Suzana Barelli

Vale a pena prestar atenção na safra?


As mudanças do clima e o avanço da tecnologia vêm mostrando que a safra importa sim

Por Suzana Barelli
Atualização:
As amostras foram selecionadas em setembro, por cerca de 90 enólogos, que degustaram às cegas as 503 amostras inscritas neste ano por mais de 70 vinícolas Foto: Jeferson Soldi

Havia uma máxima de que a safra só importava no Velho Mundo, como é chamado o grupo de países europeus que tradicionalmente elabora vinhos. Em oposição, no Novo Mundo, que reúne os países com viticultura mais recente, o clima tinha pouco impacto nos brancos e tintos, que se mantinham muito semelhantes ano a ano. Isso foi verdade em um passado não tão distante, com raras exceções.

As mudanças do clima, somadas ao maior conhecimento técnico do que acontece nos vinhedos e ao avanço da tecnologia, vêm mostrando que a safra importa sim e cada vez mais também no Novo Mundo. No Brasil, isso não é diferente. Anos como 2018 e 2020, de verões muito secos e quentes, resultaram em vinhos com maior concentração de aromas frutados, mais potentes e alcoólicos. Enquanto 2023 traz tintos e brancos não tão exuberantes, porém muito equilibrados. E já há a pergunta de qual será o impacto do fenômeno El Niño nos vinhos da safra de 2024.

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Safra pelo Brasil

Mais que isso: cada vez mais não se pode resumir a safra brasileira ao que acontece no Rio Grande do Sul. Dos 75.550 hectares de vinhedos cultivados no Brasil, o estado sinônimo de vinho representa 62% do total, com 46.970 hectares de vinhas. Esta porcentagem, mesmo alta, já superou os 90%. Atualmente, para ficar em apenas um exemplo, São Paulo tem 8.436 hectares de vinhedos cultivados. No nosso mapa vinícola já há 10 estados que elaboram vinhos finos, aqueles com uvas vinícolas, e o clima é bem diferente em cada região.

São estas características que tornam cada vez mais importante acompanhar a Avaliação Nacional de Vinhos, uma mega degustação organizada pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), que apresenta ao mercado as amostras mais representativas de cada ano. Em sua 31ª edição, a avaliação impressiona não apenas pelo seu tamanho – neste ano foram 700 pessoas na degustação presencial, em Bento Gonçalves (RS) e mais uma estimativa de mais de 600 pessoas online –, mas principalmente pelos vinhos que apresenta nas taças.

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90 enólogos

As amostras foram selecionadas em setembro, por cerca de 90 enólogos, que degustaram às cegas (sem saber o que tem na taça) as 503 amostras inscritas neste ano por mais de 70 vinícolas (na primeira edição foram 42 amostras de 18 vinícolas gaúchas). As 16 amostras mais representativas da safra foram apresentadas no primeiro sábado de novembro para aos 700 inscritos e o público online (que receberam as amostras em suas casas).

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Na degustação, com transmissão pelo canal do YouTube da ABE, todos provaram dois vinhos-base para espumante (como é chamado o vinho daquela safra que depois será mesclado com outros vinhos e dará origem ao espumante em uma segunda fermentação), além de brancos, rosés e tintos. Além dos espumantes, muitos vinhos ainda não estavam prontos, já que são amostras que ainda amadurecem em tanques de inox ou barricas de carvalho.

Tendências

A seleção permite não apenas entender melhor a safra como apontar tendências. Uma é dos vinhos em outras regiões – a amostra 14 foi um petite syrah, da Vinícola Brasília, localizada na Capital Federal. Neste ano, havia amostras de oito estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, além do Distrito Federal.

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Outra são das variedades que podem se mostrar promissoras, como a branca alvarinho, que vem ganhando o mundo depois de mostrar sua qualidade em Portugal e na Espanha, e a tinta marselan.

No painel de comentaristas das amostras, um dos destaques internacionais foi o enólogo francês Michel Friou Foto: Jeferson Soldi

Comentaristas internacionais

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No painel de comentaristas das amostras, os destaques internacionais foram o médico Jean Pierre Peynaud, filho de Emile Peynaud (1912-2004), o francês considerado o pai da enologia moderna, e o enólogo também francês Michel Friou, da ícone chilena Almaviva.

