Suzana Barelli

Uma semana especialmente reservada para desvendar os mistérios do jerez


Na taça, a bebida de sabor seco ou muito doce parece um vinho branco; no nariz, seus aromas podem lembrar flores brancas, amêndoas, avelãs, tostados, balsâmicos e até mel e tâmaras

Por Suzana Barelli

Isso não é vinho branco. É salgado, é amargo e é fortificado. Com esta descrição, dita de forma enfática, Bernardo Pinto, embaixador Sherry Week 2023, oferece uma taça de jerez a um jovem que até então nunca tinha ouvido falar neste vinho cheio de nuances e muita personalidade elaborado no sul da Espanha. A explicação, assim, direta, pode afastar o consumidor – ou não. Por sorte, o jovem se encantou com a bebida, mais ainda quando provou o fino (um dos estilos de jerez) com azeitonas, uma combinação clássica.

Décima edição

Mas não é fácil introduzir o jerez aos consumidores. Na taça, ele parece mesmo ser um vinho branco. Mas no nariz, seus aromas que podem lembrar flores brancas, amêndoas, avelãs, tostados, balsâmicos e até mel e tâmaras, conforme o seu estilo. O seu sabor também caminha em outra direção, inclusive com tais toques salgados. E ele pode ser seco ou muito doce, novamente conforme o seu estilo, de nomes não necessariamente simples para o consumidor como manzanilla, amontilhado, oloroso, entre outros. Para promover este vinho fortificado e traduzir aos consumidores as características únicas da bebida, os amantes de jerez criaram há 10 anos um festival colaborativo chamado de Internacional Sherry Week ou, por aqui, Semana Internacional do Jerez.

continua após a publicidade

A ideia, que vem dando certo deste então, é que os apaixonados por jerez (e eles são muitos, podem acreditar) promovam, eles próprios, eventos com a bebida como tema durante uma semana – neste ano, a data é de 6 a 12 de novembro. E para divulgar o feito, cadastrem os eventos no site www.sherry.wine. Com empolgados como Bernardo Pinto e a sommelière Gabriele Frizon, apelidada de “a louca do jerez”, o Brasil tem destaque nesta programação, com todos os estilos da bebida.

Bernardo Pinto, embaixador da Sherry Week 2023, que promove degustação exclusiva para o Paladar com diferentes estilos de jerez; ao lado dele, Suzana Barelli Foto: Everton Amaro

A rota do jerez

continua após a publicidade

Este ano, a semana cresceu em números de evento e não apenas no Brasil. Pela primeira vez há uma rota do jerez em várias cidades – São Paulo é uma delas, assim como Nova York, Tóquio ou Buenos Aires, em um total de dez destinos. Por aqui, além das degustações e das harmonizações promovidas em bares e restaurantes, haverá pela primeira vez uma feira de vinhos, aberta a quem quiser saber mais sobre o tema (informações no próprio www.sherry.wine e compra de ingressos pelo sympla).

Há também novas marcas que se juntaram ao projeto. Este ano são sete importadoras que participam da semana, com as seguintes vinícolas: Delgado Zulets, La Guita, Valdespino, Real Tesoro, Gonzales-Byass, Fernando de Castilla, Sánchez Romate, La Ina, Hidalgo e Barbadillo. Ainda é um número reduzido. O jerez, pelos dados da consultoria Ideal BI, representa apenas 0,2% do volume de garrafas espanholas importadas pelo Brasil. Mas em valor sua importância é maior, de 0,6%.

Suzana Barelli degusta um dos 14 rótulos de jerez selecionados por Bernardo Pinto Foto: Everton Amaro
continua após a publicidade

O convite para decifrar o jerez

O convite foi irrecusável. Como “esquenta” para a Semana Internacional do Jerez, degustar algumas das garrafas disponíveis no mercado brasileiro com Bernardo Pinto, o embaixador da Sherry Week 2023. Neste ano, Bernardo Pinto conquistou o título de embaixador deste festival, mas ele está à frente do evento desde antes da sua criação, tamanha a sua paixão pela bebida. Ele é, inclusive, um dos poucos formadores homologados de jerez, título que, no Brasil, divide com especialistas como Arthur Azevedo, diretor da Associação Brasileira de Sommelier – São Paulo (ABS-SP).

A degustação começa

continua após a publicidade

E assim, numa tarde chuvosa de outubro, Bernardo estava a postos com 14 garrafas, nos diversos estilos de Jerez (na foto, tem apenas 13, porque ele surpreendeu, no finzinho da degustação, com uma garrafa da sua adega particular). A degustação foi organizada pelo nível de complexidade dos jerezes. Primeiro, ele elegeu o Tio Pepe (Inovini, R$ 175), a marca mais conhecida da bebida, como parâmetro para os finos e manzanilla – estes dois estilos de jerez são semelhantes, com a diferença que o manzanila precisa ser elaborado em Sanlúcar de Barrameda, e o fino, em toda a região de Jerez de La Frontera, na Andaluzia.

Os dois jerezes são elaborados com a uva palomino que ficam em barricas (chamadas de botas) semi-preenchidas de vinho, que vai se transformando lentamente pela flor. A flor é uma capa de leveduras que se forma dentro da bota, protegendo o líquido da oxidação. Com mais de 3 milhões de garrafas por safra, o Tio Pepe é quase sinônimo de jerez, daquele para deixar na porta da geladeira e, mesmo com a produção recorde, tem uma qualidade uniforme e constante.

