Suzana Barelli

Vinícola líder em cava aposta em vinícolas boutiques na Espanha


Com a compra da Freixenet pela Henkell, Pedro Ferrer foca atenção em três vinícolas, em Rioja, Ribera del Duero e Rías Baixas

Por Suzana Barelli
Atualização:

Os cavas espanhóis, como são chamados os espumantes elaborados neste país europeu, formam uma categoria que vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Foram 148 mil caixas (algo como 1,76 milhão de garrafas) em 2019, e passaram para 241 mil (ou 2,9 milhões de garrafas) em 2022, nos dados da Ideal Consulting. A Freixenet é a líder com 63% deste mercado, que disputa espaço com os espumantes brasileiros por aqui.

Mas a gigante Freixenet, empresa que foi adquirida em 2018 pelo grupo alemão Henkell, não quer crescer apenas nas borbulhas. Uma das apostas de Pedro Ferrer Noguer, CEO da empresa, e herdeiro de seus fundadores (o primeiro Pedro Ferrer casou com Dolores Sala e lançou seu primeiro cava Freixenet em 1911), são os chamados vinhos tranquilos (que não tem borbulhas) espanhóis.

VINÍCOLAS BOUTIQUE

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Mas que isso: a proposta é dedicar maior atenção ao grupo batizado de Miranda Ferrer, fundado no final dos anos 1990, com vinícolas espanholas boutique, daquelas em que a qualidade fala mais alto do que o volume, e localizadas nas regiões clássicas de vinho no país. O projeto começa em Rioja, com a vinícola Solar Viejo, propriedade que fica em La Guárdia, uma pequena vila medieval, que guarda nos porões de suas casas registros da enologia praticada pelos antigos. “Queremos valorizar o terroir de La Guárdia”, conta a enóloga Vanessa Insausti. São 7 hectares próprios e outros 20 arrendados, uma pequenina parte dos 65 mil hectares de toda a Rioja.

O destaque de Solar Viejo é um vinho sem sulfito (produto utilizado na preservação da bebida), da linha Orube, de maior qualidade. O vinho deve chegar ao Brasil em breve. “Com esta linha queremos passar a nossa mensagem de que estamos inovando”, afirma Ferrer (confira entrevista ao final desta reportagem).

A sala de barricas da vinícola Solar Viejo, em Rioja, com centenas de barris de carvalho enfileiradas, onde os vinhos amadurecem Foto: Jordi Play
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NOVO CONSULTOR

Mas são em Ribera del Duero, com a vinícola Valdubón, e na Rías Baixas, com a Vionta, que os projetos de Pedro Ferrer ganham mais ousadia. Em Ribera, os vinhos tintos começam a subir degraus de qualidade com a chegada do enólogo Xavier Ausàs como consultor no ano passado. No universo dos vinhos espanhóis, Ausàs dispensa apresentações por ter sido o enólogo do ícone Veja Sicilia por quase 20 anos. “Chegou o momento que precisamos buscar alguém que tenha experiência e que nos ajude com conceitos e ideias”, afirma Ferrer.

Colheita de albariño em Rias Baixas, onde o sistema de condução das vinhas lembra um varal Foto: Jordi Play
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Além de atuar, principalmente no blend dos tintos, elaborados com a tempranillo, Ausàs auxilia no projeto de viño de pago, conceito espanhol de vinhedos de qualidade e exclusivos, que o grupo comprou durante a pandemia. Com vinhas de mais de 20 anos, em breve o tinto será lançado e deve vir para o Brasil.

APOSTA NOS BRANCOS

Na região de Rías Baixas, na fronteira com Portugal, onde reina a variedade branca albariño, a novidade é um bom branco vinificado em barricas de carvalho. A experiência, liderada pelo enólogo Javier Aladro, começou com uma única barrica e os primeiros resultados surgiram na safra de 2020. “Foi um projeto de muita experimentação e do meu aprendizado com as uvas brancas”, conta Aladro. O enólogo trabalhava, inicialmente, na vinícola de Ribera del Duero, focada em tintos, mas foi alçado a coordenador de enologia do grupo e assumiu também o projeto na Galizia.

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O novo branco tem o nome de Bosque de Fuscallo, em referência a um bosque com muita neblina, que caracteriza a região. “A ideia é ser um projeto pequeno, no máximo 20 barricas”, diz Ferrer. Agora é acompanhar como uma vinícola gigante – a Freixenet envasa 100 milhões de garrafas por ano – vai saber ligar com projetos menores. Mais: e como vai levar o conhecimento que os pequenos projetos costumam trazer para a companhia mãe. Essa resposta, no entanto, cabe ao tempo.

ENTREVISTA

“É uma estratégia distinta de buscar menos volume e mais qualidade”

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Com a fusão com a alemã Henkell com a espanhola Freixenet no ano de 2018, Pedro Ferrer, CEO da Freixenet, passou a dividir igualmente o seu tempo entre a gigante de cavas espanhóis e o grupo Miranda Ferrer, de vinícolas boutiques também no país, e uma vinícola na Argentina, a Ferrer. Fundada em 1990, a Miranda Ferrer não entrou na transação com a Henkell e segue como uma unidade separada, porém distribuída pela Freixenet. Seu desafio, agora, é aprender mais sobre vinhos tranquilos, como ele conta na entrevista a seguir.

Por que a Miranda Ferrer ganhou mais espaço na sua agenda após a fusão da Henkell com a Freixenet?

As três vinícolas pertenciam à Freixenet, mesmo sendo pequenas. Com a transação, os meus primos decidiram sair desta operação, mas eu quis continuar com este projeto. É uma estratégia distinta de buscar menos volume e mais qualidade. Como não é um projeto com a Henkell, não podemos fazer vinhos espumantes na Ferrer Miranda. Mas temos projetos bem interessantes com os vinhos tintos, em Rioja e em Ribera del Duero, e com os brancos, na Galizia.

