Suzana Barelli

Os vinhos e o entusiasmo do produtor italiano Angelo Gaja em visita ao Brasil


Opinião do especialista é que o país segue em um bom começo na produção de vinhos

Por Suzana Barelli
Giovanni e Angelo Gaja, produtores de vinhos italianos que passaram recentemente pelo Brasil para apresentar seus lançamentos Foto: Suzana Barelli

O italiano Angelo Gaja é daqueles produtores que roubam a cena. Lembro de uma degustação em que ele comparou a nebbiolo, a uva que dá origem aos grandes barolos e barbarescos, ao ator italiano Marcello Mastroianni; e a cabernet sauvignon a John Wayne. Narrou a história com Wayne sendo o centro das atenções em um salão, brilhando poderoso como a cabernet sauvignon. Mastroianni ficaria em um canto, misterioso, valorizando as mulheres ao seu redor, assim como a nebbiolo tem os seus mistérios e engrandece as boas harmonizações à mesa. Nesta história, não falou diretamente dos seus vinhos, mas eles estavam presentes nas taças dos ouvintes, que não conseguiam deixar de prestar atenção na performance de Gaja.

Visita Inesperada

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Não foi diferente em sua mais recente passagem pelo Brasil, nesta última semana. Primeiro, foi uma visita inesperada: estava agendada apenas a presença do seu filho Giovanni para uma série de degustações. A própria equipe da Mistral, importadora que traz seus vinhos ao Brasil, foi surpreendida com a visita de não apenas um Gaja, mas de dois. Às vésperas de completar 84 anos, Angelo está passando o bastão da empresa para seus três filhos, Gaia, Rossana e Giovanni, mas a sensação é que ele ainda não está pronto para sair de cena e aproveita as oportunidades para visitar países que gosta – aqui, além da cultura, que ele elogia, e dos amigos, que tem, pode saborear a sua fruta preferida, a manga, que ele troca por qualquer refeição.

E rouba a cena. Depois de ouvir o filho explicar sobre seus vinhos, Angelo fala sobre o Idda, o mais recente projeto da família Gaja, agora na Sicília, e o primeiro em parceria, no caso com a família Alberto Graci. Os Gajas sempre viveram no Piemonte, a vinícola foi fundada em 1859, e tem o barbaresco como seu vinho principal. Mas na gestão de Angelo investiram também na Toscana, com projetos em Montalcino, com a Pietra Santa Restituta, e em Bolgheri, com a Ca’Marcanda.

Vinhos brancos

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O patriarca engata a conversa na preferência pelas brancas, o que explica a ida para o Etna. A vinícola e os vinhos se chamam Idda, que significa “ela” no dialeto local, e é como os sicilianos se referem ao vulcão Etna. Quando entraram no projeto, em 2017, eram 2 hectares de calicante e 10 hectares da tinta nerello mascalese. Mas Angelo decidiu plantar mais 12 hectares da variedade branca, que resulta num vinho que mescla frescor e complexidade.

Alguns dos vinhos que Angelo Gaja traz para o Brasil Foto: Suzana Barelli

Fala também da sua preocupação com as mudanças climáticas. E conta que comprou vinhedos nas montanhas mais altas do Piemonte, a 650 metros. Está plantando as variedades internacionais chardonnay e sauvignon blanc e também variedades italianas, e dá preferência para as brancas. E surpreende mais ao contar que estuda elaborar um pinot noir na Alemanha, e já tem um convite para isso. Não dá muitos detalhes, mas faz pensar no que está levando esse senhor a investir em outros países. Será o conselho da avô Clotilde Rey, que quando ele tinha 8 anos lhe disse que teria de ser um artesão e, nos seus mandamentos, significa não apenas fazer e saber fazer, mas também saber divulgar o que faz?

