Suzana Barelli

3 fenômenos climáticos nos vinhedos


Aquecimento global, mudança climática, aqui a proposta não é discutir qual o termo correto, mas mostrar que os tais fenômenos climáticos intensos também deixam suas marcas nas vinhas

Por Suzana Barelli

No auge da sua fama, em meados dos anos 2000, o enólogo francês Michel Rolland surpreendeu ao afirmar que o aquecimento global (ou qualquer expressão que indique as recentes mudanças climáticas) estava sendo benéfico ao vinho. Na época, Rolland dava consultoria à vinícola Miolo e apontava que a ausência de chuvas no início do verão gaúcho ajudava, e muito, à qualidade da viticultura brasileira.

Uma das dificuldades da safra no Rio Grande de Sul são as chuvas entre dezembro e março. Nesta época, quando as uvas estão amadurecendo, a água em excesso cria um ambiente propício ao aparecimento de fungos e demais doenças na planta. As uvas também ficam menos concentradas, gerando vinhos mais diluídos, já que as raízes “puxam” a água abundante no solo e nutrem seus frutos. Em anos de muito calor, as demais atividades agrícolas gaúchas padecem da falta d’água, mas as videiras agradecem. Não é à toa que 2018 e 2020, com verões de sol brilhante nos vinhedos, são consideradas safras ícones para a viticultura brasileira.

Mas há sempre o outro lado da moeda, e Rolland também apontava para eles. Os fenômenos climáticos intensos vêm deixando suas marcas nos vinhedos, nem sempre de uma maneira positiva. Em geral, incêndios, ondas de calor ou de frio inesperados, além das secas e das chuvas excepcionais são os fenômenos que incidem (não apenas) nos vinhedos. A tragédia das enchentes no litoral norte de São Paulo neste carnaval torna este tema ainda mais pertinente. Conheça três “acidentes” climáticos nos vinhedos.

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Incêndio destrói vinhedos centenários em Itata, no sul de Chile Foto: Leonardo Erazo

1.

No início de fevereiro deste ano, um incêndio de grandes proporções atingiu os vales de Itata, Bio-Bio e Maule, no sul do Chile. Em Itata, onde foi mais forte até pela quantidade de eucaliptos cultivados na região, mais de 300 hectares de vinhas, muitas delas centenárias, que foram queimadas. É um prejuízo também para a história do vinho chileno porque a região marca o início da viticultura local. Seus produtores esperam que algumas plantas consigam renascer depois do fogo e voltem a dar frutos. Por enquanto, eles estão promovendo diversas campanhas para que os consumidores comprem os seus vinhos (muitos perderam as vinhas, mas conseguiram salvar seus estoques) como maneira de obter recursos para recuperar a plantação.

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Há outros incêndios na história recente, principalmente no Napa Valley, nos Estados Unidos, e na Austrália. Nem sempre, o fogo queima as vinhas, mas quando está próximo dos vinhedos pode causar um fenômeno conhecido como “smoke taint”. Nele, as uvas expostas à fumaça geram aromas e sabores desagradáveis ao vinho, como notas de cinzeiro, borracha queimada, entre outros.

2.

As geadas fora de época, principalmente na primavera, são cada vez mais temidas pelos produtores. Em 2021, a Borgonha, onde estão alguns dos mais famosos vinhos franceses, enfrentou uma das mais sérias geadas dos últimos tempos. Na semana anterior, a região registrava altas temperaturas, próximas aos 30 graus, o que acelerava a brotação nos vinhedos. Mas logo teve uma queda abrupta de temperatura, chegando a 4,9 graus negativos, formando gelo e congelando os brotos (que mais tarde seriam as uvas) ainda incipientes. A queda da produção foi estimada em mais de 50% (Chablis foi a região mais atingida) e muitos dos vinhos tiveram seus preços reajustados na mesma proporção.

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É uma tragédia e a forma de tentar amenizá-la e espalhar velas e fogueiras com gravetos pelos vinhedos para tentar elevar a temperatura e torcer para a fumaça proteger os brotos no início do dia. E a paisagem, que é de tristeza para os produtores, fica lindo.

