Mais que um lanche: hamburgueria de Heliópolis emprega ex-detentos


Happiness Burguer, idealizada por Marcus Vinícius Massarenti e inaugurada há quase um ano, tem como propósito a inclusão

Por Gilberto Amendola

Uma hamburgueria dentro de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, vem empregando moradores da própria comunidade e egressos do sistema prisional. Lá, com uma simples mordida no cheeseburguer da casa, é possível perceber o respeito ao consumidor local e entender o conceito, muitas vezes abstrato, do chamado empreendedorismo social e de propósito.

O criador do Happiness Burguer é o empresário Marcus Vinícius Massarenti, 32 anos. Ele recebeu a reportagem do Estadão na própria hamburgueria, na Estrada das Lágrimas. Antes do almoço e do movimento apertar, ele contou um pouco da sua trajetória e do sonho de deixar um legado. "Nunca passei fome, mas muita vontade. Não tinha fruta em casa. Eu ganhava de uma vizinha. Minha mãe era marmiteira. E meu pai, um homem que veio da roça...", conta.

Marcus Massarenti tem delivery próprio para atender a comunidade de Heliópolis Foto: Werter Santana/Estadão
continua após a publicidade

Neste contexto familiar, Massarenti descobriu uma forma de ganhar um dinheirinho e promover o bem-estar entre os amigos. "Aos 9 anos, eu cobrava ingresso de quem queria assistir filmes em casa. A gente tinha um videocassete e alugava fitas de Os Cavaleiros do Zodíaco e outros animes. Rolava pipoca e tudo..." 

Apesar do tino comercial, ele não foi um garoto muito afeito aos estudos. Por isso, logo aos 13 anos, o pai decidiu puxá-lo para o mundo do trabalho. Na ocasião, foi ser mão de obra na prestadora de serviços condominiais que o pai acabava de abrir. "Achei que seria moleza. Mas, no primeiro dia, ele me colocou em uma Fiorino, às 5 horas da manhã. Foi limpar a fossa de um condomínio", conta.

Curioso, era do tipo que desmontava computadores. Foi quando aprendeu a configurá-los e, claro, ganhar algum dinheiro com esse talento. Aos 16 anos, criou sua primeira empresa - também no ramo de prestação de serviços para condomínios. Mas aí chegou o momento de fazer faculdade...

continua após a publicidade

Ganhar dinheiro, mas com propósito

"Coloquei no Google:'Faculdade que menos precisa ler'". O resultado foi Publicidade e Propaganda. E, então, foi o que ele fez. Já no segundo ano de faculdade, durante um trote nos novos alunos, conheceu Raiza - que seria sua futura mulher e mãe de Cauã e Bella.  Raiza foi fundamental para a transformação na vida de Massarenti. Religiosa, ela levou o então namorado para a igreja evangélica que frequentava. Para além dos dogmas, ele começou a entender que sua história não era apenas "ganhar dinheiro, mas ganhar dinheiro com propósito, ser feliz, deixar um legado e causar impacto na sociedade".

O primeiro passo foi um projeto social conectado com a própria igreja. Na ocasião, ele e outros amigos levavam aulas de futebol, circo e balé para crianças de comunidades e ocupações da região central da cidade. "Mas o projeto não era sustentável. Era muito difícil de manter aquilo...", diz.

continua após a publicidade

Em 2013, para financiar os projetos sociais começou a fazer hambúrgueres na frente da Igreja Batista da Liberdade. "A gente divulgava e recebia visitas até de quem não frequentava a igreja. Chegamos a organizar feirinhas gastronômicas no local", lembra. O sucesso fez com que ele e outros sócios abrissem a Holy Burger, no centro da cidade.

O sucesso do empreendimento e o aprofundamento na vida religiosa fizeram com que ele se envolvesse com viagens missionárias pelo País. Em 2017, virou conselheiro do Lide Futuro (movimento empresarial que reúne jovens de 20 a 39 anos). Um ano depois, turbulências na vida pessoal e no casamento quase fizeram com que ele jogasse tudo para o alto. "Foi o pior ano da minha vida. Cometi erros na vida pessoal e machuquei muitas pessoas." Neste período, ele vendeu a participação na Holy Burger. "Eu e a minha mulher decidimos implodir tudo e recomeçar sem marcas. E foi o que a gente fez", conta.

O Movimento Happiness

continua após a publicidade

Em 2019, recomposto dos tropeços na vida pessoal e mais focado na importância do impacto social nos negócios, ele fundou o Movimento Happiness. "Pensei como uma plataforma para criar impacto nas vida das pessoas. A ideia é tirar as famílias do ciclo da pobreza por meio do conhecimento, criando negócios nas favelas e revertendo parte do faturamento para o financiamento de projetos sociais", explicou. 

