Especialistas opinam sobre acarajé rosa: desrespeitar o acarajé é desrespeitar a cultura brasileira


Chefs negras, Aline Guedes e Aline Chermoula, explicam a gravidade de pintar acarajé de cor-de-rosa para homenagear filme da Barbie

Por Helena Gomes
Atualização:

O filme da Barbie está para ser lançado e os restaurantes e confeitarias decidiram modificar alguns dos itens de seus menus, incluindo um estabelecimento da Bahia, que pintou seu acarajé de rosa. O acontecimento gerou indignação por parte da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM).

Para entender o quão grave é tingir uma iguaria que carrega em si tantos aspectos culturais, chamamos as chefs Aline Guedes e Aline Chermoula para explicarem a importância e a história deste prato.

Origem do acarajé

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Especialistas explicam polêmica do acarajé cor-de-rosa: desrespeitar o acarajé é desrespeitar a própria cultura do povo brasileiro Foto: Leonardo Soares | Estadão

Tudo começa na prática do preparo do acarajé, um bolinho feito à base de feijão fradinho, frito no azeite de dendê, feito e comercializado pelas mãos das baianas em seus tabuleiros durante o período colonial do Brasil, como diz Guedes. “Na época, mulheres negras escravizadas produziam e comercializavam o acarajé, assim como outros preparos também originários do culto aos orixás”, explica.

E continua: “Diante do cenário urbano do Brasil escravagista, as escravizadas de ganho, como eram chamadas, entregavam a maior parcela dos ganhos para os seus senhores e acabavam mantendo consigo uma pequena parte, que em muitos casos servia para a compra de sua própria alforria, assim como a dos seus. Mulheres libertas também se fizeram valer do saber fazer tradicional de produções como o acarajé, que eram ensinados por meio da oralidade para sobreviverem a esse período obscuro na história do nosso país”.

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“Por causa disso, as escravizadas de ganho são consideradas as primeiras grandes empreendedoras do Brasil e o ofício do acarajé destacou-se por sua forte expressão de ancestralidade, em toda a sua simbologia e rituais que desde sempre envolveram não apenas a mistura de ingredientes, mas a forma de prepará-lo, vestimentas próprias das baianas com especial destaque para o uso de turbantes, fios de contas e outros símbolos que serviam e ainda servem para designar a condição social e religiosa daquelas que produziam/produzem o bolinho”, ressalta Guedes.

Importância de manter a tradição

Chefs negras, Aline Guedes e Aline Chermoula, ressaltam importância de proteger a receita do acarajé e explicam o motivo através da História // Na imagem: Cira do Acarajé, famosa quituteira de Salvador Foto: Márcio Fernandes | Estadão
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Chermoula chama atenção para o quão importante é necessário respeitar e entender a cultura alimentar do povo afro-brasileiro. “O acarajé é alimento simbólico da cultura afro-brasileira, ele carrega africanidades e tradição em toda sua feitura e modificar esta receita tão emblemática é bastante desrespeitoso com nossos ancestrais e também com aqueles que ainda estão por vir, afinal, a partir de tantas modificações nesta iguaria corre risco de apagamento cultural”, conclui.

Para entendermos melhor, vale lembrar que o acarajé é mais do que um simples bolinho, ele é considerado um patrimônio cultural imaterial, exatamente como funciona com prédios antigos e, segundo Chermoula, a não alteração de suas características é simplesmente inegociável.

“O saber fazer acarajé envolve rituais que nos conectam à nossa ancestralidade e, concebendo o respeito que cabe à essa tradição, desde dezembro de 2005, o ofício das baianas de acarajé em Salvador está inscrito no Livro dos Saberes como Patrimônio Cultural Brasileiro. Logo, como qualquer outro patrimônio material, por exemplo, há de ser resguardado e protegido contra depreciações, que em sua imaterialidade podem envolver a frequente não-responsabilidade e incoerência com o seu ritual de feitura, quando na substituição de ingredientes e ações similares, como na não-valorização da carga histórica, social e religiosa que carrega, tal qual na tentativa eventualmente de sua alegorização”, acrescenta Guedes.