Finos e manzanillas

continua após a publicidade

Para comparar, pela ordem, os manzanillas La Guita (Zahil, R$ 221), o Solear Barbadillo (World Wine, R$ 238) e o Viva La Pepa, da Sánchez Romate (BelleCave, R$ 183). La Guita e La Pepa, os dois com três anos de soleras e criadeiras (como são chamadas as barricas empilhadas uma em cima da outra, onde os vinhos estagiam), muito secos, com notas florais, de camomila, frutos secos e pão. O Solear seguia as mesmas notas aromáticas, porém está mais “cansado”, com menos frescor. Nos finos, o painel tinha o Inocente (Zahil, R$ 395), com uvas do single vineyard Macharnudo Alto, e dez anos de solera. Bem mais complexo e seco, com aromas de pão, maçã, baunilha.

Em seguida, uma pausa para o Valdespino Viña Macharnudo Alto 2021 (Zahil, R$ 266), um vinho tranquilo (sem ser fortificado) elaborado com a mesma uva palormino e fermentado em barrica. É uma tendência no universo andaluz, de elaborar jerez como vinho branco, sem fortificar e com menor teor alcoólico, mas este é um outro assunto.

O tempo das soleras

continua após a publicidade

A degustação partiu, então, para os demais estilos de jerez, que são também mais alcoólicos. A ordem foi definida pelo tempo que o vinho passa no sistema de soleras e criadeiras. Primeiro, o amontillado Tio Diego (Zahil, R$ 415), que fica 10 anos com a flor (a tal levedura), o que vai concentrando o álcool e dando origem a uma bebida mais untuosa, com muitas frutas secas, amêndoas, notas oxidativas. Amontillado, por definição, é um fino ou um manzanilla que depois de três anos sob a flor, perde esta capa de leveduras, e, sem esta proteção começa a sofrer o efeito do oxigênio.

A taça seguinte é de um manzanilla pasada, o Pastrana (Mistral, R$ 386,48), novamente com uvas de um único vinhedo, na Hidaldo. Pasada é um estilo que vem sendo recuperado por alguns produtores, no qual um manzanilla com longo estágio nas botas, sofre um pequeno nível de oxidação e ganha maior complexidade, porque a flor está mais “fraca”. No Pastrana, são 12 anos nas botas.

Depois, mais um amontillado, o NPU (Belle Cave, R$ 344), que começa amadurecendo em barricas com a flor (a chamada criança biológica com a flor) e depois a flor desaparece (a chamada criança oxidativa), em um processo que leva 18 anos, sempre em barricas americanas de 500 litros. O resultado é que a complexidade na taça, com as notas de frutos secos, toques salinos e notas oxidativas, conquista.

Viva os doces

A etapa seguinte começou com o Barbadillo Pale Cream (World Wine, R$ 149), não tão doce como se poderia esperar. É uma boa introdução ao mundo dos jerezes mais doces. A taça seguinte foi uma agradável surpresa. A garrafa que estava escondida, o Palo Cortado Viejo C.P, da Valdespino, aparece na taça. É um vinho que ficou mais de 20 anos em barricas, elaborado no estilo que une as notas mais delicadas dos amontillados com a intensidade do oloroso.

As duas últimas taças seguem nos doces, os dois elaborados com a uva Pedro Ximénez: o Viña 25 (Vinci Vinhos, R$ 275,05), com 12 anos de passagem entre as soleras e criadeiras e, por fim, o El Candado (Zahil, R$ 458), que mesmo com 10 anos de amadurecimento se mostra mais complexo que o primeiro. Trazem as cores mais escuras do painel, toques mais doces e aromas que lembram passas, especiarias, tabaco. Para fechar bem a degustação e esperar pela Semana Internacional do Jerez, que começa na segunda-feira, dia 6. Ah! Aos interessados, várias importadoras prometem descontos nos preços das garrafas durante o evento.

Isso não é vinho branco. É salgado, é amargo e é fortificado. Com esta descrição, dita de forma enfática, Bernardo Pinto, embaixador Sherry Week 2023, oferece uma taça de jerez a um jovem que até então nunca tinha ouvido falar neste vinho cheio de nuances e muita personalidade elaborado no sul da Espanha. A explicação, assim, direta, pode afastar o consumidor – ou não. Por sorte, o jovem se encantou com a bebida, mais ainda quando provou o fino (um dos estilos de jerez) com azeitonas, uma combinação clássica.

Décima edição

Mas não é fácil introduzir o jerez aos consumidores. Na taça, ele parece mesmo ser um vinho branco. Mas no nariz, seus aromas que podem lembrar flores brancas, amêndoas, avelãs, tostados, balsâmicos e até mel e tâmaras, conforme o seu estilo. O seu sabor também caminha em outra direção, inclusive com tais toques salgados. E ele pode ser seco ou muito doce, novamente conforme o seu estilo, de nomes não necessariamente simples para o consumidor como manzanilla, amontilhado, oloroso, entre outros. Para promover este vinho fortificado e traduzir aos consumidores as características únicas da bebida, os amantes de jerez criaram há 10 anos um festival colaborativo chamado de Internacional Sherry Week ou, por aqui, Semana Internacional do Jerez.

A ideia, que vem dando certo deste então, é que os apaixonados por jerez (e eles são muitos, podem acreditar) promovam, eles próprios, eventos com a bebida como tema durante uma semana – neste ano, a data é de 6 a 12 de novembro. E para divulgar o feito, cadastrem os eventos no site www.sherry.wine. Com empolgados como Bernardo Pinto e a sommelière Gabriele Frizon, apelidada de “a louca do jerez”, o Brasil tem destaque nesta programação, com todos os estilos da bebida.

