Lucas Corazza, do programa Quanto vale esse doce?, é um dos destaques do Paladar Cozinha do Brasil


Afiado e certeiro, sem perder a doçura, o confeiteiro aprendeu a explorar seu potencial criativo com uma receita pouco convencional

Por Chris Campos
Atualização:
O confeiteiro Lucas Corazza em sua casa-estúdio Foto: TABA BENEDICTO

“Sou um cara que depende da reflexão, tudo o que faço é baseado em sonhos”. É dessa maneira que o confeiteiro Lucas Corazza – que acaba de estrear no programa Quanto vale esse doce? (GNT) e está no time dos chefs convidados do 10º Paladar Cozinha do Brasil, evento realizado nos dias 6 e 7 de maio – se autodefine. Em uma aula-show, Lucas irá usar o fruto do pupunha como base para um brasileiríssimo marrom glacê.

Brasilidades em geral, aliás, não faltam na biografia de Lucas. Ele foi estudar confeitaria na França quando tinha 25 anos. Juntou dinheiro e passou três meses em uma escola numa cidade de 6 mil habitantes onde os franceses tiravam o certificado técnico para exercer a profissão. Voltou com a certeza de que a nova confeitaria brasileira seria uma mistura de técnicas europeias com ingredientes nacionais.

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No caminho de volta, porém, realizou que a confeitaria brasileira é continental, diferente. É étnica em um lugar, de sobrevivência em outro... Que não tinha a ver com doces esteticamente perfeitos e sim com sabor e experiências.

“Tem uma frase do Carlos Alberto Dória (sociólogo, um dos principais pesquisadores da alimentação e da gastronomia no Brasil e autor do livro Formação da Culinária Brasileira (Fósforo, 2021) que é a seguinte: o confeiteiro é um cidadão do mundo”, explica Lucas. “Essa frase faz muito sentido pra mim, por isso me desapeguei das bases clássicas, arrogantes; acho um pensamento colonizado uma confeitaria com decoração europeia servindo brigadeiro e ninho de ovos”.

Receita adaptada

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“A construção do meu eu de hoje levou muito tempo, sou uma pessoa que se fragmentou inúmeras vezes na tentativa de me construir na forma que queria ter e não na forma que me davam”, conta em alusão aos muitos momentos em que uma conversa se encerrava com a frase: ‘Ele é assim mesmo’. “Pode reparar que toda vez que você faz algo não-convencional, parece que está fazendo uma coisa errada”. Um belo dia, resolveu abraçar o caos de suas escolhas e seguir em frente.

O primeiro emprego foi no DOM: “Eles cancelaram meu estágio no primeiro mês; eu cozinhava desde os 14 anos, mas só sabia fazer bala de coco, pão de mel e bolinho decorado”. Aprendeu o que sabe nos livros, inclusive a falar francês durante a leitura de compilações de gastronomia bilingües. “Achava que nunca teria dinheiro para estudar fora, então comprava livros”, conta.

O dono do bordão “eu pagaria por esse doce” estreou na tevê aos 27 anos, no canal Bem Simples, da FOX, nos primórdios da gastronomia no horário nobre – uma fase que Lucas descreve como de sentimentos mistos... “Eles me colocavam no ar como um ator de novela mexicana, um Lucas genérico”, conta. “Eles gostavam da minha técnica, da minha didática, mas não gostavam de mim”.

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“Na primeira temporada do programa Que seja Doce (GNT), lancei o bordão que virou a frase da minha vida e que nasceu de uma negativa: como vou falar que esse doce não é bom? Aí pensei... não pagaria por esse doce! Algumas pessoas invejosas chegara a falar pra mim: esse bordão nunca vai dar certo”, lembra.

Quanto Vale Este Doce?: Carole Crema com os jurados Lucas Corazza, Roberto Strongoli e Michele Crispim Foto: Alberto Pygmeu

Só que deu muito certo e, por conta de sua insistência em fazer as coisas de maneira pouco convencional, Lucas acredita ter se tornado uma pessoa reconhecida pela irreverência, pelo olhar de viajante curioso e também como alguém preocupado com inclusão, com diversidade alimentar, em experimentar: “Difícil foi achar o formato disso e, sem formato, você é apenas uma pessoa histérica.”

