O tedioso futuro da comida


Por Richard Morgan, do Washington PostApesar de sua clarividência tecnológica, Star Trek, o mais prestigioso universo de ficção científica, era lamentável na previsão do futuro da comida. O capitão Jean-Luc Picard podia pedir qualquer coisa das galáxias para o aparelho chamado replicator que a comida ou bebida apareceria na sua frente. E o que ele dizia? “Chá, earl grey, quente.” Com todo respeito ao duque de Grey, que batiza o chá, mas nenhum daqueles “novos mundos, novas vidas e novas civilizações” fazia uma bebida melhor?

Por redacaopaladar
Atualização:

Nas décadas imaginadas pelas muitas continuações da série, ano a ano a tripulação queimava um naco de carne em sua renitente missão de comer aquilo que todo mundo já havia comido antes. Não sei o que alimentará humanos, vulcanos e klingons daqui 350 anos, mas aposto que não será churrasco.

Reprodução 

Por outro lado, o momento em que vivemos hoje aponta, como visão de futuro, uma volta ao passado – slowfood, local, orgânico, paleô…

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Molecular. Pergunte a um chef sobre a cozinha em 2050 e ele vai falar sobre gastronomia molecular, do El Bulli de Ferran Adrià ao WD-50 de Wylie Dufresne. Mas não dirá nada sobre como será a comida do dia a dia, o sanduíche ou a pizza, no século 22.

LEIA MAIS:+ Supercomputador Watson, da IBM, cria receitas que viram livro+ Strudel de cranberry e nozes-pecãs

Muitos aspectos da música, da moda e do vocabulário de hoje (ou seja, muito de nossa cultura) soaria totalmente estranho a nossos ancestrais. Então porque a comida não muda? Tememos o novo – os primeiros carros eram chamados de “carruagens sem cavalo” – e vamos enterrando o futuro na tumba do passado. Os Jetsons jantavam pílulas. Mas ainda assim elas tinham gosto de hot-dog ou bife.

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“Não coma nada que sua avó não reconhecesse como comida”, ensina Michael Pollan, padroeiro dos foodies. Mas quanto mais seguir essa regra, mais você limita o que o futuro pode vir a ser. Precisamos ter mais abertura mental do tipo que astrônomos estudam exoplanetas – aqueles que orbitam outras estrelas e não o sol. Precisamos de exogastronomia.

Apenas pizza. Em De Volta Para o Futuro parte 2, ambientado em 2015, a família de Marty McFly come pizzas da Pizza Hut que se expandem de maneira massiva depois de passar por um hidratador. Mas como ela é? Tem recheios incríveis? Não. Ela é igualzinha à pizza de 1989, quando o filme foi lançado.

No conto “A Raposa e a Floresta”, de Ray Bradbury, viajantes no tempo do século 22 encontram o homem que está a caça deles no México de 1938. Ele está estupefato diante da comida e bebida servidas em um café. Concluímos que a comida de onde ele vem (o futuro) é horrível. Há um consenso desencorajador que prega que a inovação leva ao horror high-tech.

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O Le Jules Verne, restaurante de Alain Ducasse na torre Eiffel, homenageia o bisavó da ficção científica em seu nome e o insulta servindo pratos que são maneiras muito saborosas de não ousar (caldo de carne, foie gras e ravióli de trufas negras são 20 mil léguas de decepção).

Mashup. Podem torcer o nariz, mas uma fonte de inovação está nos mashups extremos dos fast foods. A padaria de Dominique Ansel em Nova York ganhou fama com o cronut, donut de massa de croissant, que deve muito a outro inventor: August Zang, soldado austríaco aposentado que abriu a Boulangerie Viennoise em 1830 em Paris e começou a vender a massa em camadas na forma de lua crescente. Seus croissants foram imitados mundo afora.

Chegar lá envolve tentativa, erro e uma dose de loucura. Os cientistas hoje, superando a imaginação de quem tentou prever o futuro, já modificam o DNA de nossa comida. Se um chef quer ser lembrando, deve brincar com os blocos de construção da comida. E se os chefs não colocarem a imaginação para trabalhar, não tem problema: máquinas podem fazer isso, como mostra livro de receitas do supercomputador Watson da IBM, lançado no mês passado. A próxima criação com certeza não será churrasco ou chá.

