Suzana Barelli

A importância do conceito de “cru” nos vinhedos


Famoso pelo seu Brunello di Montalcino, família Biondi Santi aposta em vinhos exclusivos com a sangiovesse grosso

Por Suzana Barelli
Atualização:

A Europa é definida como Velho Mundo, no dicionário do vinho. Foi lá que nasceu a viticultura como conhecemos hoje – antes, os vinhos eram elaborados em potes de barro e não há registros de como eram seus aromas e gostos, por exemplo. Ao longo dos séculos, os europeus, com foco nos franceses, foram descobrindo os seus vinhedos, definindo as melhores zonas e lapidando o conceito de cru – aquela parcela especial de vinhas, que resulta em brancos e tintos realmente especiais.

O conceito rompeu barreiras e chegou ao Novo Mundo, como são chamados os países não europeus que elaboram vinhos e que atualmente investem em conhecer os seus vinhedos e lançar vinhos de parcelas especiais. Mas, às vezes, o Velho Mundo surpreende com os seus novos crus, mostrando que, mesmo com toda esta história, ainda há muito para se conhecer dos vinhedos, usando a tecnologia como aliada.

OS TRÊS CRUS

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O exemplo mais recente é a chegada ao Brasil dos três crus do Castello di Montepò, o projeto em Maremma, na Toscana, dos herdeiros de Ferruccio Biondi Santi. Os vinhos nasceram de um estudo mais profundo nos vinhedos, seja do uso de drones, seja da parceria com a universidade local e da consultoria de enólogos, que apontou pequenas zonas de qualidade superior. Em sua primeira safra e com preços bem salgados (R$ 1.658, cada garrafa, na Mistral), são os crus de Maceone, Poggio Ferro e Fontecanese.

Vinhos crus da Biondi Foto: Biondi

Os dois primeiros são elaborados apenas com o clone especial de sangiovese, o BBS11, que pertence à família Biondi Santi, e que deu origem aos primeiros Brunello di Montalcino, e o último, com cabernet sauvignon. Na propriedade (e também em várias vinícolas na Toscana são cultivadas as variedades francesas cabernet sauvignon e merlot, para elaborar os chamados supertoscanos).

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VINHAS AO LADO DO CASTELO

Cada cru vem de uma pequena área de cerca de 1,5 hectare de vinhas, de solo de galestro, um tipo de argila-calcário, com muitos elementos minerais, do total de 55 hectares de vinhas cultivados na enorme propriedade (são mais de 600 hectares, incluindo o castelo medieval). “Foi preciso esperar as vinhas envelhecerem para desenvolver estes crus”, conta Tancredi Biondi Santi, da sétima geração da família, que veio ao Brasil lançar os três vinhos. Além do Brasil, esses vinhos especiais só foram lançados no Japão e na Inglaterra, e tem a venda restrita pelo pequeno volume de produção.

A propriedade, um castelo medieval, foi adquirido por Jacopo Biondi Santi, pai de Tancredi, no final dos anos 1980. Os vinhedos foram plantados principalmente com a sangiovesse grosso, que ocupa cerca de 85% das vinhas. As 15% restantes são plantas de cabernet sauvignon e merlot, como Tancredi conta na entrevista a seguir.

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ENTREVISTA

Como começou este estudo de terroir?

Primeiro, agora a família Biondi Santi é uma vinícola focada no Castello di Montepò. Não estamos mais em Brunello ou em Bolgheri [regiões da Toscana, também famosas por seus vinhos]. Estamos 100% na vinícola em Maremma. E ficamos em uma zona particular de Maremma, que fica a 530 metros acima do nível do mar, próxima ao mar. O que faz o território similar a Bolgheri e Montancino. Mas Montepò vem sendo o foco da nossa família há 30 anos, com a produção de Sassaloro e de Morelino [dois tintos da vinícola] e, nos últimos anos, desenvolvemos uma visão muito particular de Montepò, do que podemos fazer aqui principalmente porque agora temos a maturidade das vinhas. E decidimos começar a parcelizar o vinhedo e fazer um estudo mais profundo do que o meu pai fez nos anos 1980 com as Universidades de Pisa e de Firenze, de entender o solo. Assim, entender as microzonas e refletir sobre elas virou um desafio. Estudamos a composição do solo, o substrato do solo, mas realmente estudamos as microzonas, que é a intersecção do solo com o clima.

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No Brasil, chegaram os três crus do Castello di Montepò, o projeto em Maremma, na Toscana Foto: Biondi

Como é um estudo mais profundo do que o realizado por Jacopo Biondi Santi?

No final dos anos 1980, 30 e poucos anos atrás, a ideia era entender onde plantar os 55 hectares. Agora queremos nos aprofundar e entender o que cada microparcela reflete nos vinhos. Decidimos selecionar as três microzonas que nos pareciam mais interessante e vinificar separadamente. Este é um estudo mais profundo de analisar os dados, as características. No final, nasceram estes três vinhos.

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As uvas são melhores nestas microzonas?

Não. Não é uma questão da variedade, mas da microzona. Cientificamente sabemos que cada microzona vai ter um resultado único nas uvas e, assim, nos vinhos, e queremos mostrar o resultado deste estudo. Começamos a vinificar separadamente. São cerca de 1,5 hectare de cada cru, com um pouco menos de 3 mil garrafas produzidas de cada um. A distribuição é muito pequena, está sempre alocada e o Brasil tem uma boa locação.

De quais microzonas vem cada vinho?

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Eles estão em diferentes partes do vinhedo. Maceone é uma parcela muito bonita, localizada no norte do nosso terreno, com exposição leste, e é a parte mais baixa de todos os crus, é um tinto intenso e profundo. O segundo é a Poggio Ferro, os dois são 100% sangiovese grosso, com o nosso clone BBS11. Fica ao sul da vinícola, com exposição sul. Tem mais complexidade do galestro, é mais mineral, e o vinho mostra o estilo mais clássico do BBS11. O terceiro é o Fontecanese, que vem de um vinhedo mais alto, exposição sudeste, no centro da vinícola e é elaborado com a cabernet sauvignon.

Os crus mostram uma mudança no conceito de terroir na Itália?

Não estamos mudando o conceito de terroir. Mas queremos mostrar que para cada microzona que começamos a estudar temos um resultado diferente em maturação e aromas das uvas. O nosso trabalho é mostrar o conceito de terroir. E os clientes podem sentir esta diferença na taça.