Massarenti até chegou a abrir uma Happiness Burguer na Mooca, mas em poucos meses encontrou sua casa definitiva em Heliópolis. "O comércio em Heliópolis é incrível. Pensem, a mão de obra dos restaurantes está na periferia, pessoas que passam mais de quatro horas no trânsito para poder trabalhar. Ao trabalhar aqui, a vida destas pessoas também ganha qualidade."

A mão de obra dos restaurantes está na periferia. Ao trabalhar aqui, a vida destas pessoas também ganha qualidade

Marcus Vinícius Massarenti, criador da Happiness

continua após a publicidade

A inauguração foi em março de 2020, uma semana antes de a pandemia de covid-19 obrigar a cidade a entrar em lockdown. "Foi um banho de água fria. Pior do que isso, a gente viu as pessoas passando fome na comunidade", diz. Com outros empresários, criou o Happy Voucher — R$ 100 destinados a mais de 600 famílias, que podiam escolher onde comprar e o que consumir no comércio da própria comunidade. Além disso, para a hamburgueria não parar, criou o próprio serviço de delivery — já que os aplicativos de entrega não funcionam na comunidade.

Neste período, Massarenti começou a estudar a realidade do sistema carcerário do País. "Nossa população carcerária é a terceira maior do mundo. Um ex-presidiário, em média, só consegue um trabalho depois de quatro anos de deixar a cadeia", explicou. Com isso na cabeça, ele criou uma indústria para produzir Kit Burguer (pão, carne e queijo) para o varejo (no início, principalmente para o grupo Hirota). 

Nesta empresa, os funcionários são, em sua maioria, mulheres egressas do sistema prisional. A prática estendeu-se para a hamburgueria — que hoje emprega moradores da comunidade e também ex-presidiários. Os egressos do sistema são indicados pelo Instituto Recomeçar, responsável pela recolocação destas pessoas no mercado de trabalho.

continua após a publicidade

O que era uma hamburgueria e uma indústria de kits para hambúrguer e churrasco ganhou força como movimento. Hoje, cerca de 35 empresas têm o selo do Movimento Happiness. Para conquistar o selo, as empresas precisam mostrar que o empreendedorismo social vai além do discurso. "Nosso projeto agora, e que já está em andamento, é o de levar o conceito e a prática do Movimento Happiness para todo o Brasil."

Na hamburgueria, o hambúrguer de 100 gramas, com queijo e maionese, sai por R$ 13. Já o de 150 gramas sai por R$18. A opção com frango custa R$15 e a vegetariana, R$ 16. Existem versões mais completas do lanche, como o Joy (hambúrguer, queijo prato, alface, tomate, cebola roxa, maionese artesanal, R$ 22) ou o Barbecue Supreme (hambúrger, duplo queijo cheddar e prato, barbecue artesanal e cebola crispy, R$ 28). A Happiness está no iFood e também em um aplicativo próprio para atender a comunidade de Heliópolis.

Happiness: de terça-feira a domingo, 12h/00h. Estrada das Lágrimas, 2.008, Heliópolis. 

Uma hamburgueria dentro de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, vem empregando moradores da própria comunidade e egressos do sistema prisional. Lá, com uma simples mordida no cheeseburguer da casa, é possível perceber o respeito ao consumidor local e entender o conceito, muitas vezes abstrato, do chamado empreendedorismo social e de propósito.

O criador do Happiness Burguer é o empresário Marcus Vinícius Massarenti, 32 anos. Ele recebeu a reportagem do Estadão na própria hamburgueria, na Estrada das Lágrimas. Antes do almoço e do movimento apertar, ele contou um pouco da sua trajetória e do sonho de deixar um legado. "Nunca passei fome, mas muita vontade. Não tinha fruta em casa. Eu ganhava de uma vizinha. Minha mãe era marmiteira. E meu pai, um homem que veio da roça...", conta.

Marcus Massarenti tem delivery próprio para atender a comunidade de Heliópolis Foto: Werter Santana/Estadão

Neste contexto familiar, Massarenti descobriu uma forma de ganhar um dinheirinho e promover o bem-estar entre os amigos. "Aos 9 anos, eu cobrava ingresso de quem queria assistir filmes em casa. A gente tinha um videocassete e alugava fitas de Os Cavaleiros do Zodíaco e outros animes. Rolava pipoca e tudo..." 

Apesar do tino comercial, ele não foi um garoto muito afeito aos estudos. Por isso, logo aos 13 anos, o pai decidiu puxá-lo para o mundo do trabalho. Na ocasião, foi ser mão de obra na prestadora de serviços condominiais que o pai acabava de abrir. "Achei que seria moleza. Mas, no primeiro dia, ele me colocou em uma Fiorino, às 5 horas da manhã. Foi limpar a fossa de um condomínio", conta.

