Para chefs natos pode parecer simples, mas cozinhar dá trabalho, demanda tempo, estratégia e atenção – coisas que de facinhas não têm nada. No entanto, quanto antes o aprendizado começar, menos sofrido ele será.
Não à toa, o objetivo do Cozinhas & Infâncias é tornar a alimentação uma disciplina escolar. Enquanto a coisa não acontece, o Instituto Comida e Cultura em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo e a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) propõe a capacitação de educadores da rede municipal.
A primeira turma do projeto incluiu docentes de 590 escolas. Ao longo de quatro meses, sete módulos abordaram temas como a transformação dos hábitos alimentares no Brasil, a diversidade cultural e modo de vida indígena, a cultura alimentar afro diaspórica no quintal e nossa comida de panela. Em outras palavras, abrangeram conhecimentos sobre a história da alimentação humana, a formação da cultura alimentar brasileira, habilidades culinárias e práticas relacionadas à comida saudável.
Fundadora do instituto e madrinha do curso, Bela Gil participou do encerramento da primeira turma no último dia 26 de junho: “Alimentação adequada e saudável é um direito na constituição, como saúde e educação, é algo que o Estado deveria prover, porque pessoas com fome aceitam qualquer emprego, qualquer comida e a gente tem 57 mil brasileiros entre 30 e 60 anos que morrem todo ano decorrente do consumo de alimentos ultraprocessados”.
Nutróloga, culinarista, mãe de uma adolescente de 14 de um menino de 7 anos, a apresentadora desabafa: “Não é brincadeira quando a gente tenta limitar o acesso das crianças a esses alimentos, a esses venenos todos. A gente está de uma forma ou de outra promovendo a saúde e salvando vidas”.
Na mesma toada, para o curso Cozinhas & Infâncias, tão essencial quanto dar de comer é conectar a criança à origem, ao valor nutricional e ao impacto social dos ingredientes por meio de um resgate lúdico do passado, da cultura e da biodiversidade brasileira. É inspirá-las a praticar, a entender o que está no prato e, em última instância, porque não está.
“Como diz Josué de Castro (médico, geógrafo e ativista da alimentação), a fome não é um problema técnico, é um problema político. Uma das ferramentas sociais que a gente tem para minimizá-lo e dar segurança alimentar para a população, principalmente infantil, é a merenda escolar”, garante Bela.
“A comida ser boa é fundamental, porque as vezes é a única refeição que a criança tem no dia. E estamos avançando para que cada vez mais seja uma comida de verdade, de panela, agroecológica, super saudável, porque além de tudo ela vai aprender melhor”, complementa.
Com aulas presenciais e virtuais, incluindo vivências na cozinha, a segunda turma do Cozinhas & Infâncias é totalmente gratuita e se inicia-se em agosto. Educadores das Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs, que atendem crianças de 4 a 5 anos e 11 meses) e dos Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEIs) conseguem se inscrever na Secretaria Municipal de Educação. Já na página do Comida e Cultura (https://www.comidaecultura.org/) há um cadastro para interessados.