Ingredientes brasileiros estudados na cozinha

Fruta-pão pode ser usada como farinha


Com sabor neutro, a fruta é ótimo substituto para o pão e serve para fazer nhoques, escondidinhos, sopas, bolos e bolinhos.

Por Neide Rigo
Atualização:

Ela sempre vem comigo na mala, não da Malásia, um dos prováveis lugares de origem, mas das viagens em tempo de sorte por aqui mesmo, terra onde tão bem se adaptou, especialmente na costa litorânea quente e úmida que vai do litoral norte de São Paulo até o Pará. Considero-me sortuda quando nossos momentos coincidem, ainda que ela frutifique durante quase todo o ano, com dois picos de safras. A bagagem de ida tem que ir com pelo menos três quilos de folga para caber ao menos uma fruta na volta. Sim, elas podem atingir 3 quilos ou até mais. 

Fruta-pão Foto: Neide Rigo| Estadão

No último mês fui duas vezes para a Bahia e, na feira de São Joaquim, em Salvador, pude escolher sem pressa já que havia para todo o gosto – verdes, maduras, mais cilíndricas, mais compridas. As boas para cozinhar são as verdes claras, de pele esticada, firmes ao toque – mas são comestíveis em qualquer estágio. Já em Gandu, no Baixo Sul da Bahia, fiquei impressionada com a beleza e a abundância de frutos muito frescos dispostos sobre papelões espalhados pelo chão nos limites da feira da cidade, compondo quadros tropicais com bananas-da-terra, jacas, araticuns, cocos e inhames. 

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Como a banana, o mamão e a jaca, por exemplo, a fruta-pão, Artocarpus altilis, pode ser preparada e consumida como legume quando verde ou como fruta doce e macia que se come crua. Porém, diferentemente das primeiras, seu estágio mais convencional é o verde e o uso mais comum é como legume cozido. Pelo menos entre nós. É só cortar em pedaços, tirar o miolo e cozinhar em água levemente salgada até amaciar. Cerca de 15 minutos bastam. Vapor, forno e brasa também funcionam. 

Como a consistência amilácea e sabor neutro da polpa da fruta verde depois de cozida faz lembrar aipim ou macaxeira, é um ótimo substituto para o pão, como presume o nome e também era mesmo de esperar seu emprego em nhoques, escondidinhos, sopas, purês, bolos e bolinhos, como de fato acontece. Mas na cidade de Gandu são preparados outros pratos com ele, como a paçoca e o Lelê. Originalmente, o lelê é feito com canjiquinha de milho, leite de coco, açúcar e cravo. Cozido como um manjar, deixa-se firmar e corta-se em pedaços. Com a fruta-pão se faz igual, porém no lugar do milho entra sua polpa. A paçoca doce também é tradição – feita com a polpa da fruta verde cozida e machucada à qual se junta coco ralado fresco e açúcar. Além destes, há vários pratos baianos adaptados para a fruta-pão. Vatapá, moqueca, sopa e bolinhos fritos são exemplos salgados. 

Fruta-pão assada e cortada Foto: Neide Rigo|Estadão
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Se por aqui adaptações não faltam, imagine a imensidão de técnicas de preparo e receitas que encontramos em seus locais de origem (Indomalásia e Malásia)  ou em outros países para onde a planta foi levada. A busca da espécie pelos ingleses para levar às colônias recém conquistadas nas Antilhas, no século XVIII, como comida barata e nutritiva para alimentar escravos, foi uma epopeia que virou filme – O Grande Motim, 1962. Na Jamaica, onde estas mudas foram plantadas e adaptadas, as frutas costumam ser sapecadas sobre brasas para cozinhar e abrandar a polpa, como se faz também no Taiti. Além de ganhar maciez, adquire sabor defumado – foi este o destino de uma das que vieram na minha bagagem, de Gandu. Basta colocar a fruta inteira sobre brasas e ir virando até que a pele fique queimada. Depois, só precisa descascar, cortar e servir como acompanhamento de carnes e peixes, como ingrediente de outros pratos ou simplesmente regada com manteiga. 

No Brasil, a planta foi introduzida a partir do Pará e Maranhão com o apelo de ser uma boa fonte energética embalando boas doses de vitaminas e minerais. A planta é rústica e produz rápido, em cerca de 3 anos ou até antes a depender da técnica de enxerto. Sendo que um só fruto pode alimentar uma família de cinco pessoas. Ou seja, este sim é um super alimento. 