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Poda invertida

Perguntado sobre o Brasil, conta que sabe que o país elabora bons espumantes e faz perguntas sobre a técnica de poda invertida, que ouviu falar e quer entender melhor – naquela mesma noite, ele provaria alguns destes vinhos que, com irrigação e poda, têm as uvas colhidas no inverno e não no final do verão começo do outono. Se mostrou entusiasmado com a criatividade dos brasileiros de pensarem em uma nova técnica para a vitivinicultura – no caso, de Murilo Regina, o pesquisador que começou com a ideia de colher as uvas da região Sudeste e Centro Oeste no inverno. Depois de provar os vinhos, comentou que o Brasil segue em um bom começo e se mostrou entusiasmado com a inovação. Só faltou perguntar a que ator Gaja associaria os rótulos brasileiros que provou.

Leia mais...

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Angelo Gaja prova vinhos brasileiros

No almoço com os jornalistas, o italiano Angelo Gaja mostrou curiosidade em conhecer os vinhos cultivados no sistema de poda invertida. Sua única oportunidade seria provar os vinhos naquela mesma noite. A equipe do Paladar providenciou o envio de vinhos de três produtores, que conseguiram atender a urgência de entregar as garrafas no restaurante Piselli no curto espaço de tempo entre o almoço tardio e o jantar.

Foram eles: a vinícola Guaspari, localizada em Espírito Santo do Pinhal (SP), que enviou as garrafas do Vista do Chá Syrah 2017 e o Vista do Bosque Viognier 2021; a Sacramento Vinifer, na Serra da Canastra (MG), que mandou o Sabina Syrah 2021 e o Sabina Syrah Rosé 2021. Por fim, a Casa Tés, no vale da Grama (SP), com o Casa Tés 2021.

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Angelo e seu filho Giovanni provaram os vinhos, mas não fizeram comentários específicos de cada um. “Ele não comenta sobre o que pensa da parte gustativa nem dos vinhos dele, menos ainda do de outros produtores”, conta Otavio Lilla, que estava presente no jantar. Mas gravou o vídeo, que pode ser assistido aqui, a pedido do Paladar.

Ficou claro para os presentes que Angelo se mostrou surpreso e encantado com a técnica. O princípio deste cultivo é fazer as videiras darem frutos no inverno, quando há maior luminosidade e amplitude térmica e não tem chuva nas regiões Sudeste e Centro Oeste brasileiras. Para isso, as plantas são podadas para evitar que comecem a produzir na primavera. Meses mais tarde, irrigação e hormônicos fazem com que as videiras voltem a produzir e deem frutos no inverno. “Angelo considerou esta ideia genial, inovadora”, afirma Lilla.

Curioso por excelência, o produtor italiano aproveitou também uma viagem ao Brasil, seis ou sete anos atrás, para conhecer a produção de vinhos em Santa Catarina.

Giovanni e Angelo Gaja, produtores de vinhos italianos que passaram recentemente pelo Brasil para apresentar seus lançamentos Foto: Suzana Barelli

O italiano Angelo Gaja é daqueles produtores que roubam a cena. Lembro de uma degustação em que ele comparou a nebbiolo, a uva que dá origem aos grandes barolos e barbarescos, ao ator italiano Marcello Mastroianni; e a cabernet sauvignon a John Wayne. Narrou a história com Wayne sendo o centro das atenções em um salão, brilhando poderoso como a cabernet sauvignon. Mastroianni ficaria em um canto, misterioso, valorizando as mulheres ao seu redor, assim como a nebbiolo tem os seus mistérios e engrandece as boas harmonizações à mesa. Nesta história, não falou diretamente dos seus vinhos, mas eles estavam presentes nas taças dos ouvintes, que não conseguiam deixar de prestar atenção na performance de Gaja.

Visita Inesperada

Não foi diferente em sua mais recente passagem pelo Brasil, nesta última semana. Primeiro, foi uma visita inesperada: estava agendada apenas a presença do seu filho Giovanni para uma série de degustações. A própria equipe da Mistral, importadora que traz seus vinhos ao Brasil, foi surpreendida com a visita de não apenas um Gaja, mas de dois. Às vésperas de completar 84 anos, Angelo está passando o bastão da empresa para seus três filhos, Gaia, Rossana e Giovanni, mas a sensação é que ele ainda não está pronto para sair de cena e aproveita as oportunidades para visitar países que gosta – aqui, além da cultura, que ele elogia, e dos amigos, que tem, pode saborear a sua fruta preferida, a manga, que ele troca por qualquer refeição.

