Suzana Barelli

Após denúncia de trabalho análogo à escravidão, como fica a imagem do vinho brasileiro


As notícias de como os trabalhadores eram tratados teve forte impacto entre os consumidores e deve respingar na imagem das vinícolas gaúchas e não apenas na Aurora, Garibaldi e Salton

Por Suzana Barelli
Atualização:

A informação de que o supermercado carioca Zona Sul retirou as garrafas da vinícola Aurora de suas gôndolas dá a exata dimensão do que se tornou o mundo do vinho depois das denúncias de trabalho análogo à escravidão ligadas a três vinícolas gaúchas. Há dez dias, 207 trabalhadores foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e do Emprego, pela Polícia Federal e pela Polícia Rodoviária Federal, depois da informação de que eram mantidos em situações sub-humanas pela Fénix Serviços Administrativos em um alojamento na Serra Gaúcha. Recrutados na Bahia por esta empresa de terceirização de funcionários, eles trabalhavam nas vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi durante a safra, descarregando caminhões de uva.

Homens em situação análoga à escravidão em vinícolas são acolhidos em ginásio da prefeitura de Bento Gonçalves (RS). Foto: Polícia Rodoviária Federal-RS/Divulgação

Com 45 lojas, o Zona Sul tomou a decisão do boicote após clientes da loja no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro, revoltarem-se ao ver as garrafas da Aurora as gôndolas. “Não podemos generalizar com todas as vinícolas gaúchas, mas não podemos estar com os produtos no supermercado como se estivéssemos apoiando estas práticas”, afirma o Dionísio Chaves, sommelier consultor da rede. A decisão foi comunicada à Aurora e o supermercado não divulga a quantidade de garrafas devolvidas.

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Ações insuficientes

Desde a divulgação de como esses trabalhadores eram tratados, inclusive com o uso de spray de pimenta quando desobedeciam às ordens e sob a ameaça de ter de pagar o valor da passagem para a Bahia (na faixa dos R$ 1.600) se faltassem um dia no trabalho, as três vinícolas gaúchas patinam em suas ações. Primeiro divulgaram comunicados lamentando o ocorrido e informando que desconheciam os maus-tratos pelos quais passavam os funcionários fora do seu horário de trabalho. Depois, com a forte repercussão, as três divulgaram novos comunicados, destacando a sua preocupação com o ocorrido, o apoio aos trabalhadores e as ações que estão tomando para que situações como esta não se repitam. E já participaram da primeira audiência com o Ministério Público do Trabalho, que agora apura o caso.

Mas estas ações não têm se mostrado suficientes. Tanto que na última quinta-feira, uma comitiva com o prefeito de Bento Gonçalves e representantes do setor do vinho gaúcho se reuniu em Porto Alegre com diversos secretários de estado. A pauta: encontrar uma solução para a contratação de trabalhadores temporários. A alegação das empresas é que, com a legislação atual, a contratação de funcionários apenas no período da safra é um custo muito alto.

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Os danos na imagem do vinho

No setor, se pergunta como empresas do porte das três – juntas, elas faturam mais de R$ 2 bilhões por ano – não tinham políticas internas que impedissem a contratação de empresas terceirizadas que utilizam trabalho escravo ou infantil. E a questão que se coloca é: qual o dano para a imagem do vinho brasileiro?

Trabalhadores eram mantidos em situação análoga à escravidão em alojamento em Bento Gonçalves (RS). Foto: Polícia Rodoviária Federal-RS/Divulgação
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A decisão da rede Zona Sul dá uma pista. E há o risco iminente de tudo isso respingar não apenas nas três vinícolas, mas em todas as empresas gaúchas do setor. Isso sem falar no mercado internacional, já que a Salton lidera as exportações de vinho e, principalmente, espumantes.

E isso ocorre logo depois de o vinho brasileiro ter rompido barreiras de preconceito com a bebida e batido recordes de venda – com a pandemia, em suas casas, muitos consumidores provaram o vinho brasileiro e se tornaram clientes.

A verba do Fundovitis

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Agora as notícias do trabalho análogo à escravidão podem colocar tudo isso a perder. Uma esperança para o setor é que saia do papel a verba do Fundovitis, formado por recursos originários do ICMS que as vinícolas pagam na compra da uva. O montante, estimado em cerca de R$ 12 milhões anuais, deve ser usado na promoção do consumo da uva e de seus derivados, entre outros campos.