Atualmente é bem adaptada em regiões tropicais quentes e úmidas. É uma planta rústica. Em São Paulo, nunca vi a planta produzindo. Mas, pelo menos agora, e só descobri isto nesta semana, encontrei a fruta pra comprar em camelôs nos fundos do Mercado da Lapa. 

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Vivo a me lamentar de não ter esta fruta por perto porque não basta substituí-la por mandioca ou qualquer outro ingrediente rico em carboidratos – daí o nome fruta-pão. Ela tem um sabor único e muito agradável que, em combinação com manteiga a derreter sobre seus pedaços recém-cozidos, parece transcender a um outro patamar de gostosura. Outra razão para se querer ter a espécie por perto é que a árvore é ornamental com lindas folhas recortadas que chegam a ter o tamanho do tronco humano e são medicinais – usadas para acalmar dores reumáticas quando colocadas aquecidas sobre o local dolorido. Com elas podemos ainda embrulhar peixes para assar, à moda das folhas de bananeira, ainda que sejam menos flexíveis. 

Apesar de ser mais comum as frutas sem sementes – ou com sementes atrofiadas, conhecidas como frutas de massa, produzidas a partir de estacas, há plantas que dão frutos com muitos caroços, oriundas de germinação de sementes. Destas, não se come a polpa, que não tem. Em compensação, as sementes que carregam são como castanhas e, cozidas, são mais apreciadas que as sementes de jaca, sua parente da família das Moráceas. Elas são nutritivas, ricas em proteínas e podem virar farinha para substituir parte do trigo em bolos e pães ou usada pura em mingaus. 

E falando em farinha, a polpa da fruta-pão verde também pode ser seca e transformada em pó. Esta farinha fina serve a vários preparos sem glúten ou para substituir parte do trigo em pães. E as próprias fatias de fruta-pão podem ser fatiadas bem finas e fritas. Fazem, assim, as vezes de tacos flexíveis e firmes o suficiente para conter vários tipos de recheios. 

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A fruta se conserva verde e bonita quando fresca – pode ser deixada dentro de uma bacia com água fria, para se conservar assim por mais tempo. Escurece a casca ao ser refrigerada, mas não perde a qualidade da polpa, e é um jeito de conservá-la por mais tempo se não quiser que amadureça. Se amadurecer, não se preocupe, pois a fruta ganha outras características como mais sabor, maciez e doçura. E assim pode ser consumida ao natural ou usada para fazer sobremesas com sabor que sabe a abacate – cremes, bolos, pudins ou sorvetes. Se, no entanto, ela for esquecida fora da geladeira e amadurecer demais, poderá fermentar e até aumentar a temperatura interna. Ainda assim poderá ser usada para receitas doces com o acréscimo de uma leve acidez. A tendência à rápida fermentação faz dela um excelente ingrediente para uma versão de poi no Havaí.

O mais comum é fazer poi de inhame-japonês (taro) – trata-se de um creme feito unicamente do inhame cozido, transformado em pasta e deixado a fermentar. O poi de fruta-pão se faz da mesma forma. Como a mandioca, rica em amido, também é um ingrediente promissor para bebidas fermentadas, como as cervejas que já são feitas no Havaí. 

Para os bolinhos, fiz uma combinação de dois ingredientes que costumam frequentar os mesmos ambientes, com um chutney também bem tropica

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Bolinhos de fruta-pão Foto: Neide Rigo|Estadão

Ela sempre vem comigo na mala, não da Malásia, um dos prováveis lugares de origem, mas das viagens em tempo de sorte por aqui mesmo, terra onde tão bem se adaptou, especialmente na costa litorânea quente e úmida que vai do litoral norte de São Paulo até o Pará. Considero-me sortuda quando nossos momentos coincidem, ainda que ela frutifique durante quase todo o ano, com dois picos de safras. A bagagem de ida tem que ir com pelo menos três quilos de folga para caber ao menos uma fruta na volta. Sim, elas podem atingir 3 quilos ou até mais. 

