O tinto 10 Lotes D.O.V.V Merlot é o primeiro projeto conjunto dos produtores de vinho da denominação de origem Vale dos Vinhedos. Recém-lançado, é um blend de nove barricas de merlot, das safras de 2022 e de 2020, e uma barrica de cabernet sauvignon, de 2021. Tem edição limitada de 3 mil garrafas e preço sugerido de R$ 488.
Nos aromas e sabores, é um merlot de boa complexidade, aromas frutados, notas que remetem à madeira (baunilha e tostados), taninos finos e firmes. Porém, mais do que a qualidade, o tinto é relevante por unir dez dos quase 30 produtores da Denominação de Origem (D.O.) Vale dos Vinhedos. Cada um deles doou uma barrica de sua cave para a elaboração do tinto.
O pioneiro
É o primeiro vinho conjunto de uma D.O. brasileira. Atualmente, o Brasil tem duas D.O. para os seus vinhos. A pioneira, Vale dos Vinhedos, aprovada em 2012, e válida para vinhos brancos, tintos e espumantes; e a Altos de Pinto Bandeira, de 2022, que é a primeira exclusiva para espumantes do Hemisfério Sul. As duas ficam no Rio Grande do Sul, estado que concentra mais de 80% da produção do vinho brasileiro. Além disso, há várias regiões que já conseguiram a classificação de Indicação de Procedência (IP), como Farroupilha, Vale do São Francisco e Campanha Gaúcha, que é uma etapa anterior às D.O.s.
Mas há sempre a questão: é preciso ter uma D.O.? A ideia de denominação de origem ou apelação de origem controlada, como o termo nasceu na França, foi muito importante, no passado, para definir as regras de elaboração dos vinhos europeus. O Douro se orgulha de ter sido a primeira denominação de origem do mundo, em um decreto do Marquês de Pombal em 1756. O marquês delimitou a área para o cultivo de uvas para o vinho do Porto, com os chamados marcos pombalinos.
As D.O.s ganharam força a partir da década de 1930, não apenas para definir a área de cultivo, impedindo que uvas de uma região sejam utilizadas em vinhos de outras regiões, e para definir regras gerais de produção. Cabe às D.O.s definir as variedades autorizadas, a produção máxima por hectare, os sistemas de cultivo, entre outros parâmetros.
Qualidade?
Mas as D.O.s não são, ao contrário do que se pode pensar, sinônimo de qualidade. Na Europa, inclusive, há produtores que optam por sair da D.O. para ter maior independência na elaboração de seus vinhos, sem regras que consideram rígidas demais. A história mais conhecida são de grandes tintos da Toscana que passaram a utilizar a sigla de IGT (indicação geográfica típica) para os vinhos elaborados com uvas não autorizadas na região, como a cabernet sauvignon.
Mas o Brasil ainda não chegou a esse estágio. Por aqui ainda há muitas questões sobre quais as uvas que refletem o terroir e sobre quais as áreas com vocação vitivinífera. “A D.O. é importante para promover a região, criar parceria entre os produtores e atrair o turismo”, afirma Ricardo Morari, presidente da Associação Brasileira de Enologia.
No caso da D.O dos espumantes, o foco maior tem sido o de promover o turismo local. “É uma maneira de agregar valor ao produto espumante”, afirma Marco Antônio Salton, da Valmarino. Atualmente são quatro as vinícolas com o selo desta D.O., a Don Giovanni, a Cave Geisse, a Aurora e a Valmarino, além da novata Terraças, que está em processo de obter o selo para a elaboração dos espumantes. O que mostra que ainda estamos no início dessa jornada.