Mas antes de qualquer campanha é preciso garantir que nenhuma prática análoga à escravidão se repita.

A informação de que o supermercado carioca Zona Sul retirou as garrafas da vinícola Aurora de suas gôndolas dá a exata dimensão do que se tornou o mundo do vinho depois das denúncias de trabalho análogo à escravidão ligadas a três vinícolas gaúchas. Há dez dias, 207 trabalhadores foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e do Emprego, pela Polícia Federal e pela Polícia Rodoviária Federal, depois da informação de que eram mantidos em situações sub-humanas pela Fénix Serviços Administrativos em um alojamento na Serra Gaúcha. Recrutados na Bahia por esta empresa de terceirização de funcionários, eles trabalhavam nas vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi durante a safra, descarregando caminhões de uva.

Homens em situação análoga à escravidão em vinícolas são acolhidos em ginásio da prefeitura de Bento Gonçalves (RS). Foto: Polícia Rodoviária Federal-RS/Divulgação

Com 45 lojas, o Zona Sul tomou a decisão do boicote após clientes da loja no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro, revoltarem-se ao ver as garrafas da Aurora as gôndolas. “Não podemos generalizar com todas as vinícolas gaúchas, mas não podemos estar com os produtos no supermercado como se estivéssemos apoiando estas práticas”, afirma o Dionísio Chaves, sommelier consultor da rede. A decisão foi comunicada à Aurora e o supermercado não divulga a quantidade de garrafas devolvidas.

Ações insuficientes

Desde a divulgação de como esses trabalhadores eram tratados, inclusive com o uso de spray de pimenta quando desobedeciam às ordens e sob a ameaça de ter de pagar o valor da passagem para a Bahia (na faixa dos R$ 1.600) se faltassem um dia no trabalho, as três vinícolas gaúchas patinam em suas ações. Primeiro divulgaram comunicados lamentando o ocorrido e informando que desconheciam os maus-tratos pelos quais passavam os funcionários fora do seu horário de trabalho. Depois, com a forte repercussão, as três divulgaram novos comunicados, destacando a sua preocupação com o ocorrido, o apoio aos trabalhadores e as ações que estão tomando para que situações como esta não se repitam. E já participaram da primeira audiência com o Ministério Público do Trabalho, que agora apura o caso.

Mas estas ações não têm se mostrado suficientes. Tanto que na última quinta-feira, uma comitiva com o prefeito de Bento Gonçalves e representantes do setor do vinho gaúcho se reuniu em Porto Alegre com diversos secretários de estado. A pauta: encontrar uma solução para a contratação de trabalhadores temporários. A alegação das empresas é que, com a legislação atual, a contratação de funcionários apenas no período da safra é um custo muito alto.

Os danos na imagem do vinho

No setor, se pergunta como empresas do porte das três – juntas, elas faturam mais de R$ 2 bilhões por ano – não tinham políticas internas que impedissem a contratação de empresas terceirizadas que utilizam trabalho escravo ou infantil. E a questão que se coloca é: qual o dano para a imagem do vinho brasileiro?

Trabalhadores eram mantidos em situação análoga à escravidão em alojamento em Bento Gonçalves (RS). Foto: Polícia Rodoviária Federal-RS/Divulgação

A decisão da rede Zona Sul dá uma pista. E há o risco iminente de tudo isso respingar não apenas nas três vinícolas, mas em todas as empresas gaúchas do setor. Isso sem falar no mercado internacional, já que a Salton lidera as exportações de vinho e, principalmente, espumantes.

E isso ocorre logo depois de o vinho brasileiro ter rompido barreiras de preconceito com a bebida e batido recordes de venda – com a pandemia, em suas casas, muitos consumidores provaram o vinho brasileiro e se tornaram clientes.

A verba do Fundovitis

Agora as notícias do trabalho análogo à escravidão podem colocar tudo isso a perder. Uma esperança para o setor é que saia do papel a verba do Fundovitis, formado por recursos originários do ICMS que as vinícolas pagam na compra da uva. O montante, estimado em cerca de R$ 12 milhões anuais, deve ser usado na promoção do consumo da uva e de seus derivados, entre outros campos.

