Alê Costa é daqueles empreendedores natos: começou seu negócio vendendo trufas em um fusca, de porta em porta, e hoje transformou sua paixão por chocolate em um império doce e bem-sucedido. A Cacau Show se tornou uma das maiores redes de chocolates do Brasil e do mundo, ainda sob a batuta de Alê que, além de fundador, também é CEO.
O fato é que os números da Cacau Show impressionam. São 100 novos produtos por ano (uma média de um produto novo a cada três dias). Todos passam pelo crivo de Alê, que, acima de tudo, continua um apaixonado pelo chocolate. “Nós somos apaixonados pelo cacau, por esse fruto e por todas as suas manifestações”, resume Alê Costa, ao Paladar.
E agora, a marca começa a expandir mais. O foco não é apenas o chocolate em si, mas toda a experiência que essa iguaria pode provocar -- indo desde a rede de hotéis Bendito Cacao até o parque de diversões Playcenter, que teve a compra pela Cacau Show anunciada no começo do ano. Um novo momento para uma marca que está sempre se transformando.
A seguir, confira a entrevista com Alê da série Paladar Convida, onde discutimos os mesmos assuntos com entrevistados que passeiam por diferentes setores da gastronomia.
Quais os principais desafios que existem, hoje, no mercado de chocolates? Como superar isso?
Eu sou muito otimista em relação aos nossos negócios. A Cacau Show está crescendo muito -- foi 35% de crescimento no ano passado, com uma expectativa de crescer 37% em 2024. Fazer crescer uma empresa quando ela é pequena é uma coisa, agora quando é desse tamanho, é diferente. Eu ainda sinto que é a cozinha da minha casa, mas não é bem assim. São 21 mil pessoas trabalhando aqui hoje, se a gente contar as 4,5 mil lojas mais as três indústrias, hotéis, etc. Acho que o desafio é conseguir crescer com equilíbrio. Temos questões de conjuntura, por exemplo, como o mercado internacional do cacau que está maluco. Custava menos de US$ 3 mil a tonelada e agora já passou o maior valor dos últimos 100 anos. Então temos desafios de fornecimento de matéria-prima. Também há desafios de desenvolvimento da mão-de-obra para uma empresa desse tamanho. Pra gente, um ano é diferente do outro. São novos desafios. Encontrar equipe, treinar, desenvolver e reter esses talentos é um desafio muito relevante. Mas somos otimistas. Os dados me deixam assim -- e os dados são otimistas porque somos assim.
Hoje, o que faz a diferença no setor? Como se destacar? Qual dica daria para quem está começando?
Eu acho que qualquer negócio, e com o chocolate não é diferente, é preciso oferecer ao consumidor algo mais do que ele está buscando. É preciso oferecer uma qualidade superior ao que está cobrando. Em qualquer negócio é assim. Vai em um hotel, por exemplo: você chega lá, tem uma surpresinha ou um detalhe, você fica fã. Qualquer negócio é assim. Você vai se sair melhor se oferecer algo a mais do que está cobrando. Vai se sair melhor do que seus concorrentes com relação ao valor estabelecido de um mercado específico. Nós, de certa forma, promovemos uma disruptura no mercado de chocolates finos no Brasil. Há 20 anos, quem era a Cacau Show na fila do chocolate? Hoje, somos uma referência no mundo.
Em comparação com outros mercados globais, como o Brasil está posicionado no setor de chocolates? O que falta para ganhar mais força por aqui?
O chocolate brasileiro está evoluindo de forma relevante. Isso é fruto de um movimento chamado bean-to-bar, que significa desde a semente até a barra. O Brasil é produtor de cacau e começamos a fabricar chocolate. Nós mesmos temos uma fazenda onde plantamos cacau, colhemos cacau, torramos cacau, moemos cacau, fazemos chocolate. Podemos até dizer que somos from tree to bed -- a gente é da árvore até o momento de colocar a pessoa pra dormir em nossos hotéis. A gente quer fazer toda a experiência do consumidor, todo esse ritual. O melhor é que qualquer um pode fazer isso. Até o cara do cachorro-quente, o pipoqueiro que dá um fio dental e um lencinho umedecido para as pessoas. Tudo, no final, é agregar valor ao produto. É preciso entregar, com o produto, um pouco da sua alma. Nós vivemos em um país com muita carência e, portanto, com muita oportunidade também.
Como vê a chegada da inovação no setor de chocolates? Há receptividade? O que vocês fazem aí na Cacau Show nesse sentido?
Inovação é a parte mais gostosa do trabalho. A Cacau Show é subestimada: lançamos tanta coisa que nem conseguimos dar foco. São mais de 100 produtos novos por ano, um produto a cada três dias. Eu vejo o mercado todo pensando em inovação, em saudabilidade para o consumidor, em rótulos mais limpos. A gente quase não usa mais aromatizante -- o nosso ovo de pistache é pasta pura italiana. É puro. O legado que queremos deixar para o mundo é qualidade. Afinal, o paladar não retrocede. Depois que você comeu aquilo, não quer mais retroceder.
Como vê a Cacau Show daqui cinco, dez, quinze anos? Como acredita que ela vai se transformar para se adequar às novas gerações?
Nós somos apaixonados pelo cacau, por esse fruto e por todas as suas manifestações. Temos o chocolate, que é a forma mais tradicional desse produto, mas temos também o mel de cacau. No nosso hotel, temos o ritual do cacau. É isso: cacau, chocolate e seus subprodutos, até com massa de pizza de cacau, é o nosso futuro. Hotel, parque de diversões. Tudo é achocolatado e tem a ver com isso. Provavelmente não serei dono de uma fábrica de coxinha (risos). Nosso universo tem que ser do cacau, do chocolate e de todas suas manifestações possíveis.