Bernardo Pinto, embaixador da Sherry Week 2023, que promove degustação exclusiva para o Paladar com diferentes estilos de jerez; ao lado dele, Suzana Barelli Foto: Everton Amaro

A rota do jerez

Este ano, a semana cresceu em números de evento e não apenas no Brasil. Pela primeira vez há uma rota do jerez em várias cidades – São Paulo é uma delas, assim como Nova York, Tóquio ou Buenos Aires, em um total de dez destinos. Por aqui, além das degustações e das harmonizações promovidas em bares e restaurantes, haverá pela primeira vez uma feira de vinhos, aberta a quem quiser saber mais sobre o tema (informações no próprio www.sherry.wine e compra de ingressos pelo sympla).

Há também novas marcas que se juntaram ao projeto. Este ano são sete importadoras que participam da semana, com as seguintes vinícolas: Delgado Zulets, La Guita, Valdespino, Real Tesoro, Gonzales-Byass, Fernando de Castilla, Sánchez Romate, La Ina, Hidalgo e Barbadillo. Ainda é um número reduzido. O jerez, pelos dados da consultoria Ideal BI, representa apenas 0,2% do volume de garrafas espanholas importadas pelo Brasil. Mas em valor sua importância é maior, de 0,6%.

Suzana Barelli degusta um dos 14 rótulos de jerez selecionados por Bernardo Pinto Foto: Everton Amaro

O convite para decifrar o jerez

O convite foi irrecusável. Como “esquenta” para a Semana Internacional do Jerez, degustar algumas das garrafas disponíveis no mercado brasileiro com Bernardo Pinto, o embaixador da Sherry Week 2023. Neste ano, Bernardo Pinto conquistou o título de embaixador deste festival, mas ele está à frente do evento desde antes da sua criação, tamanha a sua paixão pela bebida. Ele é, inclusive, um dos poucos formadores homologados de jerez, título que, no Brasil, divide com especialistas como Arthur Azevedo, diretor da Associação Brasileira de Sommelier – São Paulo (ABS-SP).

A degustação começa

E assim, numa tarde chuvosa de outubro, Bernardo estava a postos com 14 garrafas, nos diversos estilos de Jerez (na foto, tem apenas 13, porque ele surpreendeu, no finzinho da degustação, com uma garrafa da sua adega particular). A degustação foi organizada pelo nível de complexidade dos jerezes. Primeiro, ele elegeu o Tio Pepe (Inovini, R$ 175), a marca mais conhecida da bebida, como parâmetro para os finos e manzanilla – estes dois estilos de jerez são semelhantes, com a diferença que o manzanila precisa ser elaborado em Sanlúcar de Barrameda, e o fino, em toda a região de Jerez de La Frontera, na Andaluzia.

Os dois jerezes são elaborados com a uva palomino que ficam em barricas (chamadas de botas) semi-preenchidas de vinho, que vai se transformando lentamente pela flor. A flor é uma capa de leveduras que se forma dentro da bota, protegendo o líquido da oxidação. Com mais de 3 milhões de garrafas por safra, o Tio Pepe é quase sinônimo de jerez, daquele para deixar na porta da geladeira e, mesmo com a produção recorde, tem uma qualidade uniforme e constante.

Finos e manzanillas

Para comparar, pela ordem, os manzanillas La Guita (Zahil, R$ 221), o Solear Barbadillo (World Wine, R$ 238) e o Viva La Pepa, da Sánchez Romate (BelleCave, R$ 183). La Guita e La Pepa, os dois com três anos de soleras e criadeiras (como são chamadas as barricas empilhadas uma em cima da outra, onde os vinhos estagiam), muito secos, com notas florais, de camomila, frutos secos e pão. O Solear seguia as mesmas notas aromáticas, porém está mais “cansado”, com menos frescor. Nos finos, o painel tinha o Inocente (Zahil, R$ 395), com uvas do single vineyard Macharnudo Alto, e dez anos de solera. Bem mais complexo e seco, com aromas de pão, maçã, baunilha.

Em seguida, uma pausa para o Valdespino Viña Macharnudo Alto 2021 (Zahil, R$ 266), um vinho tranquilo (sem ser fortificado) elaborado com a mesma uva palormino e fermentado em barrica. É uma tendência no universo andaluz, de elaborar jerez como vinho branco, sem fortificar e com menor teor alcoólico, mas este é um outro assunto.

O tempo das soleras

A degustação partiu, então, para os demais estilos de jerez, que são também mais alcoólicos. A ordem foi definida pelo tempo que o vinho passa no sistema de soleras e criadeiras. Primeiro, o amontillado Tio Diego (Zahil, R$ 415), que fica 10 anos com a flor (a tal levedura), o que vai concentrando o álcool e dando origem a uma bebida mais untuosa, com muitas frutas secas, amêndoas, notas oxidativas. Amontillado, por definição, é um fino ou um manzanilla que depois de três anos sob a flor, perde esta capa de leveduras, e, sem esta proteção começa a sofrer o efeito do oxigênio.

A taça seguinte é de um manzanilla pasada, o Pastrana (Mistral, R$ 386,48), novamente com uvas de um único vinhedo, na Hidaldo. Pasada é um estilo que vem sendo recuperado por alguns produtores, no qual um manzanilla com longo estágio nas botas, sofre um pequeno nível de oxidação e ganha maior complexidade, porque a flor está mais “fraca”. No Pastrana, são 12 anos nas botas.

