Em 2010, após um terremoto devastador atingir o Haiti, o chef José Andrés decidiu rumar ao país caribenho para ajudar no preparo de refeições à população afetada pelo desastre. Cozinhando ao lado de famílias haitianas em um campo de acolhimento, José aprendeu a maneira correta de cozinhar o feijão preto segundo os haitianos, que gostam de comer os grãos amassados e peneirados até formar um molho cremoso.
Ali nasceu a World Central Kitchen, uma organização sem fins lucrativos que visa a distribuir rapidamente refeições preparadas por chefs a comunidades afetadas por crises humanitárias.
“A World Central Kitchen começou com uma ideia simples em casa com minha esposa Patrícia: quando as pessoas estiverem com fome, mande cozinheiros. Não amanhã, hoje”, afirma o chef José Andrés no site oficial da WCK.
Desde então, a World Central Kitchen expandiu suas ações para a América Latina e a Europa, e esteve presente em algumas das maiores crises humanitárias do século, como a guerra entre Rússia e Ucrânia e terremotos na Ásia.
O grupo humanitário ainda possui uma vertente conhecida como “Chef Corps”, uma rede global de líderes culinários que defendem o trabalho da World Central Kitchen, fornecendo refeições de qualidade após as crises.
Neste braço da organização, chefs conhecidos e premiados mundialmente atuam como voluntários. É o caso da chef Cheetie Kumar, da Carolina do Norte, que viu o WCK crescer desde que participou das ações culinárias após o furacão Florence em 2018.
Duas vezes indicada ao James Beard Award Foundation, Kumar comanda o restaurante “Ajja” no bairro de Five Points, em Raleigh, que se inspira nos hábitos alimentares e nas culturas do Mediterrâneo e Oriente Médio.
No Brasil, a WCK ajudou no preparo de refeições durante as fortes chuvas de 2022, que atingiram cidades do Rio Janeiro, Pernambuco e Bahia.
José Andrés, atualmente diretor de alimentação e membro do conselho administrativo da WCK, ganhou diversos prêmios humanitários por seu trabalho, incluindo a Medalha Nacional de Humanidades, concedida pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em 2015.
No entanto, a organização, que é uma das principais fornecedoras de ajuda alimentar na Faixa de Gaza, anunciou na última terça-feira (2) que estava interrompendo todas as suas operações no local após um bombardeio israelense matar sete trabalhadores da organização.
A suspensão irá privar a população, que passa por uma situação de fome extrema, de um fluxo de ajuda humanitária essencial, em um ponto do conflito entre Israel e Hamas que praticamente todas as fontes de alimento são críticas para evitar uma catástrofe humanitária ainda maior.
O grupo afirma que opera 68 “cozinhas comunitárias” na Faixa Gaza e já enviou mais de 1,7 mil caminhões carregados com alimentos e equipamento de cozinha em quase seis meses de guerra.
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