Suzana Barelli

Eu degustei um vinho falsificado


A Domaine de la Romanée Conti confirma que a garrafa é falsa, e a suspeita é que a falsificação tenha sido feita pelo indonésio Rudy Kurniawan

Por Suzana Barelli

Hoje condenado e expulso dos Estados Unidos, o indonésio Rudy Kurniawan ficou conhecido como maior craque na falsificação de vinhos. Ousado como poucos, ele enganou muita gente importante no início dos anos 2000 e ganhou muito dinheiro colocando vinhos falsos em garrafas renomadas, até ser descoberto em 2013, em uma saga que lembra muito as novelas policiais – a história rendeu até o documentário Sour Grapes, disponível na Netflix.

A SAFRA 1971

Pelo menos uma destas garrafas veio parar no Brasil, como suspeita Pedro de Aguiar, diretor da casa de leilões Dedalo. E não foi qualquer garrafa, mas um La Tâche, um dos grandes tintos da Domaine de La Romanée Conti, teoricamente da safra de 1971. A garrafa foi aberta nesta semana, em um almoço entre amigos no Bistrô de Paris, em São Paulo. Para surpresa (ou encanto) dos seis presentes (eu fui uma delas), o vinho estava perfeito. Sem dúvida tínhamos na taça um grande borgonha da década de 1970.

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A história começou quando Aguiar recebeu um lote de vinhos para ser leiloado, cinco anos atrás. O cliente havia adquirido a garrafa em um leilão na Zachys em Nova York, realizado em parceria com a Christie’s. A etiqueta da Zachys/Christie’s, aliás, está na garrafa. O cliente também tinha o catálogo e todos os documentos da compra.

A garrafa sendo aberta, com abridor especial para preservar a rolha de safras antigas Foto: Suzana Barelli

ANÁLISE DO ESPECIALISTA

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Mas na análise do rótulo, feita pelo especialista Jorge Lucki, que é consultor da Dedalo, foram encontrados alguns indícios de falsificação. A primeira é que na safra de 1971 o nome La Tache ainda não tinha o acento circunflexo na letra a. Havia até a possibilidade de o vinho ter sido engarrafado tardiamente (a acentuação surge na safra de 1978), mas neste caso teria de ter sido comercializado pela Leroy. A etiqueta, no rótulo, é de outro distribuidor, o Wine & Spirit Specialties, do Kansas, Missouri.

O segundo ponto é que o rótulo tem duas assinaturas, a dos dois proprietários da domaine (Lalou Leroy Bize e Albert de Villaine), e o que não acontecia na época, e a palavra propriétaire também está com as normas gramaticais francesas do final desta década. Com estes indícios, a casa de leilões entrou em contato com a Domaine de la Romanée Conti, que confirmou que o vinho era falso.

A garrafa do La Tâche 1971 Foto: Suzana Barelli
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DEGUSTAÇÃO

Não dava para colocar no leilão, mas Aguiar decidiu comprar a garrafa mesmo assim e abrir com amigos. “Paguei um décimo do valor”, conta ele. A associação com Kurniawan foi imediata: a época que o cliente (que pede anonimato) comprou a garrafa na Zachys (então parceira da Christie’s) coincide com o período em que todos estavam encantados com o poder do indonésio de ter acesso a tantos vinhos antigos. Muitos davam altos lances nos leilões para obter suas garrafas especiais e a Christie’s havia comprado várias garrafas dele.

A informação de que a garrafa era falsa leva a curiosidade de que vinho tínhamos na taça. A cor atijolada, as notas de evolução, todas coincidem com um Borgonha envelhecido. Sabe-se que Kurniawan fazia suas falsificações com muito cuidado. Entre suas práticas, ele misturava o mesmo vinho de safras diferentes ou engarrafava safras menos badaladas e, portanto, mais baratas, como sendo de anos clássicos. Ou utilizava vinhos da mesma região, mas de produtores não tão renomados.

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OS ERROS

Por sorte, ele cometeu alguns erros. O mais famoso foi colocar em leilão em abril de 2008 um lote com garrafas do Ponsot Clos de la Roche 1929. Mas, detalhe, este vinho só começou a ser produzido em 1934! O produtor Laurent Ponsot, que alardeou o fato, nunca conseguiu descobrir que vinho estava em suas garrafas, assim como provavelmente nunca saberemos qual era o tinto do almoço.