Por que estão lançando cru apenas agora?

A gente precisava do envelhecimento das vinhas e isso leva tempo. É um projeto que precisamos ter muito foco e tem todo o potencial da família quer estar atrás deste projeto, o que é um pouco exaustivo. Também precisamos esperar uma boa safra, o que foi em 2019. O meu pai e eu queremos anunciar o conceito de terroir, acreditamos que um vinho que vem de uma parcela particular é único, é a expressão própria do terroir.

Fazendo um parêntese, como a relação com o seu pai, o Jacopo Biondi Santi?

Meu pai está com 73 anos e não viaja mais. Eu sempre recorro a ele pelo seu conhecimento, peço a sua opinião, mas a decisão é minha. A ideia de anunciar o conceito de terroir agora é nosso.

Por que gosta do terroir de Montepò?

Porque é único. Acreditamos que temos um projeto real, que poucos fazem. Montepò é uma terra particular, pela exposição, pela morfologia, pela região. Não temos nenhuma vinha ao nosso redor, nas propriedades vizinhas. Temos florestas, que criam um único ecossistema. Termos um terroir, que é único no mundo.

Esta é a primeira safra?

Sim, 2019 é a primeira safra. É a primeira vez que eu apresento este projeto. E queremos, com ele, mostrar uma nova visão do que a família quer fazer em Montepò. Nossa ideia é deixar o terroir falar. Apenas vinificamos o vinho e cada um reflete a sua microzona. Isso é o mais importante para a gente e para o nosso futuro.

Antes da criação dos crus, para onde iam estas uvas?

As uvas de sangiovese iam para Schidione [supertoscano elaborado com sangiovese, cabernet sauvignon e merlot] e Sassaloro. E a cabernet sauvignon ia para o Schidione. Agora, estamos plantando mais sangiovese. Temos 48,5 hectares em produção; nos últimos dois anos plantamos mais 5 hectares; e nos próximos dois anos vamos plantar mais 3,5 hectares. Montepò é uma propriedade com mais de 600 hectares.

Mas nem toda a área é boa para os vinhedos.

Estamos selecionando cada parcela para plantar. Mas temos ainda 10 hectares com o solo galestro, de exposição sul, para cultivar vinhas. Vamos plantar e ver o resultado. Estamos plantando apenas sangiovese grosso. Temos uma lacuna de produção de Sassaloro, precisamos de mais uvas. E preferimos sempre o terreno com o solo de galestro.

Em quais mercados foram lançados os três crus?

Na Inglaterra, mas foi um evento só para alguns negociantes, no Japão e agora no Brasil. Podemos dizer que o Brasil é o segundo mercado a ser lançado, já que na Inglaterra foi um evento bem pequeno.

Você esteve no Brasil no ano passado, por que vem tanto ao Brasil?

Porque é um mercado muito importante. O nosso tinto Sassaloro faz muito sucesso aqui e sabemos que temos de manter uma relação próxima com nosso importador (a Mistral) e nossos clientes.

Brasil é um grande mercado para o Castello di Montepó ou é um mercado potencial?

É um grande mercado e um potencial. Está entre os cinco maiores. Nosso primeiro mercado internacional é os Estados Unidos, o segundo é a Suíça, e o terceiro lugar está entre o Brasil e o Japão. Os dois brigam pela posição. E depois a Inglaterra.

Qual o posicionamento dos lançamentos?

Os crus são o topo da pirâmide, junto com o Schidione. Estes quatro são os vinhos ícones da vinícola. Abaixo temos o Sassaloro Oro. E temos o trabalho maior que é com o Sassaloro, que representa mais que 60% da produção.

As uvas são sempre cabernet sauvignon e sangiovese grosso?

Plantamos um pouco 85% é sangiovese da superfície. O restante está com cabernet e merlot.

Está estudando outras variedades?

Estamos, mas não posso falar agora. Falamos no futuro.

Tinta ou branca?

As duas.

Italianas?

Sim, muito italianas.

A Europa é definida como Velho Mundo, no dicionário do vinho. Foi lá que nasceu a viticultura como conhecemos hoje – antes, os vinhos eram elaborados em potes de barro e não há registros de como eram seus aromas e gostos, por exemplo. Ao longo dos séculos, os europeus, com foco nos franceses, foram descobrindo os seus vinhedos, definindo as melhores zonas e lapidando o conceito de cru – aquela parcela especial de vinhas, que resulta em brancos e tintos realmente especiais.

O conceito rompeu barreiras e chegou ao Novo Mundo, como são chamados os países não europeus que elaboram vinhos e que atualmente investem em conhecer os seus vinhedos e lançar vinhos de parcelas especiais. Mas, às vezes, o Velho Mundo surpreende com os seus novos crus, mostrando que, mesmo com toda esta história, ainda há muito para se conhecer dos vinhedos, usando a tecnologia como aliada.

OS TRÊS CRUS

O exemplo mais recente é a chegada ao Brasil dos três crus do Castello di Montepò, o projeto em Maremma, na Toscana, dos herdeiros de Ferruccio Biondi Santi. Os vinhos nasceram de um estudo mais profundo nos vinhedos, seja do uso de drones, seja da parceria com a universidade local e da consultoria de enólogos, que apontou pequenas zonas de qualidade superior. Em sua primeira safra e com preços bem salgados (R$ 1.658, cada garrafa, na Mistral), são os crus de Maceone, Poggio Ferro e Fontecanese.

Vinhos crus da Biondi Foto: Biondi

Os dois primeiros são elaborados apenas com o clone especial de sangiovese, o BBS11, que pertence à família Biondi Santi, e que deu origem aos primeiros Brunello di Montalcino, e o último, com cabernet sauvignon. Na propriedade (e também em várias vinícolas na Toscana são cultivadas as variedades francesas cabernet sauvignon e merlot, para elaborar os chamados supertoscanos).

VINHAS AO LADO DO CASTELO

Cada cru vem de uma pequena área de cerca de 1,5 hectare de vinhas, de solo de galestro, um tipo de argila-calcário, com muitos elementos minerais, do total de 55 hectares de vinhas cultivados na enorme propriedade (são mais de 600 hectares, incluindo o castelo medieval). “Foi preciso esperar as vinhas envelhecerem para desenvolver estes crus”, conta Tancredi Biondi Santi, da sétima geração da família, que veio ao Brasil lançar os três vinhos. Além do Brasil, esses vinhos especiais só foram lançados no Japão e na Inglaterra, e tem a venda restrita pelo pequeno volume de produção.