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Atualmente é um dos três jurados do programa Quanto vale esse doce? (GNT), apresentado por Carole Crema. Diz adorar ser jurado e mentor no programa. Oportunidade de ouro para trabalhar a autoestima dos confeiteiros, que ele classifica como muito baixa: “Se dar valor e colocar preço no seu produto quando você é um produtor caseiro é muito difícil, mas acredito que a confeitaria seja um lugar em que você pode encontrar dignidade”.

Democracia e doces

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Lucas, que abraça o título de um dos melhores confeiteiros do Brasil, já deu muita aula de confeitaria pelo Brasil e até hoje vende seus doces em food trucks estacionados em feiras de rua: “Gosto de momentos democráticos, gastronomia é uma manifestação cultural, então eu me apresento desse jeito”. Por conta desse propósito, ganhou pontos com muitos e perdeu outros tantos.... Como os seguidores que abandonaram suas redes durante as eleições de outubro de 2022.

“Como cidadão do país que habito, membro da comunidade LGBTQIA+, lutando pela percepção das minorias, quando me manifesto politicamente não tô fazendo aquilo para me opor a outro partido, faço porque as minhas causas precisam que a minha voz autorize um sentimento bom de liberdade depois de um período de muita repressão”, diz. “Se você não defende o que acredita, está agredindo a si mesmo, é muito melhor entrar em acordo com suas neuroses do que entrar em acordo com as neuroses dos outros, além disso, não quero criar cisões, quero buscar alianças.

Fama e glória

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“A fama veio pra nós, cozinheiros, num lugar que mexe demais com o ego, porque a cozinha já é um ramo muito egoico; todo restaurante, no final do dia, é um palco para um monólogo elaborado em que o cozinheiro está acompanhado de outras pessoas fingindo estar numa ópera, mas só ele canta”, define quase que em um só fôlego.

Outro dia Lucas postou nos stories do seu perfil no Instagram uma sequência em que mostrava sua reação ao avistar a propaganda do seu programa no GNT estampada em um ônibus. Aquele momento Carrie Bradshaw que pode acontecer com qualquer pessoa... Era uma sequência engraçada em que ele não disfarçava um entusiasmo quase infantil, com direito a menções à nave da Xuxa (devidamente marcada nas postagens) e que rendeu um comentário da rainha reverenciada por ele na infância.

Tudo isso pra dizer que transitar entre o deslumbramento e a comédia da vida como ela é, sem filtros, é um talento lapidado pelo confeiteiro durante anos e com muita terapia, iniciada no período da pandemia. Hoje Lucas assume que, depois de trabalhar questões profundas, conquistou a liberdade de assumir os rumos da própria vida.

“Decidi que ser autêntico é meu único caminho, tive que parar de forçar a barra, de fazer política com pessoas que estavam me subestimando”, conta. “Quando as pessoas sentem a minha potência, elas querem competir comigo. Não quero competir com ninguém. Eu quero é roda, de samba, em que você entra, faz seu show, sai e dá lugar para o outro”.

O confeiteiro Lucas Corazza em sua casa-estúdio Foto: TABA BENEDICTO

“Sou um cara que depende da reflexão, tudo o que faço é baseado em sonhos”. É dessa maneira que o confeiteiro Lucas Corazza – que acaba de estrear no programa Quanto vale esse doce? (GNT) e está no time dos chefs convidados do 10º Paladar Cozinha do Brasil, evento realizado nos dias 6 e 7 de maio – se autodefine. Em uma aula-show, Lucas irá usar o fruto do pupunha como base para um brasileiríssimo marrom glacê.

Brasilidades em geral, aliás, não faltam na biografia de Lucas. Ele foi estudar confeitaria na França quando tinha 25 anos. Juntou dinheiro e passou três meses em uma escola numa cidade de 6 mil habitantes onde os franceses tiravam o certificado técnico para exercer a profissão. Voltou com a certeza de que a nova confeitaria brasileira seria uma mistura de técnicas europeias com ingredientes nacionais.

No caminho de volta, porém, realizou que a confeitaria brasileira é continental, diferente. É étnica em um lugar, de sobrevivência em outro... Que não tinha a ver com doces esteticamente perfeitos e sim com sabor e experiências.

“Tem uma frase do Carlos Alberto Dória (sociólogo, um dos principais pesquisadores da alimentação e da gastronomia no Brasil e autor do livro Formação da Culinária Brasileira (Fósforo, 2021) que é a seguinte: o confeiteiro é um cidadão do mundo”, explica Lucas. “Essa frase faz muito sentido pra mim, por isso me desapeguei das bases clássicas, arrogantes; acho um pensamento colonizado uma confeitaria com decoração europeia servindo brigadeiro e ninho de ovos”.

