por causa de seu forte sotaque e suas histórias do “velho país”. Só muitos anos depois eu viria a saber que o velho país de que ele falava era a Ucrânia – e mesmo assim eu não tinha certeza do que isso significava, porque naqueles tempos o país fazia parte da União Soviética.

Imaginava que a Ucrânia fosse um estado, mais ou menos como a Pensilvânia, onde morávamos na época. E recentemente soube que meu bisavô veio para a América em algum momento depois da virada do século, como emigrante clandestino, de barco, escapando da agitação que estava se intensificando pouco antes da Revolução Russa.

A receita da avó, deixada emum caderno escrito à mão, reconecta os familiaresàs suas raízes ancestrais Foto: Scott Suchman/The Washington Post

A coisa de que eu me lembro mais vividamente naquelas festas era a comida. Sempre tinha couves recheadas, que a minha avó fazia e eu adorava muito porque me faziam sentir que gostava de pelo menos um legume. E tinha também enormes tonéis de kielbasa e chucrute. Beterraba com rabanete era um dos meus favoritos, um condimento que eu colocava em tudo à vista.

Mas o prato que me deixava de olho na mesa era o pierogi. Minha avó, Nastazia, também fazia. Era uma espécie de bolinho de massa recheado com queijo e purê de batata, e eles falavam direto ao coração e às entranhas do voraz comedor de carboidrato que eu viria a ser.

Na mesa, o pierogi era servido simplesmente com cebolas refogadas em toneladas de manteiga. E sempre havia creme azedo ao lado, o que deixava tudo muito melhor. Eu sempre me postava perto da mesa, com medo de que os pierogi fossem embora antes que eu chegasse a minha vez. Numa ocasião, cheguei a comer tanto que até passei mal. Depois disso, impuseram algumas restrições ao meu acesso à iguaria. Senti que era injusto, mas de vez em quando eu conseguia roubar alguns além da minha cota.

Outras vezes, os pierogi eram cozidos primeiro e depois fritos, dando ao pacote já perfeito um interesse extra de textura. Não tenho preferência. Os dois jeitos são meus favoritos.

Eu gostaria de ter prestado mais atenção às histórias, perguntado mais quando ainda havia alguém para responder. E gostaria de saber o suficiente para poder comparar os eventos atuais com as coisas que Gigi contava, mesmo que acabasse por partir meu coração. Ou justamente para partir meu coração, para sofrer aquela dor muito particular de ter uma conexão profunda com um lugar e sentir um horror inato pelo que está acontecendo lá.

Receitas repassadas por gerações

Mas eu tenho as receitas. Minha avó escreveu um livro manuscrito com as receitas da família, e o último capítulo é dedicado a pratos ucranianos. Na última vez em que fiz o pierogi dela, fiz porque estava tentando lidar com o fato de que ela não tinha muito tempo de vida. E senti que fazer a receita seria a conexão de que eu precisava naquele momento.

+ RECEITA: Confira a receita de um pierogi tradicional ucraniano

Agora estou fazendo uma conexão com um lugar onde nunca estive e ancestrais sobre os quais não sei quase nada. Mas, quem sabe?, também com primos vivos e distantes que se encontrem nalgum galho distante da minha árvore genealógica. Tão distante que não apareceriam em nenhuma amostra de DNA online. Agora talvez eles estejam passando por algo que não consigo imaginar, obrigados a defender sua própria casa. Ou a abandoná-la. Talvez, se isso não estivesse acontecendo, eu nunca teria me perguntado sobre sua existência.

Talvez eu não tenha quase nada em comum com eles. Mas talvez, apenas talvez, nossas receitas de pierogi venham da mesma raiz.

Pierogi ucraniano pode ser apreciado fervido ou fervido e depois refogado, como na foto Foto: Scott Suchman/The Washington Post

Quando tudo fica pesado demais e sinto que preciso fazer alguma coisa, mesmo quando não há absolutamente nada que eu possa fazer, geralmente vou para a cozinha.

Às vezes o gesto resulta numa torta ou num jantar meio exagerado para amigos. Nos últimos anos, foram muitas fornadas de bagels assados para aliviar o estresse. Fiquei muito bom nisso – e foi uma bem-vinda distração semanal da monotonia pandêmica.

A situação na Ucrânia despertou um novo nível de ansiedade. Ou melhor, reintroduziu a ansiedade com a qual cresci como membro da geração X. No ensino médio, na década de 1980, fui obrigado a fazer uma aula chamada “Americanismo versus comunismo”.

A cultura pop que me formou na juventude trazia inúmeros enredos que giravam em torno da ideia de sobreviver num mundo pós-apocalíptico, ou de adolescentes rebeldes salvando o país de invasores malignos.