Feliz com os vinhos que conheceu no Brasil, o simpático Peynaud comentou a amostra de pinot noir e citou uma frase de seu pai. “A verdade de um bom vinho fica sempre no solo”, disse ele. E Friou elogiou o perfil mais redondo dos vinhos brasileiros elaborados com a tannat em comparação com aqueles de Madiran (onde a variedade se originou) e no Uruguai, onde faz muito sucesso.

Conheça as 16 amostras selecionadas

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Vinho base espumante

1. Chardonnay e Pinot Noir – Vinícola Geisse – Pinto Bandeira (RS)

2. Pinot Noir - Moet Hennessy do Brasil – Garibaldi (RS)

Categoria branco fino seco não aromático

3. Alvarinho – Cooperativa Vinícola Garibaldi - Garibaldi (RS)

4. Chardonnay – Cooperativa Vinícola São João – Farroupilha (RS)

Categoria branco fino seco aromático

5. Moscato Giallo – Hortência Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

6. Malvasia Aromática – Cooperativa Vinícola Aurora – Bento Gonçalves (RS)

Categoria rosé fino seco

7. Tannat – Casa Venturini Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

Categoria tinto fino seco jovem

8. Merlot – Vinícola Salton – Bento Gonçalves (RS)

9. Pinot Noir – Miolo Win Group – Bento Gonçalves (RS)

Categoria tinto fino seco

10. Marselan – Vinícola Gazzaro – Flores da Cunha (RS)

11. Alicante Bouschet – Vinícola Salvador – Flores da Cunha (RS)

12. Cabernet Sauvignon – Vinícola Perini - Farroupilha (RS)

13. Cabernet Franc – Vinícola Don Guerino – Alto Feliz (RS)

14. Petite Syrah – Vinícola Brasília – Brasília (DF)

15. Tannat – Vinícola Almadén – Santana do Livramento (RS)

16. Tannat – Vinícola dos Plátanos - Farroupilha (RS)

As amostras foram selecionadas em setembro, por cerca de 90 enólogos, que degustaram às cegas as 503 amostras inscritas neste ano por mais de 70 vinícolas Foto: Jeferson Soldi

Havia uma máxima de que a safra só importava no Velho Mundo, como é chamado o grupo de países europeus que tradicionalmente elabora vinhos. Em oposição, no Novo Mundo, que reúne os países com viticultura mais recente, o clima tinha pouco impacto nos brancos e tintos, que se mantinham muito semelhantes ano a ano. Isso foi verdade em um passado não tão distante, com raras exceções.

As mudanças do clima, somadas ao maior conhecimento técnico do que acontece nos vinhedos e ao avanço da tecnologia, vêm mostrando que a safra importa sim e cada vez mais também no Novo Mundo. No Brasil, isso não é diferente. Anos como 2018 e 2020, de verões muito secos e quentes, resultaram em vinhos com maior concentração de aromas frutados, mais potentes e alcoólicos. Enquanto 2023 traz tintos e brancos não tão exuberantes, porém muito equilibrados. E já há a pergunta de qual será o impacto do fenômeno El Niño nos vinhos da safra de 2024.

Safra pelo Brasil

Mais que isso: cada vez mais não se pode resumir a safra brasileira ao que acontece no Rio Grande do Sul. Dos 75.550 hectares de vinhedos cultivados no Brasil, o estado sinônimo de vinho representa 62% do total, com 46.970 hectares de vinhas. Esta porcentagem, mesmo alta, já superou os 90%. Atualmente, para ficar em apenas um exemplo, São Paulo tem 8.436 hectares de vinhedos cultivados. No nosso mapa vinícola já há 10 estados que elaboram vinhos finos, aqueles com uvas vinícolas, e o clima é bem diferente em cada região.

São estas características que tornam cada vez mais importante acompanhar a Avaliação Nacional de Vinhos, uma mega degustação organizada pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), que apresenta ao mercado as amostras mais representativas de cada ano. Em sua 31ª edição, a avaliação impressiona não apenas pelo seu tamanho – neste ano foram 700 pessoas na degustação presencial, em Bento Gonçalves (RS) e mais uma estimativa de mais de 600 pessoas online –, mas principalmente pelos vinhos que apresenta nas taças.