E rouba a cena. Depois de ouvir o filho explicar sobre seus vinhos, Angelo fala sobre o Idda, o mais recente projeto da família Gaja, agora na Sicília, e o primeiro em parceria, no caso com a família Alberto Graci. Os Gajas sempre viveram no Piemonte, a vinícola foi fundada em 1859, e tem o barbaresco como seu vinho principal. Mas na gestão de Angelo investiram também na Toscana, com projetos em Montalcino, com a Pietra Santa Restituta, e em Bolgheri, com a Ca’Marcanda.

Vinhos brancos

O patriarca engata a conversa na preferência pelas brancas, o que explica a ida para o Etna. A vinícola e os vinhos se chamam Idda, que significa “ela” no dialeto local, e é como os sicilianos se referem ao vulcão Etna. Quando entraram no projeto, em 2017, eram 2 hectares de calicante e 10 hectares da tinta nerello mascalese. Mas Angelo decidiu plantar mais 12 hectares da variedade branca, que resulta num vinho que mescla frescor e complexidade.

Alguns dos vinhos que Angelo Gaja traz para o Brasil Foto: Suzana Barelli

Fala também da sua preocupação com as mudanças climáticas. E conta que comprou vinhedos nas montanhas mais altas do Piemonte, a 650 metros. Está plantando as variedades internacionais chardonnay e sauvignon blanc e também variedades italianas, e dá preferência para as brancas. E surpreende mais ao contar que estuda elaborar um pinot noir na Alemanha, e já tem um convite para isso. Não dá muitos detalhes, mas faz pensar no que está levando esse senhor a investir em outros países. Será o conselho da avô Clotilde Rey, que quando ele tinha 8 anos lhe disse que teria de ser um artesão e, nos seus mandamentos, significa não apenas fazer e saber fazer, mas também saber divulgar o que faz?

Poda invertida

Perguntado sobre o Brasil, conta que sabe que o país elabora bons espumantes e faz perguntas sobre a técnica de poda invertida, que ouviu falar e quer entender melhor – naquela mesma noite, ele provaria alguns destes vinhos que, com irrigação e poda, têm as uvas colhidas no inverno e não no final do verão começo do outono. Se mostrou entusiasmado com a criatividade dos brasileiros de pensarem em uma nova técnica para a vitivinicultura – no caso, de Murilo Regina, o pesquisador que começou com a ideia de colher as uvas da região Sudeste e Centro Oeste no inverno. Depois de provar os vinhos, comentou que o Brasil segue em um bom começo e se mostrou entusiasmado com a inovação. Só faltou perguntar a que ator Gaja associaria os rótulos brasileiros que provou.

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Angelo Gaja prova vinhos brasileiros

No almoço com os jornalistas, o italiano Angelo Gaja mostrou curiosidade em conhecer os vinhos cultivados no sistema de poda invertida. Sua única oportunidade seria provar os vinhos naquela mesma noite. A equipe do Paladar providenciou o envio de vinhos de três produtores, que conseguiram atender a urgência de entregar as garrafas no restaurante Piselli no curto espaço de tempo entre o almoço tardio e o jantar.

Foram eles: a vinícola Guaspari, localizada em Espírito Santo do Pinhal (SP), que enviou as garrafas do Vista do Chá Syrah 2017 e o Vista do Bosque Viognier 2021; a Sacramento Vinifer, na Serra da Canastra (MG), que mandou o Sabina Syrah 2021 e o Sabina Syrah Rosé 2021. Por fim, a Casa Tés, no vale da Grama (SP), com o Casa Tés 2021.

