Suzana Barelli

Os poucos enólogos negros no Brasil


Márcio Dal'Osto chegou ao vinho por acaso, e hoje é o único negro a ocupar o cargo de chefe de enologia em uma vinícola no Brasil

Por Suzana Barelli
Márcio Dal'Osto é o únicoé o único negro a ocupar o cargo de chefe de enologia em uma vinícola no Brasil Foto: Suzana Barelli

O brasileiro Márcio Dal’Osto é o exemplo de que a diversidade ético-racial ainda não chegou à enologia. Aos 45 anos, ele está à frente da enologia da XV de Novembro, vinícola na região de São Roque (SP), que dá os primeiros passos rumo ao vinho fino, com a marca Quinta Moraes. “Infelizmente, sou o único enólogo negro a liderar uma vinícola no Brasil”, conta ele. Há outros enólogos – poucos, é verdade –, mas nenhum ocupa o cargo de chefe de enologia em uma vinícola brasileira e não há, na profissão, ações afirmativas para que isso aconteça. “É muito raro aparecer um estudante negro”, afirma Fabio Lenk, professor de enologia na unidade de São Roque do Instituto Federal.

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Dal’Osto se formou em enologia em 2017, no Instituto Federal de São Roque. Chegou ao vinho por acaso, ao se apaixonar por uma enóloga. E quando ela foi transferida para São Roque, cidade conhecida pela produção de vinhos de mesa (aqueles elaborados com uvas não viníferas e de menor complexidade), ele decidiu trocar a faculdade de engenharia, que cursava, pelo de enologia.

No interior de São Paulo, Dal’Osto chegou a fazer estágio na Vinícola Góes e começou a trabalhar numa destilaria. Foi no trabalho que conheceu os donos da XV de Novembro, em um grupo de degustação local formado por enólogos e donos de vinícolas. Ficou amigo da família Moraes e há três anos recebeu o convite para chefiar a vinícola. A ideia dos donos era ter um enólogo que fizesse a migração dos vinhos de mesa (os conhecidos XV de Novembro) para a Quinta Moraes, de vinhos finos. Atualmente, são produzidos por safra 3 milhões de litros com a marca XV de novembro, e 50 mil litros, da Quinta Moraes.

Mas é nesta pequena produção que está a empolgação de Dal’Osto. Ele conta que a vinícola trabalha com equipamento de qualidade e que está investindo em vinhedos com a prática de poda invertida (as vinhas são cultivadas para dar frutos no inverno, quando não chove na região, e não no verão, que seria o seu ciclo natural.) Entre vinhedos próprios e compra de uva, ele trabalha com as variedades shiraz, tempranillo, cabernet franc, malbec, alvarinho e chardonnay, em dez hectares de vinhedos. Os donos são da terceira geração dos Moraes em vinhos e estão investindo agora na recuperação de uma vinícola construída em 1926 no interior de São Paulo.

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O cargo, lembra Dal’Osto, ajuda na luta contra o preconceito racial. “Não vou dizer que não tem preconceito. Mas ele vai embora quando eu começo a falar, e as pessoas percebem que eu entendo do assunto”, conta ela. Mas em vários momentos ele já foi confundido como o segurança da vinícola.

O mais perto do cargo de Dal’Osto, no Brasil, é o de Willian Paim, da vinícola Aurora. Também formado em enologia, mas pelo Instituto Federal do Sertão Pernambucano, ele chegou a trabalhar na elaboração de vinhos, se especializou também nas técnicas de poda invertida, ao trabalhar tanto no Vale do São Francisco, como em estágios na Serra da Mantiqueira, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Chegou na Aurora há oito anos, primeiro para trabalhar no enoturismo, mas acabou migrando para a área comercial.

“Fui contratado pelo meu currículo e capacidade e a Aurora é uma empresa aberta para os temais raciais, de credo religioso, de orientação sexual”, afirma ele. Atualmente, Paim viaja para fazer treinamentos e feiras da vinícola. “Sou a cara da empresa”, responde ele.

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Mas ao longo da sua profissão, ele já escutou frases como “não sabia que tinha enólogo preto”, e não raro é olhado com desconfiança pelos clientes em um primeiro momento.

Entre as razões para não ter mais negros neste mercado, os dois enólogos apontam para a falta de cursos noturnos, que permitam aos estudantes trabalhar durante a faculdade. Também afirmam que a enologia é pouco conhecida pelos estudantes negros, que nem chegam a pensar que esta pode ser uma profissão. “Seria interesse ter ações afirmativas. A enologia é um campo crescente no Brasil”, afirma Dal’Osto. O recado está dado.