Depois, mais um amontillado, o NPU (Belle Cave, R$ 344), que começa amadurecendo em barricas com a flor (a chamada criança biológica com a flor) e depois a flor desaparece (a chamada criança oxidativa), em um processo que leva 18 anos, sempre em barricas americanas de 500 litros. O resultado é que a complexidade na taça, com as notas de frutos secos, toques salinos e notas oxidativas, conquista.

Viva os doces

A etapa seguinte começou com o Barbadillo Pale Cream (World Wine, R$ 149), não tão doce como se poderia esperar. É uma boa introdução ao mundo dos jerezes mais doces. A taça seguinte foi uma agradável surpresa. A garrafa que estava escondida, o Palo Cortado Viejo C.P, da Valdespino, aparece na taça. É um vinho que ficou mais de 20 anos em barricas, elaborado no estilo que une as notas mais delicadas dos amontillados com a intensidade do oloroso.

As duas últimas taças seguem nos doces, os dois elaborados com a uva Pedro Ximénez: o Viña 25 (Vinci Vinhos, R$ 275,05), com 12 anos de passagem entre as soleras e criadeiras e, por fim, o El Candado (Zahil, R$ 458), que mesmo com 10 anos de amadurecimento se mostra mais complexo que o primeiro. Trazem as cores mais escuras do painel, toques mais doces e aromas que lembram passas, especiarias, tabaco. Para fechar bem a degustação e esperar pela Semana Internacional do Jerez, que começa na segunda-feira, dia 6. Ah! Aos interessados, várias importadoras prometem descontos nos preços das garrafas durante o evento.

Isso não é vinho branco. É salgado, é amargo e é fortificado. Com esta descrição, dita de forma enfática, Bernardo Pinto, embaixador Sherry Week 2023, oferece uma taça de jerez a um jovem que até então nunca tinha ouvido falar neste vinho cheio de nuances e muita personalidade elaborado no sul da Espanha. A explicação, assim, direta, pode afastar o consumidor – ou não. Por sorte, o jovem se encantou com a bebida, mais ainda quando provou o fino (um dos estilos de jerez) com azeitonas, uma combinação clássica.

Décima edição

Mas não é fácil introduzir o jerez aos consumidores. Na taça, ele parece mesmo ser um vinho branco. Mas no nariz, seus aromas que podem lembrar flores brancas, amêndoas, avelãs, tostados, balsâmicos e até mel e tâmaras, conforme o seu estilo. O seu sabor também caminha em outra direção, inclusive com tais toques salgados. E ele pode ser seco ou muito doce, novamente conforme o seu estilo, de nomes não necessariamente simples para o consumidor como manzanilla, amontilhado, oloroso, entre outros. Para promover este vinho fortificado e traduzir aos consumidores as características únicas da bebida, os amantes de jerez criaram há 10 anos um festival colaborativo chamado de Internacional Sherry Week ou, por aqui, Semana Internacional do Jerez.

A ideia, que vem dando certo deste então, é que os apaixonados por jerez (e eles são muitos, podem acreditar) promovam, eles próprios, eventos com a bebida como tema durante uma semana – neste ano, a data é de 6 a 12 de novembro. E para divulgar o feito, cadastrem os eventos no site www.sherry.wine. Com empolgados como Bernardo Pinto e a sommelière Gabriele Frizon, apelidada de “a louca do jerez”, o Brasil tem destaque nesta programação, com todos os estilos da bebida.

Bernardo Pinto, embaixador da Sherry Week 2023, que promove degustação exclusiva para o Paladar com diferentes estilos de jerez; ao lado dele, Suzana Barelli Foto: Everton Amaro

A rota do jerez

Este ano, a semana cresceu em números de evento e não apenas no Brasil. Pela primeira vez há uma rota do jerez em várias cidades – São Paulo é uma delas, assim como Nova York, Tóquio ou Buenos Aires, em um total de dez destinos. Por aqui, além das degustações e das harmonizações promovidas em bares e restaurantes, haverá pela primeira vez uma feira de vinhos, aberta a quem quiser saber mais sobre o tema (informações no próprio www.sherry.wine e compra de ingressos pelo sympla).

Há também novas marcas que se juntaram ao projeto. Este ano são sete importadoras que participam da semana, com as seguintes vinícolas: Delgado Zulets, La Guita, Valdespino, Real Tesoro, Gonzales-Byass, Fernando de Castilla, Sánchez Romate, La Ina, Hidalgo e Barbadillo. Ainda é um número reduzido. O jerez, pelos dados da consultoria Ideal BI, representa apenas 0,2% do volume de garrafas espanholas importadas pelo Brasil. Mas em valor sua importância é maior, de 0,6%.

Suzana Barelli degusta um dos 14 rótulos de jerez selecionados por Bernardo Pinto Foto: Everton Amaro

O convite para decifrar o jerez

O convite foi irrecusável. Como “esquenta” para a Semana Internacional do Jerez, degustar algumas das garrafas disponíveis no mercado brasileiro com Bernardo Pinto, o embaixador da Sherry Week 2023. Neste ano, Bernardo Pinto conquistou o título de embaixador deste festival, mas ele está à frente do evento desde antes da sua criação, tamanha a sua paixão pela bebida. Ele é, inclusive, um dos poucos formadores homologados de jerez, título que, no Brasil, divide com especialistas como Arthur Azevedo, diretor da Associação Brasileira de Sommelier – São Paulo (ABS-SP).

A degustação começa

E assim, numa tarde chuvosa de outubro, Bernardo estava a postos com 14 garrafas, nos diversos estilos de Jerez (na foto, tem apenas 13, porque ele surpreendeu, no finzinho da degustação, com uma garrafa da sua adega particular). A degustação foi organizada pelo nível de complexidade dos jerezes. Primeiro, ele elegeu o Tio Pepe (Inovini, R$ 175), a marca mais conhecida da bebida, como parâmetro para os finos e manzanilla – estes dois estilos de jerez são semelhantes, com a diferença que o manzanila precisa ser elaborado em Sanlúcar de Barrameda, e o fino, em toda a região de Jerez de La Frontera, na Andaluzia.