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Justiça seja feita

Reprodução 

Richard Morgan deixa passar – neste provocativo e divertido texto – algumas importantes (e recentes) colaborações de chefs ao futuro da comida. O El Bulli é mencionado en passant. O chef Homaru Cantu, que se matou no mesmo dia em que o computador Watson lançou seu livro, inventou, em 2008, o menu comestível (você literalmente engolia o cardápio) e vinha trabalhando na criação das refeições de viagens espaciais. O Mugaritz está criando uma maneira de transmitir os aromas de seus pratos pelo telefone. E são só 3 exemplos.

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* É escritor e vive em Nova York

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 28/5/2015

Nas décadas imaginadas pelas muitas continuações da série, ano a ano a tripulação queimava um naco de carne em sua renitente missão de comer aquilo que todo mundo já havia comido antes. Não sei o que alimentará humanos, vulcanos e klingons daqui 350 anos, mas aposto que não será churrasco.

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Por outro lado, o momento em que vivemos hoje aponta, como visão de futuro, uma volta ao passado – slowfood, local, orgânico, paleô…

Molecular. Pergunte a um chef sobre a cozinha em 2050 e ele vai falar sobre gastronomia molecular, do El Bulli de Ferran Adrià ao WD-50 de Wylie Dufresne. Mas não dirá nada sobre como será a comida do dia a dia, o sanduíche ou a pizza, no século 22.

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Muitos aspectos da música, da moda e do vocabulário de hoje (ou seja, muito de nossa cultura) soaria totalmente estranho a nossos ancestrais. Então porque a comida não muda? Tememos o novo – os primeiros carros eram chamados de “carruagens sem cavalo” – e vamos enterrando o futuro na tumba do passado. Os Jetsons jantavam pílulas. Mas ainda assim elas tinham gosto de hot-dog ou bife.

“Não coma nada que sua avó não reconhecesse como comida”, ensina Michael Pollan, padroeiro dos foodies. Mas quanto mais seguir essa regra, mais você limita o que o futuro pode vir a ser. Precisamos ter mais abertura mental do tipo que astrônomos estudam exoplanetas – aqueles que orbitam outras estrelas e não o sol. Precisamos de exogastronomia.

Apenas pizza. Em De Volta Para o Futuro parte 2, ambientado em 2015, a família de Marty McFly come pizzas da Pizza Hut que se expandem de maneira massiva depois de passar por um hidratador. Mas como ela é? Tem recheios incríveis? Não. Ela é igualzinha à pizza de 1989, quando o filme foi lançado.

No conto “A Raposa e a Floresta”, de Ray Bradbury, viajantes no tempo do século 22 encontram o homem que está a caça deles no México de 1938. Ele está estupefato diante da comida e bebida servidas em um café. Concluímos que a comida de onde ele vem (o futuro) é horrível. Há um consenso desencorajador que prega que a inovação leva ao horror high-tech.

O Le Jules Verne, restaurante de Alain Ducasse na torre Eiffel, homenageia o bisavó da ficção científica em seu nome e o insulta servindo pratos que são maneiras muito saborosas de não ousar (caldo de carne, foie gras e ravióli de trufas negras são 20 mil léguas de decepção).

Mashup. Podem torcer o nariz, mas uma fonte de inovação está nos mashups extremos dos fast foods. A padaria de Dominique Ansel em Nova York ganhou fama com o cronut, donut de massa de croissant, que deve muito a outro inventor: August Zang, soldado austríaco aposentado que abriu a Boulangerie Viennoise em 1830 em Paris e começou a vender a massa em camadas na forma de lua crescente. Seus croissants foram imitados mundo afora.

Chegar lá envolve tentativa, erro e uma dose de loucura. Os cientistas hoje, superando a imaginação de quem tentou prever o futuro, já modificam o DNA de nossa comida. Se um chef quer ser lembrando, deve brincar com os blocos de construção da comida. E se os chefs não colocarem a imaginação para trabalhar, não tem problema: máquinas podem fazer isso, como mostra livro de receitas do supercomputador Watson da IBM, lançado no mês passado. A próxima criação com certeza não será churrasco ou chá.