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Guedes e Chermoula finalizam, ressaltando que “respeitar o ofício das baianas de acarajé em sua essência é respeitar a própria cultura do povo brasileiro” e “é inaceitável que suas características sejam alteradas”. Em resumo, nem tudo pode entrar na onda de promoção de filmes e produtos sem que pensemos nas consequências dessas ações.

O filme da Barbie está para ser lançado e os restaurantes e confeitarias decidiram modificar alguns dos itens de seus menus, incluindo um estabelecimento da Bahia, que pintou seu acarajé de rosa. O acontecimento gerou indignação por parte da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM).

Para entender o quão grave é tingir uma iguaria que carrega em si tantos aspectos culturais, chamamos as chefs Aline Guedes e Aline Chermoula para explicarem a importância e a história deste prato.

Origem do acarajé

Especialistas explicam polêmica do acarajé cor-de-rosa: desrespeitar o acarajé é desrespeitar a própria cultura do povo brasileiro Foto: Leonardo Soares | Estadão

Tudo começa na prática do preparo do acarajé, um bolinho feito à base de feijão fradinho, frito no azeite de dendê, feito e comercializado pelas mãos das baianas em seus tabuleiros durante o período colonial do Brasil, como diz Guedes. “Na época, mulheres negras escravizadas produziam e comercializavam o acarajé, assim como outros preparos também originários do culto aos orixás”, explica.

E continua: “Diante do cenário urbano do Brasil escravagista, as escravizadas de ganho, como eram chamadas, entregavam a maior parcela dos ganhos para os seus senhores e acabavam mantendo consigo uma pequena parte, que em muitos casos servia para a compra de sua própria alforria, assim como a dos seus. Mulheres libertas também se fizeram valer do saber fazer tradicional de produções como o acarajé, que eram ensinados por meio da oralidade para sobreviverem a esse período obscuro na história do nosso país”.

“Por causa disso, as escravizadas de ganho são consideradas as primeiras grandes empreendedoras do Brasil e o ofício do acarajé destacou-se por sua forte expressão de ancestralidade, em toda a sua simbologia e rituais que desde sempre envolveram não apenas a mistura de ingredientes, mas a forma de prepará-lo, vestimentas próprias das baianas com especial destaque para o uso de turbantes, fios de contas e outros símbolos que serviam e ainda servem para designar a condição social e religiosa daquelas que produziam/produzem o bolinho”, ressalta Guedes.

Importância de manter a tradição

Chefs negras, Aline Guedes e Aline Chermoula, ressaltam importância de proteger a receita do acarajé e explicam o motivo através da História // Na imagem: Cira do Acarajé, famosa quituteira de Salvador Foto: Márcio Fernandes | Estadão

Chermoula chama atenção para o quão importante é necessário respeitar e entender a cultura alimentar do povo afro-brasileiro. “O acarajé é alimento simbólico da cultura afro-brasileira, ele carrega africanidades e tradição em toda sua feitura e modificar esta receita tão emblemática é bastante desrespeitoso com nossos ancestrais e também com aqueles que ainda estão por vir, afinal, a partir de tantas modificações nesta iguaria corre risco de apagamento cultural”, conclui.

Para entendermos melhor, vale lembrar que o acarajé é mais do que um simples bolinho, ele é considerado um patrimônio cultural imaterial, exatamente como funciona com prédios antigos e, segundo Chermoula, a não alteração de suas características é simplesmente inegociável.

“O saber fazer acarajé envolve rituais que nos conectam à nossa ancestralidade e, concebendo o respeito que cabe à essa tradição, desde dezembro de 2005, o ofício das baianas de acarajé em Salvador está inscrito no Livro dos Saberes como Patrimônio Cultural Brasileiro. Logo, como qualquer outro patrimônio material, por exemplo, há de ser resguardado e protegido contra depreciações, que em sua imaterialidade podem envolver a frequente não-responsabilidade e incoerência com o seu ritual de feitura, quando na substituição de ingredientes e ações similares, como na não-valorização da carga histórica, social e religiosa que carrega, tal qual na tentativa eventualmente de sua alegorização”, acrescenta Guedes.