Angelo e seu filho Giovanni provaram os vinhos, mas não fizeram comentários específicos de cada um. “Ele não comenta sobre o que pensa da parte gustativa nem dos vinhos dele, menos ainda do de outros produtores”, conta Otavio Lilla, que estava presente no jantar. Mas gravou o vídeo, que pode ser assistido aqui, a pedido do Paladar.

Ficou claro para os presentes que Angelo se mostrou surpreso e encantado com a técnica. O princípio deste cultivo é fazer as videiras darem frutos no inverno, quando há maior luminosidade e amplitude térmica e não tem chuva nas regiões Sudeste e Centro Oeste brasileiras. Para isso, as plantas são podadas para evitar que comecem a produzir na primavera. Meses mais tarde, irrigação e hormônicos fazem com que as videiras voltem a produzir e deem frutos no inverno. “Angelo considerou esta ideia genial, inovadora”, afirma Lilla.

Curioso por excelência, o produtor italiano aproveitou também uma viagem ao Brasil, seis ou sete anos atrás, para conhecer a produção de vinhos em Santa Catarina.

Giovanni e Angelo Gaja, produtores de vinhos italianos que passaram recentemente pelo Brasil para apresentar seus lançamentos Foto: Suzana Barelli

O italiano Angelo Gaja é daqueles produtores que roubam a cena. Lembro de uma degustação em que ele comparou a nebbiolo, a uva que dá origem aos grandes barolos e barbarescos, ao ator italiano Marcello Mastroianni; e a cabernet sauvignon a John Wayne. Narrou a história com Wayne sendo o centro das atenções em um salão, brilhando poderoso como a cabernet sauvignon. Mastroianni ficaria em um canto, misterioso, valorizando as mulheres ao seu redor, assim como a nebbiolo tem os seus mistérios e engrandece as boas harmonizações à mesa. Nesta história, não falou diretamente dos seus vinhos, mas eles estavam presentes nas taças dos ouvintes, que não conseguiam deixar de prestar atenção na performance de Gaja.

Visita Inesperada

Não foi diferente em sua mais recente passagem pelo Brasil, nesta última semana. Primeiro, foi uma visita inesperada: estava agendada apenas a presença do seu filho Giovanni para uma série de degustações. A própria equipe da Mistral, importadora que traz seus vinhos ao Brasil, foi surpreendida com a visita de não apenas um Gaja, mas de dois. Às vésperas de completar 84 anos, Angelo está passando o bastão da empresa para seus três filhos, Gaia, Rossana e Giovanni, mas a sensação é que ele ainda não está pronto para sair de cena e aproveita as oportunidades para visitar países que gosta – aqui, além da cultura, que ele elogia, e dos amigos, que tem, pode saborear a sua fruta preferida, a manga, que ele troca por qualquer refeição.

E rouba a cena. Depois de ouvir o filho explicar sobre seus vinhos, Angelo fala sobre o Idda, o mais recente projeto da família Gaja, agora na Sicília, e o primeiro em parceria, no caso com a família Alberto Graci. Os Gajas sempre viveram no Piemonte, a vinícola foi fundada em 1859, e tem o barbaresco como seu vinho principal. Mas na gestão de Angelo investiram também na Toscana, com projetos em Montalcino, com a Pietra Santa Restituta, e em Bolgheri, com a Ca’Marcanda.

Vinhos brancos

O patriarca engata a conversa na preferência pelas brancas, o que explica a ida para o Etna. A vinícola e os vinhos se chamam Idda, que significa “ela” no dialeto local, e é como os sicilianos se referem ao vulcão Etna. Quando entraram no projeto, em 2017, eram 2 hectares de calicante e 10 hectares da tinta nerello mascalese. Mas Angelo decidiu plantar mais 12 hectares da variedade branca, que resulta num vinho que mescla frescor e complexidade.

