Não deve ser fácil ser um vinho brasileiro da safra de 2021. Primeiro, ele chega ao mercado na sombra dos brancos e tintos de 2020, ano batizado euforicamente pelos produtores nacionais como a “safra das safras”. Depois, ele deve brilhar para os novos consumidores, que estão vencendo o preconceito e bebendo os nossos vinhos – segundo o último relatório da Ideal Consulting, a venda dos vinhos finos brasileiros (aqueles elaborados com variedades vitivinícolas, indicadas para os vinhos) cresceu 30% nos primeiros nove meses do desde ano em comparação comigual período de 2020 e já representam 9% do total do mercado.
Tudo isso em um ano em que o clima não foi tão perfeito como em 2020. O ano até começou seco e ensolarado, mas as chuvas do final de janeiro, começo de fevereiro comprometeram a qualidade das variedades intermediárias, principalmente as brancas. As uvas de ciclo mais longo, em geral as tintas de variedades como cabernet, tannat entre outras, conseguiram manter a qualidade, já que o sol e a grande amplitude térmica entre as temperaturas do dia e da noite voltaram a aparecer em março.
Com este cenário, pode-se dizer que a maioria das 16 amostras degustadas na 29ª Edição da Avaliação Nacional de Vinhos surpreendeu. A enorme degustação, agora realizada online, apresentou para 700 pessoas no último sábado os vinhos mais representativos da safra – os interessados compravam o kit por R$ 680 e recebiam em sua casa as 16 garrafas para acompanhar a degustação pelo canal do YouTube da Associação Brasileira de Enologia, que promove o evento.
A prova começou com a degustação de três vinhos-base, como são chamados aqueles que voltarão a fermentar, dando origem aos espumantes. Na taça, eles pareciam mais interessantes do que os provados em 2020. A explicação é que como o ano não foi tão quente como o anterior, o vinho conseguiu preservar sua alta acidez (o que é ótimo para uma segunda fermentação) e não era tão aromático como os de 2020.
Os brancos empolgaram menos, talvez pela chuva que atrapalhou a sua completa maturação. O destaque foi para um chardonnay, da vinícola Pizzato, que deve dar origem ao Legno. Nos tintos, ainda fica um suspense: a maioria traz boas notas frutadas, maduras na medida certa, e agora está nas barricas de carvalho. Tirar o melhor partido destes barris é um desafio para os enólogos. Na degustação, várias amostras apresentavam notas mais presentes de madeira, resultado de terem recém-chegado às barricas de carvalho.
Mas, ao mesmo tempo em que as barricas permitem o lento afinamento dos tintos, elas também podem marcar mais a bebida, trazer qualidades, como a complexidade aromática; mas também defeitos, como um amargor. Mas só saberemos disso quando os vinhos chegarem ao mercado. A conferir.
As amostras degustadas
Vinho base para espumante
- Chardonnay-Pinot Noir, da Vinícola Valmarino
- Chardonnay, da Chandon do Brasil
- Pinot Noir-Chardonnay, da Vinícola Salton
Branco fino seco não aromático
- Viognier, da Casa Valduga
- Chardonnay, da Pizzato Vinhas e Vinhos
Branco fino seco aromático
- Sauvignon Blanc, da Vinícola Campestre
- Moscato Branco, da Vinícola Mioranza
Rosé fino seco
- Tannat, da Casa Venturini
Tinto fino seco jovem
- Merlot, da Vinícola Salvattore
Tinto fino seco
- Cabernet Franc, da Dal Pizzol
- Tannat, da Hortência Indústria de Bebidas
- Cabernet Sauvignon, da Casa Perini
- Tannat, da Vinícola Almaúnica
- Alicante Bouschet, da Cooperativa Vinícola Aurora
- Touriga Nacional, da Miolo Wine Group
- Tinto de Corte (Tannat, Teroldego, Malbec, Cabernet Franc e Merlot), da Vinícola Don Guerino