Guedes e Chermoula finalizam, ressaltando que “respeitar o ofício das baianas de acarajé em sua essência é respeitar a própria cultura do povo brasileiro” e “é inaceitável que suas características sejam alteradas”. Em resumo, nem tudo pode entrar na onda de promoção de filmes e produtos sem que pensemos nas consequências dessas ações.

O filme da Barbie está para ser lançado e os restaurantes e confeitarias decidiram modificar alguns dos itens de seus menus, incluindo um estabelecimento da Bahia, que pintou seu acarajé de rosa. O acontecimento gerou indignação por parte da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM).

Para entender o quão grave é tingir uma iguaria que carrega em si tantos aspectos culturais, chamamos as chefs Aline Guedes e Aline Chermoula para explicarem a importância e a história deste prato.

Origem do acarajé

Especialistas explicam polêmica do acarajé cor-de-rosa: desrespeitar o acarajé é desrespeitar a própria cultura do povo brasileiro Foto: Leonardo Soares | Estadão

Tudo começa na prática do preparo do acarajé, um bolinho feito à base de feijão fradinho, frito no azeite de dendê, feito e comercializado pelas mãos das baianas em seus tabuleiros durante o período colonial do Brasil, como diz Guedes. “Na época, mulheres negras escravizadas produziam e comercializavam o acarajé, assim como outros preparos também originários do culto aos orixás”, explica.

E continua: “Diante do cenário urbano do Brasil escravagista, as escravizadas de ganho, como eram chamadas, entregavam a maior parcela dos ganhos para os seus senhores e acabavam mantendo consigo uma pequena parte, que em muitos casos servia para a compra de sua própria alforria, assim como a dos seus. Mulheres libertas também se fizeram valer do saber fazer tradicional de produções como o acarajé, que eram ensinados por meio da oralidade para sobreviverem a esse período obscuro na história do nosso país”.

“Por causa disso, as escravizadas de ganho são consideradas as primeiras grandes empreendedoras do Brasil e o ofício do acarajé destacou-se por sua forte expressão de ancestralidade, em toda a sua simbologia e rituais que desde sempre envolveram não apenas a mistura de ingredientes, mas a forma de prepará-lo, vestimentas próprias das baianas com especial destaque para o uso de turbantes, fios de contas e outros símbolos que serviam e ainda servem para designar a condição social e religiosa daquelas que produziam/produzem o bolinho”, ressalta Guedes.

Importância de manter a tradição

Chefs negras, Aline Guedes e Aline Chermoula, ressaltam importância de proteger a receita do acarajé e explicam o motivo através da História // Na imagem: Cira do Acarajé, famosa quituteira de Salvador Foto: Márcio Fernandes | Estadão

Chermoula chama atenção para o quão importante é necessário respeitar e entender a cultura alimentar do povo afro-brasileiro. “O acarajé é alimento simbólico da cultura afro-brasileira, ele carrega africanidades e tradição em toda sua feitura e modificar esta receita tão emblemática é bastante desrespeitoso com nossos ancestrais e também com aqueles que ainda estão por vir, afinal, a partir de tantas modificações nesta iguaria corre risco de apagamento cultural”, conclui.

Para entendermos melhor, vale lembrar que o acarajé é mais do que um simples bolinho, ele é considerado um patrimônio cultural imaterial, exatamente como funciona com prédios antigos e, segundo Chermoula, a não alteração de suas características é simplesmente inegociável.

“O saber fazer acarajé envolve rituais que nos conectam à nossa ancestralidade e, concebendo o respeito que cabe à essa tradição, desde dezembro de 2005, o ofício das baianas de acarajé em Salvador está inscrito no Livro dos Saberes como Patrimônio Cultural Brasileiro. Logo, como qualquer outro patrimônio material, por exemplo, há de ser resguardado e protegido contra depreciações, que em sua imaterialidade podem envolver a frequente não-responsabilidade e incoerência com o seu ritual de feitura, quando na substituição de ingredientes e ações similares, como na não-valorização da carga histórica, social e religiosa que carrega, tal qual na tentativa eventualmente de sua alegorização”, acrescenta Guedes.

Guedes e Chermoula finalizam, ressaltando que “respeitar o ofício das baianas de acarajé em sua essência é respeitar a própria cultura do povo brasileiro” e “é inaceitável que suas características sejam alteradas”. Em resumo, nem tudo pode entrar na onda de promoção de filmes e produtos sem que pensemos nas consequências dessas ações.