90 enólogos

As amostras foram selecionadas em setembro, por cerca de 90 enólogos, que degustaram às cegas (sem saber o que tem na taça) as 503 amostras inscritas neste ano por mais de 70 vinícolas (na primeira edição foram 42 amostras de 18 vinícolas gaúchas). As 16 amostras mais representativas da safra foram apresentadas no primeiro sábado de novembro para aos 700 inscritos e o público online (que receberam as amostras em suas casas).

Na degustação, com transmissão pelo canal do YouTube da ABE, todos provaram dois vinhos-base para espumante (como é chamado o vinho daquela safra que depois será mesclado com outros vinhos e dará origem ao espumante em uma segunda fermentação), além de brancos, rosés e tintos. Além dos espumantes, muitos vinhos ainda não estavam prontos, já que são amostras que ainda amadurecem em tanques de inox ou barricas de carvalho.

Tendências

A seleção permite não apenas entender melhor a safra como apontar tendências. Uma é dos vinhos em outras regiões – a amostra 14 foi um petite syrah, da Vinícola Brasília, localizada na Capital Federal. Neste ano, havia amostras de oito estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, além do Distrito Federal.

Outra são das variedades que podem se mostrar promissoras, como a branca alvarinho, que vem ganhando o mundo depois de mostrar sua qualidade em Portugal e na Espanha, e a tinta marselan.

No painel de comentaristas das amostras, um dos destaques internacionais foi o enólogo francês Michel Friou Foto: Jeferson Soldi

Comentaristas internacionais

No painel de comentaristas das amostras, os destaques internacionais foram o médico Jean Pierre Peynaud, filho de Emile Peynaud (1912-2004), o francês considerado o pai da enologia moderna, e o enólogo também francês Michel Friou, da ícone chilena Almaviva.

Feliz com os vinhos que conheceu no Brasil, o simpático Peynaud comentou a amostra de pinot noir e citou uma frase de seu pai. “A verdade de um bom vinho fica sempre no solo”, disse ele. E Friou elogiou o perfil mais redondo dos vinhos brasileiros elaborados com a tannat em comparação com aqueles de Madiran (onde a variedade se originou) e no Uruguai, onde faz muito sucesso.

Conheça as 16 amostras selecionadas

Vinho base espumante

1. Chardonnay e Pinot Noir – Vinícola Geisse – Pinto Bandeira (RS)

2. Pinot Noir - Moet Hennessy do Brasil – Garibaldi (RS)

Categoria branco fino seco não aromático

3. Alvarinho – Cooperativa Vinícola Garibaldi - Garibaldi (RS)

4. Chardonnay – Cooperativa Vinícola São João – Farroupilha (RS)

Categoria branco fino seco aromático

5. Moscato Giallo – Hortência Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

6. Malvasia Aromática – Cooperativa Vinícola Aurora – Bento Gonçalves (RS)

Categoria rosé fino seco

7. Tannat – Casa Venturini Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

Categoria tinto fino seco jovem

8. Merlot – Vinícola Salton – Bento Gonçalves (RS)

9. Pinot Noir – Miolo Win Group – Bento Gonçalves (RS)

Categoria tinto fino seco

10. Marselan – Vinícola Gazzaro – Flores da Cunha (RS)

11. Alicante Bouschet – Vinícola Salvador – Flores da Cunha (RS)

12. Cabernet Sauvignon – Vinícola Perini - Farroupilha (RS)

13. Cabernet Franc – Vinícola Don Guerino – Alto Feliz (RS)

14. Petite Syrah – Vinícola Brasília – Brasília (DF)

15. Tannat – Vinícola Almadén – Santana do Livramento (RS)

16. Tannat – Vinícola dos Plátanos - Farroupilha (RS)

As amostras foram selecionadas em setembro, por cerca de 90 enólogos, que degustaram às cegas as 503 amostras inscritas neste ano por mais de 70 vinícolas Foto: Jeferson Soldi

Havia uma máxima de que a safra só importava no Velho Mundo, como é chamado o grupo de países europeus que tradicionalmente elabora vinhos. Em oposição, no Novo Mundo, que reúne os países com viticultura mais recente, o clima tinha pouco impacto nos brancos e tintos, que se mantinham muito semelhantes ano a ano. Isso foi verdade em um passado não tão distante, com raras exceções.