Márcio Dal'Osto é o únicoé o único negro a ocupar o cargo de chefe de enologia em uma vinícola no Brasil Foto: Suzana Barelli

O brasileiro Márcio Dal’Osto é o exemplo de que a diversidade ético-racial ainda não chegou à enologia. Aos 45 anos, ele está à frente da enologia da XV de Novembro, vinícola na região de São Roque (SP), que dá os primeiros passos rumo ao vinho fino, com a marca Quinta Moraes. “Infelizmente, sou o único enólogo negro a liderar uma vinícola no Brasil”, conta ele. Há outros enólogos – poucos, é verdade –, mas nenhum ocupa o cargo de chefe de enologia em uma vinícola brasileira e não há, na profissão, ações afirmativas para que isso aconteça. “É muito raro aparecer um estudante negro”, afirma Fabio Lenk, professor de enologia na unidade de São Roque do Instituto Federal.

Dal’Osto se formou em enologia em 2017, no Instituto Federal de São Roque. Chegou ao vinho por acaso, ao se apaixonar por uma enóloga. E quando ela foi transferida para São Roque, cidade conhecida pela produção de vinhos de mesa (aqueles elaborados com uvas não viníferas e de menor complexidade), ele decidiu trocar a faculdade de engenharia, que cursava, pelo de enologia.

No interior de São Paulo, Dal’Osto chegou a fazer estágio na Vinícola Góes e começou a trabalhar numa destilaria. Foi no trabalho que conheceu os donos da XV de Novembro, em um grupo de degustação local formado por enólogos e donos de vinícolas. Ficou amigo da família Moraes e há três anos recebeu o convite para chefiar a vinícola. A ideia dos donos era ter um enólogo que fizesse a migração dos vinhos de mesa (os conhecidos XV de Novembro) para a Quinta Moraes, de vinhos finos. Atualmente, são produzidos por safra 3 milhões de litros com a marca XV de novembro, e 50 mil litros, da Quinta Moraes.

Mas é nesta pequena produção que está a empolgação de Dal’Osto. Ele conta que a vinícola trabalha com equipamento de qualidade e que está investindo em vinhedos com a prática de poda invertida (as vinhas são cultivadas para dar frutos no inverno, quando não chove na região, e não no verão, que seria o seu ciclo natural.) Entre vinhedos próprios e compra de uva, ele trabalha com as variedades shiraz, tempranillo, cabernet franc, malbec, alvarinho e chardonnay, em dez hectares de vinhedos. Os donos são da terceira geração dos Moraes em vinhos e estão investindo agora na recuperação de uma vinícola construída em 1926 no interior de São Paulo.

O cargo, lembra Dal’Osto, ajuda na luta contra o preconceito racial. “Não vou dizer que não tem preconceito. Mas ele vai embora quando eu começo a falar, e as pessoas percebem que eu entendo do assunto”, conta ela. Mas em vários momentos ele já foi confundido como o segurança da vinícola.

O mais perto do cargo de Dal’Osto, no Brasil, é o de Willian Paim, da vinícola Aurora. Também formado em enologia, mas pelo Instituto Federal do Sertão Pernambucano, ele chegou a trabalhar na elaboração de vinhos, se especializou também nas técnicas de poda invertida, ao trabalhar tanto no Vale do São Francisco, como em estágios na Serra da Mantiqueira, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Chegou na Aurora há oito anos, primeiro para trabalhar no enoturismo, mas acabou migrando para a área comercial.

“Fui contratado pelo meu currículo e capacidade e a Aurora é uma empresa aberta para os temais raciais, de credo religioso, de orientação sexual”, afirma ele. Atualmente, Paim viaja para fazer treinamentos e feiras da vinícola. “Sou a cara da empresa”, responde ele.

Mas ao longo da sua profissão, ele já escutou frases como “não sabia que tinha enólogo preto”, e não raro é olhado com desconfiança pelos clientes em um primeiro momento.

Entre as razões para não ter mais negros neste mercado, os dois enólogos apontam para a falta de cursos noturnos, que permitam aos estudantes trabalhar durante a faculdade. Também afirmam que a enologia é pouco conhecida pelos estudantes negros, que nem chegam a pensar que esta pode ser uma profissão. “Seria interesse ter ações afirmativas. A enologia é um campo crescente no Brasil”, afirma Dal’Osto. O recado está dado.