Curioso, era do tipo que desmontava computadores. Foi quando aprendeu a configurá-los e, claro, ganhar algum dinheiro com esse talento. Aos 16 anos, criou sua primeira empresa - também no ramo de prestação de serviços para condomínios. Mas aí chegou o momento de fazer faculdade...

Ganhar dinheiro, mas com propósito

"Coloquei no Google:'Faculdade que menos precisa ler'". O resultado foi Publicidade e Propaganda. E, então, foi o que ele fez. Já no segundo ano de faculdade, durante um trote nos novos alunos, conheceu Raiza - que seria sua futura mulher e mãe de Cauã e Bella.  Raiza foi fundamental para a transformação na vida de Massarenti. Religiosa, ela levou o então namorado para a igreja evangélica que frequentava. Para além dos dogmas, ele começou a entender que sua história não era apenas "ganhar dinheiro, mas ganhar dinheiro com propósito, ser feliz, deixar um legado e causar impacto na sociedade".

O primeiro passo foi um projeto social conectado com a própria igreja. Na ocasião, ele e outros amigos levavam aulas de futebol, circo e balé para crianças de comunidades e ocupações da região central da cidade. "Mas o projeto não era sustentável. Era muito difícil de manter aquilo...", diz.

Em 2013, para financiar os projetos sociais começou a fazer hambúrgueres na frente da Igreja Batista da Liberdade. "A gente divulgava e recebia visitas até de quem não frequentava a igreja. Chegamos a organizar feirinhas gastronômicas no local", lembra. O sucesso fez com que ele e outros sócios abrissem a Holy Burger, no centro da cidade.

O sucesso do empreendimento e o aprofundamento na vida religiosa fizeram com que ele se envolvesse com viagens missionárias pelo País. Em 2017, virou conselheiro do Lide Futuro (movimento empresarial que reúne jovens de 20 a 39 anos). Um ano depois, turbulências na vida pessoal e no casamento quase fizeram com que ele jogasse tudo para o alto. "Foi o pior ano da minha vida. Cometi erros na vida pessoal e machuquei muitas pessoas." Neste período, ele vendeu a participação na Holy Burger. "Eu e a minha mulher decidimos implodir tudo e recomeçar sem marcas. E foi o que a gente fez", conta.

O Movimento Happiness

Em 2019, recomposto dos tropeços na vida pessoal e mais focado na importância do impacto social nos negócios, ele fundou o Movimento Happiness. "Pensei como uma plataforma para criar impacto nas vida das pessoas. A ideia é tirar as famílias do ciclo da pobreza por meio do conhecimento, criando negócios nas favelas e revertendo parte do faturamento para o financiamento de projetos sociais", explicou. 

Massarenti até chegou a abrir uma Happiness Burguer na Mooca, mas em poucos meses encontrou sua casa definitiva em Heliópolis. "O comércio em Heliópolis é incrível. Pensem, a mão de obra dos restaurantes está na periferia, pessoas que passam mais de quatro horas no trânsito para poder trabalhar. Ao trabalhar aqui, a vida destas pessoas também ganha qualidade."

A mão de obra dos restaurantes está na periferia. Ao trabalhar aqui, a vida destas pessoas também ganha qualidade

Marcus Vinícius Massarenti, criador da Happiness

A inauguração foi em março de 2020, uma semana antes de a pandemia de covid-19 obrigar a cidade a entrar em lockdown. "Foi um banho de água fria. Pior do que isso, a gente viu as pessoas passando fome na comunidade", diz. Com outros empresários, criou o Happy Voucher — R$ 100 destinados a mais de 600 famílias, que podiam escolher onde comprar e o que consumir no comércio da própria comunidade. Além disso, para a hamburgueria não parar, criou o próprio serviço de delivery — já que os aplicativos de entrega não funcionam na comunidade.

Neste período, Massarenti começou a estudar a realidade do sistema carcerário do País. "Nossa população carcerária é a terceira maior do mundo. Um ex-presidiário, em média, só consegue um trabalho depois de quatro anos de deixar a cadeia", explicou. Com isso na cabeça, ele criou uma indústria para produzir Kit Burguer (pão, carne e queijo) para o varejo (no início, principalmente para o grupo Hirota). 

Nesta empresa, os funcionários são, em sua maioria, mulheres egressas do sistema prisional. A prática estendeu-se para a hamburgueria — que hoje emprega moradores da comunidade e também ex-presidiários. Os egressos do sistema são indicados pelo Instituto Recomeçar, responsável pela recolocação destas pessoas no mercado de trabalho.