As mudanças do clima, somadas ao maior conhecimento técnico do que acontece nos vinhedos e ao avanço da tecnologia, vêm mostrando que a safra importa sim e cada vez mais também no Novo Mundo. No Brasil, isso não é diferente. Anos como 2018 e 2020, de verões muito secos e quentes, resultaram em vinhos com maior concentração de aromas frutados, mais potentes e alcoólicos. Enquanto 2023 traz tintos e brancos não tão exuberantes, porém muito equilibrados. E já há a pergunta de qual será o impacto do fenômeno El Niño nos vinhos da safra de 2024.

Safra pelo Brasil

Mais que isso: cada vez mais não se pode resumir a safra brasileira ao que acontece no Rio Grande do Sul. Dos 75.550 hectares de vinhedos cultivados no Brasil, o estado sinônimo de vinho representa 62% do total, com 46.970 hectares de vinhas. Esta porcentagem, mesmo alta, já superou os 90%. Atualmente, para ficar em apenas um exemplo, São Paulo tem 8.436 hectares de vinhedos cultivados. No nosso mapa vinícola já há 10 estados que elaboram vinhos finos, aqueles com uvas vinícolas, e o clima é bem diferente em cada região.

São estas características que tornam cada vez mais importante acompanhar a Avaliação Nacional de Vinhos, uma mega degustação organizada pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), que apresenta ao mercado as amostras mais representativas de cada ano. Em sua 31ª edição, a avaliação impressiona não apenas pelo seu tamanho – neste ano foram 700 pessoas na degustação presencial, em Bento Gonçalves (RS) e mais uma estimativa de mais de 600 pessoas online –, mas principalmente pelos vinhos que apresenta nas taças.

90 enólogos

As amostras foram selecionadas em setembro, por cerca de 90 enólogos, que degustaram às cegas (sem saber o que tem na taça) as 503 amostras inscritas neste ano por mais de 70 vinícolas (na primeira edição foram 42 amostras de 18 vinícolas gaúchas). As 16 amostras mais representativas da safra foram apresentadas no primeiro sábado de novembro para aos 700 inscritos e o público online (que receberam as amostras em suas casas).

Na degustação, com transmissão pelo canal do YouTube da ABE, todos provaram dois vinhos-base para espumante (como é chamado o vinho daquela safra que depois será mesclado com outros vinhos e dará origem ao espumante em uma segunda fermentação), além de brancos, rosés e tintos. Além dos espumantes, muitos vinhos ainda não estavam prontos, já que são amostras que ainda amadurecem em tanques de inox ou barricas de carvalho.

Tendências

A seleção permite não apenas entender melhor a safra como apontar tendências. Uma é dos vinhos em outras regiões – a amostra 14 foi um petite syrah, da Vinícola Brasília, localizada na Capital Federal. Neste ano, havia amostras de oito estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, além do Distrito Federal.

Outra são das variedades que podem se mostrar promissoras, como a branca alvarinho, que vem ganhando o mundo depois de mostrar sua qualidade em Portugal e na Espanha, e a tinta marselan.

No painel de comentaristas das amostras, um dos destaques internacionais foi o enólogo francês Michel Friou Foto: Jeferson Soldi

Comentaristas internacionais

No painel de comentaristas das amostras, os destaques internacionais foram o médico Jean Pierre Peynaud, filho de Emile Peynaud (1912-2004), o francês considerado o pai da enologia moderna, e o enólogo também francês Michel Friou, da ícone chilena Almaviva.

Feliz com os vinhos que conheceu no Brasil, o simpático Peynaud comentou a amostra de pinot noir e citou uma frase de seu pai. “A verdade de um bom vinho fica sempre no solo”, disse ele. E Friou elogiou o perfil mais redondo dos vinhos brasileiros elaborados com a tannat em comparação com aqueles de Madiran (onde a variedade se originou) e no Uruguai, onde faz muito sucesso.