Justiça seja feita

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Richard Morgan deixa passar – neste provocativo e divertido texto – algumas importantes (e recentes) colaborações de chefs ao futuro da comida. O El Bulli é mencionado en passant. O chef Homaru Cantu, que se matou no mesmo dia em que o computador Watson lançou seu livro, inventou, em 2008, o menu comestível (você literalmente engolia o cardápio) e vinha trabalhando na criação das refeições de viagens espaciais. O Mugaritz está criando uma maneira de transmitir os aromas de seus pratos pelo telefone. E são só 3 exemplos.

* É escritor e vive em Nova York

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Nas décadas imaginadas pelas muitas continuações da série, ano a ano a tripulação queimava um naco de carne em sua renitente missão de comer aquilo que todo mundo já havia comido antes. Não sei o que alimentará humanos, vulcanos e klingons daqui 350 anos, mas aposto que não será churrasco.

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Por outro lado, o momento em que vivemos hoje aponta, como visão de futuro, uma volta ao passado – slowfood, local, orgânico, paleô…

Molecular. Pergunte a um chef sobre a cozinha em 2050 e ele vai falar sobre gastronomia molecular, do El Bulli de Ferran Adrià ao WD-50 de Wylie Dufresne. Mas não dirá nada sobre como será a comida do dia a dia, o sanduíche ou a pizza, no século 22.

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Muitos aspectos da música, da moda e do vocabulário de hoje (ou seja, muito de nossa cultura) soaria totalmente estranho a nossos ancestrais. Então porque a comida não muda? Tememos o novo – os primeiros carros eram chamados de “carruagens sem cavalo” – e vamos enterrando o futuro na tumba do passado. Os Jetsons jantavam pílulas. Mas ainda assim elas tinham gosto de hot-dog ou bife.

“Não coma nada que sua avó não reconhecesse como comida”, ensina Michael Pollan, padroeiro dos foodies. Mas quanto mais seguir essa regra, mais você limita o que o futuro pode vir a ser. Precisamos ter mais abertura mental do tipo que astrônomos estudam exoplanetas – aqueles que orbitam outras estrelas e não o sol. Precisamos de exogastronomia.

Apenas pizza. Em De Volta Para o Futuro parte 2, ambientado em 2015, a família de Marty McFly come pizzas da Pizza Hut que se expandem de maneira massiva depois de passar por um hidratador. Mas como ela é? Tem recheios incríveis? Não. Ela é igualzinha à pizza de 1989, quando o filme foi lançado.

No conto “A Raposa e a Floresta”, de Ray Bradbury, viajantes no tempo do século 22 encontram o homem que está a caça deles no México de 1938. Ele está estupefato diante da comida e bebida servidas em um café. Concluímos que a comida de onde ele vem (o futuro) é horrível. Há um consenso desencorajador que prega que a inovação leva ao horror high-tech.

O Le Jules Verne, restaurante de Alain Ducasse na torre Eiffel, homenageia o bisavó da ficção científica em seu nome e o insulta servindo pratos que são maneiras muito saborosas de não ousar (caldo de carne, foie gras e ravióli de trufas negras são 20 mil léguas de decepção).

Mashup. Podem torcer o nariz, mas uma fonte de inovação está nos mashups extremos dos fast foods. A padaria de Dominique Ansel em Nova York ganhou fama com o cronut, donut de massa de croissant, que deve muito a outro inventor: August Zang, soldado austríaco aposentado que abriu a Boulangerie Viennoise em 1830 em Paris e começou a vender a massa em camadas na forma de lua crescente. Seus croissants foram imitados mundo afora.

Chegar lá envolve tentativa, erro e uma dose de loucura. Os cientistas hoje, superando a imaginação de quem tentou prever o futuro, já modificam o DNA de nossa comida. Se um chef quer ser lembrando, deve brincar com os blocos de construção da comida. E se os chefs não colocarem a imaginação para trabalhar, não tem problema: máquinas podem fazer isso, como mostra livro de receitas do supercomputador Watson da IBM, lançado no mês passado. A próxima criação com certeza não será churrasco ou chá.

Justiça seja feita

Reprodução 

Richard Morgan deixa passar – neste provocativo e divertido texto – algumas importantes (e recentes) colaborações de chefs ao futuro da comida. O El Bulli é mencionado en passant. O chef Homaru Cantu, que se matou no mesmo dia em que o computador Watson lançou seu livro, inventou, em 2008, o menu comestível (você literalmente engolia o cardápio) e vinha trabalhando na criação das refeições de viagens espaciais. O Mugaritz está criando uma maneira de transmitir os aromas de seus pratos pelo telefone. E são só 3 exemplos.