O que era uma hamburgueria e uma indústria de kits para hambúrguer e churrasco ganhou força como movimento. Hoje, cerca de 35 empresas têm o selo do Movimento Happiness. Para conquistar o selo, as empresas precisam mostrar que o empreendedorismo social vai além do discurso. "Nosso projeto agora, e que já está em andamento, é o de levar o conceito e a prática do Movimento Happiness para todo o Brasil."

Na hamburgueria, o hambúrguer de 100 gramas, com queijo e maionese, sai por R$ 13. Já o de 150 gramas sai por R$18. A opção com frango custa R$15 e a vegetariana, R$ 16. Existem versões mais completas do lanche, como o Joy (hambúrguer, queijo prato, alface, tomate, cebola roxa, maionese artesanal, R$ 22) ou o Barbecue Supreme (hambúrger, duplo queijo cheddar e prato, barbecue artesanal e cebola crispy, R$ 28). A Happiness está no iFood e também em um aplicativo próprio para atender a comunidade de Heliópolis.

Happiness: de terça-feira a domingo, 12h/00h. Estrada das Lágrimas, 2.008, Heliópolis. 

Uma hamburgueria dentro de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, vem empregando moradores da própria comunidade e egressos do sistema prisional. Lá, com uma simples mordida no cheeseburguer da casa, é possível perceber o respeito ao consumidor local e entender o conceito, muitas vezes abstrato, do chamado empreendedorismo social e de propósito.

O criador do Happiness Burguer é o empresário Marcus Vinícius Massarenti, 32 anos. Ele recebeu a reportagem do Estadão na própria hamburgueria, na Estrada das Lágrimas. Antes do almoço e do movimento apertar, ele contou um pouco da sua trajetória e do sonho de deixar um legado. "Nunca passei fome, mas muita vontade. Não tinha fruta em casa. Eu ganhava de uma vizinha. Minha mãe era marmiteira. E meu pai, um homem que veio da roça...", conta.

Marcus Massarenti tem delivery próprio para atender a comunidade de Heliópolis Foto: Werter Santana/Estadão

Neste contexto familiar, Massarenti descobriu uma forma de ganhar um dinheirinho e promover o bem-estar entre os amigos. "Aos 9 anos, eu cobrava ingresso de quem queria assistir filmes em casa. A gente tinha um videocassete e alugava fitas de Os Cavaleiros do Zodíaco e outros animes. Rolava pipoca e tudo..." 

Apesar do tino comercial, ele não foi um garoto muito afeito aos estudos. Por isso, logo aos 13 anos, o pai decidiu puxá-lo para o mundo do trabalho. Na ocasião, foi ser mão de obra na prestadora de serviços condominiais que o pai acabava de abrir. "Achei que seria moleza. Mas, no primeiro dia, ele me colocou em uma Fiorino, às 5 horas da manhã. Foi limpar a fossa de um condomínio", conta.

Curioso, era do tipo que desmontava computadores. Foi quando aprendeu a configurá-los e, claro, ganhar algum dinheiro com esse talento. Aos 16 anos, criou sua primeira empresa - também no ramo de prestação de serviços para condomínios. Mas aí chegou o momento de fazer faculdade...

Ganhar dinheiro, mas com propósito

"Coloquei no Google:'Faculdade que menos precisa ler'". O resultado foi Publicidade e Propaganda. E, então, foi o que ele fez. Já no segundo ano de faculdade, durante um trote nos novos alunos, conheceu Raiza - que seria sua futura mulher e mãe de Cauã e Bella.  Raiza foi fundamental para a transformação na vida de Massarenti. Religiosa, ela levou o então namorado para a igreja evangélica que frequentava. Para além dos dogmas, ele começou a entender que sua história não era apenas "ganhar dinheiro, mas ganhar dinheiro com propósito, ser feliz, deixar um legado e causar impacto na sociedade".

O primeiro passo foi um projeto social conectado com a própria igreja. Na ocasião, ele e outros amigos levavam aulas de futebol, circo e balé para crianças de comunidades e ocupações da região central da cidade. "Mas o projeto não era sustentável. Era muito difícil de manter aquilo...", diz.

Em 2013, para financiar os projetos sociais começou a fazer hambúrgueres na frente da Igreja Batista da Liberdade. "A gente divulgava e recebia visitas até de quem não frequentava a igreja. Chegamos a organizar feirinhas gastronômicas no local", lembra. O sucesso fez com que ele e outros sócios abrissem a Holy Burger, no centro da cidade.