Sobre Kurniawan, depois de cumprir pena nos Estados Unidos, ele foi deportado para a Indonésia em 2020.

Hoje condenado e expulso dos Estados Unidos, o indonésio Rudy Kurniawan ficou conhecido como maior craque na falsificação de vinhos. Ousado como poucos, ele enganou muita gente importante no início dos anos 2000 e ganhou muito dinheiro colocando vinhos falsos em garrafas renomadas, até ser descoberto em 2013, em uma saga que lembra muito as novelas policiais – a história rendeu até o documentário Sour Grapes, disponível na Netflix.

A SAFRA 1971

Pelo menos uma destas garrafas veio parar no Brasil, como suspeita Pedro de Aguiar, diretor da casa de leilões Dedalo. E não foi qualquer garrafa, mas um La Tâche, um dos grandes tintos da Domaine de La Romanée Conti, teoricamente da safra de 1971. A garrafa foi aberta nesta semana, em um almoço entre amigos no Bistrô de Paris, em São Paulo. Para surpresa (ou encanto) dos seis presentes (eu fui uma delas), o vinho estava perfeito. Sem dúvida tínhamos na taça um grande borgonha da década de 1970.

A história começou quando Aguiar recebeu um lote de vinhos para ser leiloado, cinco anos atrás. O cliente havia adquirido a garrafa em um leilão na Zachys em Nova York, realizado em parceria com a Christie’s. A etiqueta da Zachys/Christie’s, aliás, está na garrafa. O cliente também tinha o catálogo e todos os documentos da compra.

A garrafa sendo aberta, com abridor especial para preservar a rolha de safras antigas Foto: Suzana Barelli

ANÁLISE DO ESPECIALISTA

Mas na análise do rótulo, feita pelo especialista Jorge Lucki, que é consultor da Dedalo, foram encontrados alguns indícios de falsificação. A primeira é que na safra de 1971 o nome La Tache ainda não tinha o acento circunflexo na letra a. Havia até a possibilidade de o vinho ter sido engarrafado tardiamente (a acentuação surge na safra de 1978), mas neste caso teria de ter sido comercializado pela Leroy. A etiqueta, no rótulo, é de outro distribuidor, o Wine & Spirit Specialties, do Kansas, Missouri.

O segundo ponto é que o rótulo tem duas assinaturas, a dos dois proprietários da domaine (Lalou Leroy Bize e Albert de Villaine), e o que não acontecia na época, e a palavra propriétaire também está com as normas gramaticais francesas do final desta década. Com estes indícios, a casa de leilões entrou em contato com a Domaine de la Romanée Conti, que confirmou que o vinho era falso.

A garrafa do La Tâche 1971 Foto: Suzana Barelli

DEGUSTAÇÃO

Não dava para colocar no leilão, mas Aguiar decidiu comprar a garrafa mesmo assim e abrir com amigos. “Paguei um décimo do valor”, conta ele. A associação com Kurniawan foi imediata: a época que o cliente (que pede anonimato) comprou a garrafa na Zachys (então parceira da Christie’s) coincide com o período em que todos estavam encantados com o poder do indonésio de ter acesso a tantos vinhos antigos. Muitos davam altos lances nos leilões para obter suas garrafas especiais e a Christie’s havia comprado várias garrafas dele.

A informação de que a garrafa era falsa leva a curiosidade de que vinho tínhamos na taça. A cor atijolada, as notas de evolução, todas coincidem com um Borgonha envelhecido. Sabe-se que Kurniawan fazia suas falsificações com muito cuidado. Entre suas práticas, ele misturava o mesmo vinho de safras diferentes ou engarrafava safras menos badaladas e, portanto, mais baratas, como sendo de anos clássicos. Ou utilizava vinhos da mesma região, mas de produtores não tão renomados.

OS ERROS

Por sorte, ele cometeu alguns erros. O mais famoso foi colocar em leilão em abril de 2008 um lote com garrafas do Ponsot Clos de la Roche 1929. Mas, detalhe, este vinho só começou a ser produzido em 1934! O produtor Laurent Ponsot, que alardeou o fato, nunca conseguiu descobrir que vinho estava em suas garrafas, assim como provavelmente nunca saberemos qual era o tinto do almoço.

