A uva malbec é quase sinônimo de vinho argentino, mesmo sendo uma variedade de origem francesa. Nossos vizinhos cultivam 45 mil hectares desta uva e são os maiores produtores mundiais da variedade. Mais: são tão orgulhosos de seus malbecs que criaram um dia especial para ele. O Malbec Wine Day é comemorado todo 17 de abril, ou seja, nesta segunda-feira. A data foi escolhida porque foi neste dia, no ano de 1853, que o governo de Mendoza decidiu incorporar novas variedades para melhorar a qualidade dos vinhos locais. A malbec, que tinha acabado de chegar ao país pelas mãos do francês Michel Aimé Pouget, foi uma delas e a que melhor se adaptou ao solo e clima do país.
“A malbec é a nossa arma”, afirma Alejandro Vigil, presidente da Wines of Argentina, principal enólogo da vinícola Catena Zapata e sócio da El Enemigo. Neste ano, a Wines of Argentina não está planejando grandes eventos em torno da variedade. A promoção caberá aos produtores, individualmente, e aos lojistas e importadores aqui no Brasil (vale conferir descontos em sites especializados, como o wine.com.br, grandcru.com.br; mistral.com.br, entre outros). Mesmo assim, o Malbec Day é o evento que faz mais barulho em torno de uma variedade, no calendário de datas de homenagens às uvas (parece haver um dia para cada cepa: no próximo 27 de abril, por exemplo, é o dia da marselan; e o último dia de abril se comemora o dia da viognier).
NOVOS TERROIRS
A malbec, acredita Vigil, é também a variedade que vai brilhar nos novos territórios argentinos. Atualmente, a falta de água é o maior entrave para o crescimento dos vinhedos. Mendoza, a principal região produtora do país, sofre com a diminuição da neve nos topos da Cordilheira dos Andes, e, consequentemente, com a falta de água para irrigar suas vinhas (a região é um deserto, com 3,5% da sua área cultivada, e a irrigação é feita com a água do degelo das montanhas).
Isso leva produtores a procurarem novas regiões para cultivar os seus vinhedos. As províncias de La Rioja, logo ao norte de Mendoza, Buenos Aires e Rio Negro, na Patagonia, aparecem como as principais apostas de novos terroirs para o vinho argentino.
LUMINOSIDADE E SUBSOLO
A própria Catena, por exemplo, tem vinhedos em La Rioja e próximos à Salta, ao norte, em regiões que não têm problemas de água. Com vinhedos de malbec plantados – de toda a Argentina, apenas quatro províncias não têm vinhas –, o desafio é aprender com as características de cada região para expressar bem as características da variedade. Um dos aprendizados é a luminosidade. Hoje, os principais vinhedos da região estão em zonas mais altas, próximas aos Andes, onde a temperatura é bem mais fria, mas a incidência solar age na casca da uva de maneira mais intensa, deixando-a mais grossa, por exemplo. Os enólogos também aprenderam que a malbec tem características diferentes conforme o seu subsolo – aqueles com maior presença de calcário tendem a resultar em tintos mais elegantes.
Assim, os produtores vão aprendendo a destacar as características da malbec em cada terroir, resultando em vinhos muito diferentes conforme a sua localização, seja em notas mais florais ou frutadas, ou em estrutura mais ou menos encorpada. Ou, como prevê Vigil para os próximos 20 ou 30 anos, quando estes vinhedos devem estar mais bem explorados, “a malbec também será um tradutor da nossa paisagem”.