Receita adaptada

“A construção do meu eu de hoje levou muito tempo, sou uma pessoa que se fragmentou inúmeras vezes na tentativa de me construir na forma que queria ter e não na forma que me davam”, conta em alusão aos muitos momentos em que uma conversa se encerrava com a frase: ‘Ele é assim mesmo’. “Pode reparar que toda vez que você faz algo não-convencional, parece que está fazendo uma coisa errada”. Um belo dia, resolveu abraçar o caos de suas escolhas e seguir em frente.

O primeiro emprego foi no DOM: “Eles cancelaram meu estágio no primeiro mês; eu cozinhava desde os 14 anos, mas só sabia fazer bala de coco, pão de mel e bolinho decorado”. Aprendeu o que sabe nos livros, inclusive a falar francês durante a leitura de compilações de gastronomia bilingües. “Achava que nunca teria dinheiro para estudar fora, então comprava livros”, conta.

O dono do bordão “eu pagaria por esse doce” estreou na tevê aos 27 anos, no canal Bem Simples, da FOX, nos primórdios da gastronomia no horário nobre – uma fase que Lucas descreve como de sentimentos mistos... “Eles me colocavam no ar como um ator de novela mexicana, um Lucas genérico”, conta. “Eles gostavam da minha técnica, da minha didática, mas não gostavam de mim”.

“Na primeira temporada do programa Que seja Doce (GNT), lancei o bordão que virou a frase da minha vida e que nasceu de uma negativa: como vou falar que esse doce não é bom? Aí pensei... não pagaria por esse doce! Algumas pessoas invejosas chegara a falar pra mim: esse bordão nunca vai dar certo”, lembra.

Quanto Vale Este Doce?: Carole Crema com os jurados Lucas Corazza, Roberto Strongoli e Michele Crispim Foto: Alberto Pygmeu

Só que deu muito certo e, por conta de sua insistência em fazer as coisas de maneira pouco convencional, Lucas acredita ter se tornado uma pessoa reconhecida pela irreverência, pelo olhar de viajante curioso e também como alguém preocupado com inclusão, com diversidade alimentar, em experimentar: “Difícil foi achar o formato disso e, sem formato, você é apenas uma pessoa histérica.”

Atualmente é um dos três jurados do programa Quanto vale esse doce? (GNT), apresentado por Carole Crema. Diz adorar ser jurado e mentor no programa. Oportunidade de ouro para trabalhar a autoestima dos confeiteiros, que ele classifica como muito baixa: “Se dar valor e colocar preço no seu produto quando você é um produtor caseiro é muito difícil, mas acredito que a confeitaria seja um lugar em que você pode encontrar dignidade”.

Democracia e doces

Lucas, que abraça o título de um dos melhores confeiteiros do Brasil, já deu muita aula de confeitaria pelo Brasil e até hoje vende seus doces em food trucks estacionados em feiras de rua: “Gosto de momentos democráticos, gastronomia é uma manifestação cultural, então eu me apresento desse jeito”. Por conta desse propósito, ganhou pontos com muitos e perdeu outros tantos.... Como os seguidores que abandonaram suas redes durante as eleições de outubro de 2022.

“Como cidadão do país que habito, membro da comunidade LGBTQIA+, lutando pela percepção das minorias, quando me manifesto politicamente não tô fazendo aquilo para me opor a outro partido, faço porque as minhas causas precisam que a minha voz autorize um sentimento bom de liberdade depois de um período de muita repressão”, diz. “Se você não defende o que acredita, está agredindo a si mesmo, é muito melhor entrar em acordo com suas neuroses do que entrar em acordo com as neuroses dos outros, além disso, não quero criar cisões, quero buscar alianças.

Fama e glória

“A fama veio pra nós, cozinheiros, num lugar que mexe demais com o ego, porque a cozinha já é um ramo muito egoico; todo restaurante, no final do dia, é um palco para um monólogo elaborado em que o cozinheiro está acompanhado de outras pessoas fingindo estar numa ópera, mas só ele canta”, define quase que em um só fôlego.