Conheça as 16 amostras selecionadas

Vinho base espumante

1. Chardonnay e Pinot Noir – Vinícola Geisse – Pinto Bandeira (RS)

2. Pinot Noir - Moet Hennessy do Brasil – Garibaldi (RS)

Categoria branco fino seco não aromático

3. Alvarinho – Cooperativa Vinícola Garibaldi - Garibaldi (RS)

4. Chardonnay – Cooperativa Vinícola São João – Farroupilha (RS)

Categoria branco fino seco aromático

5. Moscato Giallo – Hortência Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

6. Malvasia Aromática – Cooperativa Vinícola Aurora – Bento Gonçalves (RS)

Categoria rosé fino seco

7. Tannat – Casa Venturini Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

Categoria tinto fino seco jovem

8. Merlot – Vinícola Salton – Bento Gonçalves (RS)

9. Pinot Noir – Miolo Win Group – Bento Gonçalves (RS)

Categoria tinto fino seco

10. Marselan – Vinícola Gazzaro – Flores da Cunha (RS)

11. Alicante Bouschet – Vinícola Salvador – Flores da Cunha (RS)

12. Cabernet Sauvignon – Vinícola Perini - Farroupilha (RS)

13. Cabernet Franc – Vinícola Don Guerino – Alto Feliz (RS)

14. Petite Syrah – Vinícola Brasília – Brasília (DF)

15. Tannat – Vinícola Almadén – Santana do Livramento (RS)

16. Tannat – Vinícola dos Plátanos - Farroupilha (RS)

As amostras foram selecionadas em setembro, por cerca de 90 enólogos, que degustaram às cegas as 503 amostras inscritas neste ano por mais de 70 vinícolas Foto: Jeferson Soldi

Havia uma máxima de que a safra só importava no Velho Mundo, como é chamado o grupo de países europeus que tradicionalmente elabora vinhos. Em oposição, no Novo Mundo, que reúne os países com viticultura mais recente, o clima tinha pouco impacto nos brancos e tintos, que se mantinham muito semelhantes ano a ano. Isso foi verdade em um passado não tão distante, com raras exceções.

As mudanças do clima, somadas ao maior conhecimento técnico do que acontece nos vinhedos e ao avanço da tecnologia, vêm mostrando que a safra importa sim e cada vez mais também no Novo Mundo. No Brasil, isso não é diferente. Anos como 2018 e 2020, de verões muito secos e quentes, resultaram em vinhos com maior concentração de aromas frutados, mais potentes e alcoólicos. Enquanto 2023 traz tintos e brancos não tão exuberantes, porém muito equilibrados. E já há a pergunta de qual será o impacto do fenômeno El Niño nos vinhos da safra de 2024.

Safra pelo Brasil

Mais que isso: cada vez mais não se pode resumir a safra brasileira ao que acontece no Rio Grande do Sul. Dos 75.550 hectares de vinhedos cultivados no Brasil, o estado sinônimo de vinho representa 62% do total, com 46.970 hectares de vinhas. Esta porcentagem, mesmo alta, já superou os 90%. Atualmente, para ficar em apenas um exemplo, São Paulo tem 8.436 hectares de vinhedos cultivados. No nosso mapa vinícola já há 10 estados que elaboram vinhos finos, aqueles com uvas vinícolas, e o clima é bem diferente em cada região.

São estas características que tornam cada vez mais importante acompanhar a Avaliação Nacional de Vinhos, uma mega degustação organizada pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), que apresenta ao mercado as amostras mais representativas de cada ano. Em sua 31ª edição, a avaliação impressiona não apenas pelo seu tamanho – neste ano foram 700 pessoas na degustação presencial, em Bento Gonçalves (RS) e mais uma estimativa de mais de 600 pessoas online –, mas principalmente pelos vinhos que apresenta nas taças.

90 enólogos

As amostras foram selecionadas em setembro, por cerca de 90 enólogos, que degustaram às cegas (sem saber o que tem na taça) as 503 amostras inscritas neste ano por mais de 70 vinícolas (na primeira edição foram 42 amostras de 18 vinícolas gaúchas). As 16 amostras mais representativas da safra foram apresentadas no primeiro sábado de novembro para aos 700 inscritos e o público online (que receberam as amostras em suas casas).

Na degustação, com transmissão pelo canal do YouTube da ABE, todos provaram dois vinhos-base para espumante (como é chamado o vinho daquela safra que depois será mesclado com outros vinhos e dará origem ao espumante em uma segunda fermentação), além de brancos, rosés e tintos. Além dos espumantes, muitos vinhos ainda não estavam prontos, já que são amostras que ainda amadurecem em tanques de inox ou barricas de carvalho.

Tendências

A seleção permite não apenas entender melhor a safra como apontar tendências. Uma é dos vinhos em outras regiões – a amostra 14 foi um petite syrah, da Vinícola Brasília, localizada na Capital Federal. Neste ano, havia amostras de oito estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, além do Distrito Federal.