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Como é dividir entre estes dois focos?

Quando criamos o grupo Ferrer Miranda, na década de 1990, me diziam que a minha vida tinha duas almas, a alma da Freixenet, que busca sempre o melhor para o grupo, onde queremos uma atuação importante no mercado mundial; e a alma das vinícolas pequenas, de buscar o terroir, fazer vinhos que reflitam a qualidade. São duas almas que aprenderam a conviver.

Com a mesma filosofia?

A filosofia é distinta. Na Ferrer Miranda, podemos pensar em longo prazo. E desde o primeiro dia, levamos a qualidade muito a sério. Por isso, contratamos o enólogo Xavier Ausàs, como consultor. Nossa ideia é trilhar um caminho de mais qualidade. Ausàs está desafiando a nossa equipe de enologia, traz ideias de coisas para melhorar a qualidade. Acredito que chegou o momento de buscarmos alguém que tenha experiencia, que nos possa ajudar nestas ideias e conceitos para seguirmos em frente.

Pedro Ferrer, nos vinhedos da Espanha: agora o desafio é ter vinícolas pequenas e de qualidade Foto: Miquel Monfort Subirana

Como é o trabalho dele?

Em todas as reuniões que fazemos com Ausàs, também participam a enóloga Vanesa Insausti, de Solar Viejo, em Rioja, a Glória Días, de Ribera, e o Javier Aladro. Um exemplo são a ajuda de Ausàs para melhorar a qualidade da madeira que usamos nas nossas barricas, até pelo conceito de simbolizar o terroir, com vinhos com menos madeira, mais fruta e qualidade.

A Vega Sicilia tem sua própria tonelaria. Este é o plano?

Estamos distantes de ter a nossa própria tonelaria, mas estamos comprando barricas das melhores empresas. Na Espanha, o vinho tinto típico, tradicional, tem muita madeira, é oxidado.

Há também o investimento em novos vinhedos?

Sim, estamos bem contentes com um vinhedo de 6 hectares que compramos. É um vinhedo particular, em uma zona com muita inclinação, o que muda o impacto da incidência solar nas plantas. O Xavier Audàs e o Javier Aladro estão trabalhando juntos neste projeto. Compramos a vinha no ano passado, e já havia vinhedos de 20 anos. Nossa expectativa é dar um outro salto de qualidade, elaborar um vinho de pago.

Em Vionta também tem um branco novo?

Sim, em Rías Baixas estamos elaborando o Bosque de Fuscallo, em homenagem a essa neblina particular na região. O projeto nasceu com uma barrica e as experiências de Javier e a ideia é manter a produção pequena. Devemos chegar, talvez, a 20 barricas.

E em Rioja?

Atualmente nossa aposta é em um vinho que elaboramos sem o uso de sulfito. É o vinho natural da linha Orube. Estamos experimentando. É um vinho mais frutado, sem envelhecimento em madeira. A ideia é mostrar que estamos inovando e temos mais qualidade. Há uma preocupação dos jovens com os vinhos naturais. Em Paris, parece abrir um bar de vinhos naturais por semana.

A ideia é ser uma vinícola orgânica, biodinâmica?

Minha opinião é que ao final o vinho é um produto para dar prazer, desfrutar da comida. E temos de trabalhar para ser mais naturais, com menos sulfitos

No passado, você chegou a ter uma parceria com a Miolo, no Brasil, para os espumantes.

Vim ao Brasil há cerca de 8 anos para provar espumantes. Visitei a Miolo e fizemos uma parceria com ela. Mas depois migramos o projeto dos espumantes para a Argentina. Mas o Brasil tem muita condição para os espumantes.

Os cavas espanhóis, como são chamados os espumantes elaborados neste país europeu, formam uma categoria que vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Foram 148 mil caixas (algo como 1,76 milhão de garrafas) em 2019, e passaram para 241 mil (ou 2,9 milhões de garrafas) em 2022, nos dados da Ideal Consulting. A Freixenet é a líder com 63% deste mercado, que disputa espaço com os espumantes brasileiros por aqui.

Mas a gigante Freixenet, empresa que foi adquirida em 2018 pelo grupo alemão Henkell, não quer crescer apenas nas borbulhas. Uma das apostas de Pedro Ferrer Noguer, CEO da empresa, e herdeiro de seus fundadores (o primeiro Pedro Ferrer casou com Dolores Sala e lançou seu primeiro cava Freixenet em 1911), são os chamados vinhos tranquilos (que não tem borbulhas) espanhóis.

VINÍCOLAS BOUTIQUE

Mas que isso: a proposta é dedicar maior atenção ao grupo batizado de Miranda Ferrer, fundado no final dos anos 1990, com vinícolas espanholas boutique, daquelas em que a qualidade fala mais alto do que o volume, e localizadas nas regiões clássicas de vinho no país. O projeto começa em Rioja, com a vinícola Solar Viejo, propriedade que fica em La Guárdia, uma pequena vila medieval, que guarda nos porões de suas casas registros da enologia praticada pelos antigos. “Queremos valorizar o terroir de La Guárdia”, conta a enóloga Vanessa Insausti. São 7 hectares próprios e outros 20 arrendados, uma pequenina parte dos 65 mil hectares de toda a Rioja.

O destaque de Solar Viejo é um vinho sem sulfito (produto utilizado na preservação da bebida), da linha Orube, de maior qualidade. O vinho deve chegar ao Brasil em breve. “Com esta linha queremos passar a nossa mensagem de que estamos inovando”, afirma Ferrer (confira entrevista ao final desta reportagem).