Outro dia Lucas postou nos stories do seu perfil no Instagram uma sequência em que mostrava sua reação ao avistar a propaganda do seu programa no GNT estampada em um ônibus. Aquele momento Carrie Bradshaw que pode acontecer com qualquer pessoa... Era uma sequência engraçada em que ele não disfarçava um entusiasmo quase infantil, com direito a menções à nave da Xuxa (devidamente marcada nas postagens) e que rendeu um comentário da rainha reverenciada por ele na infância.

Tudo isso pra dizer que transitar entre o deslumbramento e a comédia da vida como ela é, sem filtros, é um talento lapidado pelo confeiteiro durante anos e com muita terapia, iniciada no período da pandemia. Hoje Lucas assume que, depois de trabalhar questões profundas, conquistou a liberdade de assumir os rumos da própria vida.

“Decidi que ser autêntico é meu único caminho, tive que parar de forçar a barra, de fazer política com pessoas que estavam me subestimando”, conta. “Quando as pessoas sentem a minha potência, elas querem competir comigo. Não quero competir com ninguém. Eu quero é roda, de samba, em que você entra, faz seu show, sai e dá lugar para o outro”.

O confeiteiro Lucas Corazza em sua casa-estúdio Foto: TABA BENEDICTO

“Sou um cara que depende da reflexão, tudo o que faço é baseado em sonhos”. É dessa maneira que o confeiteiro Lucas Corazza – que acaba de estrear no programa Quanto vale esse doce? (GNT) e está no time dos chefs convidados do 10º Paladar Cozinha do Brasil, evento realizado nos dias 6 e 7 de maio – se autodefine. Em uma aula-show, Lucas irá usar o fruto do pupunha como base para um brasileiríssimo marrom glacê.

Brasilidades em geral, aliás, não faltam na biografia de Lucas. Ele foi estudar confeitaria na França quando tinha 25 anos. Juntou dinheiro e passou três meses em uma escola numa cidade de 6 mil habitantes onde os franceses tiravam o certificado técnico para exercer a profissão. Voltou com a certeza de que a nova confeitaria brasileira seria uma mistura de técnicas europeias com ingredientes nacionais.

No caminho de volta, porém, realizou que a confeitaria brasileira é continental, diferente. É étnica em um lugar, de sobrevivência em outro... Que não tinha a ver com doces esteticamente perfeitos e sim com sabor e experiências.

“Tem uma frase do Carlos Alberto Dória (sociólogo, um dos principais pesquisadores da alimentação e da gastronomia no Brasil e autor do livro Formação da Culinária Brasileira (Fósforo, 2021) que é a seguinte: o confeiteiro é um cidadão do mundo”, explica Lucas. “Essa frase faz muito sentido pra mim, por isso me desapeguei das bases clássicas, arrogantes; acho um pensamento colonizado uma confeitaria com decoração europeia servindo brigadeiro e ninho de ovos”.

Receita adaptada

“A construção do meu eu de hoje levou muito tempo, sou uma pessoa que se fragmentou inúmeras vezes na tentativa de me construir na forma que queria ter e não na forma que me davam”, conta em alusão aos muitos momentos em que uma conversa se encerrava com a frase: ‘Ele é assim mesmo’. “Pode reparar que toda vez que você faz algo não-convencional, parece que está fazendo uma coisa errada”. Um belo dia, resolveu abraçar o caos de suas escolhas e seguir em frente.

O primeiro emprego foi no DOM: “Eles cancelaram meu estágio no primeiro mês; eu cozinhava desde os 14 anos, mas só sabia fazer bala de coco, pão de mel e bolinho decorado”. Aprendeu o que sabe nos livros, inclusive a falar francês durante a leitura de compilações de gastronomia bilingües. “Achava que nunca teria dinheiro para estudar fora, então comprava livros”, conta.

O dono do bordão “eu pagaria por esse doce” estreou na tevê aos 27 anos, no canal Bem Simples, da FOX, nos primórdios da gastronomia no horário nobre – uma fase que Lucas descreve como de sentimentos mistos... “Eles me colocavam no ar como um ator de novela mexicana, um Lucas genérico”, conta. “Eles gostavam da minha técnica, da minha didática, mas não gostavam de mim”.

“Na primeira temporada do programa Que seja Doce (GNT), lancei o bordão que virou a frase da minha vida e que nasceu de uma negativa: como vou falar que esse doce não é bom? Aí pensei... não pagaria por esse doce! Algumas pessoas invejosas chegara a falar pra mim: esse bordão nunca vai dar certo”, lembra.