Outra são das variedades que podem se mostrar promissoras, como a branca alvarinho, que vem ganhando o mundo depois de mostrar sua qualidade em Portugal e na Espanha, e a tinta marselan.

No painel de comentaristas das amostras, um dos destaques internacionais foi o enólogo francês Michel Friou Foto: Jeferson Soldi

Comentaristas internacionais

No painel de comentaristas das amostras, os destaques internacionais foram o médico Jean Pierre Peynaud, filho de Emile Peynaud (1912-2004), o francês considerado o pai da enologia moderna, e o enólogo também francês Michel Friou, da ícone chilena Almaviva.

Feliz com os vinhos que conheceu no Brasil, o simpático Peynaud comentou a amostra de pinot noir e citou uma frase de seu pai. “A verdade de um bom vinho fica sempre no solo”, disse ele. E Friou elogiou o perfil mais redondo dos vinhos brasileiros elaborados com a tannat em comparação com aqueles de Madiran (onde a variedade se originou) e no Uruguai, onde faz muito sucesso.

Conheça as 16 amostras selecionadas

Vinho base espumante

1. Chardonnay e Pinot Noir – Vinícola Geisse – Pinto Bandeira (RS)

2. Pinot Noir - Moet Hennessy do Brasil – Garibaldi (RS)

Categoria branco fino seco não aromático

3. Alvarinho – Cooperativa Vinícola Garibaldi - Garibaldi (RS)

4. Chardonnay – Cooperativa Vinícola São João – Farroupilha (RS)

Categoria branco fino seco aromático

5. Moscato Giallo – Hortência Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

6. Malvasia Aromática – Cooperativa Vinícola Aurora – Bento Gonçalves (RS)

Categoria rosé fino seco

7. Tannat – Casa Venturini Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

Categoria tinto fino seco jovem

8. Merlot – Vinícola Salton – Bento Gonçalves (RS)

9. Pinot Noir – Miolo Win Group – Bento Gonçalves (RS)

Categoria tinto fino seco

10. Marselan – Vinícola Gazzaro – Flores da Cunha (RS)

11. Alicante Bouschet – Vinícola Salvador – Flores da Cunha (RS)

12. Cabernet Sauvignon – Vinícola Perini - Farroupilha (RS)

13. Cabernet Franc – Vinícola Don Guerino – Alto Feliz (RS)

14. Petite Syrah – Vinícola Brasília – Brasília (DF)

15. Tannat – Vinícola Almadén – Santana do Livramento (RS)

16. Tannat – Vinícola dos Plátanos - Farroupilha (RS)

As amostras foram selecionadas em setembro, por cerca de 90 enólogos, que degustaram às cegas as 503 amostras inscritas neste ano por mais de 70 vinícolas Foto: Jeferson Soldi

Havia uma máxima de que a safra só importava no Velho Mundo, como é chamado o grupo de países europeus que tradicionalmente elabora vinhos. Em oposição, no Novo Mundo, que reúne os países com viticultura mais recente, o clima tinha pouco impacto nos brancos e tintos, que se mantinham muito semelhantes ano a ano. Isso foi verdade em um passado não tão distante, com raras exceções.

As mudanças do clima, somadas ao maior conhecimento técnico do que acontece nos vinhedos e ao avanço da tecnologia, vêm mostrando que a safra importa sim e cada vez mais também no Novo Mundo. No Brasil, isso não é diferente. Anos como 2018 e 2020, de verões muito secos e quentes, resultaram em vinhos com maior concentração de aromas frutados, mais potentes e alcoólicos. Enquanto 2023 traz tintos e brancos não tão exuberantes, porém muito equilibrados. E já há a pergunta de qual será o impacto do fenômeno El Niño nos vinhos da safra de 2024.

Safra pelo Brasil

Mais que isso: cada vez mais não se pode resumir a safra brasileira ao que acontece no Rio Grande do Sul. Dos 75.550 hectares de vinhedos cultivados no Brasil, o estado sinônimo de vinho representa 62% do total, com 46.970 hectares de vinhas. Esta porcentagem, mesmo alta, já superou os 90%. Atualmente, para ficar em apenas um exemplo, São Paulo tem 8.436 hectares de vinhedos cultivados. No nosso mapa vinícola já há 10 estados que elaboram vinhos finos, aqueles com uvas vinícolas, e o clima é bem diferente em cada região.

