Ingredientes brasileiros estudados na cozinha

Castanhas de monguba? Come-se!


Cruas, cozidas, assadas, trituradas como farinha, as castanhas de monguba são deliciosas. Talvez você não conheça o nome, mas já deve ter passado por elas em alguma calçada

Por Neide Rigo
Atualização:

Meu contato mais intenso com estas castanhas se deu recentemente quando estive no Espírito Santo. No caminho sombreado e verde para a praia do Coqueiral de Aracruz, avistei algumas árvores carregadas de mongubas ou mungubas, muitas ao alcance das mãos e um bom tanto já no chão. Acho que foi a primeira vez que pude coletar alguns quilos desta preciosidade cuja fama ainda não a alcançou. Não tardará, pois estão pipocando trabalhos sobre seu efeito hipoglicemiante e sua composição nutricional, com boa proporção de ácidos graxos desejáveis e proteínas.

As castanhas marrons, forjadas como trufas, se confundem no chão. A pele que envolve cada semente se solta facilmente e assim podemos degustar as castanhas mesmo cruas, quando têm sabor de amendoim. Foto: Neide Rigo/Estadão

Fora parte da população amazônica, alguns poucos cozinheiros curiosos pela cultura regional ou pesquisadores que vivem tentando revelar o potencial alimentício e econômico dos nossos recursos vegetais, pouca gente dá importância para a árvore. Ela é parente das paineiras e ladeia avenidas em grandes cidades como Goiânia ou forma maciços floridos como no Aterro do Flamengo, no Rio.

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Mesmo aqui em São Paulo, podemos encontrar essas árvores perto do Parque da Juventude e em outros bairros, mas sempre como planta ornamental com lindas flores de desenho rococó. Ah, se soubessem o que abriga aquele fruto marrom e aveludado com cara de cruzamento de cacau com cupuaçu... 

As castanhas marrons, forjadas como trufas, se confundem no chão com seixos rolados e se soltam do fruto quando este se abre espontaneamente na hora certa da maturação. A pele coriácea que envolve cada semente se solta facilmente e assim podemos degustar as castanhas mesmo cruas, quando têm sabor de amendoim de consistência crocante e tenra. 

Nativa da América Central e norte da América do Sul, a espécie Pachira aquatica pode ser vista facilmente em terras úmidas e alagadiças da floresta amazônica. No entanto, é uma árvore tão rústica e resiliente que se adapta a condições diversas, tanto de clima quanto de solo. E ainda, devido à beleza de suas folhas brilhosas, pode ser cultivada como planta de interior – às vezes com os caules entrelaçados como se faz em Taiwan, onde é comum ter a planta em vasos nos escritórios, para trazer boa sorte. No ambiente natural, ela chega a 60 metros. 

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No Brasil, a introdução da árvore no paisagismo urbano começou em São Paulo e Rio de Janeiro na década de 1960, graças ao trabalho de Burle Marx. Então, é compreensível que muita gente veja aqueles frutos e fique na dúvida se são ou não comestíveis. Eu mesma, desde que tenho o blog Come-se, recebo todos os anos fotos do fruto com a pergunta: sabe o que é? Pode comer? Felizmente, a resposta é sempre sim. 

Cruas, cozidas, assadas, trituradas como farinha, as castanhas são deliciosas – e um fruto apenas pode render alimento para quase uma família. 

Eu já tinha comido monguba antes, mas nunca tão novas como estas que encontrei em Aracruz. Frescas são leitosas, branquinhas e tenras e neste estágio podem ser comidas cruas. Depois de alguns dias, ficam mais firmes e murchas, mas estão boas para cozinhar.

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Para conservá-las por mais tempo, é bom embalar em plástico e guardar na geladeira. Outra ideia é congelar já depois de cozidas e despeladas. A pele sai fácil quando cozida, bastando fazer um pequeno corte e apertar que a castanha limpa sai como tremoço. 