3.

Aqui um exemplo positivo, ao menos para os ingleses. No sul do país, em regiões como Sussex, Hampshire, Kent e Surrey têm conseguido elaborar vinhos e, principalmente, espumantes. A explicação é que as temperaturas médias anuais estão subindo, o que vem permitindo às uvas maturarem completamente, o que não acontecia. Até muito recentemente, os ingleses conseguiam uma boa safra no máximo a cada dez anos, o que inviabilizava economicamente a produção.

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Com solo calcário, semelhante ao de Champanhe, e com foco na chardonnay e na pinot noir, as mesmas variedades de seus vizinhos, os ingleses começam a rivalizar com as borbulhas francesas. Têm também o clima mais frio, que ajuda a preservar a acidez necessária para a produção de borbulhas de qualidade. A maison Taittinger já comprou vinhedos em Kent, e Pommery, em Surrey, indicando o potencial dos espumantes ingleses.

No auge da sua fama, em meados dos anos 2000, o enólogo francês Michel Rolland surpreendeu ao afirmar que o aquecimento global (ou qualquer expressão que indique as recentes mudanças climáticas) estava sendo benéfico ao vinho. Na época, Rolland dava consultoria à vinícola Miolo e apontava que a ausência de chuvas no início do verão gaúcho ajudava, e muito, à qualidade da viticultura brasileira.

Uma das dificuldades da safra no Rio Grande de Sul são as chuvas entre dezembro e março. Nesta época, quando as uvas estão amadurecendo, a água em excesso cria um ambiente propício ao aparecimento de fungos e demais doenças na planta. As uvas também ficam menos concentradas, gerando vinhos mais diluídos, já que as raízes “puxam” a água abundante no solo e nutrem seus frutos. Em anos de muito calor, as demais atividades agrícolas gaúchas padecem da falta d’água, mas as videiras agradecem. Não é à toa que 2018 e 2020, com verões de sol brilhante nos vinhedos, são consideradas safras ícones para a viticultura brasileira.

Mas há sempre o outro lado da moeda, e Rolland também apontava para eles. Os fenômenos climáticos intensos vêm deixando suas marcas nos vinhedos, nem sempre de uma maneira positiva. Em geral, incêndios, ondas de calor ou de frio inesperados, além das secas e das chuvas excepcionais são os fenômenos que incidem (não apenas) nos vinhedos. A tragédia das enchentes no litoral norte de São Paulo neste carnaval torna este tema ainda mais pertinente. Conheça três “acidentes” climáticos nos vinhedos.

Incêndio destrói vinhedos centenários em Itata, no sul de Chile Foto: Leonardo Erazo

1.

No início de fevereiro deste ano, um incêndio de grandes proporções atingiu os vales de Itata, Bio-Bio e Maule, no sul do Chile. Em Itata, onde foi mais forte até pela quantidade de eucaliptos cultivados na região, mais de 300 hectares de vinhas, muitas delas centenárias, que foram queimadas. É um prejuízo também para a história do vinho chileno porque a região marca o início da viticultura local. Seus produtores esperam que algumas plantas consigam renascer depois do fogo e voltem a dar frutos. Por enquanto, eles estão promovendo diversas campanhas para que os consumidores comprem os seus vinhos (muitos perderam as vinhas, mas conseguiram salvar seus estoques) como maneira de obter recursos para recuperar a plantação.

Há outros incêndios na história recente, principalmente no Napa Valley, nos Estados Unidos, e na Austrália. Nem sempre, o fogo queima as vinhas, mas quando está próximo dos vinhedos pode causar um fenômeno conhecido como “smoke taint”. Nele, as uvas expostas à fumaça geram aromas e sabores desagradáveis ao vinho, como notas de cinzeiro, borracha queimada, entre outros.

2.