O filme da Barbie está para ser lançado e os restaurantes e confeitarias decidiram modificar alguns dos itens de seus menus, incluindo um estabelecimento da Bahia, que pintou seu acarajé de rosa. O acontecimento gerou indignação por parte da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM).

Para entender o quão grave é tingir uma iguaria que carrega em si tantos aspectos culturais, chamamos as chefs Aline Guedes e Aline Chermoula para explicarem a importância e a história deste prato.

Origem do acarajé

Especialistas explicam polêmica do acarajé cor-de-rosa: desrespeitar o acarajé é desrespeitar a própria cultura do povo brasileiro Foto: Leonardo Soares | Estadão

Tudo começa na prática do preparo do acarajé, um bolinho feito à base de feijão fradinho, frito no azeite de dendê, feito e comercializado pelas mãos das baianas em seus tabuleiros durante o período colonial do Brasil, como diz Guedes. “Na época, mulheres negras escravizadas produziam e comercializavam o acarajé, assim como outros preparos também originários do culto aos orixás”, explica.

E continua: “Diante do cenário urbano do Brasil escravagista, as escravizadas de ganho, como eram chamadas, entregavam a maior parcela dos ganhos para os seus senhores e acabavam mantendo consigo uma pequena parte, que em muitos casos servia para a compra de sua própria alforria, assim como a dos seus. Mulheres libertas também se fizeram valer do saber fazer tradicional de produções como o acarajé, que eram ensinados por meio da oralidade para sobreviverem a esse período obscuro na história do nosso país”.

“Por causa disso, as escravizadas de ganho são consideradas as primeiras grandes empreendedoras do Brasil e o ofício do acarajé destacou-se por sua forte expressão de ancestralidade, em toda a sua simbologia e rituais que desde sempre envolveram não apenas a mistura de ingredientes, mas a forma de prepará-lo, vestimentas próprias das baianas com especial destaque para o uso de turbantes, fios de contas e outros símbolos que serviam e ainda servem para designar a condição social e religiosa daquelas que produziam/produzem o bolinho”, ressalta Guedes.

Importância de manter a tradição

Chefs negras, Aline Guedes e Aline Chermoula, ressaltam importância de proteger a receita do acarajé e explicam o motivo através da História // Na imagem: Cira do Acarajé, famosa quituteira de Salvador Foto: Márcio Fernandes | Estadão

Chermoula chama atenção para o quão importante é necessário respeitar e entender a cultura alimentar do povo afro-brasileiro. “O acarajé é alimento simbólico da cultura afro-brasileira, ele carrega africanidades e tradição em toda sua feitura e modificar esta receita tão emblemática é bastante desrespeitoso com nossos ancestrais e também com aqueles que ainda estão por vir, afinal, a partir de tantas modificações nesta iguaria corre risco de apagamento cultural”, conclui.

Para entendermos melhor, vale lembrar que o acarajé é mais do que um simples bolinho, ele é considerado um patrimônio cultural imaterial, exatamente como funciona com prédios antigos e, segundo Chermoula, a não alteração de suas características é simplesmente inegociável.

“O saber fazer acarajé envolve rituais que nos conectam à nossa ancestralidade e, concebendo o respeito que cabe à essa tradição, desde dezembro de 2005, o ofício das baianas de acarajé em Salvador está inscrito no Livro dos Saberes como Patrimônio Cultural Brasileiro. Logo, como qualquer outro patrimônio material, por exemplo, há de ser resguardado e protegido contra depreciações, que em sua imaterialidade podem envolver a frequente não-responsabilidade e incoerência com o seu ritual de feitura, quando na substituição de ingredientes e ações similares, como na não-valorização da carga histórica, social e religiosa que carrega, tal qual na tentativa eventualmente de sua alegorização”, acrescenta Guedes.

Guedes e Chermoula finalizam, ressaltando que “respeitar o ofício das baianas de acarajé em sua essência é respeitar a própria cultura do povo brasileiro” e “é inaceitável que suas características sejam alteradas”. Em resumo, nem tudo pode entrar na onda de promoção de filmes e produtos sem que pensemos nas consequências dessas ações.