A sala de barricas da vinícola Solar Viejo, em Rioja, com centenas de barris de carvalho enfileiradas, onde os vinhos amadurecem Foto: Jordi Play

NOVO CONSULTOR

Mas são em Ribera del Duero, com a vinícola Valdubón, e na Rías Baixas, com a Vionta, que os projetos de Pedro Ferrer ganham mais ousadia. Em Ribera, os vinhos tintos começam a subir degraus de qualidade com a chegada do enólogo Xavier Ausàs como consultor no ano passado. No universo dos vinhos espanhóis, Ausàs dispensa apresentações por ter sido o enólogo do ícone Veja Sicilia por quase 20 anos. “Chegou o momento que precisamos buscar alguém que tenha experiência e que nos ajude com conceitos e ideias”, afirma Ferrer.

Colheita de albariño em Rias Baixas, onde o sistema de condução das vinhas lembra um varal Foto: Jordi Play

Além de atuar, principalmente no blend dos tintos, elaborados com a tempranillo, Ausàs auxilia no projeto de viño de pago, conceito espanhol de vinhedos de qualidade e exclusivos, que o grupo comprou durante a pandemia. Com vinhas de mais de 20 anos, em breve o tinto será lançado e deve vir para o Brasil.

APOSTA NOS BRANCOS

Na região de Rías Baixas, na fronteira com Portugal, onde reina a variedade branca albariño, a novidade é um bom branco vinificado em barricas de carvalho. A experiência, liderada pelo enólogo Javier Aladro, começou com uma única barrica e os primeiros resultados surgiram na safra de 2020. “Foi um projeto de muita experimentação e do meu aprendizado com as uvas brancas”, conta Aladro. O enólogo trabalhava, inicialmente, na vinícola de Ribera del Duero, focada em tintos, mas foi alçado a coordenador de enologia do grupo e assumiu também o projeto na Galizia.

O novo branco tem o nome de Bosque de Fuscallo, em referência a um bosque com muita neblina, que caracteriza a região. “A ideia é ser um projeto pequeno, no máximo 20 barricas”, diz Ferrer. Agora é acompanhar como uma vinícola gigante – a Freixenet envasa 100 milhões de garrafas por ano – vai saber ligar com projetos menores. Mais: e como vai levar o conhecimento que os pequenos projetos costumam trazer para a companhia mãe. Essa resposta, no entanto, cabe ao tempo.

ENTREVISTA

“É uma estratégia distinta de buscar menos volume e mais qualidade”

Com a fusão com a alemã Henkell com a espanhola Freixenet no ano de 2018, Pedro Ferrer, CEO da Freixenet, passou a dividir igualmente o seu tempo entre a gigante de cavas espanhóis e o grupo Miranda Ferrer, de vinícolas boutiques também no país, e uma vinícola na Argentina, a Ferrer. Fundada em 1990, a Miranda Ferrer não entrou na transação com a Henkell e segue como uma unidade separada, porém distribuída pela Freixenet. Seu desafio, agora, é aprender mais sobre vinhos tranquilos, como ele conta na entrevista a seguir.

Por que a Miranda Ferrer ganhou mais espaço na sua agenda após a fusão da Henkell com a Freixenet?

As três vinícolas pertenciam à Freixenet, mesmo sendo pequenas. Com a transação, os meus primos decidiram sair desta operação, mas eu quis continuar com este projeto. É uma estratégia distinta de buscar menos volume e mais qualidade. Como não é um projeto com a Henkell, não podemos fazer vinhos espumantes na Ferrer Miranda. Mas temos projetos bem interessantes com os vinhos tintos, em Rioja e em Ribera del Duero, e com os brancos, na Galizia.

Como é dividir entre estes dois focos?

Quando criamos o grupo Ferrer Miranda, na década de 1990, me diziam que a minha vida tinha duas almas, a alma da Freixenet, que busca sempre o melhor para o grupo, onde queremos uma atuação importante no mercado mundial; e a alma das vinícolas pequenas, de buscar o terroir, fazer vinhos que reflitam a qualidade. São duas almas que aprenderam a conviver.

Com a mesma filosofia?

A filosofia é distinta. Na Ferrer Miranda, podemos pensar em longo prazo. E desde o primeiro dia, levamos a qualidade muito a sério. Por isso, contratamos o enólogo Xavier Ausàs, como consultor. Nossa ideia é trilhar um caminho de mais qualidade. Ausàs está desafiando a nossa equipe de enologia, traz ideias de coisas para melhorar a qualidade. Acredito que chegou o momento de buscarmos alguém que tenha experiencia, que nos possa ajudar nestas ideias e conceitos para seguirmos em frente.

Pedro Ferrer, nos vinhedos da Espanha: agora o desafio é ter vinícolas pequenas e de qualidade Foto: Miquel Monfort Subirana

Como é o trabalho dele?

Em todas as reuniões que fazemos com Ausàs, também participam a enóloga Vanesa Insausti, de Solar Viejo, em Rioja, a Glória Días, de Ribera, e o Javier Aladro. Um exemplo são a ajuda de Ausàs para melhorar a qualidade da madeira que usamos nas nossas barricas, até pelo conceito de simbolizar o terroir, com vinhos com menos madeira, mais fruta e qualidade.

A Vega Sicilia tem sua própria tonelaria. Este é o plano?

Estamos distantes de ter a nossa própria tonelaria, mas estamos comprando barricas das melhores empresas. Na Espanha, o vinho tinto típico, tradicional, tem muita madeira, é oxidado.

Há também o investimento em novos vinhedos?

Sim, estamos bem contentes com um vinhedo de 6 hectares que compramos. É um vinhedo particular, em uma zona com muita inclinação, o que muda o impacto da incidência solar nas plantas. O Xavier Audàs e o Javier Aladro estão trabalhando juntos neste projeto. Compramos a vinha no ano passado, e já havia vinhedos de 20 anos. Nossa expectativa é dar um outro salto de qualidade, elaborar um vinho de pago.