Fruta-pão Foto: Neide Rigo| Estadão

No último mês fui duas vezes para a Bahia e, na feira de São Joaquim, em Salvador, pude escolher sem pressa já que havia para todo o gosto – verdes, maduras, mais cilíndricas, mais compridas. As boas para cozinhar são as verdes claras, de pele esticada, firmes ao toque – mas são comestíveis em qualquer estágio. Já em Gandu, no Baixo Sul da Bahia, fiquei impressionada com a beleza e a abundância de frutos muito frescos dispostos sobre papelões espalhados pelo chão nos limites da feira da cidade, compondo quadros tropicais com bananas-da-terra, jacas, araticuns, cocos e inhames. 

Como a banana, o mamão e a jaca, por exemplo, a fruta-pão, Artocarpus altilis, pode ser preparada e consumida como legume quando verde ou como fruta doce e macia que se come crua. Porém, diferentemente das primeiras, seu estágio mais convencional é o verde e o uso mais comum é como legume cozido. Pelo menos entre nós. É só cortar em pedaços, tirar o miolo e cozinhar em água levemente salgada até amaciar. Cerca de 15 minutos bastam. Vapor, forno e brasa também funcionam. 

Como a consistência amilácea e sabor neutro da polpa da fruta verde depois de cozida faz lembrar aipim ou macaxeira, é um ótimo substituto para o pão, como presume o nome e também era mesmo de esperar seu emprego em nhoques, escondidinhos, sopas, purês, bolos e bolinhos, como de fato acontece. Mas na cidade de Gandu são preparados outros pratos com ele, como a paçoca e o Lelê. Originalmente, o lelê é feito com canjiquinha de milho, leite de coco, açúcar e cravo. Cozido como um manjar, deixa-se firmar e corta-se em pedaços. Com a fruta-pão se faz igual, porém no lugar do milho entra sua polpa. A paçoca doce também é tradição – feita com a polpa da fruta verde cozida e machucada à qual se junta coco ralado fresco e açúcar. Além destes, há vários pratos baianos adaptados para a fruta-pão. Vatapá, moqueca, sopa e bolinhos fritos são exemplos salgados. 

Fruta-pão assada e cortada Foto: Neide Rigo|Estadão

Se por aqui adaptações não faltam, imagine a imensidão de técnicas de preparo e receitas que encontramos em seus locais de origem (Indomalásia e Malásia)  ou em outros países para onde a planta foi levada. A busca da espécie pelos ingleses para levar às colônias recém conquistadas nas Antilhas, no século XVIII, como comida barata e nutritiva para alimentar escravos, foi uma epopeia que virou filme – O Grande Motim, 1962. Na Jamaica, onde estas mudas foram plantadas e adaptadas, as frutas costumam ser sapecadas sobre brasas para cozinhar e abrandar a polpa, como se faz também no Taiti. Além de ganhar maciez, adquire sabor defumado – foi este o destino de uma das que vieram na minha bagagem, de Gandu. Basta colocar a fruta inteira sobre brasas e ir virando até que a pele fique queimada. Depois, só precisa descascar, cortar e servir como acompanhamento de carnes e peixes, como ingrediente de outros pratos ou simplesmente regada com manteiga. 

No Brasil, a planta foi introduzida a partir do Pará e Maranhão com o apelo de ser uma boa fonte energética embalando boas doses de vitaminas e minerais. A planta é rústica e produz rápido, em cerca de 3 anos ou até antes a depender da técnica de enxerto. Sendo que um só fruto pode alimentar uma família de cinco pessoas. Ou seja, este sim é um super alimento. 

Atualmente é bem adaptada em regiões tropicais quentes e úmidas. É uma planta rústica. Em São Paulo, nunca vi a planta produzindo. Mas, pelo menos agora, e só descobri isto nesta semana, encontrei a fruta pra comprar em camelôs nos fundos do Mercado da Lapa. 

Vivo a me lamentar de não ter esta fruta por perto porque não basta substituí-la por mandioca ou qualquer outro ingrediente rico em carboidratos – daí o nome fruta-pão. Ela tem um sabor único e muito agradável que, em combinação com manteiga a derreter sobre seus pedaços recém-cozidos, parece transcender a um outro patamar de gostosura. Outra razão para se querer ter a espécie por perto é que a árvore é ornamental com lindas folhas recortadas que chegam a ter o tamanho do tronco humano e são medicinais – usadas para acalmar dores reumáticas quando colocadas aquecidas sobre o local dolorido. Com elas podemos ainda embrulhar peixes para assar, à moda das folhas de bananeira, ainda que sejam menos flexíveis. 

