Gastronomia social: ‘Cozinhas de Emergência’, do Disney+, é a dica de Paladar para o final de semana


Documentário, dirigido pelo cineasta Ron Howard, fala sobre a World Central Kitchen e o trabalho do chef José Andrés

Por Matheus Mans
Chef vai até locais afetados por grandes desastres naturais para alimentar a população Foto: Disney+

O chef José Andrés, que prefere ser chamado de cozinheiro, ficou conhecido por conta de seu trabalho com as tapas -- os aperitivos da Espanha. Virou capa de revista, tema de programas de televisão e, de uma hora para outra, o chef espanhol começou a ser parado na rua para tirar fotos com fãs. Sucesso absoluto. No entanto, hoje a função de Andrés vai além: ele também comanda a World Central Kitchen, organização não-governamental que alimenta pessoas ao redor do mundo que estão vivendo em áreas de calamidade ambiental.

Esse trabalho do chef, repleto de percalços, é o tema do documentário Cozinhas de Emergência, produção do National Geographic e disponível para assistir no Disney+. Com direção do premiado Ron Howard (Rush: No Limite da Emoção, Apollo 13), o longa-metragem é um documentário de observação que entra na vida e na rotina de José Andrés. Logo, é um filme que não fica parado: está o tempo todo em movimento, tentando acompanhar a rotina intensa do chef, sempre em busca de soluções para o mundo.

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Como cinema, Cozinhas de Emergência fica devendo um pouco. Ainda que Ron Howard tenha a experiência de não cair em armadilhas fatais para o gênero, como o formato linear que deixa qualquer cinebiografia com formato de artigo do Wikipédia, falta um pouco de vitalidade na condução. Assim como aconteceu com Rebuilding Paradise, o diretor faz tudo com uma mesmice cansativa. É difícil ousar no formato, ainda mais com um personagem tão brilhante como José Andrés. Mas Howard poderia ter ido um tiquinho além na execução.

José Andrés e a gastronomia social

O grande ponto à favor de Cozinhas de Emergência é o olhar sobre uma gastronomia que quase nunca é falada, sentida ou comentada: essa que é feita com viés social, para causar impacto não só no paladar, mas também na vida das pessoas. É um movimento vivo, que não pode ficar restrito em uma única causa ou concentrado em um único tipo de alimento. É preciso sempre encontrar saídas para particularidades de cada situação, compreendendo o que as pessoas, em suas individualidades, precisam. O padrão, aqui, reproduz o erro.

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José Andrés corre ao redor do mundo para não deixar pessoas desamparadas e com fome Foto: Disney+

Com isso, mais do que qualquer importância cinematográfica, este filme do National Geographic tem importância política. José Andrés, afinal, faz política quando se desloca até Porto Rico para ajudar pessoas desamparadas, quando faz reuniões em busca de fundos ou quando briga para que cada pessoa ao seu redor seja bem atendida. Guardadas as suas devidas proporções, é algo similar ao que o Padre Júlio Lancelotti faz no centro da cidade de São Paulo. Se aproxima de pessoas em vulnerabilidade por meio do prato de comida.

Mas enquanto o padre está fixo em um ponto geográfico, Andrés se movimenta. Vai atrás da catástrofe. Terremotos, incêndios, enchentes ou uma pandemia de covid-19? Todos esses eventos produzem, independente do espaço, pessoas sem condições de comer, de cozinhar, de sobreviver. Andrés vai atrás e, com sua experiência, se adapta, seja com um prato de paella, um ensopado de peixe ou qualquer outra coisa que alimente e que, ainda assim, não seja uma comida de hospital sem aparência, sem cheiro e sem gosto.

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Não é à toa que José Andrés foi indicado ao Nobel da Paz, em 2018. Não venceu, mas mostrou ao mundo que a gastronomia pode mudar vidas e promover a sobrevivência.

Há acerto, também, em nunca tratar José Andrés como um robô sem emoções, que nunca erra ou tropeça. As cenas do chef espanhol com as filhas, por exemplo, trazem o lado humano de Andrés, enquanto algumas explosões inesperadas mostram que ele também pode (e está) cansado de estar sempre correndo atrás de grandes empresas, organizações e governos para o mínimo de apoio -- e quase nunca conseguindo. Andrés também nunca é tratado como uma divindade. Ele se aproxima das pessoas e ouve o que elas dizem.

Com isso, Cozinhas de Emergência deixa a lição final: uma atitude como a de José, que se movimentou no auge da carreira quando o Haiti foi devastado em 2010 por conta de um terremoto, mudou vidas e gerou um efeito positivo ao redor do mundo. A gastronomia vai além de pratos bonitos e estrelas Michelin. A boa comida também emociona e causa impacto. Cozinhas de Emergência mostra uma pontinha disso, um pedaço do que está sendo feito por aí e transformando vidas em momentos em que nada mais parece certo.