Alguns dos vinhos que Angelo Gaja traz para o Brasil Foto: Suzana Barelli

Fala também da sua preocupação com as mudanças climáticas. E conta que comprou vinhedos nas montanhas mais altas do Piemonte, a 650 metros. Está plantando as variedades internacionais chardonnay e sauvignon blanc e também variedades italianas, e dá preferência para as brancas. E surpreende mais ao contar que estuda elaborar um pinot noir na Alemanha, e já tem um convite para isso. Não dá muitos detalhes, mas faz pensar no que está levando esse senhor a investir em outros países. Será o conselho da avô Clotilde Rey, que quando ele tinha 8 anos lhe disse que teria de ser um artesão e, nos seus mandamentos, significa não apenas fazer e saber fazer, mas também saber divulgar o que faz?

Poda invertida

Perguntado sobre o Brasil, conta que sabe que o país elabora bons espumantes e faz perguntas sobre a técnica de poda invertida, que ouviu falar e quer entender melhor – naquela mesma noite, ele provaria alguns destes vinhos que, com irrigação e poda, têm as uvas colhidas no inverno e não no final do verão começo do outono. Se mostrou entusiasmado com a criatividade dos brasileiros de pensarem em uma nova técnica para a vitivinicultura – no caso, de Murilo Regina, o pesquisador que começou com a ideia de colher as uvas da região Sudeste e Centro Oeste no inverno. Depois de provar os vinhos, comentou que o Brasil segue em um bom começo e se mostrou entusiasmado com a inovação. Só faltou perguntar a que ator Gaja associaria os rótulos brasileiros que provou.

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Angelo Gaja prova vinhos brasileiros

No almoço com os jornalistas, o italiano Angelo Gaja mostrou curiosidade em conhecer os vinhos cultivados no sistema de poda invertida. Sua única oportunidade seria provar os vinhos naquela mesma noite. A equipe do Paladar providenciou o envio de vinhos de três produtores, que conseguiram atender a urgência de entregar as garrafas no restaurante Piselli no curto espaço de tempo entre o almoço tardio e o jantar.

Foram eles: a vinícola Guaspari, localizada em Espírito Santo do Pinhal (SP), que enviou as garrafas do Vista do Chá Syrah 2017 e o Vista do Bosque Viognier 2021; a Sacramento Vinifer, na Serra da Canastra (MG), que mandou o Sabina Syrah 2021 e o Sabina Syrah Rosé 2021. Por fim, a Casa Tés, no vale da Grama (SP), com o Casa Tés 2021.

Angelo e seu filho Giovanni provaram os vinhos, mas não fizeram comentários específicos de cada um. “Ele não comenta sobre o que pensa da parte gustativa nem dos vinhos dele, menos ainda do de outros produtores”, conta Otavio Lilla, que estava presente no jantar. Mas gravou o vídeo, que pode ser assistido aqui, a pedido do Paladar.

Ficou claro para os presentes que Angelo se mostrou surpreso e encantado com a técnica. O princípio deste cultivo é fazer as videiras darem frutos no inverno, quando há maior luminosidade e amplitude térmica e não tem chuva nas regiões Sudeste e Centro Oeste brasileiras. Para isso, as plantas são podadas para evitar que comecem a produzir na primavera. Meses mais tarde, irrigação e hormônicos fazem com que as videiras voltem a produzir e deem frutos no inverno. “Angelo considerou esta ideia genial, inovadora”, afirma Lilla.

Curioso por excelência, o produtor italiano aproveitou também uma viagem ao Brasil, seis ou sete anos atrás, para conhecer a produção de vinhos em Santa Catarina.

Giovanni e Angelo Gaja, produtores de vinhos italianos que passaram recentemente pelo Brasil para apresentar seus lançamentos Foto: Suzana Barelli

O italiano Angelo Gaja é daqueles produtores que roubam a cena. Lembro de uma degustação em que ele comparou a nebbiolo, a uva que dá origem aos grandes barolos e barbarescos, ao ator italiano Marcello Mastroianni; e a cabernet sauvignon a John Wayne. Narrou a história com Wayne sendo o centro das atenções em um salão, brilhando poderoso como a cabernet sauvignon. Mastroianni ficaria em um canto, misterioso, valorizando as mulheres ao seu redor, assim como a nebbiolo tem os seus mistérios e engrandece as boas harmonizações à mesa. Nesta história, não falou diretamente dos seus vinhos, mas eles estavam presentes nas taças dos ouvintes, que não conseguiam deixar de prestar atenção na performance de Gaja.