Apesar de ser mais comum as frutas sem sementes – ou com sementes atrofiadas, conhecidas como frutas de massa, produzidas a partir de estacas, há plantas que dão frutos com muitos caroços, oriundas de germinação de sementes. Destas, não se come a polpa, que não tem. Em compensação, as sementes que carregam são como castanhas e, cozidas, são mais apreciadas que as sementes de jaca, sua parente da família das Moráceas. Elas são nutritivas, ricas em proteínas e podem virar farinha para substituir parte do trigo em bolos e pães ou usada pura em mingaus. 

E falando em farinha, a polpa da fruta-pão verde também pode ser seca e transformada em pó. Esta farinha fina serve a vários preparos sem glúten ou para substituir parte do trigo em pães. E as próprias fatias de fruta-pão podem ser fatiadas bem finas e fritas. Fazem, assim, as vezes de tacos flexíveis e firmes o suficiente para conter vários tipos de recheios. 

A fruta se conserva verde e bonita quando fresca – pode ser deixada dentro de uma bacia com água fria, para se conservar assim por mais tempo. Escurece a casca ao ser refrigerada, mas não perde a qualidade da polpa, e é um jeito de conservá-la por mais tempo se não quiser que amadureça. Se amadurecer, não se preocupe, pois a fruta ganha outras características como mais sabor, maciez e doçura. E assim pode ser consumida ao natural ou usada para fazer sobremesas com sabor que sabe a abacate – cremes, bolos, pudins ou sorvetes. Se, no entanto, ela for esquecida fora da geladeira e amadurecer demais, poderá fermentar e até aumentar a temperatura interna. Ainda assim poderá ser usada para receitas doces com o acréscimo de uma leve acidez. A tendência à rápida fermentação faz dela um excelente ingrediente para uma versão de poi no Havaí.

O mais comum é fazer poi de inhame-japonês (taro) – trata-se de um creme feito unicamente do inhame cozido, transformado em pasta e deixado a fermentar. O poi de fruta-pão se faz da mesma forma. Como a mandioca, rica em amido, também é um ingrediente promissor para bebidas fermentadas, como as cervejas que já são feitas no Havaí. 

Para os bolinhos, fiz uma combinação de dois ingredientes que costumam frequentar os mesmos ambientes, com um chutney também bem tropica

Bolinhos de fruta-pão Foto: Neide Rigo|Estadão

Ela sempre vem comigo na mala, não da Malásia, um dos prováveis lugares de origem, mas das viagens em tempo de sorte por aqui mesmo, terra onde tão bem se adaptou, especialmente na costa litorânea quente e úmida que vai do litoral norte de São Paulo até o Pará. Considero-me sortuda quando nossos momentos coincidem, ainda que ela frutifique durante quase todo o ano, com dois picos de safras. A bagagem de ida tem que ir com pelo menos três quilos de folga para caber ao menos uma fruta na volta. Sim, elas podem atingir 3 quilos ou até mais. 

Fruta-pão Foto: Neide Rigo| Estadão

No último mês fui duas vezes para a Bahia e, na feira de São Joaquim, em Salvador, pude escolher sem pressa já que havia para todo o gosto – verdes, maduras, mais cilíndricas, mais compridas. As boas para cozinhar são as verdes claras, de pele esticada, firmes ao toque – mas são comestíveis em qualquer estágio. Já em Gandu, no Baixo Sul da Bahia, fiquei impressionada com a beleza e a abundância de frutos muito frescos dispostos sobre papelões espalhados pelo chão nos limites da feira da cidade, compondo quadros tropicais com bananas-da-terra, jacas, araticuns, cocos e inhames. 

Como a banana, o mamão e a jaca, por exemplo, a fruta-pão, Artocarpus altilis, pode ser preparada e consumida como legume quando verde ou como fruta doce e macia que se come crua. Porém, diferentemente das primeiras, seu estágio mais convencional é o verde e o uso mais comum é como legume cozido. Pelo menos entre nós. É só cortar em pedaços, tirar o miolo e cozinhar em água levemente salgada até amaciar. Cerca de 15 minutos bastam. Vapor, forno e brasa também funcionam. 