Em Vionta também tem um branco novo?

Sim, em Rías Baixas estamos elaborando o Bosque de Fuscallo, em homenagem a essa neblina particular na região. O projeto nasceu com uma barrica e as experiências de Javier e a ideia é manter a produção pequena. Devemos chegar, talvez, a 20 barricas.

E em Rioja?

Atualmente nossa aposta é em um vinho que elaboramos sem o uso de sulfito. É o vinho natural da linha Orube. Estamos experimentando. É um vinho mais frutado, sem envelhecimento em madeira. A ideia é mostrar que estamos inovando e temos mais qualidade. Há uma preocupação dos jovens com os vinhos naturais. Em Paris, parece abrir um bar de vinhos naturais por semana.

A ideia é ser uma vinícola orgânica, biodinâmica?

Minha opinião é que ao final o vinho é um produto para dar prazer, desfrutar da comida. E temos de trabalhar para ser mais naturais, com menos sulfitos

No passado, você chegou a ter uma parceria com a Miolo, no Brasil, para os espumantes.

Vim ao Brasil há cerca de 8 anos para provar espumantes. Visitei a Miolo e fizemos uma parceria com ela. Mas depois migramos o projeto dos espumantes para a Argentina. Mas o Brasil tem muita condição para os espumantes.

Os cavas espanhóis, como são chamados os espumantes elaborados neste país europeu, formam uma categoria que vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Foram 148 mil caixas (algo como 1,76 milhão de garrafas) em 2019, e passaram para 241 mil (ou 2,9 milhões de garrafas) em 2022, nos dados da Ideal Consulting. A Freixenet é a líder com 63% deste mercado, que disputa espaço com os espumantes brasileiros por aqui.

Mas a gigante Freixenet, empresa que foi adquirida em 2018 pelo grupo alemão Henkell, não quer crescer apenas nas borbulhas. Uma das apostas de Pedro Ferrer Noguer, CEO da empresa, e herdeiro de seus fundadores (o primeiro Pedro Ferrer casou com Dolores Sala e lançou seu primeiro cava Freixenet em 1911), são os chamados vinhos tranquilos (que não tem borbulhas) espanhóis.

VINÍCOLAS BOUTIQUE

Mas que isso: a proposta é dedicar maior atenção ao grupo batizado de Miranda Ferrer, fundado no final dos anos 1990, com vinícolas espanholas boutique, daquelas em que a qualidade fala mais alto do que o volume, e localizadas nas regiões clássicas de vinho no país. O projeto começa em Rioja, com a vinícola Solar Viejo, propriedade que fica em La Guárdia, uma pequena vila medieval, que guarda nos porões de suas casas registros da enologia praticada pelos antigos. “Queremos valorizar o terroir de La Guárdia”, conta a enóloga Vanessa Insausti. São 7 hectares próprios e outros 20 arrendados, uma pequenina parte dos 65 mil hectares de toda a Rioja.

O destaque de Solar Viejo é um vinho sem sulfito (produto utilizado na preservação da bebida), da linha Orube, de maior qualidade. O vinho deve chegar ao Brasil em breve. “Com esta linha queremos passar a nossa mensagem de que estamos inovando”, afirma Ferrer (confira entrevista ao final desta reportagem).

A sala de barricas da vinícola Solar Viejo, em Rioja, com centenas de barris de carvalho enfileiradas, onde os vinhos amadurecem Foto: Jordi Play

NOVO CONSULTOR

Mas são em Ribera del Duero, com a vinícola Valdubón, e na Rías Baixas, com a Vionta, que os projetos de Pedro Ferrer ganham mais ousadia. Em Ribera, os vinhos tintos começam a subir degraus de qualidade com a chegada do enólogo Xavier Ausàs como consultor no ano passado. No universo dos vinhos espanhóis, Ausàs dispensa apresentações por ter sido o enólogo do ícone Veja Sicilia por quase 20 anos. “Chegou o momento que precisamos buscar alguém que tenha experiência e que nos ajude com conceitos e ideias”, afirma Ferrer.

Colheita de albariño em Rias Baixas, onde o sistema de condução das vinhas lembra um varal Foto: Jordi Play

Além de atuar, principalmente no blend dos tintos, elaborados com a tempranillo, Ausàs auxilia no projeto de viño de pago, conceito espanhol de vinhedos de qualidade e exclusivos, que o grupo comprou durante a pandemia. Com vinhas de mais de 20 anos, em breve o tinto será lançado e deve vir para o Brasil.

APOSTA NOS BRANCOS

Na região de Rías Baixas, na fronteira com Portugal, onde reina a variedade branca albariño, a novidade é um bom branco vinificado em barricas de carvalho. A experiência, liderada pelo enólogo Javier Aladro, começou com uma única barrica e os primeiros resultados surgiram na safra de 2020. “Foi um projeto de muita experimentação e do meu aprendizado com as uvas brancas”, conta Aladro. O enólogo trabalhava, inicialmente, na vinícola de Ribera del Duero, focada em tintos, mas foi alçado a coordenador de enologia do grupo e assumiu também o projeto na Galizia.

O novo branco tem o nome de Bosque de Fuscallo, em referência a um bosque com muita neblina, que caracteriza a região. “A ideia é ser um projeto pequeno, no máximo 20 barricas”, diz Ferrer. Agora é acompanhar como uma vinícola gigante – a Freixenet envasa 100 milhões de garrafas por ano – vai saber ligar com projetos menores. Mais: e como vai levar o conhecimento que os pequenos projetos costumam trazer para a companhia mãe. Essa resposta, no entanto, cabe ao tempo.