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Chef vai até locais afetados por grandes desastres naturais para alimentar a população Foto: Disney+

O chef José Andrés, que prefere ser chamado de cozinheiro, ficou conhecido por conta de seu trabalho com as tapas -- os aperitivos da Espanha. Virou capa de revista, tema de programas de televisão e, de uma hora para outra, o chef espanhol começou a ser parado na rua para tirar fotos com fãs. Sucesso absoluto. No entanto, hoje a função de Andrés vai além: ele também comanda a World Central Kitchen, organização não-governamental que alimenta pessoas ao redor do mundo que estão vivendo em áreas de calamidade ambiental.

Esse trabalho do chef, repleto de percalços, é o tema do documentário Cozinhas de Emergência, produção do National Geographic e disponível para assistir no Disney+. Com direção do premiado Ron Howard (Rush: No Limite da Emoção, Apollo 13), o longa-metragem é um documentário de observação que entra na vida e na rotina de José Andrés. Logo, é um filme que não fica parado: está o tempo todo em movimento, tentando acompanhar a rotina intensa do chef, sempre em busca de soluções para o mundo.

Como cinema, Cozinhas de Emergência fica devendo um pouco. Ainda que Ron Howard tenha a experiência de não cair em armadilhas fatais para o gênero, como o formato linear que deixa qualquer cinebiografia com formato de artigo do Wikipédia, falta um pouco de vitalidade na condução. Assim como aconteceu com Rebuilding Paradise, o diretor faz tudo com uma mesmice cansativa. É difícil ousar no formato, ainda mais com um personagem tão brilhante como José Andrés. Mas Howard poderia ter ido um tiquinho além na execução.

José Andrés e a gastronomia social

O grande ponto à favor de Cozinhas de Emergência é o olhar sobre uma gastronomia que quase nunca é falada, sentida ou comentada: essa que é feita com viés social, para causar impacto não só no paladar, mas também na vida das pessoas. É um movimento vivo, que não pode ficar restrito em uma única causa ou concentrado em um único tipo de alimento. É preciso sempre encontrar saídas para particularidades de cada situação, compreendendo o que as pessoas, em suas individualidades, precisam. O padrão, aqui, reproduz o erro.

José Andrés corre ao redor do mundo para não deixar pessoas desamparadas e com fome Foto: Disney+

Com isso, mais do que qualquer importância cinematográfica, este filme do National Geographic tem importância política. José Andrés, afinal, faz política quando se desloca até Porto Rico para ajudar pessoas desamparadas, quando faz reuniões em busca de fundos ou quando briga para que cada pessoa ao seu redor seja bem atendida. Guardadas as suas devidas proporções, é algo similar ao que o Padre Júlio Lancelotti faz no centro da cidade de São Paulo. Se aproxima de pessoas em vulnerabilidade por meio do prato de comida.

Mas enquanto o padre está fixo em um ponto geográfico, Andrés se movimenta. Vai atrás da catástrofe. Terremotos, incêndios, enchentes ou uma pandemia de covid-19? Todos esses eventos produzem, independente do espaço, pessoas sem condições de comer, de cozinhar, de sobreviver. Andrés vai atrás e, com sua experiência, se adapta, seja com um prato de paella, um ensopado de peixe ou qualquer outra coisa que alimente e que, ainda assim, não seja uma comida de hospital sem aparência, sem cheiro e sem gosto.

Não é à toa que José Andrés foi indicado ao Nobel da Paz, em 2018. Não venceu, mas mostrou ao mundo que a gastronomia pode mudar vidas e promover a sobrevivência.

Há acerto, também, em nunca tratar José Andrés como um robô sem emoções, que nunca erra ou tropeça. As cenas do chef espanhol com as filhas, por exemplo, trazem o lado humano de Andrés, enquanto algumas explosões inesperadas mostram que ele também pode (e está) cansado de estar sempre correndo atrás de grandes empresas, organizações e governos para o mínimo de apoio -- e quase nunca conseguindo. Andrés também nunca é tratado como uma divindade. Ele se aproxima das pessoas e ouve o que elas dizem.

Com isso, Cozinhas de Emergência deixa a lição final: uma atitude como a de José, que se movimentou no auge da carreira quando o Haiti foi devastado em 2010 por conta de um terremoto, mudou vidas e gerou um efeito positivo ao redor do mundo. A gastronomia vai além de pratos bonitos e estrelas Michelin. A boa comida também emociona e causa impacto. Cozinhas de Emergência mostra uma pontinha disso, um pedaço do que está sendo feito por aí e transformando vidas em momentos em que nada mais parece certo.