Como a consistência amilácea e sabor neutro da polpa da fruta verde depois de cozida faz lembrar aipim ou macaxeira, é um ótimo substituto para o pão, como presume o nome e também era mesmo de esperar seu emprego em nhoques, escondidinhos, sopas, purês, bolos e bolinhos, como de fato acontece. Mas na cidade de Gandu são preparados outros pratos com ele, como a paçoca e o Lelê. Originalmente, o lelê é feito com canjiquinha de milho, leite de coco, açúcar e cravo. Cozido como um manjar, deixa-se firmar e corta-se em pedaços. Com a fruta-pão se faz igual, porém no lugar do milho entra sua polpa. A paçoca doce também é tradição – feita com a polpa da fruta verde cozida e machucada à qual se junta coco ralado fresco e açúcar. Além destes, há vários pratos baianos adaptados para a fruta-pão. Vatapá, moqueca, sopa e bolinhos fritos são exemplos salgados. 

Fruta-pão assada e cortada Foto: Neide Rigo|Estadão

Se por aqui adaptações não faltam, imagine a imensidão de técnicas de preparo e receitas que encontramos em seus locais de origem (Indomalásia e Malásia)  ou em outros países para onde a planta foi levada. A busca da espécie pelos ingleses para levar às colônias recém conquistadas nas Antilhas, no século XVIII, como comida barata e nutritiva para alimentar escravos, foi uma epopeia que virou filme – O Grande Motim, 1962. Na Jamaica, onde estas mudas foram plantadas e adaptadas, as frutas costumam ser sapecadas sobre brasas para cozinhar e abrandar a polpa, como se faz também no Taiti. Além de ganhar maciez, adquire sabor defumado – foi este o destino de uma das que vieram na minha bagagem, de Gandu. Basta colocar a fruta inteira sobre brasas e ir virando até que a pele fique queimada. Depois, só precisa descascar, cortar e servir como acompanhamento de carnes e peixes, como ingrediente de outros pratos ou simplesmente regada com manteiga. 

No Brasil, a planta foi introduzida a partir do Pará e Maranhão com o apelo de ser uma boa fonte energética embalando boas doses de vitaminas e minerais. A planta é rústica e produz rápido, em cerca de 3 anos ou até antes a depender da técnica de enxerto. Sendo que um só fruto pode alimentar uma família de cinco pessoas. Ou seja, este sim é um super alimento. 

Atualmente é bem adaptada em regiões tropicais quentes e úmidas. É uma planta rústica. Em São Paulo, nunca vi a planta produzindo. Mas, pelo menos agora, e só descobri isto nesta semana, encontrei a fruta pra comprar em camelôs nos fundos do Mercado da Lapa. 

Vivo a me lamentar de não ter esta fruta por perto porque não basta substituí-la por mandioca ou qualquer outro ingrediente rico em carboidratos – daí o nome fruta-pão. Ela tem um sabor único e muito agradável que, em combinação com manteiga a derreter sobre seus pedaços recém-cozidos, parece transcender a um outro patamar de gostosura. Outra razão para se querer ter a espécie por perto é que a árvore é ornamental com lindas folhas recortadas que chegam a ter o tamanho do tronco humano e são medicinais – usadas para acalmar dores reumáticas quando colocadas aquecidas sobre o local dolorido. Com elas podemos ainda embrulhar peixes para assar, à moda das folhas de bananeira, ainda que sejam menos flexíveis. 

Apesar de ser mais comum as frutas sem sementes – ou com sementes atrofiadas, conhecidas como frutas de massa, produzidas a partir de estacas, há plantas que dão frutos com muitos caroços, oriundas de germinação de sementes. Destas, não se come a polpa, que não tem. Em compensação, as sementes que carregam são como castanhas e, cozidas, são mais apreciadas que as sementes de jaca, sua parente da família das Moráceas. Elas são nutritivas, ricas em proteínas e podem virar farinha para substituir parte do trigo em bolos e pães ou usada pura em mingaus. 

E falando em farinha, a polpa da fruta-pão verde também pode ser seca e transformada em pó. Esta farinha fina serve a vários preparos sem glúten ou para substituir parte do trigo em pães. E as próprias fatias de fruta-pão podem ser fatiadas bem finas e fritas. Fazem, assim, as vezes de tacos flexíveis e firmes o suficiente para conter vários tipos de recheios. 