ENTREVISTA

“É uma estratégia distinta de buscar menos volume e mais qualidade”

Com a fusão com a alemã Henkell com a espanhola Freixenet no ano de 2018, Pedro Ferrer, CEO da Freixenet, passou a dividir igualmente o seu tempo entre a gigante de cavas espanhóis e o grupo Miranda Ferrer, de vinícolas boutiques também no país, e uma vinícola na Argentina, a Ferrer. Fundada em 1990, a Miranda Ferrer não entrou na transação com a Henkell e segue como uma unidade separada, porém distribuída pela Freixenet. Seu desafio, agora, é aprender mais sobre vinhos tranquilos, como ele conta na entrevista a seguir.

Por que a Miranda Ferrer ganhou mais espaço na sua agenda após a fusão da Henkell com a Freixenet?

As três vinícolas pertenciam à Freixenet, mesmo sendo pequenas. Com a transação, os meus primos decidiram sair desta operação, mas eu quis continuar com este projeto. É uma estratégia distinta de buscar menos volume e mais qualidade. Como não é um projeto com a Henkell, não podemos fazer vinhos espumantes na Ferrer Miranda. Mas temos projetos bem interessantes com os vinhos tintos, em Rioja e em Ribera del Duero, e com os brancos, na Galizia.

Como é dividir entre estes dois focos?

Quando criamos o grupo Ferrer Miranda, na década de 1990, me diziam que a minha vida tinha duas almas, a alma da Freixenet, que busca sempre o melhor para o grupo, onde queremos uma atuação importante no mercado mundial; e a alma das vinícolas pequenas, de buscar o terroir, fazer vinhos que reflitam a qualidade. São duas almas que aprenderam a conviver.

Com a mesma filosofia?

A filosofia é distinta. Na Ferrer Miranda, podemos pensar em longo prazo. E desde o primeiro dia, levamos a qualidade muito a sério. Por isso, contratamos o enólogo Xavier Ausàs, como consultor. Nossa ideia é trilhar um caminho de mais qualidade. Ausàs está desafiando a nossa equipe de enologia, traz ideias de coisas para melhorar a qualidade. Acredito que chegou o momento de buscarmos alguém que tenha experiencia, que nos possa ajudar nestas ideias e conceitos para seguirmos em frente.

Pedro Ferrer, nos vinhedos da Espanha: agora o desafio é ter vinícolas pequenas e de qualidade Foto: Miquel Monfort Subirana

Como é o trabalho dele?

Em todas as reuniões que fazemos com Ausàs, também participam a enóloga Vanesa Insausti, de Solar Viejo, em Rioja, a Glória Días, de Ribera, e o Javier Aladro. Um exemplo são a ajuda de Ausàs para melhorar a qualidade da madeira que usamos nas nossas barricas, até pelo conceito de simbolizar o terroir, com vinhos com menos madeira, mais fruta e qualidade.

A Vega Sicilia tem sua própria tonelaria. Este é o plano?

Estamos distantes de ter a nossa própria tonelaria, mas estamos comprando barricas das melhores empresas. Na Espanha, o vinho tinto típico, tradicional, tem muita madeira, é oxidado.

Há também o investimento em novos vinhedos?

Sim, estamos bem contentes com um vinhedo de 6 hectares que compramos. É um vinhedo particular, em uma zona com muita inclinação, o que muda o impacto da incidência solar nas plantas. O Xavier Audàs e o Javier Aladro estão trabalhando juntos neste projeto. Compramos a vinha no ano passado, e já havia vinhedos de 20 anos. Nossa expectativa é dar um outro salto de qualidade, elaborar um vinho de pago.

Em Vionta também tem um branco novo?

Sim, em Rías Baixas estamos elaborando o Bosque de Fuscallo, em homenagem a essa neblina particular na região. O projeto nasceu com uma barrica e as experiências de Javier e a ideia é manter a produção pequena. Devemos chegar, talvez, a 20 barricas.

E em Rioja?

Atualmente nossa aposta é em um vinho que elaboramos sem o uso de sulfito. É o vinho natural da linha Orube. Estamos experimentando. É um vinho mais frutado, sem envelhecimento em madeira. A ideia é mostrar que estamos inovando e temos mais qualidade. Há uma preocupação dos jovens com os vinhos naturais. Em Paris, parece abrir um bar de vinhos naturais por semana.

A ideia é ser uma vinícola orgânica, biodinâmica?

Minha opinião é que ao final o vinho é um produto para dar prazer, desfrutar da comida. E temos de trabalhar para ser mais naturais, com menos sulfitos

No passado, você chegou a ter uma parceria com a Miolo, no Brasil, para os espumantes.

Vim ao Brasil há cerca de 8 anos para provar espumantes. Visitei a Miolo e fizemos uma parceria com ela. Mas depois migramos o projeto dos espumantes para a Argentina. Mas o Brasil tem muita condição para os espumantes.

Os cavas espanhóis, como são chamados os espumantes elaborados neste país europeu, formam uma categoria que vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Foram 148 mil caixas (algo como 1,76 milhão de garrafas) em 2019, e passaram para 241 mil (ou 2,9 milhões de garrafas) em 2022, nos dados da Ideal Consulting. A Freixenet é a líder com 63% deste mercado, que disputa espaço com os espumantes brasileiros por aqui.

Mas a gigante Freixenet, empresa que foi adquirida em 2018 pelo grupo alemão Henkell, não quer crescer apenas nas borbulhas. Uma das apostas de Pedro Ferrer Noguer, CEO da empresa, e herdeiro de seus fundadores (o primeiro Pedro Ferrer casou com Dolores Sala e lançou seu primeiro cava Freixenet em 1911), são os chamados vinhos tranquilos (que não tem borbulhas) espanhóis.

