É preciso fazer um esclarecimento sobre o último post. Ninguém aqui é contra restaurantes - como eu poderia sê-lo, se comer fora é, além de uma paixão, parte do meu trabalho? Estou, pelo contrário, é me manifestando pela manutenção de um prazer. Daqui a pouco, do que jeito que vai, jantar com direito a garçom e comida de chef vai se tornar proibitivo para uma grande faixa da classe média. Iconoclasta? Não, herege. Pois heresias, meus amigos (no sentido teológico, original do termo), são antes de tudo provas de fé. Eu não quero blasfemar, mas simplesmente questionar para continuar acreditando. O que é preferível para um restaurante, ficar vazio, fechar? Ou rever preços e práticas que já não condizem com a realidade e buscar soluções para seguir adiante? Pensem em todo avanço que temos conseguido nos últimos anos. A base de clientes aumentou, mais pessoas têm tido acesso a outras modalidades de restauração. Nosso universo gastronômico vem amadurecendo por conta de todo um conjunto de coisas, entre eles o fato de as pessoa estarem aprendendo a comer, a escolher, a exigir. Agora eu pergunto: por causa desses preços absurdos, vamos perder tudo o que foi conquistado? Vamos recuar aos níveis dos anos 90? Um comportamento provável, neste cenário de "comer-por-menos-de-cem-reais-é-impossível-e-pronto", é o que se reflete nos comentários do post anterior. Mais gente vai ficar em casa e cozinhar. Já um outro, restrito a quem tem mais recursos, é o seguinte: "Se comer aqui está tão caro quanto na Europa, vou esperar a próxima viagem e gastar tudo lá". Eu clamo aos senhores proprietários e chefs: não deixem que os clientes desistam de vocês.
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