Quanto Vale Este Doce?: Carole Crema com os jurados Lucas Corazza, Roberto Strongoli e Michele Crispim Foto: Alberto Pygmeu

Só que deu muito certo e, por conta de sua insistência em fazer as coisas de maneira pouco convencional, Lucas acredita ter se tornado uma pessoa reconhecida pela irreverência, pelo olhar de viajante curioso e também como alguém preocupado com inclusão, com diversidade alimentar, em experimentar: “Difícil foi achar o formato disso e, sem formato, você é apenas uma pessoa histérica.”

Atualmente é um dos três jurados do programa Quanto vale esse doce? (GNT), apresentado por Carole Crema. Diz adorar ser jurado e mentor no programa. Oportunidade de ouro para trabalhar a autoestima dos confeiteiros, que ele classifica como muito baixa: “Se dar valor e colocar preço no seu produto quando você é um produtor caseiro é muito difícil, mas acredito que a confeitaria seja um lugar em que você pode encontrar dignidade”.

Democracia e doces

Lucas, que abraça o título de um dos melhores confeiteiros do Brasil, já deu muita aula de confeitaria pelo Brasil e até hoje vende seus doces em food trucks estacionados em feiras de rua: “Gosto de momentos democráticos, gastronomia é uma manifestação cultural, então eu me apresento desse jeito”. Por conta desse propósito, ganhou pontos com muitos e perdeu outros tantos.... Como os seguidores que abandonaram suas redes durante as eleições de outubro de 2022.

“Como cidadão do país que habito, membro da comunidade LGBTQIA+, lutando pela percepção das minorias, quando me manifesto politicamente não tô fazendo aquilo para me opor a outro partido, faço porque as minhas causas precisam que a minha voz autorize um sentimento bom de liberdade depois de um período de muita repressão”, diz. “Se você não defende o que acredita, está agredindo a si mesmo, é muito melhor entrar em acordo com suas neuroses do que entrar em acordo com as neuroses dos outros, além disso, não quero criar cisões, quero buscar alianças.

Fama e glória

“A fama veio pra nós, cozinheiros, num lugar que mexe demais com o ego, porque a cozinha já é um ramo muito egoico; todo restaurante, no final do dia, é um palco para um monólogo elaborado em que o cozinheiro está acompanhado de outras pessoas fingindo estar numa ópera, mas só ele canta”, define quase que em um só fôlego.

Outro dia Lucas postou nos stories do seu perfil no Instagram uma sequência em que mostrava sua reação ao avistar a propaganda do seu programa no GNT estampada em um ônibus. Aquele momento Carrie Bradshaw que pode acontecer com qualquer pessoa... Era uma sequência engraçada em que ele não disfarçava um entusiasmo quase infantil, com direito a menções à nave da Xuxa (devidamente marcada nas postagens) e que rendeu um comentário da rainha reverenciada por ele na infância.

Tudo isso pra dizer que transitar entre o deslumbramento e a comédia da vida como ela é, sem filtros, é um talento lapidado pelo confeiteiro durante anos e com muita terapia, iniciada no período da pandemia. Hoje Lucas assume que, depois de trabalhar questões profundas, conquistou a liberdade de assumir os rumos da própria vida.

“Decidi que ser autêntico é meu único caminho, tive que parar de forçar a barra, de fazer política com pessoas que estavam me subestimando”, conta. “Quando as pessoas sentem a minha potência, elas querem competir comigo. Não quero competir com ninguém. Eu quero é roda, de samba, em que você entra, faz seu show, sai e dá lugar para o outro”.

O confeiteiro Lucas Corazza em sua casa-estúdio Foto: TABA BENEDICTO

“Sou um cara que depende da reflexão, tudo o que faço é baseado em sonhos”. É dessa maneira que o confeiteiro Lucas Corazza – que acaba de estrear no programa Quanto vale esse doce? (GNT) e está no time dos chefs convidados do 10º Paladar Cozinha do Brasil, evento realizado nos dias 6 e 7 de maio – se autodefine. Em uma aula-show, Lucas irá usar o fruto do pupunha como base para um brasileiríssimo marrom glacê.