Fazia um bom par de décadas desde a última vez em que tivemos de nos preocupar seriamente com essa narrativa distópica, mas aqui estamos nós mais uma vez. E realmente não há nada que eu possa fazer a respeito. Então estou indo para a cozinha.

Não me alinho fortemente com nenhuma etnia em particular, mas me lembro de quando era criança: sempre que encontrávamos a família da minha mãe, íamos ver meu bisavô, Gigi, com quem eu ficava fascinado por causa de seu forte sotaque e suas histórias do “velho país”. Só muitos anos depois eu viria a saber que o velho país de que ele falava era a Ucrânia – e mesmo assim eu não tinha certeza do que isso significava, porque naqueles tempos o país fazia parte da União Soviética.

Imaginava que a Ucrânia fosse um estado, mais ou menos como a Pensilvânia, onde morávamos na época. E recentemente soube que meu bisavô veio para a América em algum momento depois da virada do século, como emigrante clandestino, de barco, escapando da agitação que estava se intensificando pouco antes da Revolução Russa.

A receita da avó, deixada emum caderno escrito à mão, reconecta os familiaresàs suas raízes ancestrais Foto: Scott Suchman/The Washington Post

A coisa de que eu me lembro mais vividamente naquelas festas era a comida. Sempre tinha couves recheadas, que a minha avó fazia e eu adorava muito porque me faziam sentir que gostava de pelo menos um legume. E tinha também enormes tonéis de kielbasa e chucrute. Beterraba com rabanete era um dos meus favoritos, um condimento que eu colocava em tudo à vista.

Mas o prato que me deixava de olho na mesa era o pierogi. Minha avó, Nastazia, também fazia. Era uma espécie de bolinho de massa recheado com queijo e purê de batata, e eles falavam direto ao coração e às entranhas do voraz comedor de carboidrato que eu viria a ser.

Na mesa, o pierogi era servido simplesmente com cebolas refogadas em toneladas de manteiga. E sempre havia creme azedo ao lado, o que deixava tudo muito melhor. Eu sempre me postava perto da mesa, com medo de que os pierogi fossem embora antes que eu chegasse a minha vez. Numa ocasião, cheguei a comer tanto que até passei mal. Depois disso, impuseram algumas restrições ao meu acesso à iguaria. Senti que era injusto, mas de vez em quando eu conseguia roubar alguns além da minha cota.

Outras vezes, os pierogi eram cozidos primeiro e depois fritos, dando ao pacote já perfeito um interesse extra de textura. Não tenho preferência. Os dois jeitos são meus favoritos.

Eu gostaria de ter prestado mais atenção às histórias, perguntado mais quando ainda havia alguém para responder. E gostaria de saber o suficiente para poder comparar os eventos atuais com as coisas que Gigi contava, mesmo que acabasse por partir meu coração. Ou justamente para partir meu coração, para sofrer aquela dor muito particular de ter uma conexão profunda com um lugar e sentir um horror inato pelo que está acontecendo lá.

Receitas repassadas por gerações

Mas eu tenho as receitas. Minha avó escreveu um livro manuscrito com as receitas da família, e o último capítulo é dedicado a pratos ucranianos. Na última vez em que fiz o pierogi dela, fiz porque estava tentando lidar com o fato de que ela não tinha muito tempo de vida. E senti que fazer a receita seria a conexão de que eu precisava naquele momento.

+ RECEITA: Confira a receita de um pierogi tradicional ucraniano

Agora estou fazendo uma conexão com um lugar onde nunca estive e ancestrais sobre os quais não sei quase nada. Mas, quem sabe?, também com primos vivos e distantes que se encontrem nalgum galho distante da minha árvore genealógica. Tão distante que não apareceriam em nenhuma amostra de DNA online. Agora talvez eles estejam passando por algo que não consigo imaginar, obrigados a defender sua própria casa. Ou a abandoná-la. Talvez, se isso não estivesse acontecendo, eu nunca teria me perguntado sobre sua existência.

Talvez eu não tenha quase nada em comum com eles. Mas talvez, apenas talvez, nossas receitas de pierogi venham da mesma raiz.

Pierogi ucraniano pode ser apreciado fervido ou fervido e depois refogado, como na foto Foto: Scott Suchman/The Washington Post

Quando tudo fica pesado demais e sinto que preciso fazer alguma coisa, mesmo quando não há absolutamente nada que eu possa fazer, geralmente vou para a cozinha.

Às vezes o gesto resulta numa torta ou num jantar meio exagerado para amigos. Nos últimos anos, foram muitas fornadas de bagels assados para aliviar o estresse. Fiquei muito bom nisso – e foi uma bem-vinda distração semanal da monotonia pandêmica.

A situação na Ucrânia despertou um novo nível de ansiedade. Ou melhor, reintroduziu a ansiedade com a qual cresci como membro da geração X. No ensino médio, na década de 1980, fui obrigado a fazer uma aula chamada “Americanismo versus comunismo”.

