Alimentos orgânicos saíram do nicho há algum tempo e estão cada vez mais presentes no comércio – o mercado vem crescendo aproximadamente 20% ao ano no Brasil.
A recente liberação de novas levas de agrotóxicos intensificou ainda mais o interesse e a procura por esses produtos. Pensando nisso, o Paladar preparou esta reportagem especial. Aqui, você vai encontrar as respostas para as perguntas mais frequentes sobre o assunto.
Vamos começar do começo:
● O que são produtos orgânicos?
São produtos livres de agrotóxicos e outros produtos químicos sintéticos, seja adubo, fertilizante, pesticida ou defensivos agrícolas. Na lavoura, os orgânicos são cultivados com adubos naturais e, em caso de necessidade, com defensivos biológicos. A produção deve respeitar a sazonalidade dos vegetais e os ciclos naturais. Alimentos orgânicos não podem ter corantes ou conservantes sintéticos. As carnes não podem levar antibióticos promotores de crescimento.
● Então, todo alimento sem agrotóxico é orgânico?
Não. Para serem comercializados como orgânicos, os produtos devem ser certificados e receber um selo (o da imagem abaixo), reconhecido pelo Ministério de Agricultura (Mapa), que atesta o cumprimento de normas de produção. Há seis certificadoras em atuação no País: Ecocert, IBD, Tecpar, AAO, CMO Cert Mokiti Okada e OIA, além da certificação participativa, feita pelos próprios produtores. As definições sobre agricultura e produção orgânica estão dispostas na Lei nº 10.831/2003.
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● Como identificar que um produto é orgânico?
Nos produtos embalados, o rótulo deve ostentar o selo (este aí de baixo). Ele aparece até nos saquinhos que envolvem produtos frescos, como folhas e frutas. Nos ingredientes vendidos a granel, é preciso pedir para ver o certificado do produtor.
● Quais itens podem ser certificados?
Além de legumes, frutas e verduras, a lista de orgânicos inclui carnes (de boi, porco, frango...), ovos, laticínios, itens industrializados variados, maquiagem e outros artigos de beleza, produtos de limpeza, além de bebidas, alcoólicas ou não. Fizemos uma seleção de vinhos, cervejas e destilados (cachaça, gim e vodca) nacionais - todos orgânicos.
Há ainda café, açúcar, arroz, feijão, massa, chá, iogurte, queijo, pão, molho, biscoito, granola, palmito... basta procurar pelo selo na embalagem.
Assim como os vegetais, carnes e ovos também passam por auditoria e certificação, que garantem que os animais são criados em pasto sem aplicação de agrotóxicos e fertilizantes. O tratamento veterinário dos animais orgânicos também é diferenciado: as vacinações oficiais são obrigatórias, mas os cuidados não incluem antibióticos nem hormônios e são feitos com fitoterápicos ou homeopatia.
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● Onde comprar orgânicos?
A oferta é crescente e está cada vez mais fácil encontrá-los. A procura tem sido tão intensa que eles saíram do nicho dos distribuidores e empórios especializados e, agora, até as grandes redes de supermercado foram obrigadas a abrir espaço para legumes e verduras orgânicas.
Confira aqui uma seleção de 11 endereços, entre empórios, lojas e institutos coletivos.
Para a achar feiras de rua, a dica é acessar o Mapa das Feiras Orgânicas, organizado pelo Instituto de Defesa do Consumir (Idec). Por ali, só barracas que trabalham com produtores certificados. A plataforma é colaborativa e já são mais de 800 feiras cadastradas em todo o Brasil.
Já se você está procurando um delivery, vale apostar nas cestas orgânicas entregues em casa. Reunimos 12 indicações de serviços de cestas com opções de assinatura para diferentes estilos de consumidores.
● Orgânicos são mais caros?
No geral, sim. Mas, quando se compra em feiras ou diretamente de produtores, a diferença de preço em relação aos convencionais cai bastante – e há até casos em que orgânicos são mais baratos que convencionais conforme o local.