O sucesso do empreendimento e o aprofundamento na vida religiosa fizeram com que ele se envolvesse com viagens missionárias pelo País. Em 2017, virou conselheiro do Lide Futuro (movimento empresarial que reúne jovens de 20 a 39 anos). Um ano depois, turbulências na vida pessoal e no casamento quase fizeram com que ele jogasse tudo para o alto. "Foi o pior ano da minha vida. Cometi erros na vida pessoal e machuquei muitas pessoas." Neste período, ele vendeu a participação na Holy Burger. "Eu e a minha mulher decidimos implodir tudo e recomeçar sem marcas. E foi o que a gente fez", conta.

O Movimento Happiness

Em 2019, recomposto dos tropeços na vida pessoal e mais focado na importância do impacto social nos negócios, ele fundou o Movimento Happiness. "Pensei como uma plataforma para criar impacto nas vida das pessoas. A ideia é tirar as famílias do ciclo da pobreza por meio do conhecimento, criando negócios nas favelas e revertendo parte do faturamento para o financiamento de projetos sociais", explicou. 

Massarenti até chegou a abrir uma Happiness Burguer na Mooca, mas em poucos meses encontrou sua casa definitiva em Heliópolis. "O comércio em Heliópolis é incrível. Pensem, a mão de obra dos restaurantes está na periferia, pessoas que passam mais de quatro horas no trânsito para poder trabalhar. Ao trabalhar aqui, a vida destas pessoas também ganha qualidade."

A mão de obra dos restaurantes está na periferia. Ao trabalhar aqui, a vida destas pessoas também ganha qualidade

Marcus Vinícius Massarenti, criador da Happiness

A inauguração foi em março de 2020, uma semana antes de a pandemia de covid-19 obrigar a cidade a entrar em lockdown. "Foi um banho de água fria. Pior do que isso, a gente viu as pessoas passando fome na comunidade", diz. Com outros empresários, criou o Happy Voucher — R$ 100 destinados a mais de 600 famílias, que podiam escolher onde comprar e o que consumir no comércio da própria comunidade. Além disso, para a hamburgueria não parar, criou o próprio serviço de delivery — já que os aplicativos de entrega não funcionam na comunidade.

Neste período, Massarenti começou a estudar a realidade do sistema carcerário do País. "Nossa população carcerária é a terceira maior do mundo. Um ex-presidiário, em média, só consegue um trabalho depois de quatro anos de deixar a cadeia", explicou. Com isso na cabeça, ele criou uma indústria para produzir Kit Burguer (pão, carne e queijo) para o varejo (no início, principalmente para o grupo Hirota). 

Nesta empresa, os funcionários são, em sua maioria, mulheres egressas do sistema prisional. A prática estendeu-se para a hamburgueria — que hoje emprega moradores da comunidade e também ex-presidiários. Os egressos do sistema são indicados pelo Instituto Recomeçar, responsável pela recolocação destas pessoas no mercado de trabalho.

O que era uma hamburgueria e uma indústria de kits para hambúrguer e churrasco ganhou força como movimento. Hoje, cerca de 35 empresas têm o selo do Movimento Happiness. Para conquistar o selo, as empresas precisam mostrar que o empreendedorismo social vai além do discurso. "Nosso projeto agora, e que já está em andamento, é o de levar o conceito e a prática do Movimento Happiness para todo o Brasil."

Na hamburgueria, o hambúrguer de 100 gramas, com queijo e maionese, sai por R$ 13. Já o de 150 gramas sai por R$18. A opção com frango custa R$15 e a vegetariana, R$ 16. Existem versões mais completas do lanche, como o Joy (hambúrguer, queijo prato, alface, tomate, cebola roxa, maionese artesanal, R$ 22) ou o Barbecue Supreme (hambúrger, duplo queijo cheddar e prato, barbecue artesanal e cebola crispy, R$ 28). A Happiness está no iFood e também em um aplicativo próprio para atender a comunidade de Heliópolis.

Happiness: de terça-feira a domingo, 12h/00h. Estrada das Lágrimas, 2.008, Heliópolis. 

Uma hamburgueria dentro de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, vem empregando moradores da própria comunidade e egressos do sistema prisional. Lá, com uma simples mordida no cheeseburguer da casa, é possível perceber o respeito ao consumidor local e entender o conceito, muitas vezes abstrato, do chamado empreendedorismo social e de propósito.

O criador do Happiness Burguer é o empresário Marcus Vinícius Massarenti, 32 anos. Ele recebeu a reportagem do Estadão na própria hamburgueria, na Estrada das Lágrimas. Antes do almoço e do movimento apertar, ele contou um pouco da sua trajetória e do sonho de deixar um legado. "Nunca passei fome, mas muita vontade. Não tinha fruta em casa. Eu ganhava de uma vizinha. Minha mãe era marmiteira. E meu pai, um homem que veio da roça...", conta.

