A cronista de gastronomia Nina Horta morreu aos 80 anos na noite deste domingo, 6, em São Paulo.
Cozinheira, empresária e colunista do jornal Folha de S. Paulo, autora de livros como O frango ensopado da minha mãe e Não é Sopa!, Nina lutava contra um câncer e foi vítima de uma infecção generalizada.
O velório e o enterro foram realizados na manhã desta segunda, 7, no Cemitério do Morumbi.
Entre panelas e palavras
Nina foi uma das maiores cronistas de gastronomia do País. Mantinha sua coluna na Folha desde 1987. Seu último post foi em 6 de fevereiro. Em Pequenas Coisas, contava a história de uma "casinha jeitosa" que sobreviveu, sozinha, ao estouro da barragem de Brumadinho. Para falar de comida, escrevia sobre produtos, costumes, viagens, ficção, cotidiano, memósrias... Sempre de forma leve e divertida.
Sua primeira coletânea de crônicas, Não é Sopa! (Cia. das Letras), foi publicada em 1995. Em 2002 lançou o Vamos Comer - Da viagem das merendeiras, crônicas e conversas (Editora MEC). E em 2016, ganhou o Prêmio Jabuti de gastronomia com O Frango Ensopado da Minha Mãe (Cia. das Letras), que reúnia textos publicados no jornal nos últimos 20 anos. O livro é leitura obrigatória para quem gosta de ler e comer.
Sua última participação no mundo literário foi na tradução do livro Sal, Gordura, Ácido, Calor, da chef Samin Nosrat, recém-lançado no País pela editora Companhia das Letras. A obra inspirou a série Salt Fat Acid Heat, da Netflix.
Grande banqueteira, Nina também comandou durante 27 anos, ao lado da empresária Andrea Rinzler, o Buffet Ginger. Em 2012, as sócias romperam a parceria.
Mineira, passou a maior parte de sua vida em São Paulo, onde se formou e fez pós-graduação na Faculdade de Educação da USP, mas tinha verdadeira paixão por Paraty, onde manteve um sítio por mais mais de 30 anos.
Para Neide Rigo, colunista do Paladar e amiga pessoal da escritora, maior legado de Nina foi sua forma de escrever: "era apaixonante, ela fazia poesia em forma de crônica. Ela tinha a sensibilidade de tirar emoções que nem a gente nem sabia que estavam dentro de nós. Ela entendia muito sobre tudo, não apenas comida, mas sobre o Brasil. Aprendi muito com ela, sempre. Lá trás, antes de qualquer um começar a falar sobre pancs (plantas alimentícias não convencionais), ela me apresentava ingredientes - foi a primeira pessoa a me mostrar a beldroega, por exemplo. Foi uma das pessoas mais importantes também na história do Come-se, meu blog. Minha vida é muito diferente depois que a ela falou sobre ele na sua coluna, comecei a receber muitos mais acessos, e ficar mais conhecida. Assim, sem ela, eu nem mesmo teria a minha coluna Nhac! no Paladar". E finaliza: "acredito que qualquer um que escreva sobre comida hoje, bebeu desta fonte".
"Tive a sorte de poder falar para ela diversas vezes que baita inspiração ela foi na minha vida. Não é Sopa mudou como eu entendia a comida, e também a vida. Ela me ajudou a olhar para a comida com mais humor e mais prazer", conta Rita Lobo, que ajudou Nina a organizar seu segundo livro, o Frango Ensopado da Minha Mãe. "Ela tinha um humor só dela, um humor que não é comum da cozinha profissional. E um enorme prazer pelas coisas simples".
"Nina deixou uma herança, precisamos sempre voltar aos seus textos", diz Maria Helena Guimarães, sócia do Ritz e do Spot, ex-cunhada e grande amiga da chef, com quem dividia longas conversas. "Ela sempre falava que precisávamos de papel almaço para documentar tudo que conversávamos".
+ "No universo da comida, tudo a interessava", por Neide Rigo
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