As geadas fora de época, principalmente na primavera, são cada vez mais temidas pelos produtores. Em 2021, a Borgonha, onde estão alguns dos mais famosos vinhos franceses, enfrentou uma das mais sérias geadas dos últimos tempos. Na semana anterior, a região registrava altas temperaturas, próximas aos 30 graus, o que acelerava a brotação nos vinhedos. Mas logo teve uma queda abrupta de temperatura, chegando a 4,9 graus negativos, formando gelo e congelando os brotos (que mais tarde seriam as uvas) ainda incipientes. A queda da produção foi estimada em mais de 50% (Chablis foi a região mais atingida) e muitos dos vinhos tiveram seus preços reajustados na mesma proporção.

É uma tragédia e a forma de tentar amenizá-la e espalhar velas e fogueiras com gravetos pelos vinhedos para tentar elevar a temperatura e torcer para a fumaça proteger os brotos no início do dia. E a paisagem, que é de tristeza para os produtores, fica lindo.

3.

Aqui um exemplo positivo, ao menos para os ingleses. No sul do país, em regiões como Sussex, Hampshire, Kent e Surrey têm conseguido elaborar vinhos e, principalmente, espumantes. A explicação é que as temperaturas médias anuais estão subindo, o que vem permitindo às uvas maturarem completamente, o que não acontecia. Até muito recentemente, os ingleses conseguiam uma boa safra no máximo a cada dez anos, o que inviabilizava economicamente a produção.

Com solo calcário, semelhante ao de Champanhe, e com foco na chardonnay e na pinot noir, as mesmas variedades de seus vizinhos, os ingleses começam a rivalizar com as borbulhas francesas. Têm também o clima mais frio, que ajuda a preservar a acidez necessária para a produção de borbulhas de qualidade. A maison Taittinger já comprou vinhedos em Kent, e Pommery, em Surrey, indicando o potencial dos espumantes ingleses.

No auge da sua fama, em meados dos anos 2000, o enólogo francês Michel Rolland surpreendeu ao afirmar que o aquecimento global (ou qualquer expressão que indique as recentes mudanças climáticas) estava sendo benéfico ao vinho. Na época, Rolland dava consultoria à vinícola Miolo e apontava que a ausência de chuvas no início do verão gaúcho ajudava, e muito, à qualidade da viticultura brasileira.

Uma das dificuldades da safra no Rio Grande de Sul são as chuvas entre dezembro e março. Nesta época, quando as uvas estão amadurecendo, a água em excesso cria um ambiente propício ao aparecimento de fungos e demais doenças na planta. As uvas também ficam menos concentradas, gerando vinhos mais diluídos, já que as raízes “puxam” a água abundante no solo e nutrem seus frutos. Em anos de muito calor, as demais atividades agrícolas gaúchas padecem da falta d’água, mas as videiras agradecem. Não é à toa que 2018 e 2020, com verões de sol brilhante nos vinhedos, são consideradas safras ícones para a viticultura brasileira.

Mas há sempre o outro lado da moeda, e Rolland também apontava para eles. Os fenômenos climáticos intensos vêm deixando suas marcas nos vinhedos, nem sempre de uma maneira positiva. Em geral, incêndios, ondas de calor ou de frio inesperados, além das secas e das chuvas excepcionais são os fenômenos que incidem (não apenas) nos vinhedos. A tragédia das enchentes no litoral norte de São Paulo neste carnaval torna este tema ainda mais pertinente. Conheça três “acidentes” climáticos nos vinhedos.

Incêndio destrói vinhedos centenários em Itata, no sul de Chile Foto: Leonardo Erazo

1.

No início de fevereiro deste ano, um incêndio de grandes proporções atingiu os vales de Itata, Bio-Bio e Maule, no sul do Chile. Em Itata, onde foi mais forte até pela quantidade de eucaliptos cultivados na região, mais de 300 hectares de vinhas, muitas delas centenárias, que foram queimadas. É um prejuízo também para a história do vinho chileno porque a região marca o início da viticultura local. Seus produtores esperam que algumas plantas consigam renascer depois do fogo e voltem a dar frutos. Por enquanto, eles estão promovendo diversas campanhas para que os consumidores comprem os seus vinhos (muitos perderam as vinhas, mas conseguiram salvar seus estoques) como maneira de obter recursos para recuperar a plantação.