A propriedade, um castelo medieval, foi adquirido por Jacopo Biondi Santi, pai de Tancredi, no final dos anos 1980. Os vinhedos foram plantados principalmente com a sangiovesse grosso, que ocupa cerca de 85% das vinhas. As 15% restantes são plantas de cabernet sauvignon e merlot, como Tancredi conta na entrevista a seguir.

ENTREVISTA

Como começou este estudo de terroir?

Primeiro, agora a família Biondi Santi é uma vinícola focada no Castello di Montepò. Não estamos mais em Brunello ou em Bolgheri [regiões da Toscana, também famosas por seus vinhos]. Estamos 100% na vinícola em Maremma. E ficamos em uma zona particular de Maremma, que fica a 530 metros acima do nível do mar, próxima ao mar. O que faz o território similar a Bolgheri e Montancino. Mas Montepò vem sendo o foco da nossa família há 30 anos, com a produção de Sassaloro e de Morelino [dois tintos da vinícola] e, nos últimos anos, desenvolvemos uma visão muito particular de Montepò, do que podemos fazer aqui principalmente porque agora temos a maturidade das vinhas. E decidimos começar a parcelizar o vinhedo e fazer um estudo mais profundo do que o meu pai fez nos anos 1980 com as Universidades de Pisa e de Firenze, de entender o solo. Assim, entender as microzonas e refletir sobre elas virou um desafio. Estudamos a composição do solo, o substrato do solo, mas realmente estudamos as microzonas, que é a intersecção do solo com o clima.

No Brasil, chegaram os três crus do Castello di Montepò, o projeto em Maremma, na Toscana Foto: Biondi

Como é um estudo mais profundo do que o realizado por Jacopo Biondi Santi?

No final dos anos 1980, 30 e poucos anos atrás, a ideia era entender onde plantar os 55 hectares. Agora queremos nos aprofundar e entender o que cada microparcela reflete nos vinhos. Decidimos selecionar as três microzonas que nos pareciam mais interessante e vinificar separadamente. Este é um estudo mais profundo de analisar os dados, as características. No final, nasceram estes três vinhos.

As uvas são melhores nestas microzonas?

Não. Não é uma questão da variedade, mas da microzona. Cientificamente sabemos que cada microzona vai ter um resultado único nas uvas e, assim, nos vinhos, e queremos mostrar o resultado deste estudo. Começamos a vinificar separadamente. São cerca de 1,5 hectare de cada cru, com um pouco menos de 3 mil garrafas produzidas de cada um. A distribuição é muito pequena, está sempre alocada e o Brasil tem uma boa locação.

De quais microzonas vem cada vinho?

Eles estão em diferentes partes do vinhedo. Maceone é uma parcela muito bonita, localizada no norte do nosso terreno, com exposição leste, e é a parte mais baixa de todos os crus, é um tinto intenso e profundo. O segundo é a Poggio Ferro, os dois são 100% sangiovese grosso, com o nosso clone BBS11. Fica ao sul da vinícola, com exposição sul. Tem mais complexidade do galestro, é mais mineral, e o vinho mostra o estilo mais clássico do BBS11. O terceiro é o Fontecanese, que vem de um vinhedo mais alto, exposição sudeste, no centro da vinícola e é elaborado com a cabernet sauvignon.

Os crus mostram uma mudança no conceito de terroir na Itália?

Não estamos mudando o conceito de terroir. Mas queremos mostrar que para cada microzona que começamos a estudar temos um resultado diferente em maturação e aromas das uvas. O nosso trabalho é mostrar o conceito de terroir. E os clientes podem sentir esta diferença na taça.

Por que estão lançando cru apenas agora?

A gente precisava do envelhecimento das vinhas e isso leva tempo. É um projeto que precisamos ter muito foco e tem todo o potencial da família quer estar atrás deste projeto, o que é um pouco exaustivo. Também precisamos esperar uma boa safra, o que foi em 2019. O meu pai e eu queremos anunciar o conceito de terroir, acreditamos que um vinho que vem de uma parcela particular é único, é a expressão própria do terroir.

Fazendo um parêntese, como a relação com o seu pai, o Jacopo Biondi Santi?

Meu pai está com 73 anos e não viaja mais. Eu sempre recorro a ele pelo seu conhecimento, peço a sua opinião, mas a decisão é minha. A ideia de anunciar o conceito de terroir agora é nosso.

Por que gosta do terroir de Montepò?

Porque é único. Acreditamos que temos um projeto real, que poucos fazem. Montepò é uma terra particular, pela exposição, pela morfologia, pela região. Não temos nenhuma vinha ao nosso redor, nas propriedades vizinhas. Temos florestas, que criam um único ecossistema. Termos um terroir, que é único no mundo.

Esta é a primeira safra?

Sim, 2019 é a primeira safra. É a primeira vez que eu apresento este projeto. E queremos, com ele, mostrar uma nova visão do que a família quer fazer em Montepò. Nossa ideia é deixar o terroir falar. Apenas vinificamos o vinho e cada um reflete a sua microzona. Isso é o mais importante para a gente e para o nosso futuro.

Antes da criação dos crus, para onde iam estas uvas?

As uvas de sangiovese iam para Schidione [supertoscano elaborado com sangiovese, cabernet sauvignon e merlot] e Sassaloro. E a cabernet sauvignon ia para o Schidione. Agora, estamos plantando mais sangiovese. Temos 48,5 hectares em produção; nos últimos dois anos plantamos mais 5 hectares; e nos próximos dois anos vamos plantar mais 3,5 hectares. Montepò é uma propriedade com mais de 600 hectares.

Mas nem toda a área é boa para os vinhedos.

Estamos selecionando cada parcela para plantar. Mas temos ainda 10 hectares com o solo galestro, de exposição sul, para cultivar vinhas. Vamos plantar e ver o resultado. Estamos plantando apenas sangiovese grosso. Temos uma lacuna de produção de Sassaloro, precisamos de mais uvas. E preferimos sempre o terreno com o solo de galestro.

Em quais mercados foram lançados os três crus?