São estas características que tornam cada vez mais importante acompanhar a Avaliação Nacional de Vinhos, uma mega degustação organizada pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), que apresenta ao mercado as amostras mais representativas de cada ano. Em sua 31ª edição, a avaliação impressiona não apenas pelo seu tamanho – neste ano foram 700 pessoas na degustação presencial, em Bento Gonçalves (RS) e mais uma estimativa de mais de 600 pessoas online –, mas principalmente pelos vinhos que apresenta nas taças.

90 enólogos

As amostras foram selecionadas em setembro, por cerca de 90 enólogos, que degustaram às cegas (sem saber o que tem na taça) as 503 amostras inscritas neste ano por mais de 70 vinícolas (na primeira edição foram 42 amostras de 18 vinícolas gaúchas). As 16 amostras mais representativas da safra foram apresentadas no primeiro sábado de novembro para aos 700 inscritos e o público online (que receberam as amostras em suas casas).

Na degustação, com transmissão pelo canal do YouTube da ABE, todos provaram dois vinhos-base para espumante (como é chamado o vinho daquela safra que depois será mesclado com outros vinhos e dará origem ao espumante em uma segunda fermentação), além de brancos, rosés e tintos. Além dos espumantes, muitos vinhos ainda não estavam prontos, já que são amostras que ainda amadurecem em tanques de inox ou barricas de carvalho.

Tendências

A seleção permite não apenas entender melhor a safra como apontar tendências. Uma é dos vinhos em outras regiões – a amostra 14 foi um petite syrah, da Vinícola Brasília, localizada na Capital Federal. Neste ano, havia amostras de oito estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, além do Distrito Federal.

Outra são das variedades que podem se mostrar promissoras, como a branca alvarinho, que vem ganhando o mundo depois de mostrar sua qualidade em Portugal e na Espanha, e a tinta marselan.

No painel de comentaristas das amostras, um dos destaques internacionais foi o enólogo francês Michel Friou Foto: Jeferson Soldi

Comentaristas internacionais

No painel de comentaristas das amostras, os destaques internacionais foram o médico Jean Pierre Peynaud, filho de Emile Peynaud (1912-2004), o francês considerado o pai da enologia moderna, e o enólogo também francês Michel Friou, da ícone chilena Almaviva.

Feliz com os vinhos que conheceu no Brasil, o simpático Peynaud comentou a amostra de pinot noir e citou uma frase de seu pai. “A verdade de um bom vinho fica sempre no solo”, disse ele. E Friou elogiou o perfil mais redondo dos vinhos brasileiros elaborados com a tannat em comparação com aqueles de Madiran (onde a variedade se originou) e no Uruguai, onde faz muito sucesso.

Conheça as 16 amostras selecionadas

Vinho base espumante

1. Chardonnay e Pinot Noir – Vinícola Geisse – Pinto Bandeira (RS)

2. Pinot Noir - Moet Hennessy do Brasil – Garibaldi (RS)

Categoria branco fino seco não aromático

3. Alvarinho – Cooperativa Vinícola Garibaldi - Garibaldi (RS)

4. Chardonnay – Cooperativa Vinícola São João – Farroupilha (RS)

Categoria branco fino seco aromático

5. Moscato Giallo – Hortência Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

6. Malvasia Aromática – Cooperativa Vinícola Aurora – Bento Gonçalves (RS)

Categoria rosé fino seco

7. Tannat – Casa Venturini Vinhos e Espumantes – Flores da Cunha (RS)

Categoria tinto fino seco jovem

8. Merlot – Vinícola Salton – Bento Gonçalves (RS)

9. Pinot Noir – Miolo Win Group – Bento Gonçalves (RS)

Categoria tinto fino seco

10. Marselan – Vinícola Gazzaro – Flores da Cunha (RS)

11. Alicante Bouschet – Vinícola Salvador – Flores da Cunha (RS)

12. Cabernet Sauvignon – Vinícola Perini - Farroupilha (RS)

13. Cabernet Franc – Vinícola Don Guerino – Alto Feliz (RS)

14. Petite Syrah – Vinícola Brasília – Brasília (DF)

15. Tannat – Vinícola Almadén – Santana do Livramento (RS)

16. Tannat – Vinícola dos Plátanos - Farroupilha (RS)

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