Sobre Kurniawan, depois de cumprir pena nos Estados Unidos, ele foi deportado para a Indonésia em 2020.

Hoje condenado e expulso dos Estados Unidos, o indonésio Rudy Kurniawan ficou conhecido como maior craque na falsificação de vinhos. Ousado como poucos, ele enganou muita gente importante no início dos anos 2000 e ganhou muito dinheiro colocando vinhos falsos em garrafas renomadas, até ser descoberto em 2013, em uma saga que lembra muito as novelas policiais – a história rendeu até o documentário Sour Grapes, disponível na Netflix.

A SAFRA 1971

Pelo menos uma destas garrafas veio parar no Brasil, como suspeita Pedro de Aguiar, diretor da casa de leilões Dedalo. E não foi qualquer garrafa, mas um La Tâche, um dos grandes tintos da Domaine de La Romanée Conti, teoricamente da safra de 1971. A garrafa foi aberta nesta semana, em um almoço entre amigos no Bistrô de Paris, em São Paulo. Para surpresa (ou encanto) dos seis presentes (eu fui uma delas), o vinho estava perfeito. Sem dúvida tínhamos na taça um grande borgonha da década de 1970.

A história começou quando Aguiar recebeu um lote de vinhos para ser leiloado, cinco anos atrás. O cliente havia adquirido a garrafa em um leilão na Zachys em Nova York, realizado em parceria com a Christie’s. A etiqueta da Zachys/Christie’s, aliás, está na garrafa. O cliente também tinha o catálogo e todos os documentos da compra.

A garrafa sendo aberta, com abridor especial para preservar a rolha de safras antigas Foto: Suzana Barelli

ANÁLISE DO ESPECIALISTA

Mas na análise do rótulo, feita pelo especialista Jorge Lucki, que é consultor da Dedalo, foram encontrados alguns indícios de falsificação. A primeira é que na safra de 1971 o nome La Tache ainda não tinha o acento circunflexo na letra a. Havia até a possibilidade de o vinho ter sido engarrafado tardiamente (a acentuação surge na safra de 1978), mas neste caso teria de ter sido comercializado pela Leroy. A etiqueta, no rótulo, é de outro distribuidor, o Wine & Spirit Specialties, do Kansas, Missouri.

O segundo ponto é que o rótulo tem duas assinaturas, a dos dois proprietários da domaine (Lalou Leroy Bize e Albert de Villaine), e o que não acontecia na época, e a palavra propriétaire também está com as normas gramaticais francesas do final desta década. Com estes indícios, a casa de leilões entrou em contato com a Domaine de la Romanée Conti, que confirmou que o vinho era falso.

A garrafa do La Tâche 1971 Foto: Suzana Barelli

DEGUSTAÇÃO

Não dava para colocar no leilão, mas Aguiar decidiu comprar a garrafa mesmo assim e abrir com amigos. “Paguei um décimo do valor”, conta ele. A associação com Kurniawan foi imediata: a época que o cliente (que pede anonimato) comprou a garrafa na Zachys (então parceira da Christie’s) coincide com o período em que todos estavam encantados com o poder do indonésio de ter acesso a tantos vinhos antigos. Muitos davam altos lances nos leilões para obter suas garrafas especiais e a Christie’s havia comprado várias garrafas dele.

A informação de que a garrafa era falsa leva a curiosidade de que vinho tínhamos na taça. A cor atijolada, as notas de evolução, todas coincidem com um Borgonha envelhecido. Sabe-se que Kurniawan fazia suas falsificações com muito cuidado. Entre suas práticas, ele misturava o mesmo vinho de safras diferentes ou engarrafava safras menos badaladas e, portanto, mais baratas, como sendo de anos clássicos. Ou utilizava vinhos da mesma região, mas de produtores não tão renomados.

OS ERROS

Por sorte, ele cometeu alguns erros. O mais famoso foi colocar em leilão em abril de 2008 um lote com garrafas do Ponsot Clos de la Roche 1929. Mas, detalhe, este vinho só começou a ser produzido em 1934! O produtor Laurent Ponsot, que alardeou o fato, nunca conseguiu descobrir que vinho estava em suas garrafas, assim como provavelmente nunca saberemos qual era o tinto do almoço.