Na Inglaterra, mas foi um evento só para alguns negociantes, no Japão e agora no Brasil. Podemos dizer que o Brasil é o segundo mercado a ser lançado, já que na Inglaterra foi um evento bem pequeno.

Você esteve no Brasil no ano passado, por que vem tanto ao Brasil?

Porque é um mercado muito importante. O nosso tinto Sassaloro faz muito sucesso aqui e sabemos que temos de manter uma relação próxima com nosso importador (a Mistral) e nossos clientes.

Brasil é um grande mercado para o Castello di Montepó ou é um mercado potencial?

É um grande mercado e um potencial. Está entre os cinco maiores. Nosso primeiro mercado internacional é os Estados Unidos, o segundo é a Suíça, e o terceiro lugar está entre o Brasil e o Japão. Os dois brigam pela posição. E depois a Inglaterra.

Qual o posicionamento dos lançamentos?

Os crus são o topo da pirâmide, junto com o Schidione. Estes quatro são os vinhos ícones da vinícola. Abaixo temos o Sassaloro Oro. E temos o trabalho maior que é com o Sassaloro, que representa mais que 60% da produção.

As uvas são sempre cabernet sauvignon e sangiovese grosso?

Plantamos um pouco 85% é sangiovese da superfície. O restante está com cabernet e merlot.

Está estudando outras variedades?

Estamos, mas não posso falar agora. Falamos no futuro.

Tinta ou branca?

As duas.

Italianas?

Sim, muito italianas.

A Europa é definida como Velho Mundo, no dicionário do vinho. Foi lá que nasceu a viticultura como conhecemos hoje – antes, os vinhos eram elaborados em potes de barro e não há registros de como eram seus aromas e gostos, por exemplo. Ao longo dos séculos, os europeus, com foco nos franceses, foram descobrindo os seus vinhedos, definindo as melhores zonas e lapidando o conceito de cru – aquela parcela especial de vinhas, que resulta em brancos e tintos realmente especiais.

O conceito rompeu barreiras e chegou ao Novo Mundo, como são chamados os países não europeus que elaboram vinhos e que atualmente investem em conhecer os seus vinhedos e lançar vinhos de parcelas especiais. Mas, às vezes, o Velho Mundo surpreende com os seus novos crus, mostrando que, mesmo com toda esta história, ainda há muito para se conhecer dos vinhedos, usando a tecnologia como aliada.

OS TRÊS CRUS

O exemplo mais recente é a chegada ao Brasil dos três crus do Castello di Montepò, o projeto em Maremma, na Toscana, dos herdeiros de Ferruccio Biondi Santi. Os vinhos nasceram de um estudo mais profundo nos vinhedos, seja do uso de drones, seja da parceria com a universidade local e da consultoria de enólogos, que apontou pequenas zonas de qualidade superior. Em sua primeira safra e com preços bem salgados (R$ 1.658, cada garrafa, na Mistral), são os crus de Maceone, Poggio Ferro e Fontecanese.

Vinhos crus da Biondi Foto: Biondi

Os dois primeiros são elaborados apenas com o clone especial de sangiovese, o BBS11, que pertence à família Biondi Santi, e que deu origem aos primeiros Brunello di Montalcino, e o último, com cabernet sauvignon. Na propriedade (e também em várias vinícolas na Toscana são cultivadas as variedades francesas cabernet sauvignon e merlot, para elaborar os chamados supertoscanos).

VINHAS AO LADO DO CASTELO

Cada cru vem de uma pequena área de cerca de 1,5 hectare de vinhas, de solo de galestro, um tipo de argila-calcário, com muitos elementos minerais, do total de 55 hectares de vinhas cultivados na enorme propriedade (são mais de 600 hectares, incluindo o castelo medieval). “Foi preciso esperar as vinhas envelhecerem para desenvolver estes crus”, conta Tancredi Biondi Santi, da sétima geração da família, que veio ao Brasil lançar os três vinhos. Além do Brasil, esses vinhos especiais só foram lançados no Japão e na Inglaterra, e tem a venda restrita pelo pequeno volume de produção.

A propriedade, um castelo medieval, foi adquirido por Jacopo Biondi Santi, pai de Tancredi, no final dos anos 1980. Os vinhedos foram plantados principalmente com a sangiovesse grosso, que ocupa cerca de 85% das vinhas. As 15% restantes são plantas de cabernet sauvignon e merlot, como Tancredi conta na entrevista a seguir.

ENTREVISTA

Como começou este estudo de terroir?

Primeiro, agora a família Biondi Santi é uma vinícola focada no Castello di Montepò. Não estamos mais em Brunello ou em Bolgheri [regiões da Toscana, também famosas por seus vinhos]. Estamos 100% na vinícola em Maremma. E ficamos em uma zona particular de Maremma, que fica a 530 metros acima do nível do mar, próxima ao mar. O que faz o território similar a Bolgheri e Montancino. Mas Montepò vem sendo o foco da nossa família há 30 anos, com a produção de Sassaloro e de Morelino [dois tintos da vinícola] e, nos últimos anos, desenvolvemos uma visão muito particular de Montepò, do que podemos fazer aqui principalmente porque agora temos a maturidade das vinhas. E decidimos começar a parcelizar o vinhedo e fazer um estudo mais profundo do que o meu pai fez nos anos 1980 com as Universidades de Pisa e de Firenze, de entender o solo. Assim, entender as microzonas e refletir sobre elas virou um desafio. Estudamos a composição do solo, o substrato do solo, mas realmente estudamos as microzonas, que é a intersecção do solo com o clima.

No Brasil, chegaram os três crus do Castello di Montepò, o projeto em Maremma, na Toscana Foto: Biondi

Como é um estudo mais profundo do que o realizado por Jacopo Biondi Santi?

No final dos anos 1980, 30 e poucos anos atrás, a ideia era entender onde plantar os 55 hectares. Agora queremos nos aprofundar e entender o que cada microparcela reflete nos vinhos. Decidimos selecionar as três microzonas que nos pareciam mais interessante e vinificar separadamente. Este é um estudo mais profundo de analisar os dados, as características. No final, nasceram estes três vinhos.

As uvas são melhores nestas microzonas?