Os dois jerezes são elaborados com a uva palomino que ficam em barricas (chamadas de botas) semi-preenchidas de vinho, que vai se transformando lentamente pela flor. A flor é uma capa de leveduras que se forma dentro da bota, protegendo o líquido da oxidação. Com mais de 3 milhões de garrafas por safra, o Tio Pepe é quase sinônimo de jerez, daquele para deixar na porta da geladeira e, mesmo com a produção recorde, tem uma qualidade uniforme e constante.

Finos e manzanillas

Para comparar, pela ordem, os manzanillas La Guita (Zahil, R$ 221), o Solear Barbadillo (World Wine, R$ 238) e o Viva La Pepa, da Sánchez Romate (BelleCave, R$ 183). La Guita e La Pepa, os dois com três anos de soleras e criadeiras (como são chamadas as barricas empilhadas uma em cima da outra, onde os vinhos estagiam), muito secos, com notas florais, de camomila, frutos secos e pão. O Solear seguia as mesmas notas aromáticas, porém está mais “cansado”, com menos frescor. Nos finos, o painel tinha o Inocente (Zahil, R$ 395), com uvas do single vineyard Macharnudo Alto, e dez anos de solera. Bem mais complexo e seco, com aromas de pão, maçã, baunilha.

Em seguida, uma pausa para o Valdespino Viña Macharnudo Alto 2021 (Zahil, R$ 266), um vinho tranquilo (sem ser fortificado) elaborado com a mesma uva palormino e fermentado em barrica. É uma tendência no universo andaluz, de elaborar jerez como vinho branco, sem fortificar e com menor teor alcoólico, mas este é um outro assunto.

O tempo das soleras

A degustação partiu, então, para os demais estilos de jerez, que são também mais alcoólicos. A ordem foi definida pelo tempo que o vinho passa no sistema de soleras e criadeiras. Primeiro, o amontillado Tio Diego (Zahil, R$ 415), que fica 10 anos com a flor (a tal levedura), o que vai concentrando o álcool e dando origem a uma bebida mais untuosa, com muitas frutas secas, amêndoas, notas oxidativas. Amontillado, por definição, é um fino ou um manzanilla que depois de três anos sob a flor, perde esta capa de leveduras, e, sem esta proteção começa a sofrer o efeito do oxigênio.

A taça seguinte é de um manzanilla pasada, o Pastrana (Mistral, R$ 386,48), novamente com uvas de um único vinhedo, na Hidaldo. Pasada é um estilo que vem sendo recuperado por alguns produtores, no qual um manzanilla com longo estágio nas botas, sofre um pequeno nível de oxidação e ganha maior complexidade, porque a flor está mais “fraca”. No Pastrana, são 12 anos nas botas.

Depois, mais um amontillado, o NPU (Belle Cave, R$ 344), que começa amadurecendo em barricas com a flor (a chamada criança biológica com a flor) e depois a flor desaparece (a chamada criança oxidativa), em um processo que leva 18 anos, sempre em barricas americanas de 500 litros. O resultado é que a complexidade na taça, com as notas de frutos secos, toques salinos e notas oxidativas, conquista.

Viva os doces

A etapa seguinte começou com o Barbadillo Pale Cream (World Wine, R$ 149), não tão doce como se poderia esperar. É uma boa introdução ao mundo dos jerezes mais doces. A taça seguinte foi uma agradável surpresa. A garrafa que estava escondida, o Palo Cortado Viejo C.P, da Valdespino, aparece na taça. É um vinho que ficou mais de 20 anos em barricas, elaborado no estilo que une as notas mais delicadas dos amontillados com a intensidade do oloroso.

As duas últimas taças seguem nos doces, os dois elaborados com a uva Pedro Ximénez: o Viña 25 (Vinci Vinhos, R$ 275,05), com 12 anos de passagem entre as soleras e criadeiras e, por fim, o El Candado (Zahil, R$ 458), que mesmo com 10 anos de amadurecimento se mostra mais complexo que o primeiro. Trazem as cores mais escuras do painel, toques mais doces e aromas que lembram passas, especiarias, tabaco. Para fechar bem a degustação e esperar pela Semana Internacional do Jerez, que começa na segunda-feira, dia 6. Ah! Aos interessados, várias importadoras prometem descontos nos preços das garrafas durante o evento.

Isso não é vinho branco. É salgado, é amargo e é fortificado. Com esta descrição, dita de forma enfática, Bernardo Pinto, embaixador Sherry Week 2023, oferece uma taça de jerez a um jovem que até então nunca tinha ouvido falar neste vinho cheio de nuances e muita personalidade elaborado no sul da Espanha. A explicação, assim, direta, pode afastar o consumidor – ou não. Por sorte, o jovem se encantou com a bebida, mais ainda quando provou o fino (um dos estilos de jerez) com azeitonas, uma combinação clássica.

Décima edição

Mas não é fácil introduzir o jerez aos consumidores. Na taça, ele parece mesmo ser um vinho branco. Mas no nariz, seus aromas que podem lembrar flores brancas, amêndoas, avelãs, tostados, balsâmicos e até mel e tâmaras, conforme o seu estilo. O seu sabor também caminha em outra direção, inclusive com tais toques salgados. E ele pode ser seco ou muito doce, novamente conforme o seu estilo, de nomes não necessariamente simples para o consumidor como manzanilla, amontilhado, oloroso, entre outros. Para promover este vinho fortificado e traduzir aos consumidores as características únicas da bebida, os amantes de jerez criaram há 10 anos um festival colaborativo chamado de Internacional Sherry Week ou, por aqui, Semana Internacional do Jerez.