Brasilidades em geral, aliás, não faltam na biografia de Lucas. Ele foi estudar confeitaria na França quando tinha 25 anos. Juntou dinheiro e passou três meses em uma escola numa cidade de 6 mil habitantes onde os franceses tiravam o certificado técnico para exercer a profissão. Voltou com a certeza de que a nova confeitaria brasileira seria uma mistura de técnicas europeias com ingredientes nacionais.

No caminho de volta, porém, realizou que a confeitaria brasileira é continental, diferente. É étnica em um lugar, de sobrevivência em outro... Que não tinha a ver com doces esteticamente perfeitos e sim com sabor e experiências.

“Tem uma frase do Carlos Alberto Dória (sociólogo, um dos principais pesquisadores da alimentação e da gastronomia no Brasil e autor do livro Formação da Culinária Brasileira (Fósforo, 2021) que é a seguinte: o confeiteiro é um cidadão do mundo”, explica Lucas. “Essa frase faz muito sentido pra mim, por isso me desapeguei das bases clássicas, arrogantes; acho um pensamento colonizado uma confeitaria com decoração europeia servindo brigadeiro e ninho de ovos”.

Receita adaptada

“A construção do meu eu de hoje levou muito tempo, sou uma pessoa que se fragmentou inúmeras vezes na tentativa de me construir na forma que queria ter e não na forma que me davam”, conta em alusão aos muitos momentos em que uma conversa se encerrava com a frase: ‘Ele é assim mesmo’. “Pode reparar que toda vez que você faz algo não-convencional, parece que está fazendo uma coisa errada”. Um belo dia, resolveu abraçar o caos de suas escolhas e seguir em frente.

O primeiro emprego foi no DOM: “Eles cancelaram meu estágio no primeiro mês; eu cozinhava desde os 14 anos, mas só sabia fazer bala de coco, pão de mel e bolinho decorado”. Aprendeu o que sabe nos livros, inclusive a falar francês durante a leitura de compilações de gastronomia bilingües. “Achava que nunca teria dinheiro para estudar fora, então comprava livros”, conta.

O dono do bordão “eu pagaria por esse doce” estreou na tevê aos 27 anos, no canal Bem Simples, da FOX, nos primórdios da gastronomia no horário nobre – uma fase que Lucas descreve como de sentimentos mistos... “Eles me colocavam no ar como um ator de novela mexicana, um Lucas genérico”, conta. “Eles gostavam da minha técnica, da minha didática, mas não gostavam de mim”.

“Na primeira temporada do programa Que seja Doce (GNT), lancei o bordão que virou a frase da minha vida e que nasceu de uma negativa: como vou falar que esse doce não é bom? Aí pensei... não pagaria por esse doce! Algumas pessoas invejosas chegara a falar pra mim: esse bordão nunca vai dar certo”, lembra.

Quanto Vale Este Doce?: Carole Crema com os jurados Lucas Corazza, Roberto Strongoli e Michele Crispim Foto: Alberto Pygmeu

Só que deu muito certo e, por conta de sua insistência em fazer as coisas de maneira pouco convencional, Lucas acredita ter se tornado uma pessoa reconhecida pela irreverência, pelo olhar de viajante curioso e também como alguém preocupado com inclusão, com diversidade alimentar, em experimentar: “Difícil foi achar o formato disso e, sem formato, você é apenas uma pessoa histérica.”

Atualmente é um dos três jurados do programa Quanto vale esse doce? (GNT), apresentado por Carole Crema. Diz adorar ser jurado e mentor no programa. Oportunidade de ouro para trabalhar a autoestima dos confeiteiros, que ele classifica como muito baixa: “Se dar valor e colocar preço no seu produto quando você é um produtor caseiro é muito difícil, mas acredito que a confeitaria seja um lugar em que você pode encontrar dignidade”.

Democracia e doces

Lucas, que abraça o título de um dos melhores confeiteiros do Brasil, já deu muita aula de confeitaria pelo Brasil e até hoje vende seus doces em food trucks estacionados em feiras de rua: “Gosto de momentos democráticos, gastronomia é uma manifestação cultural, então eu me apresento desse jeito”. Por conta desse propósito, ganhou pontos com muitos e perdeu outros tantos.... Como os seguidores que abandonaram suas redes durante as eleições de outubro de 2022.