Não. Não é uma questão da variedade, mas da microzona. Cientificamente sabemos que cada microzona vai ter um resultado único nas uvas e, assim, nos vinhos, e queremos mostrar o resultado deste estudo. Começamos a vinificar separadamente. São cerca de 1,5 hectare de cada cru, com um pouco menos de 3 mil garrafas produzidas de cada um. A distribuição é muito pequena, está sempre alocada e o Brasil tem uma boa locação.

De quais microzonas vem cada vinho?

Eles estão em diferentes partes do vinhedo. Maceone é uma parcela muito bonita, localizada no norte do nosso terreno, com exposição leste, e é a parte mais baixa de todos os crus, é um tinto intenso e profundo. O segundo é a Poggio Ferro, os dois são 100% sangiovese grosso, com o nosso clone BBS11. Fica ao sul da vinícola, com exposição sul. Tem mais complexidade do galestro, é mais mineral, e o vinho mostra o estilo mais clássico do BBS11. O terceiro é o Fontecanese, que vem de um vinhedo mais alto, exposição sudeste, no centro da vinícola e é elaborado com a cabernet sauvignon.

Os crus mostram uma mudança no conceito de terroir na Itália?

Não estamos mudando o conceito de terroir. Mas queremos mostrar que para cada microzona que começamos a estudar temos um resultado diferente em maturação e aromas das uvas. O nosso trabalho é mostrar o conceito de terroir. E os clientes podem sentir esta diferença na taça.

Por que estão lançando cru apenas agora?

A gente precisava do envelhecimento das vinhas e isso leva tempo. É um projeto que precisamos ter muito foco e tem todo o potencial da família quer estar atrás deste projeto, o que é um pouco exaustivo. Também precisamos esperar uma boa safra, o que foi em 2019. O meu pai e eu queremos anunciar o conceito de terroir, acreditamos que um vinho que vem de uma parcela particular é único, é a expressão própria do terroir.

Fazendo um parêntese, como a relação com o seu pai, o Jacopo Biondi Santi?

Meu pai está com 73 anos e não viaja mais. Eu sempre recorro a ele pelo seu conhecimento, peço a sua opinião, mas a decisão é minha. A ideia de anunciar o conceito de terroir agora é nosso.

Por que gosta do terroir de Montepò?

Porque é único. Acreditamos que temos um projeto real, que poucos fazem. Montepò é uma terra particular, pela exposição, pela morfologia, pela região. Não temos nenhuma vinha ao nosso redor, nas propriedades vizinhas. Temos florestas, que criam um único ecossistema. Termos um terroir, que é único no mundo.

Esta é a primeira safra?

Sim, 2019 é a primeira safra. É a primeira vez que eu apresento este projeto. E queremos, com ele, mostrar uma nova visão do que a família quer fazer em Montepò. Nossa ideia é deixar o terroir falar. Apenas vinificamos o vinho e cada um reflete a sua microzona. Isso é o mais importante para a gente e para o nosso futuro.

Antes da criação dos crus, para onde iam estas uvas?

As uvas de sangiovese iam para Schidione [supertoscano elaborado com sangiovese, cabernet sauvignon e merlot] e Sassaloro. E a cabernet sauvignon ia para o Schidione. Agora, estamos plantando mais sangiovese. Temos 48,5 hectares em produção; nos últimos dois anos plantamos mais 5 hectares; e nos próximos dois anos vamos plantar mais 3,5 hectares. Montepò é uma propriedade com mais de 600 hectares.

Mas nem toda a área é boa para os vinhedos.

Estamos selecionando cada parcela para plantar. Mas temos ainda 10 hectares com o solo galestro, de exposição sul, para cultivar vinhas. Vamos plantar e ver o resultado. Estamos plantando apenas sangiovese grosso. Temos uma lacuna de produção de Sassaloro, precisamos de mais uvas. E preferimos sempre o terreno com o solo de galestro.

Em quais mercados foram lançados os três crus?

Na Inglaterra, mas foi um evento só para alguns negociantes, no Japão e agora no Brasil. Podemos dizer que o Brasil é o segundo mercado a ser lançado, já que na Inglaterra foi um evento bem pequeno.

Você esteve no Brasil no ano passado, por que vem tanto ao Brasil?

Porque é um mercado muito importante. O nosso tinto Sassaloro faz muito sucesso aqui e sabemos que temos de manter uma relação próxima com nosso importador (a Mistral) e nossos clientes.

Brasil é um grande mercado para o Castello di Montepó ou é um mercado potencial?

É um grande mercado e um potencial. Está entre os cinco maiores. Nosso primeiro mercado internacional é os Estados Unidos, o segundo é a Suíça, e o terceiro lugar está entre o Brasil e o Japão. Os dois brigam pela posição. E depois a Inglaterra.

Qual o posicionamento dos lançamentos?

Os crus são o topo da pirâmide, junto com o Schidione. Estes quatro são os vinhos ícones da vinícola. Abaixo temos o Sassaloro Oro. E temos o trabalho maior que é com o Sassaloro, que representa mais que 60% da produção.

As uvas são sempre cabernet sauvignon e sangiovese grosso?

Plantamos um pouco 85% é sangiovese da superfície. O restante está com cabernet e merlot.

Está estudando outras variedades?

Estamos, mas não posso falar agora. Falamos no futuro.

Tinta ou branca?

As duas.

Italianas?

Sim, muito italianas.

A Europa é definida como Velho Mundo, no dicionário do vinho. Foi lá que nasceu a viticultura como conhecemos hoje – antes, os vinhos eram elaborados em potes de barro e não há registros de como eram seus aromas e gostos, por exemplo. Ao longo dos séculos, os europeus, com foco nos franceses, foram descobrindo os seus vinhedos, definindo as melhores zonas e lapidando o conceito de cru – aquela parcela especial de vinhas, que resulta em brancos e tintos realmente especiais.

O conceito rompeu barreiras e chegou ao Novo Mundo, como são chamados os países não europeus que elaboram vinhos e que atualmente investem em conhecer os seus vinhedos e lançar vinhos de parcelas especiais. Mas, às vezes, o Velho Mundo surpreende com os seus novos crus, mostrando que, mesmo com toda esta história, ainda há muito para se conhecer dos vinhedos, usando a tecnologia como aliada.

