Suzana Barelli

Vinhos leves ou mais concentrados?


Novas safras da vinícola De Martino levam a perguntar se o mundo do vinho é cíclico e um dia voltaremos a valorizar os rótulos tão mais concentrados

Por Suzana Barelli

No início dos anos 2010, o irrequieto enólogo Marcelo Retamal veio ao Brasil apresentar os novos vinhos da chilena De Martino. Foi um almoço que começou com Retamal tomando a sua caipirinha (era quase uma tradição dele em suas viagens pelo nosso país) e seguiu com a prova de tintos mais leves e um branco elaborado em ânfora. Na ocasião, foi uma mudança abrupta do estilo da De Martino. Convicto, o enólogo contava que tinha convencido o dono, o Marco Antonio De Martino, a elaborar vinhos mais elegantes, feitos com uvas não tão maduras, colhidas mais precocemente, e que não fizessem estágios nas barricas de carvalho super tostadas.

Vinhos provados comMarco De Martino, da quarta geração da família que produz vinhos desde a década de 1930. Foto: Suzana Barelli/Estadão

Lembro que gostei dos vinhos. Tinham algo de diferente, que hoje é chamado de maior frescor. Mas eu também gostava dos brancos e, principalmente, dos tintos potentes chilenos, com a sua marca de madeira presente, sua boa estrutura. Na época, o crítico Robert Parker ainda era o líder desta tendência de vinhos concentrados, com aromas de frutas vermelhas bem maduras, potentes, pesados até. Lembro de pensar que a Decanter, que então importava seus vinhos para o Brasil, teria dificuldade em oferecer estes novos rótulos aos consumidores acostumados com os brancos e tintos da vinícola – o que de fato aconteceu (hoje, a De Martino é importada pela Winebrands).

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Talvez sem saber, a De Martino foi uma das primeiras vinícolas chilenas a romper o paradigma de vinhos mais concentrados, em nome de uma elegância, que até então poucos rótulos sul-americanos ousavam a ter. Hoje é esperado que os grandes tintos sejam assim: mais equilibrados, com menos extração e menor teor alcoólico. Nestes 15 anos, foram saindo de cena aqueles vinhos com quase 15% de álcool para algo em torno de 13,5%, assim como as barricas com tostas mais fortes e aqueles tintos que tinham passagem de até 200% em barricas novas.

Mas a De Martino nunca canalizou este seu pioneirismo, que logo foi seguido por outras vinícolas. “Talvez estivéssemos um pouco a frente dos demais”, responde Marco Antonio De Martino a ser perguntado sobre isso nesta semana – ele está no Brasil apresentando as novas safras da vinícola. Na mesma época, a Concha y Toro, por exemplo, fez um experimento com um cabernet sauvignon, colhido um mês mais cedo, por exemplo. Logo descobriu-se que o frescor e a menor extração eram um clamor dos enólogos. E atualmente espera-se vinhos, principalmente os mais premiuns, com esta proposta. O melhor argumento é que são, também, vinhos com maior “drinkability”, algo como mais fáceis de beber e que os consumidores pedem não apenas uma, mas outras garrafas.

Nesta semana, tive a oportunidade de provar alguns vinhos com o Marco De Martino – Retamal partiu para voo solo, hoje elabora seus próprios rótulos e nunca mais veio ao Brasil, ao menos pela caipirinha. Da quarta geração dos De Martino, Marco trouxe safras novas, mas principalmente alguns rótulos da Cellar Collections, vinhos da reserva da família, que elabora vinhos chilenos desde a década de 1930. Entre eles, estava um gostoso chardonnay de Quebrada Seca, em Limarí, no norte do país. Da safra de 2009, estava bem fresco e foi o primeiro elaborado pela vinícola sem fermentação em barricas (mas neste chardonnay, conforme a safra, o vinho fermenta em barricas usadas). E estava também o La Aguada Old Vine Carignan 2010, elaborado antes desta revolução da vinícola. É um vinho concentrado, sem dúvida, mas que ao longo de toda esta década foi ganhando a sua elegância e encanto. E que leva a perguntar se será que o mundo do vinho é cíclico e um dia voltaremos a valorizar os rótulos tão mais concentrados? 