Mas antes de qualquer campanha é preciso garantir que nenhuma prática análoga à escravidão se repita.

A informação de que o supermercado carioca Zona Sul retirou as garrafas da vinícola Aurora de suas gôndolas dá a exata dimensão do que se tornou o mundo do vinho depois das denúncias de trabalho análogo à escravidão ligadas a três vinícolas gaúchas. Há dez dias, 207 trabalhadores foram resgatados pelo Ministério do Trabalho e do Emprego, pela Polícia Federal e pela Polícia Rodoviária Federal, depois da informação de que eram mantidos em situações sub-humanas pela Fénix Serviços Administrativos em um alojamento na Serra Gaúcha. Recrutados na Bahia por esta empresa de terceirização de funcionários, eles trabalhavam nas vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi durante a safra, descarregando caminhões de uva.

Homens em situação análoga à escravidão em vinícolas são acolhidos em ginásio da prefeitura de Bento Gonçalves (RS). Foto: Polícia Rodoviária Federal-RS/Divulgação

Com 45 lojas, o Zona Sul tomou a decisão do boicote após clientes da loja no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro, revoltarem-se ao ver as garrafas da Aurora as gôndolas. “Não podemos generalizar com todas as vinícolas gaúchas, mas não podemos estar com os produtos no supermercado como se estivéssemos apoiando estas práticas”, afirma o Dionísio Chaves, sommelier consultor da rede. A decisão foi comunicada à Aurora e o supermercado não divulga a quantidade de garrafas devolvidas.

Ações insuficientes

Desde a divulgação de como esses trabalhadores eram tratados, inclusive com o uso de spray de pimenta quando desobedeciam às ordens e sob a ameaça de ter de pagar o valor da passagem para a Bahia (na faixa dos R$ 1.600) se faltassem um dia no trabalho, as três vinícolas gaúchas patinam em suas ações. Primeiro divulgaram comunicados lamentando o ocorrido e informando que desconheciam os maus-tratos pelos quais passavam os funcionários fora do seu horário de trabalho. Depois, com a forte repercussão, as três divulgaram novos comunicados, destacando a sua preocupação com o ocorrido, o apoio aos trabalhadores e as ações que estão tomando para que situações como esta não se repitam. E já participaram da primeira audiência com o Ministério Público do Trabalho, que agora apura o caso.

Mas estas ações não têm se mostrado suficientes. Tanto que na última quinta-feira, uma comitiva com o prefeito de Bento Gonçalves e representantes do setor do vinho gaúcho se reuniu em Porto Alegre com diversos secretários de estado. A pauta: encontrar uma solução para a contratação de trabalhadores temporários. A alegação das empresas é que, com a legislação atual, a contratação de funcionários apenas no período da safra é um custo muito alto.

Os danos na imagem do vinho

No setor, se pergunta como empresas do porte das três – juntas, elas faturam mais de R$ 2 bilhões por ano – não tinham políticas internas que impedissem a contratação de empresas terceirizadas que utilizam trabalho escravo ou infantil. E a questão que se coloca é: qual o dano para a imagem do vinho brasileiro?

Trabalhadores eram mantidos em situação análoga à escravidão em alojamento em Bento Gonçalves (RS). Foto: Polícia Rodoviária Federal-RS/Divulgação

A decisão da rede Zona Sul dá uma pista. E há o risco iminente de tudo isso respingar não apenas nas três vinícolas, mas em todas as empresas gaúchas do setor. Isso sem falar no mercado internacional, já que a Salton lidera as exportações de vinho e, principalmente, espumantes.

E isso ocorre logo depois de o vinho brasileiro ter rompido barreiras de preconceito com a bebida e batido recordes de venda – com a pandemia, em suas casas, muitos consumidores provaram o vinho brasileiro e se tornaram clientes.

A verba do Fundovitis

Agora as notícias do trabalho análogo à escravidão podem colocar tudo isso a perder. Uma esperança para o setor é que saia do papel a verba do Fundovitis, formado por recursos originários do ICMS que as vinícolas pagam na compra da uva. O montante, estimado em cerca de R$ 12 milhões anuais, deve ser usado na promoção do consumo da uva e de seus derivados, entre outros campos.

Mas antes de qualquer campanha é preciso garantir que nenhuma prática análoga à escravidão se repita.

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