OS TRÊS CRUS

O exemplo mais recente é a chegada ao Brasil dos três crus do Castello di Montepò, o projeto em Maremma, na Toscana, dos herdeiros de Ferruccio Biondi Santi. Os vinhos nasceram de um estudo mais profundo nos vinhedos, seja do uso de drones, seja da parceria com a universidade local e da consultoria de enólogos, que apontou pequenas zonas de qualidade superior. Em sua primeira safra e com preços bem salgados (R$ 1.658, cada garrafa, na Mistral), são os crus de Maceone, Poggio Ferro e Fontecanese.

Vinhos crus da Biondi Foto: Biondi

Os dois primeiros são elaborados apenas com o clone especial de sangiovese, o BBS11, que pertence à família Biondi Santi, e que deu origem aos primeiros Brunello di Montalcino, e o último, com cabernet sauvignon. Na propriedade (e também em várias vinícolas na Toscana são cultivadas as variedades francesas cabernet sauvignon e merlot, para elaborar os chamados supertoscanos).

VINHAS AO LADO DO CASTELO

Cada cru vem de uma pequena área de cerca de 1,5 hectare de vinhas, de solo de galestro, um tipo de argila-calcário, com muitos elementos minerais, do total de 55 hectares de vinhas cultivados na enorme propriedade (são mais de 600 hectares, incluindo o castelo medieval). “Foi preciso esperar as vinhas envelhecerem para desenvolver estes crus”, conta Tancredi Biondi Santi, da sétima geração da família, que veio ao Brasil lançar os três vinhos. Além do Brasil, esses vinhos especiais só foram lançados no Japão e na Inglaterra, e tem a venda restrita pelo pequeno volume de produção.

A propriedade, um castelo medieval, foi adquirido por Jacopo Biondi Santi, pai de Tancredi, no final dos anos 1980. Os vinhedos foram plantados principalmente com a sangiovesse grosso, que ocupa cerca de 85% das vinhas. As 15% restantes são plantas de cabernet sauvignon e merlot, como Tancredi conta na entrevista a seguir.

ENTREVISTA

Como começou este estudo de terroir?

Primeiro, agora a família Biondi Santi é uma vinícola focada no Castello di Montepò. Não estamos mais em Brunello ou em Bolgheri [regiões da Toscana, também famosas por seus vinhos]. Estamos 100% na vinícola em Maremma. E ficamos em uma zona particular de Maremma, que fica a 530 metros acima do nível do mar, próxima ao mar. O que faz o território similar a Bolgheri e Montancino. Mas Montepò vem sendo o foco da nossa família há 30 anos, com a produção de Sassaloro e de Morelino [dois tintos da vinícola] e, nos últimos anos, desenvolvemos uma visão muito particular de Montepò, do que podemos fazer aqui principalmente porque agora temos a maturidade das vinhas. E decidimos começar a parcelizar o vinhedo e fazer um estudo mais profundo do que o meu pai fez nos anos 1980 com as Universidades de Pisa e de Firenze, de entender o solo. Assim, entender as microzonas e refletir sobre elas virou um desafio. Estudamos a composição do solo, o substrato do solo, mas realmente estudamos as microzonas, que é a intersecção do solo com o clima.

No Brasil, chegaram os três crus do Castello di Montepò, o projeto em Maremma, na Toscana Foto: Biondi

Como é um estudo mais profundo do que o realizado por Jacopo Biondi Santi?

No final dos anos 1980, 30 e poucos anos atrás, a ideia era entender onde plantar os 55 hectares. Agora queremos nos aprofundar e entender o que cada microparcela reflete nos vinhos. Decidimos selecionar as três microzonas que nos pareciam mais interessante e vinificar separadamente. Este é um estudo mais profundo de analisar os dados, as características. No final, nasceram estes três vinhos.

As uvas são melhores nestas microzonas?

Não. Não é uma questão da variedade, mas da microzona. Cientificamente sabemos que cada microzona vai ter um resultado único nas uvas e, assim, nos vinhos, e queremos mostrar o resultado deste estudo. Começamos a vinificar separadamente. São cerca de 1,5 hectare de cada cru, com um pouco menos de 3 mil garrafas produzidas de cada um. A distribuição é muito pequena, está sempre alocada e o Brasil tem uma boa locação.

De quais microzonas vem cada vinho?

Eles estão em diferentes partes do vinhedo. Maceone é uma parcela muito bonita, localizada no norte do nosso terreno, com exposição leste, e é a parte mais baixa de todos os crus, é um tinto intenso e profundo. O segundo é a Poggio Ferro, os dois são 100% sangiovese grosso, com o nosso clone BBS11. Fica ao sul da vinícola, com exposição sul. Tem mais complexidade do galestro, é mais mineral, e o vinho mostra o estilo mais clássico do BBS11. O terceiro é o Fontecanese, que vem de um vinhedo mais alto, exposição sudeste, no centro da vinícola e é elaborado com a cabernet sauvignon.

Os crus mostram uma mudança no conceito de terroir na Itália?

Não estamos mudando o conceito de terroir. Mas queremos mostrar que para cada microzona que começamos a estudar temos um resultado diferente em maturação e aromas das uvas. O nosso trabalho é mostrar o conceito de terroir. E os clientes podem sentir esta diferença na taça.

Por que estão lançando cru apenas agora?

A gente precisava do envelhecimento das vinhas e isso leva tempo. É um projeto que precisamos ter muito foco e tem todo o potencial da família quer estar atrás deste projeto, o que é um pouco exaustivo. Também precisamos esperar uma boa safra, o que foi em 2019. O meu pai e eu queremos anunciar o conceito de terroir, acreditamos que um vinho que vem de uma parcela particular é único, é a expressão própria do terroir.

Fazendo um parêntese, como a relação com o seu pai, o Jacopo Biondi Santi?

Meu pai está com 73 anos e não viaja mais. Eu sempre recorro a ele pelo seu conhecimento, peço a sua opinião, mas a decisão é minha. A ideia de anunciar o conceito de terroir agora é nosso.

Por que gosta do terroir de Montepò?

Porque é único. Acreditamos que temos um projeto real, que poucos fazem. Montepò é uma terra particular, pela exposição, pela morfologia, pela região. Não temos nenhuma vinha ao nosso redor, nas propriedades vizinhas. Temos florestas, que criam um único ecossistema. Termos um terroir, que é único no mundo.

Esta é a primeira safra?

Sim, 2019 é a primeira safra. É a primeira vez que eu apresento este projeto. E queremos, com ele, mostrar uma nova visão do que a família quer fazer em Montepò. Nossa ideia é deixar o terroir falar. Apenas vinificamos o vinho e cada um reflete a sua microzona. Isso é o mais importante para a gente e para o nosso futuro.