Márcio Dal'Osto é o únicoé o único negro a ocupar o cargo de chefe de enologia em uma vinícola no Brasil Foto: Suzana Barelli

O brasileiro Márcio Dal’Osto é o exemplo de que a diversidade ético-racial ainda não chegou à enologia. Aos 45 anos, ele está à frente da enologia da XV de Novembro, vinícola na região de São Roque (SP), que dá os primeiros passos rumo ao vinho fino, com a marca Quinta Moraes. “Infelizmente, sou o único enólogo negro a liderar uma vinícola no Brasil”, conta ele. Há outros enólogos – poucos, é verdade –, mas nenhum ocupa o cargo de chefe de enologia em uma vinícola brasileira e não há, na profissão, ações afirmativas para que isso aconteça. “É muito raro aparecer um estudante negro”, afirma Fabio Lenk, professor de enologia na unidade de São Roque do Instituto Federal.

Dal’Osto se formou em enologia em 2017, no Instituto Federal de São Roque. Chegou ao vinho por acaso, ao se apaixonar por uma enóloga. E quando ela foi transferida para São Roque, cidade conhecida pela produção de vinhos de mesa (aqueles elaborados com uvas não viníferas e de menor complexidade), ele decidiu trocar a faculdade de engenharia, que cursava, pelo de enologia.

No interior de São Paulo, Dal’Osto chegou a fazer estágio na Vinícola Góes e começou a trabalhar numa destilaria. Foi no trabalho que conheceu os donos da XV de Novembro, em um grupo de degustação local formado por enólogos e donos de vinícolas. Ficou amigo da família Moraes e há três anos recebeu o convite para chefiar a vinícola. A ideia dos donos era ter um enólogo que fizesse a migração dos vinhos de mesa (os conhecidos XV de Novembro) para a Quinta Moraes, de vinhos finos. Atualmente, são produzidos por safra 3 milhões de litros com a marca XV de novembro, e 50 mil litros, da Quinta Moraes.

Mas é nesta pequena produção que está a empolgação de Dal’Osto. Ele conta que a vinícola trabalha com equipamento de qualidade e que está investindo em vinhedos com a prática de poda invertida (as vinhas são cultivadas para dar frutos no inverno, quando não chove na região, e não no verão, que seria o seu ciclo natural.) Entre vinhedos próprios e compra de uva, ele trabalha com as variedades shiraz, tempranillo, cabernet franc, malbec, alvarinho e chardonnay, em dez hectares de vinhedos. Os donos são da terceira geração dos Moraes em vinhos e estão investindo agora na recuperação de uma vinícola construída em 1926 no interior de São Paulo.

O cargo, lembra Dal’Osto, ajuda na luta contra o preconceito racial. “Não vou dizer que não tem preconceito. Mas ele vai embora quando eu começo a falar, e as pessoas percebem que eu entendo do assunto”, conta ela. Mas em vários momentos ele já foi confundido como o segurança da vinícola.

O mais perto do cargo de Dal’Osto, no Brasil, é o de Willian Paim, da vinícola Aurora. Também formado em enologia, mas pelo Instituto Federal do Sertão Pernambucano, ele chegou a trabalhar na elaboração de vinhos, se especializou também nas técnicas de poda invertida, ao trabalhar tanto no Vale do São Francisco, como em estágios na Serra da Mantiqueira, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Chegou na Aurora há oito anos, primeiro para trabalhar no enoturismo, mas acabou migrando para a área comercial.

“Fui contratado pelo meu currículo e capacidade e a Aurora é uma empresa aberta para os temais raciais, de credo religioso, de orientação sexual”, afirma ele. Atualmente, Paim viaja para fazer treinamentos e feiras da vinícola. “Sou a cara da empresa”, responde ele.

Mas ao longo da sua profissão, ele já escutou frases como “não sabia que tinha enólogo preto”, e não raro é olhado com desconfiança pelos clientes em um primeiro momento.

Entre as razões para não ter mais negros neste mercado, os dois enólogos apontam para a falta de cursos noturnos, que permitam aos estudantes trabalhar durante a faculdade. Também afirmam que a enologia é pouco conhecida pelos estudantes negros, que nem chegam a pensar que esta pode ser uma profissão. “Seria interesse ter ações afirmativas. A enologia é um campo crescente no Brasil”, afirma Dal’Osto. O recado está dado.

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