Marcus Massarenti tem delivery próprio para atender a comunidade de Heliópolis Foto: Werter Santana/Estadão

Neste contexto familiar, Massarenti descobriu uma forma de ganhar um dinheirinho e promover o bem-estar entre os amigos. "Aos 9 anos, eu cobrava ingresso de quem queria assistir filmes em casa. A gente tinha um videocassete e alugava fitas de Os Cavaleiros do Zodíaco e outros animes. Rolava pipoca e tudo..." 

Apesar do tino comercial, ele não foi um garoto muito afeito aos estudos. Por isso, logo aos 13 anos, o pai decidiu puxá-lo para o mundo do trabalho. Na ocasião, foi ser mão de obra na prestadora de serviços condominiais que o pai acabava de abrir. "Achei que seria moleza. Mas, no primeiro dia, ele me colocou em uma Fiorino, às 5 horas da manhã. Foi limpar a fossa de um condomínio", conta.

Curioso, era do tipo que desmontava computadores. Foi quando aprendeu a configurá-los e, claro, ganhar algum dinheiro com esse talento. Aos 16 anos, criou sua primeira empresa - também no ramo de prestação de serviços para condomínios. Mas aí chegou o momento de fazer faculdade...

Ganhar dinheiro, mas com propósito

"Coloquei no Google:'Faculdade que menos precisa ler'". O resultado foi Publicidade e Propaganda. E, então, foi o que ele fez. Já no segundo ano de faculdade, durante um trote nos novos alunos, conheceu Raiza - que seria sua futura mulher e mãe de Cauã e Bella.  Raiza foi fundamental para a transformação na vida de Massarenti. Religiosa, ela levou o então namorado para a igreja evangélica que frequentava. Para além dos dogmas, ele começou a entender que sua história não era apenas "ganhar dinheiro, mas ganhar dinheiro com propósito, ser feliz, deixar um legado e causar impacto na sociedade".

O primeiro passo foi um projeto social conectado com a própria igreja. Na ocasião, ele e outros amigos levavam aulas de futebol, circo e balé para crianças de comunidades e ocupações da região central da cidade. "Mas o projeto não era sustentável. Era muito difícil de manter aquilo...", diz.

Em 2013, para financiar os projetos sociais começou a fazer hambúrgueres na frente da Igreja Batista da Liberdade. "A gente divulgava e recebia visitas até de quem não frequentava a igreja. Chegamos a organizar feirinhas gastronômicas no local", lembra. O sucesso fez com que ele e outros sócios abrissem a Holy Burger, no centro da cidade.

O sucesso do empreendimento e o aprofundamento na vida religiosa fizeram com que ele se envolvesse com viagens missionárias pelo País. Em 2017, virou conselheiro do Lide Futuro (movimento empresarial que reúne jovens de 20 a 39 anos). Um ano depois, turbulências na vida pessoal e no casamento quase fizeram com que ele jogasse tudo para o alto. "Foi o pior ano da minha vida. Cometi erros na vida pessoal e machuquei muitas pessoas." Neste período, ele vendeu a participação na Holy Burger. "Eu e a minha mulher decidimos implodir tudo e recomeçar sem marcas. E foi o que a gente fez", conta.

O Movimento Happiness

Em 2019, recomposto dos tropeços na vida pessoal e mais focado na importância do impacto social nos negócios, ele fundou o Movimento Happiness. "Pensei como uma plataforma para criar impacto nas vida das pessoas. A ideia é tirar as famílias do ciclo da pobreza por meio do conhecimento, criando negócios nas favelas e revertendo parte do faturamento para o financiamento de projetos sociais", explicou. 

Massarenti até chegou a abrir uma Happiness Burguer na Mooca, mas em poucos meses encontrou sua casa definitiva em Heliópolis. "O comércio em Heliópolis é incrível. Pensem, a mão de obra dos restaurantes está na periferia, pessoas que passam mais de quatro horas no trânsito para poder trabalhar. Ao trabalhar aqui, a vida destas pessoas também ganha qualidade."

A mão de obra dos restaurantes está na periferia. Ao trabalhar aqui, a vida destas pessoas também ganha qualidade

Marcus Vinícius Massarenti, criador da Happiness

A inauguração foi em março de 2020, uma semana antes de a pandemia de covid-19 obrigar a cidade a entrar em lockdown. "Foi um banho de água fria. Pior do que isso, a gente viu as pessoas passando fome na comunidade", diz. Com outros empresários, criou o Happy Voucher — R$ 100 destinados a mais de 600 famílias, que podiam escolher onde comprar e o que consumir no comércio da própria comunidade. Além disso, para a hamburgueria não parar, criou o próprio serviço de delivery — já que os aplicativos de entrega não funcionam na comunidade.