Antes da criação dos crus, para onde iam estas uvas?

As uvas de sangiovese iam para Schidione [supertoscano elaborado com sangiovese, cabernet sauvignon e merlot] e Sassaloro. E a cabernet sauvignon ia para o Schidione. Agora, estamos plantando mais sangiovese. Temos 48,5 hectares em produção; nos últimos dois anos plantamos mais 5 hectares; e nos próximos dois anos vamos plantar mais 3,5 hectares. Montepò é uma propriedade com mais de 600 hectares.

Mas nem toda a área é boa para os vinhedos.

Estamos selecionando cada parcela para plantar. Mas temos ainda 10 hectares com o solo galestro, de exposição sul, para cultivar vinhas. Vamos plantar e ver o resultado. Estamos plantando apenas sangiovese grosso. Temos uma lacuna de produção de Sassaloro, precisamos de mais uvas. E preferimos sempre o terreno com o solo de galestro.

Em quais mercados foram lançados os três crus?

Na Inglaterra, mas foi um evento só para alguns negociantes, no Japão e agora no Brasil. Podemos dizer que o Brasil é o segundo mercado a ser lançado, já que na Inglaterra foi um evento bem pequeno.

Você esteve no Brasil no ano passado, por que vem tanto ao Brasil?

Porque é um mercado muito importante. O nosso tinto Sassaloro faz muito sucesso aqui e sabemos que temos de manter uma relação próxima com nosso importador (a Mistral) e nossos clientes.

Brasil é um grande mercado para o Castello di Montepó ou é um mercado potencial?

É um grande mercado e um potencial. Está entre os cinco maiores. Nosso primeiro mercado internacional é os Estados Unidos, o segundo é a Suíça, e o terceiro lugar está entre o Brasil e o Japão. Os dois brigam pela posição. E depois a Inglaterra.

Qual o posicionamento dos lançamentos?

Os crus são o topo da pirâmide, junto com o Schidione. Estes quatro são os vinhos ícones da vinícola. Abaixo temos o Sassaloro Oro. E temos o trabalho maior que é com o Sassaloro, que representa mais que 60% da produção.

As uvas são sempre cabernet sauvignon e sangiovese grosso?

Plantamos um pouco 85% é sangiovese da superfície. O restante está com cabernet e merlot.

Está estudando outras variedades?

Estamos, mas não posso falar agora. Falamos no futuro.

Tinta ou branca?

As duas.

Italianas?

Sim, muito italianas.

A Europa é definida como Velho Mundo, no dicionário do vinho. Foi lá que nasceu a viticultura como conhecemos hoje – antes, os vinhos eram elaborados em potes de barro e não há registros de como eram seus aromas e gostos, por exemplo. Ao longo dos séculos, os europeus, com foco nos franceses, foram descobrindo os seus vinhedos, definindo as melhores zonas e lapidando o conceito de cru – aquela parcela especial de vinhas, que resulta em brancos e tintos realmente especiais.

O conceito rompeu barreiras e chegou ao Novo Mundo, como são chamados os países não europeus que elaboram vinhos e que atualmente investem em conhecer os seus vinhedos e lançar vinhos de parcelas especiais. Mas, às vezes, o Velho Mundo surpreende com os seus novos crus, mostrando que, mesmo com toda esta história, ainda há muito para se conhecer dos vinhedos, usando a tecnologia como aliada.

OS TRÊS CRUS

O exemplo mais recente é a chegada ao Brasil dos três crus do Castello di Montepò, o projeto em Maremma, na Toscana, dos herdeiros de Ferruccio Biondi Santi. Os vinhos nasceram de um estudo mais profundo nos vinhedos, seja do uso de drones, seja da parceria com a universidade local e da consultoria de enólogos, que apontou pequenas zonas de qualidade superior. Em sua primeira safra e com preços bem salgados (R$ 1.658, cada garrafa, na Mistral), são os crus de Maceone, Poggio Ferro e Fontecanese.

Vinhos crus da Biondi Foto: Biondi

Os dois primeiros são elaborados apenas com o clone especial de sangiovese, o BBS11, que pertence à família Biondi Santi, e que deu origem aos primeiros Brunello di Montalcino, e o último, com cabernet sauvignon. Na propriedade (e também em várias vinícolas na Toscana são cultivadas as variedades francesas cabernet sauvignon e merlot, para elaborar os chamados supertoscanos).

VINHAS AO LADO DO CASTELO

Cada cru vem de uma pequena área de cerca de 1,5 hectare de vinhas, de solo de galestro, um tipo de argila-calcário, com muitos elementos minerais, do total de 55 hectares de vinhas cultivados na enorme propriedade (são mais de 600 hectares, incluindo o castelo medieval). “Foi preciso esperar as vinhas envelhecerem para desenvolver estes crus”, conta Tancredi Biondi Santi, da sétima geração da família, que veio ao Brasil lançar os três vinhos. Além do Brasil, esses vinhos especiais só foram lançados no Japão e na Inglaterra, e tem a venda restrita pelo pequeno volume de produção.

A propriedade, um castelo medieval, foi adquirido por Jacopo Biondi Santi, pai de Tancredi, no final dos anos 1980. Os vinhedos foram plantados principalmente com a sangiovesse grosso, que ocupa cerca de 85% das vinhas. As 15% restantes são plantas de cabernet sauvignon e merlot, como Tancredi conta na entrevista a seguir.

ENTREVISTA

Como começou este estudo de terroir?

Primeiro, agora a família Biondi Santi é uma vinícola focada no Castello di Montepò. Não estamos mais em Brunello ou em Bolgheri [regiões da Toscana, também famosas por seus vinhos]. Estamos 100% na vinícola em Maremma. E ficamos em uma zona particular de Maremma, que fica a 530 metros acima do nível do mar, próxima ao mar. O que faz o território similar a Bolgheri e Montancino. Mas Montepò vem sendo o foco da nossa família há 30 anos, com a produção de Sassaloro e de Morelino [dois tintos da vinícola] e, nos últimos anos, desenvolvemos uma visão muito particular de Montepò, do que podemos fazer aqui principalmente porque agora temos a maturidade das vinhas. E decidimos começar a parcelizar o vinhedo e fazer um estudo mais profundo do que o meu pai fez nos anos 1980 com as Universidades de Pisa e de Firenze, de entender o solo. Assim, entender as microzonas e refletir sobre elas virou um desafio. Estudamos a composição do solo, o substrato do solo, mas realmente estudamos as microzonas, que é a intersecção do solo com o clima.