Visita Inesperada

Não foi diferente em sua mais recente passagem pelo Brasil, nesta última semana. Primeiro, foi uma visita inesperada: estava agendada apenas a presença do seu filho Giovanni para uma série de degustações. A própria equipe da Mistral, importadora que traz seus vinhos ao Brasil, foi surpreendida com a visita de não apenas um Gaja, mas de dois. Às vésperas de completar 84 anos, Angelo está passando o bastão da empresa para seus três filhos, Gaia, Rossana e Giovanni, mas a sensação é que ele ainda não está pronto para sair de cena e aproveita as oportunidades para visitar países que gosta – aqui, além da cultura, que ele elogia, e dos amigos, que tem, pode saborear a sua fruta preferida, a manga, que ele troca por qualquer refeição.

E rouba a cena. Depois de ouvir o filho explicar sobre seus vinhos, Angelo fala sobre o Idda, o mais recente projeto da família Gaja, agora na Sicília, e o primeiro em parceria, no caso com a família Alberto Graci. Os Gajas sempre viveram no Piemonte, a vinícola foi fundada em 1859, e tem o barbaresco como seu vinho principal. Mas na gestão de Angelo investiram também na Toscana, com projetos em Montalcino, com a Pietra Santa Restituta, e em Bolgheri, com a Ca’Marcanda.

Vinhos brancos

O patriarca engata a conversa na preferência pelas brancas, o que explica a ida para o Etna. A vinícola e os vinhos se chamam Idda, que significa “ela” no dialeto local, e é como os sicilianos se referem ao vulcão Etna. Quando entraram no projeto, em 2017, eram 2 hectares de calicante e 10 hectares da tinta nerello mascalese. Mas Angelo decidiu plantar mais 12 hectares da variedade branca, que resulta num vinho que mescla frescor e complexidade.

Alguns dos vinhos que Angelo Gaja traz para o Brasil Foto: Suzana Barelli

Fala também da sua preocupação com as mudanças climáticas. E conta que comprou vinhedos nas montanhas mais altas do Piemonte, a 650 metros. Está plantando as variedades internacionais chardonnay e sauvignon blanc e também variedades italianas, e dá preferência para as brancas. E surpreende mais ao contar que estuda elaborar um pinot noir na Alemanha, e já tem um convite para isso. Não dá muitos detalhes, mas faz pensar no que está levando esse senhor a investir em outros países. Será o conselho da avô Clotilde Rey, que quando ele tinha 8 anos lhe disse que teria de ser um artesão e, nos seus mandamentos, significa não apenas fazer e saber fazer, mas também saber divulgar o que faz?

Poda invertida

Perguntado sobre o Brasil, conta que sabe que o país elabora bons espumantes e faz perguntas sobre a técnica de poda invertida, que ouviu falar e quer entender melhor – naquela mesma noite, ele provaria alguns destes vinhos que, com irrigação e poda, têm as uvas colhidas no inverno e não no final do verão começo do outono. Se mostrou entusiasmado com a criatividade dos brasileiros de pensarem em uma nova técnica para a vitivinicultura – no caso, de Murilo Regina, o pesquisador que começou com a ideia de colher as uvas da região Sudeste e Centro Oeste no inverno. Depois de provar os vinhos, comentou que o Brasil segue em um bom começo e se mostrou entusiasmado com a inovação. Só faltou perguntar a que ator Gaja associaria os rótulos brasileiros que provou.