Como foi a primeira vez que consegui uma grande quantidade, pude fazer testes com as castanhas cozidas – quando cruas, comi como petisco, é viciante. Fui dirigindo os preparos de acordo com a aparência e o sabor. Lembra amendoim? Que tal homus? Tem cara de chapéu de cogumelo? E se trouxer outros para fazer companhia? São como batatinhas de conserva? E se temperá-las com azeite e ervas? Assim fui fazendo. Pareciam tantas, mas logo acabaram. Ficou o desejo de achar a próxima árvore carregada. 

A monguba vai muito bem na cozinha: as castanhas cruas são um ótimo petisco; cozidas, combinam com cogumelos. Foto: Neide Rigo|Estadão
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Sei que muita gente vai se sentir frustrada por não ter como comprar mongubas no mercado, pelo menos não aqui em São Paulo. Mas, como às vezes é a demanda que cria o mercado, pode chegar na feira ou no mercado e perguntar: “quando chega a monguba?”. Tenho certeza de que há muitos produtores por aí deixando monguba apodrecer no chão. E quem sabe um dia vamos ter nossas castanhas, como o baru, o licuri, a castanha de pequi, o amendoim-de-árvore e a monguba ocupando os mesmos espaços de gôndola que nozes, amêndoas, pistaches e avelãs importados. É só a gente ir mudando o foco. 

Aqui um jeito simples e rápido de preparar. Antes de fazer a receita, cozinhe as castanhas e, se quiser, mantenha-as congeladas.

Meu contato mais intenso com estas castanhas se deu recentemente quando estive no Espírito Santo. No caminho sombreado e verde para a praia do Coqueiral de Aracruz, avistei algumas árvores carregadas de mongubas ou mungubas, muitas ao alcance das mãos e um bom tanto já no chão. Acho que foi a primeira vez que pude coletar alguns quilos desta preciosidade cuja fama ainda não a alcançou. Não tardará, pois estão pipocando trabalhos sobre seu efeito hipoglicemiante e sua composição nutricional, com boa proporção de ácidos graxos desejáveis e proteínas.

As castanhas marrons, forjadas como trufas, se confundem no chão. A pele que envolve cada semente se solta facilmente e assim podemos degustar as castanhas mesmo cruas, quando têm sabor de amendoim. Foto: Neide Rigo/Estadão

Fora parte da população amazônica, alguns poucos cozinheiros curiosos pela cultura regional ou pesquisadores que vivem tentando revelar o potencial alimentício e econômico dos nossos recursos vegetais, pouca gente dá importância para a árvore. Ela é parente das paineiras e ladeia avenidas em grandes cidades como Goiânia ou forma maciços floridos como no Aterro do Flamengo, no Rio.

Mesmo aqui em São Paulo, podemos encontrar essas árvores perto do Parque da Juventude e em outros bairros, mas sempre como planta ornamental com lindas flores de desenho rococó. Ah, se soubessem o que abriga aquele fruto marrom e aveludado com cara de cruzamento de cacau com cupuaçu... 

As castanhas marrons, forjadas como trufas, se confundem no chão com seixos rolados e se soltam do fruto quando este se abre espontaneamente na hora certa da maturação. A pele coriácea que envolve cada semente se solta facilmente e assim podemos degustar as castanhas mesmo cruas, quando têm sabor de amendoim de consistência crocante e tenra. 

Nativa da América Central e norte da América do Sul, a espécie Pachira aquatica pode ser vista facilmente em terras úmidas e alagadiças da floresta amazônica. No entanto, é uma árvore tão rústica e resiliente que se adapta a condições diversas, tanto de clima quanto de solo. E ainda, devido à beleza de suas folhas brilhosas, pode ser cultivada como planta de interior – às vezes com os caules entrelaçados como se faz em Taiwan, onde é comum ter a planta em vasos nos escritórios, para trazer boa sorte. No ambiente natural, ela chega a 60 metros. 

