Quem disser que conhece todos os tipos de vinhos de Jerez, com suas nuances, ou está mentindo ou se chama Julian Jeffs (autor de Sherry, melhor livro sobre o assunto). Para entrar nesse labirinto, escolhi o caminho dos finos e manzanillas. Os finos (de Jerez de la Frontera) e os manzanillas (de Sanlúcar de Barrameda) são os mais frescos, vindos da uva Palomino Fino. Seu traço especial é o aparecimento na barrica de uma película chamada flor. Esse véu cobre o líquido, protegendo-o do oxigênio. É algo natural, imprevisível e incontrolável. Os manzanillas têm as uvas colhidas mais cedo, com maior acidez, e as brisas frias do mar deixam que se forme uma flor mais grossa, resultando em vinhos ainda mais refrescantes. Os solos brancos (não é eufemismo, a chamada albariza é calcário quase puro, com areia, e tem aparência de um chão de giz) dessas duas denominações de origem andaluza fazem vinhos minerais. Já foi bem discutido se a língua humana é capaz de detectar ínfimos traços de minério nos alimentos. A resposta científica é não. A poética, sim. Eu acho tão perceptível um salzinho no gosto dos manzanillas que é impossível fingir que não sinto, mesmo informado insistentemente pela objetividade que é um efeito placebo. A sensação é a mesma que a de encostar a boca numa pedra na praia (hábito excêntrico, mas tendo oportunidade, olhe em volta: se ninguém estiver prestando atenção, passe a língua num seixo banhado pelo oceano. Concha também vale. É essa a sensação). Sendo mais bonito sonhar que todo aquele cenário mourisco da Espanha pode estar na garrafa, fiquemos com a imaginação. MODERNAS HARMONIASVão bem com tudo que se come para atrapalhar o apetite, antes da refeição: clássicas tapitas, jamón, amêndoas. Mas podem ser curingas do vinho - enfrentam ovos, alcachofra e outros complicadores. A grande dancinha, entretanto, é feita pela dupla manzanilla com queijo manchego
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