A ideia, que vem dando certo deste então, é que os apaixonados por jerez (e eles são muitos, podem acreditar) promovam, eles próprios, eventos com a bebida como tema durante uma semana – neste ano, a data é de 6 a 12 de novembro. E para divulgar o feito, cadastrem os eventos no site www.sherry.wine. Com empolgados como Bernardo Pinto e a sommelière Gabriele Frizon, apelidada de “a louca do jerez”, o Brasil tem destaque nesta programação, com todos os estilos da bebida.

Bernardo Pinto, embaixador da Sherry Week 2023, que promove degustação exclusiva para o Paladar com diferentes estilos de jerez; ao lado dele, Suzana Barelli Foto: Everton Amaro

A rota do jerez

Este ano, a semana cresceu em números de evento e não apenas no Brasil. Pela primeira vez há uma rota do jerez em várias cidades – São Paulo é uma delas, assim como Nova York, Tóquio ou Buenos Aires, em um total de dez destinos. Por aqui, além das degustações e das harmonizações promovidas em bares e restaurantes, haverá pela primeira vez uma feira de vinhos, aberta a quem quiser saber mais sobre o tema (informações no próprio www.sherry.wine e compra de ingressos pelo sympla).

Há também novas marcas que se juntaram ao projeto. Este ano são sete importadoras que participam da semana, com as seguintes vinícolas: Delgado Zulets, La Guita, Valdespino, Real Tesoro, Gonzales-Byass, Fernando de Castilla, Sánchez Romate, La Ina, Hidalgo e Barbadillo. Ainda é um número reduzido. O jerez, pelos dados da consultoria Ideal BI, representa apenas 0,2% do volume de garrafas espanholas importadas pelo Brasil. Mas em valor sua importância é maior, de 0,6%.

Suzana Barelli degusta um dos 14 rótulos de jerez selecionados por Bernardo Pinto Foto: Everton Amaro

O convite para decifrar o jerez

O convite foi irrecusável. Como “esquenta” para a Semana Internacional do Jerez, degustar algumas das garrafas disponíveis no mercado brasileiro com Bernardo Pinto, o embaixador da Sherry Week 2023. Neste ano, Bernardo Pinto conquistou o título de embaixador deste festival, mas ele está à frente do evento desde antes da sua criação, tamanha a sua paixão pela bebida. Ele é, inclusive, um dos poucos formadores homologados de jerez, título que, no Brasil, divide com especialistas como Arthur Azevedo, diretor da Associação Brasileira de Sommelier – São Paulo (ABS-SP).

A degustação começa

E assim, numa tarde chuvosa de outubro, Bernardo estava a postos com 14 garrafas, nos diversos estilos de Jerez (na foto, tem apenas 13, porque ele surpreendeu, no finzinho da degustação, com uma garrafa da sua adega particular). A degustação foi organizada pelo nível de complexidade dos jerezes. Primeiro, ele elegeu o Tio Pepe (Inovini, R$ 175), a marca mais conhecida da bebida, como parâmetro para os finos e manzanilla – estes dois estilos de jerez são semelhantes, com a diferença que o manzanila precisa ser elaborado em Sanlúcar de Barrameda, e o fino, em toda a região de Jerez de La Frontera, na Andaluzia.

Os dois jerezes são elaborados com a uva palomino que ficam em barricas (chamadas de botas) semi-preenchidas de vinho, que vai se transformando lentamente pela flor. A flor é uma capa de leveduras que se forma dentro da bota, protegendo o líquido da oxidação. Com mais de 3 milhões de garrafas por safra, o Tio Pepe é quase sinônimo de jerez, daquele para deixar na porta da geladeira e, mesmo com a produção recorde, tem uma qualidade uniforme e constante.

Finos e manzanillas

Para comparar, pela ordem, os manzanillas La Guita (Zahil, R$ 221), o Solear Barbadillo (World Wine, R$ 238) e o Viva La Pepa, da Sánchez Romate (BelleCave, R$ 183). La Guita e La Pepa, os dois com três anos de soleras e criadeiras (como são chamadas as barricas empilhadas uma em cima da outra, onde os vinhos estagiam), muito secos, com notas florais, de camomila, frutos secos e pão. O Solear seguia as mesmas notas aromáticas, porém está mais “cansado”, com menos frescor. Nos finos, o painel tinha o Inocente (Zahil, R$ 395), com uvas do single vineyard Macharnudo Alto, e dez anos de solera. Bem mais complexo e seco, com aromas de pão, maçã, baunilha.

Em seguida, uma pausa para o Valdespino Viña Macharnudo Alto 2021 (Zahil, R$ 266), um vinho tranquilo (sem ser fortificado) elaborado com a mesma uva palormino e fermentado em barrica. É uma tendência no universo andaluz, de elaborar jerez como vinho branco, sem fortificar e com menor teor alcoólico, mas este é um outro assunto.

O tempo das soleras

A degustação partiu, então, para os demais estilos de jerez, que são também mais alcoólicos. A ordem foi definida pelo tempo que o vinho passa no sistema de soleras e criadeiras. Primeiro, o amontillado Tio Diego (Zahil, R$ 415), que fica 10 anos com a flor (a tal levedura), o que vai concentrando o álcool e dando origem a uma bebida mais untuosa, com muitas frutas secas, amêndoas, notas oxidativas. Amontillado, por definição, é um fino ou um manzanilla que depois de três anos sob a flor, perde esta capa de leveduras, e, sem esta proteção começa a sofrer o efeito do oxigênio.