No Brasil, a introdução da árvore no paisagismo urbano começou em São Paulo e Rio de Janeiro na década de 1960, graças ao trabalho de Burle Marx. Então, é compreensível que muita gente veja aqueles frutos e fique na dúvida se são ou não comestíveis. Eu mesma, desde que tenho o blog Come-se, recebo todos os anos fotos do fruto com a pergunta: sabe o que é? Pode comer? Felizmente, a resposta é sempre sim. 

Cruas, cozidas, assadas, trituradas como farinha, as castanhas são deliciosas – e um fruto apenas pode render alimento para quase uma família. 

Eu já tinha comido monguba antes, mas nunca tão novas como estas que encontrei em Aracruz. Frescas são leitosas, branquinhas e tenras e neste estágio podem ser comidas cruas. Depois de alguns dias, ficam mais firmes e murchas, mas estão boas para cozinhar.

Para conservá-las por mais tempo, é bom embalar em plástico e guardar na geladeira. Outra ideia é congelar já depois de cozidas e despeladas. A pele sai fácil quando cozida, bastando fazer um pequeno corte e apertar que a castanha limpa sai como tremoço. 

Como foi a primeira vez que consegui uma grande quantidade, pude fazer testes com as castanhas cozidas – quando cruas, comi como petisco, é viciante. Fui dirigindo os preparos de acordo com a aparência e o sabor. Lembra amendoim? Que tal homus? Tem cara de chapéu de cogumelo? E se trouxer outros para fazer companhia? São como batatinhas de conserva? E se temperá-las com azeite e ervas? Assim fui fazendo. Pareciam tantas, mas logo acabaram. Ficou o desejo de achar a próxima árvore carregada. 

A monguba vai muito bem na cozinha: as castanhas cruas são um ótimo petisco; cozidas, combinam com cogumelos. Foto: Neide Rigo|Estadão

Sei que muita gente vai se sentir frustrada por não ter como comprar mongubas no mercado, pelo menos não aqui em São Paulo. Mas, como às vezes é a demanda que cria o mercado, pode chegar na feira ou no mercado e perguntar: “quando chega a monguba?”. Tenho certeza de que há muitos produtores por aí deixando monguba apodrecer no chão. E quem sabe um dia vamos ter nossas castanhas, como o baru, o licuri, a castanha de pequi, o amendoim-de-árvore e a monguba ocupando os mesmos espaços de gôndola que nozes, amêndoas, pistaches e avelãs importados. É só a gente ir mudando o foco. 

Aqui um jeito simples e rápido de preparar. Antes de fazer a receita, cozinhe as castanhas e, se quiser, mantenha-as congeladas.

Meu contato mais intenso com estas castanhas se deu recentemente quando estive no Espírito Santo. No caminho sombreado e verde para a praia do Coqueiral de Aracruz, avistei algumas árvores carregadas de mongubas ou mungubas, muitas ao alcance das mãos e um bom tanto já no chão. Acho que foi a primeira vez que pude coletar alguns quilos desta preciosidade cuja fama ainda não a alcançou. Não tardará, pois estão pipocando trabalhos sobre seu efeito hipoglicemiante e sua composição nutricional, com boa proporção de ácidos graxos desejáveis e proteínas.

As castanhas marrons, forjadas como trufas, se confundem no chão. A pele que envolve cada semente se solta facilmente e assim podemos degustar as castanhas mesmo cruas, quando têm sabor de amendoim. Foto: Neide Rigo/Estadão

Fora parte da população amazônica, alguns poucos cozinheiros curiosos pela cultura regional ou pesquisadores que vivem tentando revelar o potencial alimentício e econômico dos nossos recursos vegetais, pouca gente dá importância para a árvore. Ela é parente das paineiras e ladeia avenidas em grandes cidades como Goiânia ou forma maciços floridos como no Aterro do Flamengo, no Rio.