No início dos anos 2010, o irrequieto enólogo Marcelo Retamal veio ao Brasil apresentar os novos vinhos da chilena De Martino. Foi um almoço que começou com Retamal tomando a sua caipirinha (era quase uma tradição dele em suas viagens pelo nosso país) e seguiu com a prova de tintos mais leves e um branco elaborado em ânfora. Na ocasião, foi uma mudança abrupta do estilo da De Martino. Convicto, o enólogo contava que tinha convencido o dono, o Marco Antonio De Martino, a elaborar vinhos mais elegantes, feitos com uvas não tão maduras, colhidas mais precocemente, e que não fizessem estágios nas barricas de carvalho super tostadas.

Vinhos provados comMarco De Martino, da quarta geração da família que produz vinhos desde a década de 1930. Foto: Suzana Barelli/Estadão

Lembro que gostei dos vinhos. Tinham algo de diferente, que hoje é chamado de maior frescor. Mas eu também gostava dos brancos e, principalmente, dos tintos potentes chilenos, com a sua marca de madeira presente, sua boa estrutura. Na época, o crítico Robert Parker ainda era o líder desta tendência de vinhos concentrados, com aromas de frutas vermelhas bem maduras, potentes, pesados até. Lembro de pensar que a Decanter, que então importava seus vinhos para o Brasil, teria dificuldade em oferecer estes novos rótulos aos consumidores acostumados com os brancos e tintos da vinícola – o que de fato aconteceu (hoje, a De Martino é importada pela Winebrands).

Talvez sem saber, a De Martino foi uma das primeiras vinícolas chilenas a romper o paradigma de vinhos mais concentrados, em nome de uma elegância, que até então poucos rótulos sul-americanos ousavam a ter. Hoje é esperado que os grandes tintos sejam assim: mais equilibrados, com menos extração e menor teor alcoólico. Nestes 15 anos, foram saindo de cena aqueles vinhos com quase 15% de álcool para algo em torno de 13,5%, assim como as barricas com tostas mais fortes e aqueles tintos que tinham passagem de até 200% em barricas novas.

Mas a De Martino nunca canalizou este seu pioneirismo, que logo foi seguido por outras vinícolas. “Talvez estivéssemos um pouco a frente dos demais”, responde Marco Antonio De Martino a ser perguntado sobre isso nesta semana – ele está no Brasil apresentando as novas safras da vinícola. Na mesma época, a Concha y Toro, por exemplo, fez um experimento com um cabernet sauvignon, colhido um mês mais cedo, por exemplo. Logo descobriu-se que o frescor e a menor extração eram um clamor dos enólogos. E atualmente espera-se vinhos, principalmente os mais premiuns, com esta proposta. O melhor argumento é que são, também, vinhos com maior “drinkability”, algo como mais fáceis de beber e que os consumidores pedem não apenas uma, mas outras garrafas.

Nesta semana, tive a oportunidade de provar alguns vinhos com o Marco De Martino – Retamal partiu para voo solo, hoje elabora seus próprios rótulos e nunca mais veio ao Brasil, ao menos pela caipirinha. Da quarta geração dos De Martino, Marco trouxe safras novas, mas principalmente alguns rótulos da Cellar Collections, vinhos da reserva da família, que elabora vinhos chilenos desde a década de 1930. Entre eles, estava um gostoso chardonnay de Quebrada Seca, em Limarí, no norte do país. Da safra de 2009, estava bem fresco e foi o primeiro elaborado pela vinícola sem fermentação em barricas (mas neste chardonnay, conforme a safra, o vinho fermenta em barricas usadas). E estava também o La Aguada Old Vine Carignan 2010, elaborado antes desta revolução da vinícola. É um vinho concentrado, sem dúvida, mas que ao longo de toda esta década foi ganhando a sua elegância e encanto. E que leva a perguntar se será que o mundo do vinho é cíclico e um dia voltaremos a valorizar os rótulos tão mais concentrados? 