A taça seguinte é de um manzanilla pasada, o Pastrana (Mistral, R$ 386,48), novamente com uvas de um único vinhedo, na Hidaldo. Pasada é um estilo que vem sendo recuperado por alguns produtores, no qual um manzanilla com longo estágio nas botas, sofre um pequeno nível de oxidação e ganha maior complexidade, porque a flor está mais “fraca”. No Pastrana, são 12 anos nas botas.

Depois, mais um amontillado, o NPU (Belle Cave, R$ 344), que começa amadurecendo em barricas com a flor (a chamada criança biológica com a flor) e depois a flor desaparece (a chamada criança oxidativa), em um processo que leva 18 anos, sempre em barricas americanas de 500 litros. O resultado é que a complexidade na taça, com as notas de frutos secos, toques salinos e notas oxidativas, conquista.

Viva os doces

A etapa seguinte começou com o Barbadillo Pale Cream (World Wine, R$ 149), não tão doce como se poderia esperar. É uma boa introdução ao mundo dos jerezes mais doces. A taça seguinte foi uma agradável surpresa. A garrafa que estava escondida, o Palo Cortado Viejo C.P, da Valdespino, aparece na taça. É um vinho que ficou mais de 20 anos em barricas, elaborado no estilo que une as notas mais delicadas dos amontillados com a intensidade do oloroso.

As duas últimas taças seguem nos doces, os dois elaborados com a uva Pedro Ximénez: o Viña 25 (Vinci Vinhos, R$ 275,05), com 12 anos de passagem entre as soleras e criadeiras e, por fim, o El Candado (Zahil, R$ 458), que mesmo com 10 anos de amadurecimento se mostra mais complexo que o primeiro. Trazem as cores mais escuras do painel, toques mais doces e aromas que lembram passas, especiarias, tabaco. Para fechar bem a degustação e esperar pela Semana Internacional do Jerez, que começa na segunda-feira, dia 6. Ah! Aos interessados, várias importadoras prometem descontos nos preços das garrafas durante o evento.

Isso não é vinho branco. É salgado, é amargo e é fortificado. Com esta descrição, dita de forma enfática, Bernardo Pinto, embaixador Sherry Week 2023, oferece uma taça de jerez a um jovem que até então nunca tinha ouvido falar neste vinho cheio de nuances e muita personalidade elaborado no sul da Espanha. A explicação, assim, direta, pode afastar o consumidor – ou não. Por sorte, o jovem se encantou com a bebida, mais ainda quando provou o fino (um dos estilos de jerez) com azeitonas, uma combinação clássica.

Décima edição

Mas não é fácil introduzir o jerez aos consumidores. Na taça, ele parece mesmo ser um vinho branco. Mas no nariz, seus aromas que podem lembrar flores brancas, amêndoas, avelãs, tostados, balsâmicos e até mel e tâmaras, conforme o seu estilo. O seu sabor também caminha em outra direção, inclusive com tais toques salgados. E ele pode ser seco ou muito doce, novamente conforme o seu estilo, de nomes não necessariamente simples para o consumidor como manzanilla, amontilhado, oloroso, entre outros. Para promover este vinho fortificado e traduzir aos consumidores as características únicas da bebida, os amantes de jerez criaram há 10 anos um festival colaborativo chamado de Internacional Sherry Week ou, por aqui, Semana Internacional do Jerez.

A ideia, que vem dando certo deste então, é que os apaixonados por jerez (e eles são muitos, podem acreditar) promovam, eles próprios, eventos com a bebida como tema durante uma semana – neste ano, a data é de 6 a 12 de novembro. E para divulgar o feito, cadastrem os eventos no site www.sherry.wine. Com empolgados como Bernardo Pinto e a sommelière Gabriele Frizon, apelidada de “a louca do jerez”, o Brasil tem destaque nesta programação, com todos os estilos da bebida.

Bernardo Pinto, embaixador da Sherry Week 2023, que promove degustação exclusiva para o Paladar com diferentes estilos de jerez; ao lado dele, Suzana Barelli Foto: Everton Amaro

A rota do jerez

Este ano, a semana cresceu em números de evento e não apenas no Brasil. Pela primeira vez há uma rota do jerez em várias cidades – São Paulo é uma delas, assim como Nova York, Tóquio ou Buenos Aires, em um total de dez destinos. Por aqui, além das degustações e das harmonizações promovidas em bares e restaurantes, haverá pela primeira vez uma feira de vinhos, aberta a quem quiser saber mais sobre o tema (informações no próprio www.sherry.wine e compra de ingressos pelo sympla).

Há também novas marcas que se juntaram ao projeto. Este ano são sete importadoras que participam da semana, com as seguintes vinícolas: Delgado Zulets, La Guita, Valdespino, Real Tesoro, Gonzales-Byass, Fernando de Castilla, Sánchez Romate, La Ina, Hidalgo e Barbadillo. Ainda é um número reduzido. O jerez, pelos dados da consultoria Ideal BI, representa apenas 0,2% do volume de garrafas espanholas importadas pelo Brasil. Mas em valor sua importância é maior, de 0,6%.