* É escritor e vive em Nova York

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 28/5/2015

Nas décadas imaginadas pelas muitas continuações da série, ano a ano a tripulação queimava um naco de carne em sua renitente missão de comer aquilo que todo mundo já havia comido antes. Não sei o que alimentará humanos, vulcanos e klingons daqui 350 anos, mas aposto que não será churrasco.

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Por outro lado, o momento em que vivemos hoje aponta, como visão de futuro, uma volta ao passado – slowfood, local, orgânico, paleô…

Molecular. Pergunte a um chef sobre a cozinha em 2050 e ele vai falar sobre gastronomia molecular, do El Bulli de Ferran Adrià ao WD-50 de Wylie Dufresne. Mas não dirá nada sobre como será a comida do dia a dia, o sanduíche ou a pizza, no século 22.

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Muitos aspectos da música, da moda e do vocabulário de hoje (ou seja, muito de nossa cultura) soaria totalmente estranho a nossos ancestrais. Então porque a comida não muda? Tememos o novo – os primeiros carros eram chamados de “carruagens sem cavalo” – e vamos enterrando o futuro na tumba do passado. Os Jetsons jantavam pílulas. Mas ainda assim elas tinham gosto de hot-dog ou bife.

“Não coma nada que sua avó não reconhecesse como comida”, ensina Michael Pollan, padroeiro dos foodies. Mas quanto mais seguir essa regra, mais você limita o que o futuro pode vir a ser. Precisamos ter mais abertura mental do tipo que astrônomos estudam exoplanetas – aqueles que orbitam outras estrelas e não o sol. Precisamos de exogastronomia.

Apenas pizza. Em De Volta Para o Futuro parte 2, ambientado em 2015, a família de Marty McFly come pizzas da Pizza Hut que se expandem de maneira massiva depois de passar por um hidratador. Mas como ela é? Tem recheios incríveis? Não. Ela é igualzinha à pizza de 1989, quando o filme foi lançado.

No conto “A Raposa e a Floresta”, de Ray Bradbury, viajantes no tempo do século 22 encontram o homem que está a caça deles no México de 1938. Ele está estupefato diante da comida e bebida servidas em um café. Concluímos que a comida de onde ele vem (o futuro) é horrível. Há um consenso desencorajador que prega que a inovação leva ao horror high-tech.

O Le Jules Verne, restaurante de Alain Ducasse na torre Eiffel, homenageia o bisavó da ficção científica em seu nome e o insulta servindo pratos que são maneiras muito saborosas de não ousar (caldo de carne, foie gras e ravióli de trufas negras são 20 mil léguas de decepção).

Mashup. Podem torcer o nariz, mas uma fonte de inovação está nos mashups extremos dos fast foods. A padaria de Dominique Ansel em Nova York ganhou fama com o cronut, donut de massa de croissant, que deve muito a outro inventor: August Zang, soldado austríaco aposentado que abriu a Boulangerie Viennoise em 1830 em Paris e começou a vender a massa em camadas na forma de lua crescente. Seus croissants foram imitados mundo afora.

Chegar lá envolve tentativa, erro e uma dose de loucura. Os cientistas hoje, superando a imaginação de quem tentou prever o futuro, já modificam o DNA de nossa comida. Se um chef quer ser lembrando, deve brincar com os blocos de construção da comida. E se os chefs não colocarem a imaginação para trabalhar, não tem problema: máquinas podem fazer isso, como mostra livro de receitas do supercomputador Watson da IBM, lançado no mês passado. A próxima criação com certeza não será churrasco ou chá.

Justiça seja feita

Reprodução 

Richard Morgan deixa passar – neste provocativo e divertido texto – algumas importantes (e recentes) colaborações de chefs ao futuro da comida. O El Bulli é mencionado en passant. O chef Homaru Cantu, que se matou no mesmo dia em que o computador Watson lançou seu livro, inventou, em 2008, o menu comestível (você literalmente engolia o cardápio) e vinha trabalhando na criação das refeições de viagens espaciais. O Mugaritz está criando uma maneira de transmitir os aromas de seus pratos pelo telefone. E são só 3 exemplos.