Neste período, Massarenti começou a estudar a realidade do sistema carcerário do País. "Nossa população carcerária é a terceira maior do mundo. Um ex-presidiário, em média, só consegue um trabalho depois de quatro anos de deixar a cadeia", explicou. Com isso na cabeça, ele criou uma indústria para produzir Kit Burguer (pão, carne e queijo) para o varejo (no início, principalmente para o grupo Hirota). 

Nesta empresa, os funcionários são, em sua maioria, mulheres egressas do sistema prisional. A prática estendeu-se para a hamburgueria — que hoje emprega moradores da comunidade e também ex-presidiários. Os egressos do sistema são indicados pelo Instituto Recomeçar, responsável pela recolocação destas pessoas no mercado de trabalho.

O que era uma hamburgueria e uma indústria de kits para hambúrguer e churrasco ganhou força como movimento. Hoje, cerca de 35 empresas têm o selo do Movimento Happiness. Para conquistar o selo, as empresas precisam mostrar que o empreendedorismo social vai além do discurso. "Nosso projeto agora, e que já está em andamento, é o de levar o conceito e a prática do Movimento Happiness para todo o Brasil."

Na hamburgueria, o hambúrguer de 100 gramas, com queijo e maionese, sai por R$ 13. Já o de 150 gramas sai por R$18. A opção com frango custa R$15 e a vegetariana, R$ 16. Existem versões mais completas do lanche, como o Joy (hambúrguer, queijo prato, alface, tomate, cebola roxa, maionese artesanal, R$ 22) ou o Barbecue Supreme (hambúrger, duplo queijo cheddar e prato, barbecue artesanal e cebola crispy, R$ 28). A Happiness está no iFood e também em um aplicativo próprio para atender a comunidade de Heliópolis.

Happiness: de terça-feira a domingo, 12h/00h. Estrada das Lágrimas, 2.008, Heliópolis. 

Uma hamburgueria dentro de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, vem empregando moradores da própria comunidade e egressos do sistema prisional. Lá, com uma simples mordida no cheeseburguer da casa, é possível perceber o respeito ao consumidor local e entender o conceito, muitas vezes abstrato, do chamado empreendedorismo social e de propósito.

O criador do Happiness Burguer é o empresário Marcus Vinícius Massarenti, 32 anos. Ele recebeu a reportagem do Estadão na própria hamburgueria, na Estrada das Lágrimas. Antes do almoço e do movimento apertar, ele contou um pouco da sua trajetória e do sonho de deixar um legado. "Nunca passei fome, mas muita vontade. Não tinha fruta em casa. Eu ganhava de uma vizinha. Minha mãe era marmiteira. E meu pai, um homem que veio da roça...", conta.

Marcus Massarenti tem delivery próprio para atender a comunidade de Heliópolis Foto: Werter Santana/Estadão

Neste contexto familiar, Massarenti descobriu uma forma de ganhar um dinheirinho e promover o bem-estar entre os amigos. "Aos 9 anos, eu cobrava ingresso de quem queria assistir filmes em casa. A gente tinha um videocassete e alugava fitas de Os Cavaleiros do Zodíaco e outros animes. Rolava pipoca e tudo..." 

Apesar do tino comercial, ele não foi um garoto muito afeito aos estudos. Por isso, logo aos 13 anos, o pai decidiu puxá-lo para o mundo do trabalho. Na ocasião, foi ser mão de obra na prestadora de serviços condominiais que o pai acabava de abrir. "Achei que seria moleza. Mas, no primeiro dia, ele me colocou em uma Fiorino, às 5 horas da manhã. Foi limpar a fossa de um condomínio", conta.

Curioso, era do tipo que desmontava computadores. Foi quando aprendeu a configurá-los e, claro, ganhar algum dinheiro com esse talento. Aos 16 anos, criou sua primeira empresa - também no ramo de prestação de serviços para condomínios. Mas aí chegou o momento de fazer faculdade...

Ganhar dinheiro, mas com propósito

"Coloquei no Google:'Faculdade que menos precisa ler'". O resultado foi Publicidade e Propaganda. E, então, foi o que ele fez. Já no segundo ano de faculdade, durante um trote nos novos alunos, conheceu Raiza - que seria sua futura mulher e mãe de Cauã e Bella.  Raiza foi fundamental para a transformação na vida de Massarenti. Religiosa, ela levou o então namorado para a igreja evangélica que frequentava. Para além dos dogmas, ele começou a entender que sua história não era apenas "ganhar dinheiro, mas ganhar dinheiro com propósito, ser feliz, deixar um legado e causar impacto na sociedade".