Suzana Barelli degusta um dos 14 rótulos de jerez selecionados por Bernardo Pinto Foto: Everton Amaro

O convite para decifrar o jerez

O convite foi irrecusável. Como “esquenta” para a Semana Internacional do Jerez, degustar algumas das garrafas disponíveis no mercado brasileiro com Bernardo Pinto, o embaixador da Sherry Week 2023. Neste ano, Bernardo Pinto conquistou o título de embaixador deste festival, mas ele está à frente do evento desde antes da sua criação, tamanha a sua paixão pela bebida. Ele é, inclusive, um dos poucos formadores homologados de jerez, título que, no Brasil, divide com especialistas como Arthur Azevedo, diretor da Associação Brasileira de Sommelier – São Paulo (ABS-SP).

A degustação começa

E assim, numa tarde chuvosa de outubro, Bernardo estava a postos com 14 garrafas, nos diversos estilos de Jerez (na foto, tem apenas 13, porque ele surpreendeu, no finzinho da degustação, com uma garrafa da sua adega particular). A degustação foi organizada pelo nível de complexidade dos jerezes. Primeiro, ele elegeu o Tio Pepe (Inovini, R$ 175), a marca mais conhecida da bebida, como parâmetro para os finos e manzanilla – estes dois estilos de jerez são semelhantes, com a diferença que o manzanila precisa ser elaborado em Sanlúcar de Barrameda, e o fino, em toda a região de Jerez de La Frontera, na Andaluzia.

Os dois jerezes são elaborados com a uva palomino que ficam em barricas (chamadas de botas) semi-preenchidas de vinho, que vai se transformando lentamente pela flor. A flor é uma capa de leveduras que se forma dentro da bota, protegendo o líquido da oxidação. Com mais de 3 milhões de garrafas por safra, o Tio Pepe é quase sinônimo de jerez, daquele para deixar na porta da geladeira e, mesmo com a produção recorde, tem uma qualidade uniforme e constante.

Finos e manzanillas

Para comparar, pela ordem, os manzanillas La Guita (Zahil, R$ 221), o Solear Barbadillo (World Wine, R$ 238) e o Viva La Pepa, da Sánchez Romate (BelleCave, R$ 183). La Guita e La Pepa, os dois com três anos de soleras e criadeiras (como são chamadas as barricas empilhadas uma em cima da outra, onde os vinhos estagiam), muito secos, com notas florais, de camomila, frutos secos e pão. O Solear seguia as mesmas notas aromáticas, porém está mais “cansado”, com menos frescor. Nos finos, o painel tinha o Inocente (Zahil, R$ 395), com uvas do single vineyard Macharnudo Alto, e dez anos de solera. Bem mais complexo e seco, com aromas de pão, maçã, baunilha.

Em seguida, uma pausa para o Valdespino Viña Macharnudo Alto 2021 (Zahil, R$ 266), um vinho tranquilo (sem ser fortificado) elaborado com a mesma uva palormino e fermentado em barrica. É uma tendência no universo andaluz, de elaborar jerez como vinho branco, sem fortificar e com menor teor alcoólico, mas este é um outro assunto.

O tempo das soleras

A degustação partiu, então, para os demais estilos de jerez, que são também mais alcoólicos. A ordem foi definida pelo tempo que o vinho passa no sistema de soleras e criadeiras. Primeiro, o amontillado Tio Diego (Zahil, R$ 415), que fica 10 anos com a flor (a tal levedura), o que vai concentrando o álcool e dando origem a uma bebida mais untuosa, com muitas frutas secas, amêndoas, notas oxidativas. Amontillado, por definição, é um fino ou um manzanilla que depois de três anos sob a flor, perde esta capa de leveduras, e, sem esta proteção começa a sofrer o efeito do oxigênio.

A taça seguinte é de um manzanilla pasada, o Pastrana (Mistral, R$ 386,48), novamente com uvas de um único vinhedo, na Hidaldo. Pasada é um estilo que vem sendo recuperado por alguns produtores, no qual um manzanilla com longo estágio nas botas, sofre um pequeno nível de oxidação e ganha maior complexidade, porque a flor está mais “fraca”. No Pastrana, são 12 anos nas botas.

Depois, mais um amontillado, o NPU (Belle Cave, R$ 344), que começa amadurecendo em barricas com a flor (a chamada criança biológica com a flor) e depois a flor desaparece (a chamada criança oxidativa), em um processo que leva 18 anos, sempre em barricas americanas de 500 litros. O resultado é que a complexidade na taça, com as notas de frutos secos, toques salinos e notas oxidativas, conquista.

Viva os doces

A etapa seguinte começou com o Barbadillo Pale Cream (World Wine, R$ 149), não tão doce como se poderia esperar. É uma boa introdução ao mundo dos jerezes mais doces. A taça seguinte foi uma agradável surpresa. A garrafa que estava escondida, o Palo Cortado Viejo C.P, da Valdespino, aparece na taça. É um vinho que ficou mais de 20 anos em barricas, elaborado no estilo que une as notas mais delicadas dos amontillados com a intensidade do oloroso.

As duas últimas taças seguem nos doces, os dois elaborados com a uva Pedro Ximénez: o Viña 25 (Vinci Vinhos, R$ 275,05), com 12 anos de passagem entre as soleras e criadeiras e, por fim, o El Candado (Zahil, R$ 458), que mesmo com 10 anos de amadurecimento se mostra mais complexo que o primeiro. Trazem as cores mais escuras do painel, toques mais doces e aromas que lembram passas, especiarias, tabaco. Para fechar bem a degustação e esperar pela Semana Internacional do Jerez, que começa na segunda-feira, dia 6. Ah! Aos interessados, várias importadoras prometem descontos nos preços das garrafas durante o evento.

Tudo Sobre

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.