No Brasil, chegaram os três crus do Castello di Montepò, o projeto em Maremma, na Toscana Foto: Biondi

Como é um estudo mais profundo do que o realizado por Jacopo Biondi Santi?

No final dos anos 1980, 30 e poucos anos atrás, a ideia era entender onde plantar os 55 hectares. Agora queremos nos aprofundar e entender o que cada microparcela reflete nos vinhos. Decidimos selecionar as três microzonas que nos pareciam mais interessante e vinificar separadamente. Este é um estudo mais profundo de analisar os dados, as características. No final, nasceram estes três vinhos.

As uvas são melhores nestas microzonas?

Não. Não é uma questão da variedade, mas da microzona. Cientificamente sabemos que cada microzona vai ter um resultado único nas uvas e, assim, nos vinhos, e queremos mostrar o resultado deste estudo. Começamos a vinificar separadamente. São cerca de 1,5 hectare de cada cru, com um pouco menos de 3 mil garrafas produzidas de cada um. A distribuição é muito pequena, está sempre alocada e o Brasil tem uma boa locação.

De quais microzonas vem cada vinho?

Eles estão em diferentes partes do vinhedo. Maceone é uma parcela muito bonita, localizada no norte do nosso terreno, com exposição leste, e é a parte mais baixa de todos os crus, é um tinto intenso e profundo. O segundo é a Poggio Ferro, os dois são 100% sangiovese grosso, com o nosso clone BBS11. Fica ao sul da vinícola, com exposição sul. Tem mais complexidade do galestro, é mais mineral, e o vinho mostra o estilo mais clássico do BBS11. O terceiro é o Fontecanese, que vem de um vinhedo mais alto, exposição sudeste, no centro da vinícola e é elaborado com a cabernet sauvignon.

Os crus mostram uma mudança no conceito de terroir na Itália?

Não estamos mudando o conceito de terroir. Mas queremos mostrar que para cada microzona que começamos a estudar temos um resultado diferente em maturação e aromas das uvas. O nosso trabalho é mostrar o conceito de terroir. E os clientes podem sentir esta diferença na taça.

Por que estão lançando cru apenas agora?

A gente precisava do envelhecimento das vinhas e isso leva tempo. É um projeto que precisamos ter muito foco e tem todo o potencial da família quer estar atrás deste projeto, o que é um pouco exaustivo. Também precisamos esperar uma boa safra, o que foi em 2019. O meu pai e eu queremos anunciar o conceito de terroir, acreditamos que um vinho que vem de uma parcela particular é único, é a expressão própria do terroir.

Fazendo um parêntese, como a relação com o seu pai, o Jacopo Biondi Santi?

Meu pai está com 73 anos e não viaja mais. Eu sempre recorro a ele pelo seu conhecimento, peço a sua opinião, mas a decisão é minha. A ideia de anunciar o conceito de terroir agora é nosso.

Por que gosta do terroir de Montepò?

Porque é único. Acreditamos que temos um projeto real, que poucos fazem. Montepò é uma terra particular, pela exposição, pela morfologia, pela região. Não temos nenhuma vinha ao nosso redor, nas propriedades vizinhas. Temos florestas, que criam um único ecossistema. Termos um terroir, que é único no mundo.

Esta é a primeira safra?

Sim, 2019 é a primeira safra. É a primeira vez que eu apresento este projeto. E queremos, com ele, mostrar uma nova visão do que a família quer fazer em Montepò. Nossa ideia é deixar o terroir falar. Apenas vinificamos o vinho e cada um reflete a sua microzona. Isso é o mais importante para a gente e para o nosso futuro.

Antes da criação dos crus, para onde iam estas uvas?

As uvas de sangiovese iam para Schidione [supertoscano elaborado com sangiovese, cabernet sauvignon e merlot] e Sassaloro. E a cabernet sauvignon ia para o Schidione. Agora, estamos plantando mais sangiovese. Temos 48,5 hectares em produção; nos últimos dois anos plantamos mais 5 hectares; e nos próximos dois anos vamos plantar mais 3,5 hectares. Montepò é uma propriedade com mais de 600 hectares.

Mas nem toda a área é boa para os vinhedos.

Estamos selecionando cada parcela para plantar. Mas temos ainda 10 hectares com o solo galestro, de exposição sul, para cultivar vinhas. Vamos plantar e ver o resultado. Estamos plantando apenas sangiovese grosso. Temos uma lacuna de produção de Sassaloro, precisamos de mais uvas. E preferimos sempre o terreno com o solo de galestro.

Em quais mercados foram lançados os três crus?

Na Inglaterra, mas foi um evento só para alguns negociantes, no Japão e agora no Brasil. Podemos dizer que o Brasil é o segundo mercado a ser lançado, já que na Inglaterra foi um evento bem pequeno.

Você esteve no Brasil no ano passado, por que vem tanto ao Brasil?

Porque é um mercado muito importante. O nosso tinto Sassaloro faz muito sucesso aqui e sabemos que temos de manter uma relação próxima com nosso importador (a Mistral) e nossos clientes.

Brasil é um grande mercado para o Castello di Montepó ou é um mercado potencial?

É um grande mercado e um potencial. Está entre os cinco maiores. Nosso primeiro mercado internacional é os Estados Unidos, o segundo é a Suíça, e o terceiro lugar está entre o Brasil e o Japão. Os dois brigam pela posição. E depois a Inglaterra.

Qual o posicionamento dos lançamentos?

Os crus são o topo da pirâmide, junto com o Schidione. Estes quatro são os vinhos ícones da vinícola. Abaixo temos o Sassaloro Oro. E temos o trabalho maior que é com o Sassaloro, que representa mais que 60% da produção.

As uvas são sempre cabernet sauvignon e sangiovese grosso?

Plantamos um pouco 85% é sangiovese da superfície. O restante está com cabernet e merlot.

Está estudando outras variedades?

Estamos, mas não posso falar agora. Falamos no futuro.

Tinta ou branca?

As duas.

Italianas?

Sim, muito italianas.

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