Os vinhos gaúchos do norte-americano Michael Scott Carter serão lançados nesta semana em São Paulo com dois desafios. O primeiro é conquistar os consumidores pelo seu estilo e não pelo nome das uvas, apostando no perfil de bebidas leves, frutadas e frescas. O branco é chamado de Ilé Amò; o rosado, de Ilé Amògo e o tinto, de Ilé Amora, nomes que dão a pista para o segundo desafio deste americano que escolheu o Brasil para morar. Carter quer com seus vinhos aprofundar os laços culturais entre o Brasil e a diáspora africana.
Não é à toa que o lançamento foi escolhido para esta semana, na véspera do Dia da Consciência Negra. Explica-se: Carter é um economista negro que, depois de trabalhar em consultorias nos Estados Unidos e na Inglaterra, decidiu se mudar para o Brasil (sua ex-mulher é brasileira) e educar os dois filhos por aqui. Foi parar na Serra Gaúcha, e a associação com o vinho foi quase automática: primeiro pela própria localização – ele está em Monte Belo do Sul, no Vale dos Vinhedos –, e por já ter trabalhado com brancos e tintos quando foi sócio de uma rede de restaurantes em Chicago.
A questão racial faz parte da sua trajetória, como se percebe já pelo site da vinícola (www.michaelscottcarter.com): desde os personagens que ilustram a sua história, todos negros, até às postagens, como a que destaca as raízes do vinho na cultura africana. “Acredito que podemos falar da diáspora africana também no mundo do vinho”, afirma o produtor.
No projeto que leva o seu nome, ele investiu R$ 1 milhão para comprar os primeiros 8 hectares de vinhas e construir uma vinícola – ainda em obras. A ideia é que a vinícola também possa ser utilizada pelos pequenos produtores locais, de forma colaborativa, e criar um clube de vinhos, que auxilie os demais produtores com o marketing de seus brancos e tintos. Por enquanto, ele trabalha com uvas do seu próprio vinhedo, que se divide entre variedades vitiviníferas (aquelas que dão origem ao vinho fino, pelas leis brasileiras) e não viníferas, como a isabel, que dá origem ao suco de uva, que ele também comercializa.
Carter explica que a ideia é não revelar as variedades de cada um dos vinhos pelas características únicas da bebida no Brasil. “As pessoas esperam um sabor próprio para o vinho brasileiro. É preciso posicioná-lo de forma diferente.” Seu raciocínio é que se ele servir seu vinho como um cabernet sauvignon ou um merlot, o consumidor não vai reconhecer a variedade porque o terroir brasileiro dá origem a outro estilo de vinho, mais frutado e gastronômico. Agora, é acompanhar esta história.