Cecília Aldaz e Bautista Casafus são dois sommeliers argentinos, que trabalham no Brasil. Cecília, que elegeu o Rio de Janeiro como morada 11 anos atrás, é a responsável pelos vinhos do premiado Oro, restaurante de seu marido Felipe Bronze, no Leblon. Bautista, por sua vez, comanda o serviço de vinho do não menos famoso Arturito, da chef Paola Carosella, em São Paulo.
Os dois cresceram provando malbec e nem poderia ser diferente. Acompanham a evolução dos tintos e, também dos rosés, elaborados com a variedade, que tem um dia especial no calendário. O último sábado, dia 17 de abril, foi comemorado o Malbec World Day. Com esse conhecimento, digamos, privilegiado, são eles que sugerem os vinhos dessa reportagem: são malbec em três categorias: até R$ 60; de R$ 61 a R$ 120; e acima desse valor.
A lista começa com o Doña Paula Malbec (R$ 49,99, no Pão de Açúcar), indicação de Cecília Aldaz. “É um vinho básico, um típico malbec, com muita fruta. Aquele vinho que agrada todo mundo”, defende ela. Bautista, por sua vez, escolheu o Arte Argento Malbec (R$ 58, na Toque de Vinho). “É um vinho mais simples, para tomar geladinho, para levar ao churrasco com os amigos”, define ele. Nesta faixa de preço, os dois concordam que a busca é por vinhos bem feitos, sem defeitos, mas também sem maiores complexidades. “São vinhos sem profundidade, mas que eu beberia tranquilamente”, acrescenta Bautista.
Na categoria intermediária, de rótulos entre R$ 61 a R$ 120, os dois sommeliers, por coincidência, foram para aqueles produtores argentinos mais irreverentes, que trabalham para mostrar novas leituras da malbec. A dica de Bautista é o Amansado (R$ 113, na Familia Kogan Wines), e a de Cecilia é o This is not another lovely malbec, de Matias Riccitelli (R$ 108, na Winebrands).
A irreverência de Riccitelli começa com o nome do vinho, que pode ser traduzido como “esse não é mais um adorável malbec”. “Tem consumidores que dizem que se cansaram do malbec. Mas atualmente tem vinhos mais frescos elaborados com a variedade, com a fruta não tão madura”, destaca Cecília. O vinho escolhido por Bautista é elaborado por Pablo Michelini – a família Michelini, entre irmãos e primos, é conhecida por elaborar vinhos muito bem feitos, equilibrados, mas com aromas e sabores mais intrigantes, diferentes dos clássicos rótulos do país.
Nos vinhos mais caros, Bautista escolheu o Catena Malbec (R$ 168, na Mistral). “A família Catena fez muito pelo malbec, criaram um instituto de pesquisa, fizeram muitas investigações e avanços. Esse vinho é sempre muito bem feito, complexo”, destaca o sommelier. Cecília, por sua vez, sugere o Val de Flores (R$ 229,90, na Adega Express), que também é um clássico. É um tinto elaborado apenas com a malbec por Michel Rolland, um dos primeiros enólogos consultores a desembarcar na Argentina nos anos 1990 e a mostrar para o mundo o potencial do país.
Os dois profissionais elogiam a variedade, mas Bautista não tem nenhuma garrafa de malbec entre os 20 e poucos vinhos da carta do Arturito. E Cecília, mesmo tendo malbec no cardápio, no caso o Achaval Ferrer, diz que dificilmente coloca um malbec no menu-degustação. “Nada contra ao malbec, mas todos associam um restaurante argentino ao malbec e queremos sair do óbvio”, diz Bautista. Ele trabalha para mostrar que a Argentina tem outras uvas e não apenas a sua variedade emblemática.
Cecília, por sua vez, conta que quando o restaurante estava a pleno vapor, antes da covid, 95% dos pedidos eram de menu-degustação e, nesses casos, sua proposta e apresentar vinhos diferentes para os clientes. “Estou sempre buscando vinhos pouco conhecidos, seja de uvas ou regiões menos valorizadas, seja de clássicos elaborados de maneira diferente”, diz ela.