“Como cidadão do país que habito, membro da comunidade LGBTQIA+, lutando pela percepção das minorias, quando me manifesto politicamente não tô fazendo aquilo para me opor a outro partido, faço porque as minhas causas precisam que a minha voz autorize um sentimento bom de liberdade depois de um período de muita repressão”, diz. “Se você não defende o que acredita, está agredindo a si mesmo, é muito melhor entrar em acordo com suas neuroses do que entrar em acordo com as neuroses dos outros, além disso, não quero criar cisões, quero buscar alianças.

Fama e glória

“A fama veio pra nós, cozinheiros, num lugar que mexe demais com o ego, porque a cozinha já é um ramo muito egoico; todo restaurante, no final do dia, é um palco para um monólogo elaborado em que o cozinheiro está acompanhado de outras pessoas fingindo estar numa ópera, mas só ele canta”, define quase que em um só fôlego.

Outro dia Lucas postou nos stories do seu perfil no Instagram uma sequência em que mostrava sua reação ao avistar a propaganda do seu programa no GNT estampada em um ônibus. Aquele momento Carrie Bradshaw que pode acontecer com qualquer pessoa... Era uma sequência engraçada em que ele não disfarçava um entusiasmo quase infantil, com direito a menções à nave da Xuxa (devidamente marcada nas postagens) e que rendeu um comentário da rainha reverenciada por ele na infância.

Tudo isso pra dizer que transitar entre o deslumbramento e a comédia da vida como ela é, sem filtros, é um talento lapidado pelo confeiteiro durante anos e com muita terapia, iniciada no período da pandemia. Hoje Lucas assume que, depois de trabalhar questões profundas, conquistou a liberdade de assumir os rumos da própria vida.

“Decidi que ser autêntico é meu único caminho, tive que parar de forçar a barra, de fazer política com pessoas que estavam me subestimando”, conta. “Quando as pessoas sentem a minha potência, elas querem competir comigo. Não quero competir com ninguém. Eu quero é roda, de samba, em que você entra, faz seu show, sai e dá lugar para o outro”.

O confeiteiro Lucas Corazza em sua casa-estúdio Foto: TABA BENEDICTO

“Sou um cara que depende da reflexão, tudo o que faço é baseado em sonhos”. É dessa maneira que o confeiteiro Lucas Corazza – que acaba de estrear no programa Quanto vale esse doce? (GNT) e está no time dos chefs convidados do 10º Paladar Cozinha do Brasil, evento realizado nos dias 6 e 7 de maio – se autodefine. Em uma aula-show, Lucas irá usar o fruto do pupunha como base para um brasileiríssimo marrom glacê.

Brasilidades em geral, aliás, não faltam na biografia de Lucas. Ele foi estudar confeitaria na França quando tinha 25 anos. Juntou dinheiro e passou três meses em uma escola numa cidade de 6 mil habitantes onde os franceses tiravam o certificado técnico para exercer a profissão. Voltou com a certeza de que a nova confeitaria brasileira seria uma mistura de técnicas europeias com ingredientes nacionais.

No caminho de volta, porém, realizou que a confeitaria brasileira é continental, diferente. É étnica em um lugar, de sobrevivência em outro... Que não tinha a ver com doces esteticamente perfeitos e sim com sabor e experiências.

“Tem uma frase do Carlos Alberto Dória (sociólogo, um dos principais pesquisadores da alimentação e da gastronomia no Brasil e autor do livro Formação da Culinária Brasileira (Fósforo, 2021) que é a seguinte: o confeiteiro é um cidadão do mundo”, explica Lucas. “Essa frase faz muito sentido pra mim, por isso me desapeguei das bases clássicas, arrogantes; acho um pensamento colonizado uma confeitaria com decoração europeia servindo brigadeiro e ninho de ovos”.

Receita adaptada

“A construção do meu eu de hoje levou muito tempo, sou uma pessoa que se fragmentou inúmeras vezes na tentativa de me construir na forma que queria ter e não na forma que me davam”, conta em alusão aos muitos momentos em que uma conversa se encerrava com a frase: ‘Ele é assim mesmo’. “Pode reparar que toda vez que você faz algo não-convencional, parece que está fazendo uma coisa errada”. Um belo dia, resolveu abraçar o caos de suas escolhas e seguir em frente.

O primeiro emprego foi no DOM: “Eles cancelaram meu estágio no primeiro mês; eu cozinhava desde os 14 anos, mas só sabia fazer bala de coco, pão de mel e bolinho decorado”. Aprendeu o que sabe nos livros, inclusive a falar francês durante a leitura de compilações de gastronomia bilingües. “Achava que nunca teria dinheiro para estudar fora, então comprava livros”, conta.