VINÍCOLAS BOUTIQUE

Mas que isso: a proposta é dedicar maior atenção ao grupo batizado de Miranda Ferrer, fundado no final dos anos 1990, com vinícolas espanholas boutique, daquelas em que a qualidade fala mais alto do que o volume, e localizadas nas regiões clássicas de vinho no país. O projeto começa em Rioja, com a vinícola Solar Viejo, propriedade que fica em La Guárdia, uma pequena vila medieval, que guarda nos porões de suas casas registros da enologia praticada pelos antigos. “Queremos valorizar o terroir de La Guárdia”, conta a enóloga Vanessa Insausti. São 7 hectares próprios e outros 20 arrendados, uma pequenina parte dos 65 mil hectares de toda a Rioja.

O destaque de Solar Viejo é um vinho sem sulfito (produto utilizado na preservação da bebida), da linha Orube, de maior qualidade. O vinho deve chegar ao Brasil em breve. “Com esta linha queremos passar a nossa mensagem de que estamos inovando”, afirma Ferrer (confira entrevista ao final desta reportagem).

A sala de barricas da vinícola Solar Viejo, em Rioja, com centenas de barris de carvalho enfileiradas, onde os vinhos amadurecem Foto: Jordi Play

NOVO CONSULTOR

Mas são em Ribera del Duero, com a vinícola Valdubón, e na Rías Baixas, com a Vionta, que os projetos de Pedro Ferrer ganham mais ousadia. Em Ribera, os vinhos tintos começam a subir degraus de qualidade com a chegada do enólogo Xavier Ausàs como consultor no ano passado. No universo dos vinhos espanhóis, Ausàs dispensa apresentações por ter sido o enólogo do ícone Veja Sicilia por quase 20 anos. “Chegou o momento que precisamos buscar alguém que tenha experiência e que nos ajude com conceitos e ideias”, afirma Ferrer.

Colheita de albariño em Rias Baixas, onde o sistema de condução das vinhas lembra um varal Foto: Jordi Play

Além de atuar, principalmente no blend dos tintos, elaborados com a tempranillo, Ausàs auxilia no projeto de viño de pago, conceito espanhol de vinhedos de qualidade e exclusivos, que o grupo comprou durante a pandemia. Com vinhas de mais de 20 anos, em breve o tinto será lançado e deve vir para o Brasil.

APOSTA NOS BRANCOS

Na região de Rías Baixas, na fronteira com Portugal, onde reina a variedade branca albariño, a novidade é um bom branco vinificado em barricas de carvalho. A experiência, liderada pelo enólogo Javier Aladro, começou com uma única barrica e os primeiros resultados surgiram na safra de 2020. “Foi um projeto de muita experimentação e do meu aprendizado com as uvas brancas”, conta Aladro. O enólogo trabalhava, inicialmente, na vinícola de Ribera del Duero, focada em tintos, mas foi alçado a coordenador de enologia do grupo e assumiu também o projeto na Galizia.

O novo branco tem o nome de Bosque de Fuscallo, em referência a um bosque com muita neblina, que caracteriza a região. “A ideia é ser um projeto pequeno, no máximo 20 barricas”, diz Ferrer. Agora é acompanhar como uma vinícola gigante – a Freixenet envasa 100 milhões de garrafas por ano – vai saber ligar com projetos menores. Mais: e como vai levar o conhecimento que os pequenos projetos costumam trazer para a companhia mãe. Essa resposta, no entanto, cabe ao tempo.

ENTREVISTA

“É uma estratégia distinta de buscar menos volume e mais qualidade”

Com a fusão com a alemã Henkell com a espanhola Freixenet no ano de 2018, Pedro Ferrer, CEO da Freixenet, passou a dividir igualmente o seu tempo entre a gigante de cavas espanhóis e o grupo Miranda Ferrer, de vinícolas boutiques também no país, e uma vinícola na Argentina, a Ferrer. Fundada em 1990, a Miranda Ferrer não entrou na transação com a Henkell e segue como uma unidade separada, porém distribuída pela Freixenet. Seu desafio, agora, é aprender mais sobre vinhos tranquilos, como ele conta na entrevista a seguir.

Por que a Miranda Ferrer ganhou mais espaço na sua agenda após a fusão da Henkell com a Freixenet?

As três vinícolas pertenciam à Freixenet, mesmo sendo pequenas. Com a transação, os meus primos decidiram sair desta operação, mas eu quis continuar com este projeto. É uma estratégia distinta de buscar menos volume e mais qualidade. Como não é um projeto com a Henkell, não podemos fazer vinhos espumantes na Ferrer Miranda. Mas temos projetos bem interessantes com os vinhos tintos, em Rioja e em Ribera del Duero, e com os brancos, na Galizia.

Como é dividir entre estes dois focos?

Quando criamos o grupo Ferrer Miranda, na década de 1990, me diziam que a minha vida tinha duas almas, a alma da Freixenet, que busca sempre o melhor para o grupo, onde queremos uma atuação importante no mercado mundial; e a alma das vinícolas pequenas, de buscar o terroir, fazer vinhos que reflitam a qualidade. São duas almas que aprenderam a conviver.

Com a mesma filosofia?

A filosofia é distinta. Na Ferrer Miranda, podemos pensar em longo prazo. E desde o primeiro dia, levamos a qualidade muito a sério. Por isso, contratamos o enólogo Xavier Ausàs, como consultor. Nossa ideia é trilhar um caminho de mais qualidade. Ausàs está desafiando a nossa equipe de enologia, traz ideias de coisas para melhorar a qualidade. Acredito que chegou o momento de buscarmos alguém que tenha experiencia, que nos possa ajudar nestas ideias e conceitos para seguirmos em frente.

Pedro Ferrer, nos vinhedos da Espanha: agora o desafio é ter vinícolas pequenas e de qualidade Foto: Miquel Monfort Subirana

Como é o trabalho dele?