Chef vai até locais afetados por grandes desastres naturais para alimentar a população Foto: Disney+

O chef José Andrés, que prefere ser chamado de cozinheiro, ficou conhecido por conta de seu trabalho com as tapas -- os aperitivos da Espanha. Virou capa de revista, tema de programas de televisão e, de uma hora para outra, o chef espanhol começou a ser parado na rua para tirar fotos com fãs. Sucesso absoluto. No entanto, hoje a função de Andrés vai além: ele também comanda a World Central Kitchen, organização não-governamental que alimenta pessoas ao redor do mundo que estão vivendo em áreas de calamidade ambiental.

Esse trabalho do chef, repleto de percalços, é o tema do documentário Cozinhas de Emergência, produção do National Geographic e disponível para assistir no Disney+. Com direção do premiado Ron Howard (Rush: No Limite da Emoção, Apollo 13), o longa-metragem é um documentário de observação que entra na vida e na rotina de José Andrés. Logo, é um filme que não fica parado: está o tempo todo em movimento, tentando acompanhar a rotina intensa do chef, sempre em busca de soluções para o mundo.

Como cinema, Cozinhas de Emergência fica devendo um pouco. Ainda que Ron Howard tenha a experiência de não cair em armadilhas fatais para o gênero, como o formato linear que deixa qualquer cinebiografia com formato de artigo do Wikipédia, falta um pouco de vitalidade na condução. Assim como aconteceu com Rebuilding Paradise, o diretor faz tudo com uma mesmice cansativa. É difícil ousar no formato, ainda mais com um personagem tão brilhante como José Andrés. Mas Howard poderia ter ido um tiquinho além na execução.

José Andrés e a gastronomia social

O grande ponto à favor de Cozinhas de Emergência é o olhar sobre uma gastronomia que quase nunca é falada, sentida ou comentada: essa que é feita com viés social, para causar impacto não só no paladar, mas também na vida das pessoas. É um movimento vivo, que não pode ficar restrito em uma única causa ou concentrado em um único tipo de alimento. É preciso sempre encontrar saídas para particularidades de cada situação, compreendendo o que as pessoas, em suas individualidades, precisam. O padrão, aqui, reproduz o erro.

José Andrés corre ao redor do mundo para não deixar pessoas desamparadas e com fome Foto: Disney+

Com isso, mais do que qualquer importância cinematográfica, este filme do National Geographic tem importância política. José Andrés, afinal, faz política quando se desloca até Porto Rico para ajudar pessoas desamparadas, quando faz reuniões em busca de fundos ou quando briga para que cada pessoa ao seu redor seja bem atendida. Guardadas as suas devidas proporções, é algo similar ao que o Padre Júlio Lancelotti faz no centro da cidade de São Paulo. Se aproxima de pessoas em vulnerabilidade por meio do prato de comida.

Mas enquanto o padre está fixo em um ponto geográfico, Andrés se movimenta. Vai atrás da catástrofe. Terremotos, incêndios, enchentes ou uma pandemia de covid-19? Todos esses eventos produzem, independente do espaço, pessoas sem condições de comer, de cozinhar, de sobreviver. Andrés vai atrás e, com sua experiência, se adapta, seja com um prato de paella, um ensopado de peixe ou qualquer outra coisa que alimente e que, ainda assim, não seja uma comida de hospital sem aparência, sem cheiro e sem gosto.

Não é à toa que José Andrés foi indicado ao Nobel da Paz, em 2018. Não venceu, mas mostrou ao mundo que a gastronomia pode mudar vidas e promover a sobrevivência.

Há acerto, também, em nunca tratar José Andrés como um robô sem emoções, que nunca erra ou tropeça. As cenas do chef espanhol com as filhas, por exemplo, trazem o lado humano de Andrés, enquanto algumas explosões inesperadas mostram que ele também pode (e está) cansado de estar sempre correndo atrás de grandes empresas, organizações e governos para o mínimo de apoio -- e quase nunca conseguindo. Andrés também nunca é tratado como uma divindade. Ele se aproxima das pessoas e ouve o que elas dizem.

Com isso, Cozinhas de Emergência deixa a lição final: uma atitude como a de José, que se movimentou no auge da carreira quando o Haiti foi devastado em 2010 por conta de um terremoto, mudou vidas e gerou um efeito positivo ao redor do mundo. A gastronomia vai além de pratos bonitos e estrelas Michelin. A boa comida também emociona e causa impacto. Cozinhas de Emergência mostra uma pontinha disso, um pedaço do que está sendo feito por aí e transformando vidas em momentos em que nada mais parece certo.

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