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Angelo Gaja prova vinhos brasileiros

No almoço com os jornalistas, o italiano Angelo Gaja mostrou curiosidade em conhecer os vinhos cultivados no sistema de poda invertida. Sua única oportunidade seria provar os vinhos naquela mesma noite. A equipe do Paladar providenciou o envio de vinhos de três produtores, que conseguiram atender a urgência de entregar as garrafas no restaurante Piselli no curto espaço de tempo entre o almoço tardio e o jantar.

Foram eles: a vinícola Guaspari, localizada em Espírito Santo do Pinhal (SP), que enviou as garrafas do Vista do Chá Syrah 2017 e o Vista do Bosque Viognier 2021; a Sacramento Vinifer, na Serra da Canastra (MG), que mandou o Sabina Syrah 2021 e o Sabina Syrah Rosé 2021. Por fim, a Casa Tés, no vale da Grama (SP), com o Casa Tés 2021.

Angelo e seu filho Giovanni provaram os vinhos, mas não fizeram comentários específicos de cada um. “Ele não comenta sobre o que pensa da parte gustativa nem dos vinhos dele, menos ainda do de outros produtores”, conta Otavio Lilla, que estava presente no jantar. Mas gravou o vídeo, que pode ser assistido aqui, a pedido do Paladar.

Ficou claro para os presentes que Angelo se mostrou surpreso e encantado com a técnica. O princípio deste cultivo é fazer as videiras darem frutos no inverno, quando há maior luminosidade e amplitude térmica e não tem chuva nas regiões Sudeste e Centro Oeste brasileiras. Para isso, as plantas são podadas para evitar que comecem a produzir na primavera. Meses mais tarde, irrigação e hormônicos fazem com que as videiras voltem a produzir e deem frutos no inverno. “Angelo considerou esta ideia genial, inovadora”, afirma Lilla.

Curioso por excelência, o produtor italiano aproveitou também uma viagem ao Brasil, seis ou sete anos atrás, para conhecer a produção de vinhos em Santa Catarina.

Giovanni e Angelo Gaja, produtores de vinhos italianos que passaram recentemente pelo Brasil para apresentar seus lançamentos Foto: Suzana Barelli

O italiano Angelo Gaja é daqueles produtores que roubam a cena. Lembro de uma degustação em que ele comparou a nebbiolo, a uva que dá origem aos grandes barolos e barbarescos, ao ator italiano Marcello Mastroianni; e a cabernet sauvignon a John Wayne. Narrou a história com Wayne sendo o centro das atenções em um salão, brilhando poderoso como a cabernet sauvignon. Mastroianni ficaria em um canto, misterioso, valorizando as mulheres ao seu redor, assim como a nebbiolo tem os seus mistérios e engrandece as boas harmonizações à mesa. Nesta história, não falou diretamente dos seus vinhos, mas eles estavam presentes nas taças dos ouvintes, que não conseguiam deixar de prestar atenção na performance de Gaja.

Visita Inesperada

Não foi diferente em sua mais recente passagem pelo Brasil, nesta última semana. Primeiro, foi uma visita inesperada: estava agendada apenas a presença do seu filho Giovanni para uma série de degustações. A própria equipe da Mistral, importadora que traz seus vinhos ao Brasil, foi surpreendida com a visita de não apenas um Gaja, mas de dois. Às vésperas de completar 84 anos, Angelo está passando o bastão da empresa para seus três filhos, Gaia, Rossana e Giovanni, mas a sensação é que ele ainda não está pronto para sair de cena e aproveita as oportunidades para visitar países que gosta – aqui, além da cultura, que ele elogia, e dos amigos, que tem, pode saborear a sua fruta preferida, a manga, que ele troca por qualquer refeição.

E rouba a cena. Depois de ouvir o filho explicar sobre seus vinhos, Angelo fala sobre o Idda, o mais recente projeto da família Gaja, agora na Sicília, e o primeiro em parceria, no caso com a família Alberto Graci. Os Gajas sempre viveram no Piemonte, a vinícola foi fundada em 1859, e tem o barbaresco como seu vinho principal. Mas na gestão de Angelo investiram também na Toscana, com projetos em Montalcino, com a Pietra Santa Restituta, e em Bolgheri, com a Ca’Marcanda.