Em todas as reuniões que fazemos com Ausàs, também participam a enóloga Vanesa Insausti, de Solar Viejo, em Rioja, a Glória Días, de Ribera, e o Javier Aladro. Um exemplo são a ajuda de Ausàs para melhorar a qualidade da madeira que usamos nas nossas barricas, até pelo conceito de simbolizar o terroir, com vinhos com menos madeira, mais fruta e qualidade.

A Vega Sicilia tem sua própria tonelaria. Este é o plano?

Estamos distantes de ter a nossa própria tonelaria, mas estamos comprando barricas das melhores empresas. Na Espanha, o vinho tinto típico, tradicional, tem muita madeira, é oxidado.

Há também o investimento em novos vinhedos?

Sim, estamos bem contentes com um vinhedo de 6 hectares que compramos. É um vinhedo particular, em uma zona com muita inclinação, o que muda o impacto da incidência solar nas plantas. O Xavier Audàs e o Javier Aladro estão trabalhando juntos neste projeto. Compramos a vinha no ano passado, e já havia vinhedos de 20 anos. Nossa expectativa é dar um outro salto de qualidade, elaborar um vinho de pago.

Em Vionta também tem um branco novo?

Sim, em Rías Baixas estamos elaborando o Bosque de Fuscallo, em homenagem a essa neblina particular na região. O projeto nasceu com uma barrica e as experiências de Javier e a ideia é manter a produção pequena. Devemos chegar, talvez, a 20 barricas.

E em Rioja?

Atualmente nossa aposta é em um vinho que elaboramos sem o uso de sulfito. É o vinho natural da linha Orube. Estamos experimentando. É um vinho mais frutado, sem envelhecimento em madeira. A ideia é mostrar que estamos inovando e temos mais qualidade. Há uma preocupação dos jovens com os vinhos naturais. Em Paris, parece abrir um bar de vinhos naturais por semana.

A ideia é ser uma vinícola orgânica, biodinâmica?

Minha opinião é que ao final o vinho é um produto para dar prazer, desfrutar da comida. E temos de trabalhar para ser mais naturais, com menos sulfitos

No passado, você chegou a ter uma parceria com a Miolo, no Brasil, para os espumantes.

Vim ao Brasil há cerca de 8 anos para provar espumantes. Visitei a Miolo e fizemos uma parceria com ela. Mas depois migramos o projeto dos espumantes para a Argentina. Mas o Brasil tem muita condição para os espumantes.

Os cavas espanhóis, como são chamados os espumantes elaborados neste país europeu, formam uma categoria que vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Foram 148 mil caixas (algo como 1,76 milhão de garrafas) em 2019, e passaram para 241 mil (ou 2,9 milhões de garrafas) em 2022, nos dados da Ideal Consulting. A Freixenet é a líder com 63% deste mercado, que disputa espaço com os espumantes brasileiros por aqui.

Mas a gigante Freixenet, empresa que foi adquirida em 2018 pelo grupo alemão Henkell, não quer crescer apenas nas borbulhas. Uma das apostas de Pedro Ferrer Noguer, CEO da empresa, e herdeiro de seus fundadores (o primeiro Pedro Ferrer casou com Dolores Sala e lançou seu primeiro cava Freixenet em 1911), são os chamados vinhos tranquilos (que não tem borbulhas) espanhóis.

VINÍCOLAS BOUTIQUE

Mas que isso: a proposta é dedicar maior atenção ao grupo batizado de Miranda Ferrer, fundado no final dos anos 1990, com vinícolas espanholas boutique, daquelas em que a qualidade fala mais alto do que o volume, e localizadas nas regiões clássicas de vinho no país. O projeto começa em Rioja, com a vinícola Solar Viejo, propriedade que fica em La Guárdia, uma pequena vila medieval, que guarda nos porões de suas casas registros da enologia praticada pelos antigos. “Queremos valorizar o terroir de La Guárdia”, conta a enóloga Vanessa Insausti. São 7 hectares próprios e outros 20 arrendados, uma pequenina parte dos 65 mil hectares de toda a Rioja.

O destaque de Solar Viejo é um vinho sem sulfito (produto utilizado na preservação da bebida), da linha Orube, de maior qualidade. O vinho deve chegar ao Brasil em breve. “Com esta linha queremos passar a nossa mensagem de que estamos inovando”, afirma Ferrer (confira entrevista ao final desta reportagem).

A sala de barricas da vinícola Solar Viejo, em Rioja, com centenas de barris de carvalho enfileiradas, onde os vinhos amadurecem Foto: Jordi Play

NOVO CONSULTOR

Mas são em Ribera del Duero, com a vinícola Valdubón, e na Rías Baixas, com a Vionta, que os projetos de Pedro Ferrer ganham mais ousadia. Em Ribera, os vinhos tintos começam a subir degraus de qualidade com a chegada do enólogo Xavier Ausàs como consultor no ano passado. No universo dos vinhos espanhóis, Ausàs dispensa apresentações por ter sido o enólogo do ícone Veja Sicilia por quase 20 anos. “Chegou o momento que precisamos buscar alguém que tenha experiência e que nos ajude com conceitos e ideias”, afirma Ferrer.

Colheita de albariño em Rias Baixas, onde o sistema de condução das vinhas lembra um varal Foto: Jordi Play

Além de atuar, principalmente no blend dos tintos, elaborados com a tempranillo, Ausàs auxilia no projeto de viño de pago, conceito espanhol de vinhedos de qualidade e exclusivos, que o grupo comprou durante a pandemia. Com vinhas de mais de 20 anos, em breve o tinto será lançado e deve vir para o Brasil.