A cultura pop que me formou na juventude trazia inúmeros enredos que giravam em torno da ideia de sobreviver num mundo pós-apocalíptico, ou de adolescentes rebeldes salvando o país de invasores malignos.

Fazia um bom par de décadas desde a última vez em que tivemos de nos preocupar seriamente com essa narrativa distópica, mas aqui estamos nós mais uma vez. E realmente não há nada que eu possa fazer a respeito. Então estou indo para a cozinha.

Não me alinho fortemente com nenhuma etnia em particular, mas me lembro de quando era criança: sempre que encontrávamos a família da minha mãe, íamos ver meu bisavô, Gigi, com quem eu ficava fascinado por causa de seu forte sotaque e suas histórias do “velho país”. Só muitos anos depois eu viria a saber que o velho país de que ele falava era a Ucrânia – e mesmo assim eu não tinha certeza do que isso significava, porque naqueles tempos o país fazia parte da União Soviética.

Imaginava que a Ucrânia fosse um estado, mais ou menos como a Pensilvânia, onde morávamos na época. E recentemente soube que meu bisavô veio para a América em algum momento depois da virada do século, como emigrante clandestino, de barco, escapando da agitação que estava se intensificando pouco antes da Revolução Russa.

A receita da avó, deixada emum caderno escrito à mão, reconecta os familiaresàs suas raízes ancestrais Foto: Scott Suchman/The Washington Post

A coisa de que eu me lembro mais vividamente naquelas festas era a comida. Sempre tinha couves recheadas, que a minha avó fazia e eu adorava muito porque me faziam sentir que gostava de pelo menos um legume. E tinha também enormes tonéis de kielbasa e chucrute. Beterraba com rabanete era um dos meus favoritos, um condimento que eu colocava em tudo à vista.

Mas o prato que me deixava de olho na mesa era o pierogi. Minha avó, Nastazia, também fazia. Era uma espécie de bolinho de massa recheado com queijo e purê de batata, e eles falavam direto ao coração e às entranhas do voraz comedor de carboidrato que eu viria a ser.

Na mesa, o pierogi era servido simplesmente com cebolas refogadas em toneladas de manteiga. E sempre havia creme azedo ao lado, o que deixava tudo muito melhor. Eu sempre me postava perto da mesa, com medo de que os pierogi fossem embora antes que eu chegasse a minha vez. Numa ocasião, cheguei a comer tanto que até passei mal. Depois disso, impuseram algumas restrições ao meu acesso à iguaria. Senti que era injusto, mas de vez em quando eu conseguia roubar alguns além da minha cota.

Outras vezes, os pierogi eram cozidos primeiro e depois fritos, dando ao pacote já perfeito um interesse extra de textura. Não tenho preferência. Os dois jeitos são meus favoritos.

Eu gostaria de ter prestado mais atenção às histórias, perguntado mais quando ainda havia alguém para responder. E gostaria de saber o suficiente para poder comparar os eventos atuais com as coisas que Gigi contava, mesmo que acabasse por partir meu coração. Ou justamente para partir meu coração, para sofrer aquela dor muito particular de ter uma conexão profunda com um lugar e sentir um horror inato pelo que está acontecendo lá.

Receitas repassadas por gerações

Mas eu tenho as receitas. Minha avó escreveu um livro manuscrito com as receitas da família, e o último capítulo é dedicado a pratos ucranianos. Na última vez em que fiz o pierogi dela, fiz porque estava tentando lidar com o fato de que ela não tinha muito tempo de vida. E senti que fazer a receita seria a conexão de que eu precisava naquele momento.

+ RECEITA: Confira a receita de um pierogi tradicional ucraniano

Agora estou fazendo uma conexão com um lugar onde nunca estive e ancestrais sobre os quais não sei quase nada. Mas, quem sabe?, também com primos vivos e distantes que se encontrem nalgum galho distante da minha árvore genealógica. Tão distante que não apareceriam em nenhuma amostra de DNA online. Agora talvez eles estejam passando por algo que não consigo imaginar, obrigados a defender sua própria casa. Ou a abandoná-la. Talvez, se isso não estivesse acontecendo, eu nunca teria me perguntado sobre sua existência.

Talvez eu não tenha quase nada em comum com eles. Mas talvez, apenas talvez, nossas receitas de pierogi venham da mesma raiz.

Pierogi ucraniano pode ser apreciado fervido ou fervido e depois refogado, como na foto Foto: Scott Suchman/The Washington Post

Quando tudo fica pesado demais e sinto que preciso fazer alguma coisa, mesmo quando não há absolutamente nada que eu possa fazer, geralmente vou para a cozinha.