Há outros incêndios na história recente, principalmente no Napa Valley, nos Estados Unidos, e na Austrália. Nem sempre, o fogo queima as vinhas, mas quando está próximo dos vinhedos pode causar um fenômeno conhecido como “smoke taint”. Nele, as uvas expostas à fumaça geram aromas e sabores desagradáveis ao vinho, como notas de cinzeiro, borracha queimada, entre outros.

2.

As geadas fora de época, principalmente na primavera, são cada vez mais temidas pelos produtores. Em 2021, a Borgonha, onde estão alguns dos mais famosos vinhos franceses, enfrentou uma das mais sérias geadas dos últimos tempos. Na semana anterior, a região registrava altas temperaturas, próximas aos 30 graus, o que acelerava a brotação nos vinhedos. Mas logo teve uma queda abrupta de temperatura, chegando a 4,9 graus negativos, formando gelo e congelando os brotos (que mais tarde seriam as uvas) ainda incipientes. A queda da produção foi estimada em mais de 50% (Chablis foi a região mais atingida) e muitos dos vinhos tiveram seus preços reajustados na mesma proporção.

É uma tragédia e a forma de tentar amenizá-la e espalhar velas e fogueiras com gravetos pelos vinhedos para tentar elevar a temperatura e torcer para a fumaça proteger os brotos no início do dia. E a paisagem, que é de tristeza para os produtores, fica lindo.

3.

Aqui um exemplo positivo, ao menos para os ingleses. No sul do país, em regiões como Sussex, Hampshire, Kent e Surrey têm conseguido elaborar vinhos e, principalmente, espumantes. A explicação é que as temperaturas médias anuais estão subindo, o que vem permitindo às uvas maturarem completamente, o que não acontecia. Até muito recentemente, os ingleses conseguiam uma boa safra no máximo a cada dez anos, o que inviabilizava economicamente a produção.

Com solo calcário, semelhante ao de Champanhe, e com foco na chardonnay e na pinot noir, as mesmas variedades de seus vizinhos, os ingleses começam a rivalizar com as borbulhas francesas. Têm também o clima mais frio, que ajuda a preservar a acidez necessária para a produção de borbulhas de qualidade. A maison Taittinger já comprou vinhedos em Kent, e Pommery, em Surrey, indicando o potencial dos espumantes ingleses.

No auge da sua fama, em meados dos anos 2000, o enólogo francês Michel Rolland surpreendeu ao afirmar que o aquecimento global (ou qualquer expressão que indique as recentes mudanças climáticas) estava sendo benéfico ao vinho. Na época, Rolland dava consultoria à vinícola Miolo e apontava que a ausência de chuvas no início do verão gaúcho ajudava, e muito, à qualidade da viticultura brasileira.

Uma das dificuldades da safra no Rio Grande de Sul são as chuvas entre dezembro e março. Nesta época, quando as uvas estão amadurecendo, a água em excesso cria um ambiente propício ao aparecimento de fungos e demais doenças na planta. As uvas também ficam menos concentradas, gerando vinhos mais diluídos, já que as raízes “puxam” a água abundante no solo e nutrem seus frutos. Em anos de muito calor, as demais atividades agrícolas gaúchas padecem da falta d’água, mas as videiras agradecem. Não é à toa que 2018 e 2020, com verões de sol brilhante nos vinhedos, são consideradas safras ícones para a viticultura brasileira.

Mas há sempre o outro lado da moeda, e Rolland também apontava para eles. Os fenômenos climáticos intensos vêm deixando suas marcas nos vinhedos, nem sempre de uma maneira positiva. Em geral, incêndios, ondas de calor ou de frio inesperados, além das secas e das chuvas excepcionais são os fenômenos que incidem (não apenas) nos vinhedos. A tragédia das enchentes no litoral norte de São Paulo neste carnaval torna este tema ainda mais pertinente. Conheça três “acidentes” climáticos nos vinhedos.