O dono do bordão “eu pagaria por esse doce” estreou na tevê aos 27 anos, no canal Bem Simples, da FOX, nos primórdios da gastronomia no horário nobre – uma fase que Lucas descreve como de sentimentos mistos... “Eles me colocavam no ar como um ator de novela mexicana, um Lucas genérico”, conta. “Eles gostavam da minha técnica, da minha didática, mas não gostavam de mim”.

“Na primeira temporada do programa Que seja Doce (GNT), lancei o bordão que virou a frase da minha vida e que nasceu de uma negativa: como vou falar que esse doce não é bom? Aí pensei... não pagaria por esse doce! Algumas pessoas invejosas chegara a falar pra mim: esse bordão nunca vai dar certo”, lembra.

Quanto Vale Este Doce?: Carole Crema com os jurados Lucas Corazza, Roberto Strongoli e Michele Crispim Foto: Alberto Pygmeu

Só que deu muito certo e, por conta de sua insistência em fazer as coisas de maneira pouco convencional, Lucas acredita ter se tornado uma pessoa reconhecida pela irreverência, pelo olhar de viajante curioso e também como alguém preocupado com inclusão, com diversidade alimentar, em experimentar: “Difícil foi achar o formato disso e, sem formato, você é apenas uma pessoa histérica.”

Atualmente é um dos três jurados do programa Quanto vale esse doce? (GNT), apresentado por Carole Crema. Diz adorar ser jurado e mentor no programa. Oportunidade de ouro para trabalhar a autoestima dos confeiteiros, que ele classifica como muito baixa: “Se dar valor e colocar preço no seu produto quando você é um produtor caseiro é muito difícil, mas acredito que a confeitaria seja um lugar em que você pode encontrar dignidade”.

Democracia e doces

Lucas, que abraça o título de um dos melhores confeiteiros do Brasil, já deu muita aula de confeitaria pelo Brasil e até hoje vende seus doces em food trucks estacionados em feiras de rua: “Gosto de momentos democráticos, gastronomia é uma manifestação cultural, então eu me apresento desse jeito”. Por conta desse propósito, ganhou pontos com muitos e perdeu outros tantos.... Como os seguidores que abandonaram suas redes durante as eleições de outubro de 2022.

“Como cidadão do país que habito, membro da comunidade LGBTQIA+, lutando pela percepção das minorias, quando me manifesto politicamente não tô fazendo aquilo para me opor a outro partido, faço porque as minhas causas precisam que a minha voz autorize um sentimento bom de liberdade depois de um período de muita repressão”, diz. “Se você não defende o que acredita, está agredindo a si mesmo, é muito melhor entrar em acordo com suas neuroses do que entrar em acordo com as neuroses dos outros, além disso, não quero criar cisões, quero buscar alianças.

Fama e glória

“A fama veio pra nós, cozinheiros, num lugar que mexe demais com o ego, porque a cozinha já é um ramo muito egoico; todo restaurante, no final do dia, é um palco para um monólogo elaborado em que o cozinheiro está acompanhado de outras pessoas fingindo estar numa ópera, mas só ele canta”, define quase que em um só fôlego.

Outro dia Lucas postou nos stories do seu perfil no Instagram uma sequência em que mostrava sua reação ao avistar a propaganda do seu programa no GNT estampada em um ônibus. Aquele momento Carrie Bradshaw que pode acontecer com qualquer pessoa... Era uma sequência engraçada em que ele não disfarçava um entusiasmo quase infantil, com direito a menções à nave da Xuxa (devidamente marcada nas postagens) e que rendeu um comentário da rainha reverenciada por ele na infância.

Tudo isso pra dizer que transitar entre o deslumbramento e a comédia da vida como ela é, sem filtros, é um talento lapidado pelo confeiteiro durante anos e com muita terapia, iniciada no período da pandemia. Hoje Lucas assume que, depois de trabalhar questões profundas, conquistou a liberdade de assumir os rumos da própria vida.

“Decidi que ser autêntico é meu único caminho, tive que parar de forçar a barra, de fazer política com pessoas que estavam me subestimando”, conta. “Quando as pessoas sentem a minha potência, elas querem competir comigo. Não quero competir com ninguém. Eu quero é roda, de samba, em que você entra, faz seu show, sai e dá lugar para o outro”.

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