Às vezes o gesto resulta numa torta ou num jantar meio exagerado para amigos. Nos últimos anos, foram muitas fornadas de bagels assados para aliviar o estresse. Fiquei muito bom nisso – e foi uma bem-vinda distração semanal da monotonia pandêmica.

A situação na Ucrânia despertou um novo nível de ansiedade. Ou melhor, reintroduziu a ansiedade com a qual cresci como membro da geração X. No ensino médio, na década de 1980, fui obrigado a fazer uma aula chamada “Americanismo versus comunismo”.

A cultura pop que me formou na juventude trazia inúmeros enredos que giravam em torno da ideia de sobreviver num mundo pós-apocalíptico, ou de adolescentes rebeldes salvando o país de invasores malignos.

Fazia um bom par de décadas desde a última vez em que tivemos de nos preocupar seriamente com essa narrativa distópica, mas aqui estamos nós mais uma vez. E realmente não há nada que eu possa fazer a respeito. Então estou indo para a cozinha.

Não me alinho fortemente com nenhuma etnia em particular, mas me lembro de quando era criança: sempre que encontrávamos a família da minha mãe, íamos ver meu bisavô, Gigi, com quem eu ficava fascinado por causa de seu forte sotaque e suas histórias do “velho país”. Só muitos anos depois eu viria a saber que o velho país de que ele falava era a Ucrânia – e mesmo assim eu não tinha certeza do que isso significava, porque naqueles tempos o país fazia parte da União Soviética.

Imaginava que a Ucrânia fosse um estado, mais ou menos como a Pensilvânia, onde morávamos na época. E recentemente soube que meu bisavô veio para a América em algum momento depois da virada do século, como emigrante clandestino, de barco, escapando da agitação que estava se intensificando pouco antes da Revolução Russa.

A receita da avó, deixada emum caderno escrito à mão, reconecta os familiaresàs suas raízes ancestrais Foto: Scott Suchman/The Washington Post

A coisa de que eu me lembro mais vividamente naquelas festas era a comida. Sempre tinha couves recheadas, que a minha avó fazia e eu adorava muito porque me faziam sentir que gostava de pelo menos um legume. E tinha também enormes tonéis de kielbasa e chucrute. Beterraba com rabanete era um dos meus favoritos, um condimento que eu colocava em tudo à vista.

Mas o prato que me deixava de olho na mesa era o pierogi. Minha avó, Nastazia, também fazia. Era uma espécie de bolinho de massa recheado com queijo e purê de batata, e eles falavam direto ao coração e às entranhas do voraz comedor de carboidrato que eu viria a ser.

Na mesa, o pierogi era servido simplesmente com cebolas refogadas em toneladas de manteiga. E sempre havia creme azedo ao lado, o que deixava tudo muito melhor. Eu sempre me postava perto da mesa, com medo de que os pierogi fossem embora antes que eu chegasse a minha vez. Numa ocasião, cheguei a comer tanto que até passei mal. Depois disso, impuseram algumas restrições ao meu acesso à iguaria. Senti que era injusto, mas de vez em quando eu conseguia roubar alguns além da minha cota.

Outras vezes, os pierogi eram cozidos primeiro e depois fritos, dando ao pacote já perfeito um interesse extra de textura. Não tenho preferência. Os dois jeitos são meus favoritos.

Eu gostaria de ter prestado mais atenção às histórias, perguntado mais quando ainda havia alguém para responder. E gostaria de saber o suficiente para poder comparar os eventos atuais com as coisas que Gigi contava, mesmo que acabasse por partir meu coração. Ou justamente para partir meu coração, para sofrer aquela dor muito particular de ter uma conexão profunda com um lugar e sentir um horror inato pelo que está acontecendo lá.

Receitas repassadas por gerações

Mas eu tenho as receitas. Minha avó escreveu um livro manuscrito com as receitas da família, e o último capítulo é dedicado a pratos ucranianos. Na última vez em que fiz o pierogi dela, fiz porque estava tentando lidar com o fato de que ela não tinha muito tempo de vida. E senti que fazer a receita seria a conexão de que eu precisava naquele momento.

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Agora estou fazendo uma conexão com um lugar onde nunca estive e ancestrais sobre os quais não sei quase nada. Mas, quem sabe?, também com primos vivos e distantes que se encontrem nalgum galho distante da minha árvore genealógica. Tão distante que não apareceriam em nenhuma amostra de DNA online. Agora talvez eles estejam passando por algo que não consigo imaginar, obrigados a defender sua própria casa. Ou a abandoná-la. Talvez, se isso não estivesse acontecendo, eu nunca teria me perguntado sobre sua existência.

Talvez eu não tenha quase nada em comum com eles. Mas talvez, apenas talvez, nossas receitas de pierogi venham da mesma raiz.

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