Incêndio destrói vinhedos centenários em Itata, no sul de Chile Foto: Leonardo Erazo

1.

No início de fevereiro deste ano, um incêndio de grandes proporções atingiu os vales de Itata, Bio-Bio e Maule, no sul do Chile. Em Itata, onde foi mais forte até pela quantidade de eucaliptos cultivados na região, mais de 300 hectares de vinhas, muitas delas centenárias, que foram queimadas. É um prejuízo também para a história do vinho chileno porque a região marca o início da viticultura local. Seus produtores esperam que algumas plantas consigam renascer depois do fogo e voltem a dar frutos. Por enquanto, eles estão promovendo diversas campanhas para que os consumidores comprem os seus vinhos (muitos perderam as vinhas, mas conseguiram salvar seus estoques) como maneira de obter recursos para recuperar a plantação.

Há outros incêndios na história recente, principalmente no Napa Valley, nos Estados Unidos, e na Austrália. Nem sempre, o fogo queima as vinhas, mas quando está próximo dos vinhedos pode causar um fenômeno conhecido como “smoke taint”. Nele, as uvas expostas à fumaça geram aromas e sabores desagradáveis ao vinho, como notas de cinzeiro, borracha queimada, entre outros.

2.

As geadas fora de época, principalmente na primavera, são cada vez mais temidas pelos produtores. Em 2021, a Borgonha, onde estão alguns dos mais famosos vinhos franceses, enfrentou uma das mais sérias geadas dos últimos tempos. Na semana anterior, a região registrava altas temperaturas, próximas aos 30 graus, o que acelerava a brotação nos vinhedos. Mas logo teve uma queda abrupta de temperatura, chegando a 4,9 graus negativos, formando gelo e congelando os brotos (que mais tarde seriam as uvas) ainda incipientes. A queda da produção foi estimada em mais de 50% (Chablis foi a região mais atingida) e muitos dos vinhos tiveram seus preços reajustados na mesma proporção.

É uma tragédia e a forma de tentar amenizá-la e espalhar velas e fogueiras com gravetos pelos vinhedos para tentar elevar a temperatura e torcer para a fumaça proteger os brotos no início do dia. E a paisagem, que é de tristeza para os produtores, fica lindo.

3.

Aqui um exemplo positivo, ao menos para os ingleses. No sul do país, em regiões como Sussex, Hampshire, Kent e Surrey têm conseguido elaborar vinhos e, principalmente, espumantes. A explicação é que as temperaturas médias anuais estão subindo, o que vem permitindo às uvas maturarem completamente, o que não acontecia. Até muito recentemente, os ingleses conseguiam uma boa safra no máximo a cada dez anos, o que inviabilizava economicamente a produção.

Com solo calcário, semelhante ao de Champanhe, e com foco na chardonnay e na pinot noir, as mesmas variedades de seus vizinhos, os ingleses começam a rivalizar com as borbulhas francesas. Têm também o clima mais frio, que ajuda a preservar a acidez necessária para a produção de borbulhas de qualidade. A maison Taittinger já comprou vinhedos em Kent, e Pommery, em Surrey, indicando o potencial dos espumantes ingleses.

No auge da sua fama, em meados dos anos 2000, o enólogo francês Michel Rolland surpreendeu ao afirmar que o aquecimento global (ou qualquer expressão que indique as recentes mudanças climáticas) estava sendo benéfico ao vinho. Na época, Rolland dava consultoria à vinícola Miolo e apontava que a ausência de chuvas no início do verão gaúcho ajudava, e muito, à qualidade da viticultura brasileira.