APOSTA NOS BRANCOS

Na região de Rías Baixas, na fronteira com Portugal, onde reina a variedade branca albariño, a novidade é um bom branco vinificado em barricas de carvalho. A experiência, liderada pelo enólogo Javier Aladro, começou com uma única barrica e os primeiros resultados surgiram na safra de 2020. “Foi um projeto de muita experimentação e do meu aprendizado com as uvas brancas”, conta Aladro. O enólogo trabalhava, inicialmente, na vinícola de Ribera del Duero, focada em tintos, mas foi alçado a coordenador de enologia do grupo e assumiu também o projeto na Galizia.

O novo branco tem o nome de Bosque de Fuscallo, em referência a um bosque com muita neblina, que caracteriza a região. “A ideia é ser um projeto pequeno, no máximo 20 barricas”, diz Ferrer. Agora é acompanhar como uma vinícola gigante – a Freixenet envasa 100 milhões de garrafas por ano – vai saber ligar com projetos menores. Mais: e como vai levar o conhecimento que os pequenos projetos costumam trazer para a companhia mãe. Essa resposta, no entanto, cabe ao tempo.

ENTREVISTA

“É uma estratégia distinta de buscar menos volume e mais qualidade”

Com a fusão com a alemã Henkell com a espanhola Freixenet no ano de 2018, Pedro Ferrer, CEO da Freixenet, passou a dividir igualmente o seu tempo entre a gigante de cavas espanhóis e o grupo Miranda Ferrer, de vinícolas boutiques também no país, e uma vinícola na Argentina, a Ferrer. Fundada em 1990, a Miranda Ferrer não entrou na transação com a Henkell e segue como uma unidade separada, porém distribuída pela Freixenet. Seu desafio, agora, é aprender mais sobre vinhos tranquilos, como ele conta na entrevista a seguir.

Por que a Miranda Ferrer ganhou mais espaço na sua agenda após a fusão da Henkell com a Freixenet?

As três vinícolas pertenciam à Freixenet, mesmo sendo pequenas. Com a transação, os meus primos decidiram sair desta operação, mas eu quis continuar com este projeto. É uma estratégia distinta de buscar menos volume e mais qualidade. Como não é um projeto com a Henkell, não podemos fazer vinhos espumantes na Ferrer Miranda. Mas temos projetos bem interessantes com os vinhos tintos, em Rioja e em Ribera del Duero, e com os brancos, na Galizia.

Como é dividir entre estes dois focos?

Quando criamos o grupo Ferrer Miranda, na década de 1990, me diziam que a minha vida tinha duas almas, a alma da Freixenet, que busca sempre o melhor para o grupo, onde queremos uma atuação importante no mercado mundial; e a alma das vinícolas pequenas, de buscar o terroir, fazer vinhos que reflitam a qualidade. São duas almas que aprenderam a conviver.

Com a mesma filosofia?

A filosofia é distinta. Na Ferrer Miranda, podemos pensar em longo prazo. E desde o primeiro dia, levamos a qualidade muito a sério. Por isso, contratamos o enólogo Xavier Ausàs, como consultor. Nossa ideia é trilhar um caminho de mais qualidade. Ausàs está desafiando a nossa equipe de enologia, traz ideias de coisas para melhorar a qualidade. Acredito que chegou o momento de buscarmos alguém que tenha experiencia, que nos possa ajudar nestas ideias e conceitos para seguirmos em frente.

Pedro Ferrer, nos vinhedos da Espanha: agora o desafio é ter vinícolas pequenas e de qualidade Foto: Miquel Monfort Subirana

Como é o trabalho dele?

Em todas as reuniões que fazemos com Ausàs, também participam a enóloga Vanesa Insausti, de Solar Viejo, em Rioja, a Glória Días, de Ribera, e o Javier Aladro. Um exemplo são a ajuda de Ausàs para melhorar a qualidade da madeira que usamos nas nossas barricas, até pelo conceito de simbolizar o terroir, com vinhos com menos madeira, mais fruta e qualidade.

A Vega Sicilia tem sua própria tonelaria. Este é o plano?

Estamos distantes de ter a nossa própria tonelaria, mas estamos comprando barricas das melhores empresas. Na Espanha, o vinho tinto típico, tradicional, tem muita madeira, é oxidado.

Há também o investimento em novos vinhedos?

Sim, estamos bem contentes com um vinhedo de 6 hectares que compramos. É um vinhedo particular, em uma zona com muita inclinação, o que muda o impacto da incidência solar nas plantas. O Xavier Audàs e o Javier Aladro estão trabalhando juntos neste projeto. Compramos a vinha no ano passado, e já havia vinhedos de 20 anos. Nossa expectativa é dar um outro salto de qualidade, elaborar um vinho de pago.

Em Vionta também tem um branco novo?

Sim, em Rías Baixas estamos elaborando o Bosque de Fuscallo, em homenagem a essa neblina particular na região. O projeto nasceu com uma barrica e as experiências de Javier e a ideia é manter a produção pequena. Devemos chegar, talvez, a 20 barricas.

E em Rioja?

Atualmente nossa aposta é em um vinho que elaboramos sem o uso de sulfito. É o vinho natural da linha Orube. Estamos experimentando. É um vinho mais frutado, sem envelhecimento em madeira. A ideia é mostrar que estamos inovando e temos mais qualidade. Há uma preocupação dos jovens com os vinhos naturais. Em Paris, parece abrir um bar de vinhos naturais por semana.

A ideia é ser uma vinícola orgânica, biodinâmica?

Minha opinião é que ao final o vinho é um produto para dar prazer, desfrutar da comida. E temos de trabalhar para ser mais naturais, com menos sulfitos

No passado, você chegou a ter uma parceria com a Miolo, no Brasil, para os espumantes.

Vim ao Brasil há cerca de 8 anos para provar espumantes. Visitei a Miolo e fizemos uma parceria com ela. Mas depois migramos o projeto dos espumantes para a Argentina. Mas o Brasil tem muita condição para os espumantes.

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