O primeiro passo foi um projeto social conectado com a própria igreja. Na ocasião, ele e outros amigos levavam aulas de futebol, circo e balé para crianças de comunidades e ocupações da região central da cidade. "Mas o projeto não era sustentável. Era muito difícil de manter aquilo...", diz.

Em 2013, para financiar os projetos sociais começou a fazer hambúrgueres na frente da Igreja Batista da Liberdade. "A gente divulgava e recebia visitas até de quem não frequentava a igreja. Chegamos a organizar feirinhas gastronômicas no local", lembra. O sucesso fez com que ele e outros sócios abrissem a Holy Burger, no centro da cidade.

O sucesso do empreendimento e o aprofundamento na vida religiosa fizeram com que ele se envolvesse com viagens missionárias pelo País. Em 2017, virou conselheiro do Lide Futuro (movimento empresarial que reúne jovens de 20 a 39 anos). Um ano depois, turbulências na vida pessoal e no casamento quase fizeram com que ele jogasse tudo para o alto. "Foi o pior ano da minha vida. Cometi erros na vida pessoal e machuquei muitas pessoas." Neste período, ele vendeu a participação na Holy Burger. "Eu e a minha mulher decidimos implodir tudo e recomeçar sem marcas. E foi o que a gente fez", conta.

O Movimento Happiness

Em 2019, recomposto dos tropeços na vida pessoal e mais focado na importância do impacto social nos negócios, ele fundou o Movimento Happiness. "Pensei como uma plataforma para criar impacto nas vida das pessoas. A ideia é tirar as famílias do ciclo da pobreza por meio do conhecimento, criando negócios nas favelas e revertendo parte do faturamento para o financiamento de projetos sociais", explicou. 

Massarenti até chegou a abrir uma Happiness Burguer na Mooca, mas em poucos meses encontrou sua casa definitiva em Heliópolis. "O comércio em Heliópolis é incrível. Pensem, a mão de obra dos restaurantes está na periferia, pessoas que passam mais de quatro horas no trânsito para poder trabalhar. Ao trabalhar aqui, a vida destas pessoas também ganha qualidade."

A mão de obra dos restaurantes está na periferia. Ao trabalhar aqui, a vida destas pessoas também ganha qualidade

Marcus Vinícius Massarenti, criador da Happiness

A inauguração foi em março de 2020, uma semana antes de a pandemia de covid-19 obrigar a cidade a entrar em lockdown. "Foi um banho de água fria. Pior do que isso, a gente viu as pessoas passando fome na comunidade", diz. Com outros empresários, criou o Happy Voucher — R$ 100 destinados a mais de 600 famílias, que podiam escolher onde comprar e o que consumir no comércio da própria comunidade. Além disso, para a hamburgueria não parar, criou o próprio serviço de delivery — já que os aplicativos de entrega não funcionam na comunidade.

Neste período, Massarenti começou a estudar a realidade do sistema carcerário do País. "Nossa população carcerária é a terceira maior do mundo. Um ex-presidiário, em média, só consegue um trabalho depois de quatro anos de deixar a cadeia", explicou. Com isso na cabeça, ele criou uma indústria para produzir Kit Burguer (pão, carne e queijo) para o varejo (no início, principalmente para o grupo Hirota). 

Nesta empresa, os funcionários são, em sua maioria, mulheres egressas do sistema prisional. A prática estendeu-se para a hamburgueria — que hoje emprega moradores da comunidade e também ex-presidiários. Os egressos do sistema são indicados pelo Instituto Recomeçar, responsável pela recolocação destas pessoas no mercado de trabalho.

O que era uma hamburgueria e uma indústria de kits para hambúrguer e churrasco ganhou força como movimento. Hoje, cerca de 35 empresas têm o selo do Movimento Happiness. Para conquistar o selo, as empresas precisam mostrar que o empreendedorismo social vai além do discurso. "Nosso projeto agora, e que já está em andamento, é o de levar o conceito e a prática do Movimento Happiness para todo o Brasil."

Na hamburgueria, o hambúrguer de 100 gramas, com queijo e maionese, sai por R$ 13. Já o de 150 gramas sai por R$18. A opção com frango custa R$15 e a vegetariana, R$ 16. Existem versões mais completas do lanche, como o Joy (hambúrguer, queijo prato, alface, tomate, cebola roxa, maionese artesanal, R$ 22) ou o Barbecue Supreme (hambúrger, duplo queijo cheddar e prato, barbecue artesanal e cebola crispy, R$ 28). A Happiness está no iFood e também em um aplicativo próprio para atender a comunidade de Heliópolis.

Happiness: de terça-feira a domingo, 12h/00h. Estrada das Lágrimas, 2.008, Heliópolis. 

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.