Vinhos brancos

O patriarca engata a conversa na preferência pelas brancas, o que explica a ida para o Etna. A vinícola e os vinhos se chamam Idda, que significa “ela” no dialeto local, e é como os sicilianos se referem ao vulcão Etna. Quando entraram no projeto, em 2017, eram 2 hectares de calicante e 10 hectares da tinta nerello mascalese. Mas Angelo decidiu plantar mais 12 hectares da variedade branca, que resulta num vinho que mescla frescor e complexidade.

Alguns dos vinhos que Angelo Gaja traz para o Brasil Foto: Suzana Barelli

Fala também da sua preocupação com as mudanças climáticas. E conta que comprou vinhedos nas montanhas mais altas do Piemonte, a 650 metros. Está plantando as variedades internacionais chardonnay e sauvignon blanc e também variedades italianas, e dá preferência para as brancas. E surpreende mais ao contar que estuda elaborar um pinot noir na Alemanha, e já tem um convite para isso. Não dá muitos detalhes, mas faz pensar no que está levando esse senhor a investir em outros países. Será o conselho da avô Clotilde Rey, que quando ele tinha 8 anos lhe disse que teria de ser um artesão e, nos seus mandamentos, significa não apenas fazer e saber fazer, mas também saber divulgar o que faz?

Poda invertida

Perguntado sobre o Brasil, conta que sabe que o país elabora bons espumantes e faz perguntas sobre a técnica de poda invertida, que ouviu falar e quer entender melhor – naquela mesma noite, ele provaria alguns destes vinhos que, com irrigação e poda, têm as uvas colhidas no inverno e não no final do verão começo do outono. Se mostrou entusiasmado com a criatividade dos brasileiros de pensarem em uma nova técnica para a vitivinicultura – no caso, de Murilo Regina, o pesquisador que começou com a ideia de colher as uvas da região Sudeste e Centro Oeste no inverno. Depois de provar os vinhos, comentou que o Brasil segue em um bom começo e se mostrou entusiasmado com a inovação. Só faltou perguntar a que ator Gaja associaria os rótulos brasileiros que provou.

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Angelo Gaja prova vinhos brasileiros

No almoço com os jornalistas, o italiano Angelo Gaja mostrou curiosidade em conhecer os vinhos cultivados no sistema de poda invertida. Sua única oportunidade seria provar os vinhos naquela mesma noite. A equipe do Paladar providenciou o envio de vinhos de três produtores, que conseguiram atender a urgência de entregar as garrafas no restaurante Piselli no curto espaço de tempo entre o almoço tardio e o jantar.

Foram eles: a vinícola Guaspari, localizada em Espírito Santo do Pinhal (SP), que enviou as garrafas do Vista do Chá Syrah 2017 e o Vista do Bosque Viognier 2021; a Sacramento Vinifer, na Serra da Canastra (MG), que mandou o Sabina Syrah 2021 e o Sabina Syrah Rosé 2021. Por fim, a Casa Tés, no vale da Grama (SP), com o Casa Tés 2021.

Angelo e seu filho Giovanni provaram os vinhos, mas não fizeram comentários específicos de cada um. “Ele não comenta sobre o que pensa da parte gustativa nem dos vinhos dele, menos ainda do de outros produtores”, conta Otavio Lilla, que estava presente no jantar. Mas gravou o vídeo, que pode ser assistido aqui, a pedido do Paladar.

Ficou claro para os presentes que Angelo se mostrou surpreso e encantado com a técnica. O princípio deste cultivo é fazer as videiras darem frutos no inverno, quando há maior luminosidade e amplitude térmica e não tem chuva nas regiões Sudeste e Centro Oeste brasileiras. Para isso, as plantas são podadas para evitar que comecem a produzir na primavera. Meses mais tarde, irrigação e hormônicos fazem com que as videiras voltem a produzir e deem frutos no inverno. “Angelo considerou esta ideia genial, inovadora”, afirma Lilla.

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