* É escritor e vive em Nova York

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 28/5/2015

Nas décadas imaginadas pelas muitas continuações da série, ano a ano a tripulação queimava um naco de carne em sua renitente missão de comer aquilo que todo mundo já havia comido antes. Não sei o que alimentará humanos, vulcanos e klingons daqui 350 anos, mas aposto que não será churrasco.

Reprodução 

Por outro lado, o momento em que vivemos hoje aponta, como visão de futuro, uma volta ao passado – slowfood, local, orgânico, paleô…

Molecular. Pergunte a um chef sobre a cozinha em 2050 e ele vai falar sobre gastronomia molecular, do El Bulli de Ferran Adrià ao WD-50 de Wylie Dufresne. Mas não dirá nada sobre como será a comida do dia a dia, o sanduíche ou a pizza, no século 22.

LEIA MAIS:+ Supercomputador Watson, da IBM, cria receitas que viram livro+ Strudel de cranberry e nozes-pecãs

Muitos aspectos da música, da moda e do vocabulário de hoje (ou seja, muito de nossa cultura) soaria totalmente estranho a nossos ancestrais. Então porque a comida não muda? Tememos o novo – os primeiros carros eram chamados de “carruagens sem cavalo” – e vamos enterrando o futuro na tumba do passado. Os Jetsons jantavam pílulas. Mas ainda assim elas tinham gosto de hot-dog ou bife.

“Não coma nada que sua avó não reconhecesse como comida”, ensina Michael Pollan, padroeiro dos foodies. Mas quanto mais seguir essa regra, mais você limita o que o futuro pode vir a ser. Precisamos ter mais abertura mental do tipo que astrônomos estudam exoplanetas – aqueles que orbitam outras estrelas e não o sol. Precisamos de exogastronomia.

Apenas pizza. Em De Volta Para o Futuro parte 2, ambientado em 2015, a família de Marty McFly come pizzas da Pizza Hut que se expandem de maneira massiva depois de passar por um hidratador. Mas como ela é? Tem recheios incríveis? Não. Ela é igualzinha à pizza de 1989, quando o filme foi lançado.

No conto “A Raposa e a Floresta”, de Ray Bradbury, viajantes no tempo do século 22 encontram o homem que está a caça deles no México de 1938. Ele está estupefato diante da comida e bebida servidas em um café. Concluímos que a comida de onde ele vem (o futuro) é horrível. Há um consenso desencorajador que prega que a inovação leva ao horror high-tech.

O Le Jules Verne, restaurante de Alain Ducasse na torre Eiffel, homenageia o bisavó da ficção científica em seu nome e o insulta servindo pratos que são maneiras muito saborosas de não ousar (caldo de carne, foie gras e ravióli de trufas negras são 20 mil léguas de decepção).

Mashup. Podem torcer o nariz, mas uma fonte de inovação está nos mashups extremos dos fast foods. A padaria de Dominique Ansel em Nova York ganhou fama com o cronut, donut de massa de croissant, que deve muito a outro inventor: August Zang, soldado austríaco aposentado que abriu a Boulangerie Viennoise em 1830 em Paris e começou a vender a massa em camadas na forma de lua crescente. Seus croissants foram imitados mundo afora.

Chegar lá envolve tentativa, erro e uma dose de loucura. Os cientistas hoje, superando a imaginação de quem tentou prever o futuro, já modificam o DNA de nossa comida. Se um chef quer ser lembrando, deve brincar com os blocos de construção da comida. E se os chefs não colocarem a imaginação para trabalhar, não tem problema: máquinas podem fazer isso, como mostra livro de receitas do supercomputador Watson da IBM, lançado no mês passado. A próxima criação com certeza não será churrasco ou chá.

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Richard Morgan deixa passar – neste provocativo e divertido texto – algumas importantes (e recentes) colaborações de chefs ao futuro da comida. O El Bulli é mencionado en passant. O chef Homaru Cantu, que se matou no mesmo dia em que o computador Watson lançou seu livro, inventou, em 2008, o menu comestível (você literalmente engolia o cardápio) e vinha trabalhando na criação das refeições de viagens espaciais. O Mugaritz está criando uma maneira de transmitir os aromas de seus pratos pelo telefone. E são só 3 exemplos.

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