Uma das dificuldades da safra no Rio Grande de Sul são as chuvas entre dezembro e março. Nesta época, quando as uvas estão amadurecendo, a água em excesso cria um ambiente propício ao aparecimento de fungos e demais doenças na planta. As uvas também ficam menos concentradas, gerando vinhos mais diluídos, já que as raízes “puxam” a água abundante no solo e nutrem seus frutos. Em anos de muito calor, as demais atividades agrícolas gaúchas padecem da falta d’água, mas as videiras agradecem. Não é à toa que 2018 e 2020, com verões de sol brilhante nos vinhedos, são consideradas safras ícones para a viticultura brasileira.

Mas há sempre o outro lado da moeda, e Rolland também apontava para eles. Os fenômenos climáticos intensos vêm deixando suas marcas nos vinhedos, nem sempre de uma maneira positiva. Em geral, incêndios, ondas de calor ou de frio inesperados, além das secas e das chuvas excepcionais são os fenômenos que incidem (não apenas) nos vinhedos. A tragédia das enchentes no litoral norte de São Paulo neste carnaval torna este tema ainda mais pertinente. Conheça três “acidentes” climáticos nos vinhedos.

Incêndio destrói vinhedos centenários em Itata, no sul de Chile Foto: Leonardo Erazo

1.

No início de fevereiro deste ano, um incêndio de grandes proporções atingiu os vales de Itata, Bio-Bio e Maule, no sul do Chile. Em Itata, onde foi mais forte até pela quantidade de eucaliptos cultivados na região, mais de 300 hectares de vinhas, muitas delas centenárias, que foram queimadas. É um prejuízo também para a história do vinho chileno porque a região marca o início da viticultura local. Seus produtores esperam que algumas plantas consigam renascer depois do fogo e voltem a dar frutos. Por enquanto, eles estão promovendo diversas campanhas para que os consumidores comprem os seus vinhos (muitos perderam as vinhas, mas conseguiram salvar seus estoques) como maneira de obter recursos para recuperar a plantação.

Há outros incêndios na história recente, principalmente no Napa Valley, nos Estados Unidos, e na Austrália. Nem sempre, o fogo queima as vinhas, mas quando está próximo dos vinhedos pode causar um fenômeno conhecido como “smoke taint”. Nele, as uvas expostas à fumaça geram aromas e sabores desagradáveis ao vinho, como notas de cinzeiro, borracha queimada, entre outros.

2.

As geadas fora de época, principalmente na primavera, são cada vez mais temidas pelos produtores. Em 2021, a Borgonha, onde estão alguns dos mais famosos vinhos franceses, enfrentou uma das mais sérias geadas dos últimos tempos. Na semana anterior, a região registrava altas temperaturas, próximas aos 30 graus, o que acelerava a brotação nos vinhedos. Mas logo teve uma queda abrupta de temperatura, chegando a 4,9 graus negativos, formando gelo e congelando os brotos (que mais tarde seriam as uvas) ainda incipientes. A queda da produção foi estimada em mais de 50% (Chablis foi a região mais atingida) e muitos dos vinhos tiveram seus preços reajustados na mesma proporção.

É uma tragédia e a forma de tentar amenizá-la e espalhar velas e fogueiras com gravetos pelos vinhedos para tentar elevar a temperatura e torcer para a fumaça proteger os brotos no início do dia. E a paisagem, que é de tristeza para os produtores, fica lindo.

3.

Aqui um exemplo positivo, ao menos para os ingleses. No sul do país, em regiões como Sussex, Hampshire, Kent e Surrey têm conseguido elaborar vinhos e, principalmente, espumantes. A explicação é que as temperaturas médias anuais estão subindo, o que vem permitindo às uvas maturarem completamente, o que não acontecia. Até muito recentemente, os ingleses conseguiam uma boa safra no máximo a cada dez anos, o que inviabilizava economicamente a produção.

Com solo calcário, semelhante ao de Champanhe, e com foco na chardonnay e na pinot noir, as mesmas variedades de seus vizinhos, os ingleses começam a rivalizar com as borbulhas francesas. Têm também o clima mais frio, que ajuda a preservar a acidez necessária para a produção de borbulhas de qualidade. A maison Taittinger já comprou vinhedos em Kent, e Pommery, em Surrey, indicando o potencial dos espumantes ingleses.

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