No início dos anos 2010, o irrequieto enólogo Marcelo Retamal veio ao Brasil apresentar os novos vinhos da chilena De Martino. Foi um almoço que começou com Retamal tomando a sua caipirinha (era quase uma tradição dele em suas viagens pelo nosso país) e seguiu com a prova de tintos mais leves e um branco elaborado em ânfora. Na ocasião, foi uma mudança abrupta do estilo da De Martino. Convicto, o enólogo contava que tinha convencido o dono, o Marco Antonio De Martino, a elaborar vinhos mais elegantes, feitos com uvas não tão maduras, colhidas mais precocemente, e que não fizessem estágios nas barricas de carvalho super tostadas.

Vinhos provados comMarco De Martino, da quarta geração da família que produz vinhos desde a década de 1930. Foto: Suzana Barelli/Estadão

Lembro que gostei dos vinhos. Tinham algo de diferente, que hoje é chamado de maior frescor. Mas eu também gostava dos brancos e, principalmente, dos tintos potentes chilenos, com a sua marca de madeira presente, sua boa estrutura. Na época, o crítico Robert Parker ainda era o líder desta tendência de vinhos concentrados, com aromas de frutas vermelhas bem maduras, potentes, pesados até. Lembro de pensar que a Decanter, que então importava seus vinhos para o Brasil, teria dificuldade em oferecer estes novos rótulos aos consumidores acostumados com os brancos e tintos da vinícola – o que de fato aconteceu (hoje, a De Martino é importada pela Winebrands).

Talvez sem saber, a De Martino foi uma das primeiras vinícolas chilenas a romper o paradigma de vinhos mais concentrados, em nome de uma elegância, que até então poucos rótulos sul-americanos ousavam a ter. Hoje é esperado que os grandes tintos sejam assim: mais equilibrados, com menos extração e menor teor alcoólico. Nestes 15 anos, foram saindo de cena aqueles vinhos com quase 15% de álcool para algo em torno de 13,5%, assim como as barricas com tostas mais fortes e aqueles tintos que tinham passagem de até 200% em barricas novas.

Mas a De Martino nunca canalizou este seu pioneirismo, que logo foi seguido por outras vinícolas. “Talvez estivéssemos um pouco a frente dos demais”, responde Marco Antonio De Martino a ser perguntado sobre isso nesta semana – ele está no Brasil apresentando as novas safras da vinícola. Na mesma época, a Concha y Toro, por exemplo, fez um experimento com um cabernet sauvignon, colhido um mês mais cedo, por exemplo. Logo descobriu-se que o frescor e a menor extração eram um clamor dos enólogos. E atualmente espera-se vinhos, principalmente os mais premiuns, com esta proposta. O melhor argumento é que são, também, vinhos com maior “drinkability”, algo como mais fáceis de beber e que os consumidores pedem não apenas uma, mas outras garrafas.

Nesta semana, tive a oportunidade de provar alguns vinhos com o Marco De Martino – Retamal partiu para voo solo, hoje elabora seus próprios rótulos e nunca mais veio ao Brasil, ao menos pela caipirinha. Da quarta geração dos De Martino, Marco trouxe safras novas, mas principalmente alguns rótulos da Cellar Collections, vinhos da reserva da família, que elabora vinhos chilenos desde a década de 1930. Entre eles, estava um gostoso chardonnay de Quebrada Seca, em Limarí, no norte do país. Da safra de 2009, estava bem fresco e foi o primeiro elaborado pela vinícola sem fermentação em barricas (mas neste chardonnay, conforme a safra, o vinho fermenta em barricas usadas). E estava também o La Aguada Old Vine Carignan 2010, elaborado antes desta revolução da vinícola. É um vinho concentrado, sem dúvida, mas que ao longo de toda esta década foi ganhando a sua elegância e encanto. E que leva a perguntar se será que o mundo do vinho é cíclico e um dia voltaremos a valorizar os rótulos tão mais concentrados? 

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