Sobre Kurniawan, depois de cumprir pena nos Estados Unidos, ele foi deportado para a Indonésia em 2020.

Hoje condenado e expulso dos Estados Unidos, o indonésio Rudy Kurniawan ficou conhecido como maior craque na falsificação de vinhos. Ousado como poucos, ele enganou muita gente importante no início dos anos 2000 e ganhou muito dinheiro colocando vinhos falsos em garrafas renomadas, até ser descoberto em 2013, em uma saga que lembra muito as novelas policiais – a história rendeu até o documentário Sour Grapes, disponível na Netflix.

A SAFRA 1971

Pelo menos uma destas garrafas veio parar no Brasil, como suspeita Pedro de Aguiar, diretor da casa de leilões Dedalo. E não foi qualquer garrafa, mas um La Tâche, um dos grandes tintos da Domaine de La Romanée Conti, teoricamente da safra de 1971. A garrafa foi aberta nesta semana, em um almoço entre amigos no Bistrô de Paris, em São Paulo. Para surpresa (ou encanto) dos seis presentes (eu fui uma delas), o vinho estava perfeito. Sem dúvida tínhamos na taça um grande borgonha da década de 1970.

A história começou quando Aguiar recebeu um lote de vinhos para ser leiloado, cinco anos atrás. O cliente havia adquirido a garrafa em um leilão na Zachys em Nova York, realizado em parceria com a Christie’s. A etiqueta da Zachys/Christie’s, aliás, está na garrafa. O cliente também tinha o catálogo e todos os documentos da compra.

A garrafa sendo aberta, com abridor especial para preservar a rolha de safras antigas Foto: Suzana Barelli

ANÁLISE DO ESPECIALISTA

Mas na análise do rótulo, feita pelo especialista Jorge Lucki, que é consultor da Dedalo, foram encontrados alguns indícios de falsificação. A primeira é que na safra de 1971 o nome La Tache ainda não tinha o acento circunflexo na letra a. Havia até a possibilidade de o vinho ter sido engarrafado tardiamente (a acentuação surge na safra de 1978), mas neste caso teria de ter sido comercializado pela Leroy. A etiqueta, no rótulo, é de outro distribuidor, o Wine & Spirit Specialties, do Kansas, Missouri.

O segundo ponto é que o rótulo tem duas assinaturas, a dos dois proprietários da domaine (Lalou Leroy Bize e Albert de Villaine), e o que não acontecia na época, e a palavra propriétaire também está com as normas gramaticais francesas do final desta década. Com estes indícios, a casa de leilões entrou em contato com a Domaine de la Romanée Conti, que confirmou que o vinho era falso.

A garrafa do La Tâche 1971 Foto: Suzana Barelli

DEGUSTAÇÃO

Não dava para colocar no leilão, mas Aguiar decidiu comprar a garrafa mesmo assim e abrir com amigos. “Paguei um décimo do valor”, conta ele. A associação com Kurniawan foi imediata: a época que o cliente (que pede anonimato) comprou a garrafa na Zachys (então parceira da Christie’s) coincide com o período em que todos estavam encantados com o poder do indonésio de ter acesso a tantos vinhos antigos. Muitos davam altos lances nos leilões para obter suas garrafas especiais e a Christie’s havia comprado várias garrafas dele.

A informação de que a garrafa era falsa leva a curiosidade de que vinho tínhamos na taça. A cor atijolada, as notas de evolução, todas coincidem com um Borgonha envelhecido. Sabe-se que Kurniawan fazia suas falsificações com muito cuidado. Entre suas práticas, ele misturava o mesmo vinho de safras diferentes ou engarrafava safras menos badaladas e, portanto, mais baratas, como sendo de anos clássicos. Ou utilizava vinhos da mesma região, mas de produtores não tão renomados.

OS ERROS

Por sorte, ele cometeu alguns erros. O mais famoso foi colocar em leilão em abril de 2008 um lote com garrafas do Ponsot Clos de la Roche 1929. Mas, detalhe, este vinho só começou a ser produzido em 1934! O produtor Laurent Ponsot, que alardeou o fato, nunca conseguiu descobrir que vinho estava em suas garrafas, assim como provavelmente nunca saberemos qual era o tinto do almoço.

Sobre Kurniawan, depois de cumprir pena nos Estados Unidos, ele foi deportado para a Indonésia em 2020.

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