O filme da Barbie está para ser lançado e os restaurantes e confeitarias decidiram modificar alguns dos itens de seus menus, incluindo um estabelecimento da Bahia, que pintou seu acarajé de rosa. O acontecimento gerou indignação por parte da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM).

Para entender o quão grave é tingir uma iguaria que carrega em si tantos aspectos culturais, chamamos as chefs Aline Guedes e Aline Chermoula para explicarem a importância e a história deste prato.

Origem do acarajé

Especialistas explicam polêmica do acarajé cor-de-rosa: desrespeitar o acarajé é desrespeitar a própria cultura do povo brasileiro Foto: Leonardo Soares | Estadão

Tudo começa na prática do preparo do acarajé, um bolinho feito à base de feijão fradinho, frito no azeite de dendê, feito e comercializado pelas mãos das baianas em seus tabuleiros durante o período colonial do Brasil, como diz Guedes. “Na época, mulheres negras escravizadas produziam e comercializavam o acarajé, assim como outros preparos também originários do culto aos orixás”, explica.

E continua: “Diante do cenário urbano do Brasil escravagista, as escravizadas de ganho, como eram chamadas, entregavam a maior parcela dos ganhos para os seus senhores e acabavam mantendo consigo uma pequena parte, que em muitos casos servia para a compra de sua própria alforria, assim como a dos seus. Mulheres libertas também se fizeram valer do saber fazer tradicional de produções como o acarajé, que eram ensinados por meio da oralidade para sobreviverem a esse período obscuro na história do nosso país”.

“Por causa disso, as escravizadas de ganho são consideradas as primeiras grandes empreendedoras do Brasil e o ofício do acarajé destacou-se por sua forte expressão de ancestralidade, em toda a sua simbologia e rituais que desde sempre envolveram não apenas a mistura de ingredientes, mas a forma de prepará-lo, vestimentas próprias das baianas com especial destaque para o uso de turbantes, fios de contas e outros símbolos que serviam e ainda servem para designar a condição social e religiosa daquelas que produziam/produzem o bolinho”, ressalta Guedes.

Importância de manter a tradição

Chefs negras, Aline Guedes e Aline Chermoula, ressaltam importância de proteger a receita do acarajé e explicam o motivo através da História // Na imagem: Cira do Acarajé, famosa quituteira de Salvador Foto: Márcio Fernandes | Estadão

Chermoula chama atenção para o quão importante é necessário respeitar e entender a cultura alimentar do povo afro-brasileiro. “O acarajé é alimento simbólico da cultura afro-brasileira, ele carrega africanidades e tradição em toda sua feitura e modificar esta receita tão emblemática é bastante desrespeitoso com nossos ancestrais e também com aqueles que ainda estão por vir, afinal, a partir de tantas modificações nesta iguaria corre risco de apagamento cultural”, conclui.

Para entendermos melhor, vale lembrar que o acarajé é mais do que um simples bolinho, ele é considerado um patrimônio cultural imaterial, exatamente como funciona com prédios antigos e, segundo Chermoula, a não alteração de suas características é simplesmente inegociável.

“O saber fazer acarajé envolve rituais que nos conectam à nossa ancestralidade e, concebendo o respeito que cabe à essa tradição, desde dezembro de 2005, o ofício das baianas de acarajé em Salvador está inscrito no Livro dos Saberes como Patrimônio Cultural Brasileiro. Logo, como qualquer outro patrimônio material, por exemplo, há de ser resguardado e protegido contra depreciações, que em sua imaterialidade podem envolver a frequente não-responsabilidade e incoerência com o seu ritual de feitura, quando na substituição de ingredientes e ações similares, como na não-valorização da carga histórica, social e religiosa que carrega, tal qual na tentativa eventualmente de sua alegorização”, acrescenta Guedes.

Guedes e Chermoula finalizam, ressaltando que “respeitar o ofício das baianas de acarajé em sua essência é respeitar a própria cultura do povo brasileiro” e “é inaceitável que suas características sejam alteradas”. Em resumo, nem tudo pode entrar na onda de promoção de filmes e produtos sem que pensemos nas consequências dessas ações.

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