Fizemos uma corrida para comparar preços. Ao todo, visitamos dez lugares – seis grandes supermercados, feiras de rua, orgânicas e tradicionais, além dos coletivos Feira Livre e Chão. Pesquisamos e comparamos 20 itens entre frutas, legumes, carnes e industrializados, entre outros.
Os orgânicos ainda são, sim, mais caros, na maioria dos lugares, especialmente nos supermercados – em alguns chegaram a custar três vezes mais. Mas há opções de locais com preços mais competitivos. O negócio é aprender a comprar.
● Orgânicos são mais gostosos?
Tecnicamente não se pode dizer que eles têm mais sabor e melhor textura. Porém, têm o sabor original e mantêm suas características próprias, sem modificações.
● Orgânicos duram mais?
Depende. Por um lado, os alimentos livres de agrotóxicos têm menos água na composição (porque não levam fertilizantes que fazem a planta absorver muita água). Isso os deixa menos suscetíveis à deterioração, fazendo-os menos perecíveis. E, além disso, os convencionais recebem alta carga de produtos químicos que têm a função de acelerar o amadurecimento e esse processo continua acontecendo mesmo após a colheita, fazendo-os estragar mais rápido – então costumam receber conservantes químicos. Sabe aquele spray usado para irrigar as folhas no supermercado? Quase sempre tem água e conservante...
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● Lavar bem remove os agrotóxicos?
Não. A toxicidade é sistêmica, atinge desde a raiz da planta. A lavagem da casca do legume ou da fruta reduz os resíduos, mas não é possível eliminar os agrotóxicos dos alimentos totalmente.
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● Alimentos orgânicos são mais nutritivos?
Eles não têm maior valor nutricional, como explica a nutricionista Elaine de Azevedo, da Universidade Federal do Espírito Santo e autora do livro Alimentos Orgânicos – Ampliando o Conceito de Saúde Humana, Social e Ambiental. O que eles têm é melhor valor nutricional, com lipídios, proteínas e sais minerais de mais qualidade. O que ocorre é que a planta orgânica produz substâncias para se defender naturalmente de pragas e doenças e muitas delas, como antioxidantes, acabam sendo benéficas para a saúde humana.
● Frutas e hortaliças orgânicas são sempre feias e menores?
Foi-se o tempo em que produtos orgânicos eram feios, pequenos e machucados. Isso aconteceu no início do processo de conversão da produção convencional para a orgânica. Mas já foi superado. O que ocorre, porém, é que os alimentos orgânicos não são padronizados e variam de tamanho.
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● Orgânicos são melhores para o meio ambiente?
Sim. Primeiro, porque evitam a contaminação em cadeia do solo e das águas, afetando culturas, animais e populações humanas. Um exemplo alarmante recente é a redução das populações de abelhas, que estão morrendo por causa da contaminação por pesticidas – as abelhas polinizam as plantas e sem elas boa parte dos vegetais também deixaria de existir.
Outra vantagem dos cultivos orgânicos é a utilização de adubos vegetais (adubação verde) e outros nutrientes orgânicos, como estercos e preparados, em vez de adubos químicos sintéticos, que deixam resíduos no solo e na água. Esses adubos naturais aumentam e preservam a biodiversidade do solo, garantindo um leque maior de nutrientes para as plantas e, consequentemente, um alimento mais rico.
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● Produtos orgânicos devem ficar separados dos convencionais?
Em feitas e mercados, é obrigatório separar alimentos orgânicos e convencionais para evitar risco de contaminação. Essa separação também deve ocorrer durante o transporte dos alimentos frescos e até em casa.
Fontes consultadas: Elaine de Azevedo, nutricionista da Universidade Federal do Espírito Santo; Luciana Carboni, da Orgânicos da Terra; Marcos Egydio Martins, engenheiro agrônomo e sócio da Fazenda Ithayê Orgânicos; Anvisa; Sandra Saboia, da Organis.