Mesmo aqui em São Paulo, podemos encontrar essas árvores perto do Parque da Juventude e em outros bairros, mas sempre como planta ornamental com lindas flores de desenho rococó. Ah, se soubessem o que abriga aquele fruto marrom e aveludado com cara de cruzamento de cacau com cupuaçu... 

As castanhas marrons, forjadas como trufas, se confundem no chão com seixos rolados e se soltam do fruto quando este se abre espontaneamente na hora certa da maturação. A pele coriácea que envolve cada semente se solta facilmente e assim podemos degustar as castanhas mesmo cruas, quando têm sabor de amendoim de consistência crocante e tenra. 

Nativa da América Central e norte da América do Sul, a espécie Pachira aquatica pode ser vista facilmente em terras úmidas e alagadiças da floresta amazônica. No entanto, é uma árvore tão rústica e resiliente que se adapta a condições diversas, tanto de clima quanto de solo. E ainda, devido à beleza de suas folhas brilhosas, pode ser cultivada como planta de interior – às vezes com os caules entrelaçados como se faz em Taiwan, onde é comum ter a planta em vasos nos escritórios, para trazer boa sorte. No ambiente natural, ela chega a 60 metros. 

No Brasil, a introdução da árvore no paisagismo urbano começou em São Paulo e Rio de Janeiro na década de 1960, graças ao trabalho de Burle Marx. Então, é compreensível que muita gente veja aqueles frutos e fique na dúvida se são ou não comestíveis. Eu mesma, desde que tenho o blog Come-se, recebo todos os anos fotos do fruto com a pergunta: sabe o que é? Pode comer? Felizmente, a resposta é sempre sim. 

Cruas, cozidas, assadas, trituradas como farinha, as castanhas são deliciosas – e um fruto apenas pode render alimento para quase uma família. 

Eu já tinha comido monguba antes, mas nunca tão novas como estas que encontrei em Aracruz. Frescas são leitosas, branquinhas e tenras e neste estágio podem ser comidas cruas. Depois de alguns dias, ficam mais firmes e murchas, mas estão boas para cozinhar.

Para conservá-las por mais tempo, é bom embalar em plástico e guardar na geladeira. Outra ideia é congelar já depois de cozidas e despeladas. A pele sai fácil quando cozida, bastando fazer um pequeno corte e apertar que a castanha limpa sai como tremoço. 

Como foi a primeira vez que consegui uma grande quantidade, pude fazer testes com as castanhas cozidas – quando cruas, comi como petisco, é viciante. Fui dirigindo os preparos de acordo com a aparência e o sabor. Lembra amendoim? Que tal homus? Tem cara de chapéu de cogumelo? E se trouxer outros para fazer companhia? São como batatinhas de conserva? E se temperá-las com azeite e ervas? Assim fui fazendo. Pareciam tantas, mas logo acabaram. Ficou o desejo de achar a próxima árvore carregada. 

A monguba vai muito bem na cozinha: as castanhas cruas são um ótimo petisco; cozidas, combinam com cogumelos. Foto: Neide Rigo|Estadão

Sei que muita gente vai se sentir frustrada por não ter como comprar mongubas no mercado, pelo menos não aqui em São Paulo. Mas, como às vezes é a demanda que cria o mercado, pode chegar na feira ou no mercado e perguntar: “quando chega a monguba?”. Tenho certeza de que há muitos produtores por aí deixando monguba apodrecer no chão. E quem sabe um dia vamos ter nossas castanhas, como o baru, o licuri, a castanha de pequi, o amendoim-de-árvore e a monguba ocupando os mesmos espaços de gôndola que nozes, amêndoas, pistaches e avelãs importados. É só a gente ir mudando o foco. 

Aqui um jeito simples e rápido de preparar. Antes de fazer a receita, cozinhe as castanhas e, se quiser, mantenha-as congeladas.

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