A fruta se conserva verde e bonita quando fresca – pode ser deixada dentro de uma bacia com água fria, para se conservar assim por mais tempo. Escurece a casca ao ser refrigerada, mas não perde a qualidade da polpa, e é um jeito de conservá-la por mais tempo se não quiser que amadureça. Se amadurecer, não se preocupe, pois a fruta ganha outras características como mais sabor, maciez e doçura. E assim pode ser consumida ao natural ou usada para fazer sobremesas com sabor que sabe a abacate – cremes, bolos, pudins ou sorvetes. Se, no entanto, ela for esquecida fora da geladeira e amadurecer demais, poderá fermentar e até aumentar a temperatura interna. Ainda assim poderá ser usada para receitas doces com o acréscimo de uma leve acidez. A tendência à rápida fermentação faz dela um excelente ingrediente para uma versão de poi no Havaí.

O mais comum é fazer poi de inhame-japonês (taro) – trata-se de um creme feito unicamente do inhame cozido, transformado em pasta e deixado a fermentar. O poi de fruta-pão se faz da mesma forma. Como a mandioca, rica em amido, também é um ingrediente promissor para bebidas fermentadas, como as cervejas que já são feitas no Havaí. 

Para os bolinhos, fiz uma combinação de dois ingredientes que costumam frequentar os mesmos ambientes, com um chutney também bem tropica

Bolinhos de fruta-pão Foto: Neide Rigo|Estadão

Ela sempre vem comigo na mala, não da Malásia, um dos prováveis lugares de origem, mas das viagens em tempo de sorte por aqui mesmo, terra onde tão bem se adaptou, especialmente na costa litorânea quente e úmida que vai do litoral norte de São Paulo até o Pará. Considero-me sortuda quando nossos momentos coincidem, ainda que ela frutifique durante quase todo o ano, com dois picos de safras. A bagagem de ida tem que ir com pelo menos três quilos de folga para caber ao menos uma fruta na volta. Sim, elas podem atingir 3 quilos ou até mais. 

Fruta-pão Foto: Neide Rigo| Estadão

No último mês fui duas vezes para a Bahia e, na feira de São Joaquim, em Salvador, pude escolher sem pressa já que havia para todo o gosto – verdes, maduras, mais cilíndricas, mais compridas. As boas para cozinhar são as verdes claras, de pele esticada, firmes ao toque – mas são comestíveis em qualquer estágio. Já em Gandu, no Baixo Sul da Bahia, fiquei impressionada com a beleza e a abundância de frutos muito frescos dispostos sobre papelões espalhados pelo chão nos limites da feira da cidade, compondo quadros tropicais com bananas-da-terra, jacas, araticuns, cocos e inhames. 

Como a banana, o mamão e a jaca, por exemplo, a fruta-pão, Artocarpus altilis, pode ser preparada e consumida como legume quando verde ou como fruta doce e macia que se come crua. Porém, diferentemente das primeiras, seu estágio mais convencional é o verde e o uso mais comum é como legume cozido. Pelo menos entre nós. É só cortar em pedaços, tirar o miolo e cozinhar em água levemente salgada até amaciar. Cerca de 15 minutos bastam. Vapor, forno e brasa também funcionam. 

Como a consistência amilácea e sabor neutro da polpa da fruta verde depois de cozida faz lembrar aipim ou macaxeira, é um ótimo substituto para o pão, como presume o nome e também era mesmo de esperar seu emprego em nhoques, escondidinhos, sopas, purês, bolos e bolinhos, como de fato acontece. Mas na cidade de Gandu são preparados outros pratos com ele, como a paçoca e o Lelê. Originalmente, o lelê é feito com canjiquinha de milho, leite de coco, açúcar e cravo. Cozido como um manjar, deixa-se firmar e corta-se em pedaços. Com a fruta-pão se faz igual, porém no lugar do milho entra sua polpa. A paçoca doce também é tradição – feita com a polpa da fruta verde cozida e machucada à qual se junta coco ralado fresco e açúcar. Além destes, há vários pratos baianos adaptados para a fruta-pão. Vatapá, moqueca, sopa e bolinhos fritos são exemplos salgados. 

Fruta-pão assada e cortada Foto: Neide Rigo|Estadão

Se por aqui adaptações não faltam, imagine a imensidão de técnicas de preparo e receitas que encontramos em seus locais de origem (Indomalásia e Malásia)  ou em outros países para onde a planta foi levada. A busca da espécie pelos ingleses para levar às colônias recém conquistadas nas Antilhas, no século XVIII, como comida barata e nutritiva para alimentar escravos, foi uma epopeia que virou filme – O Grande Motim, 1962. Na Jamaica, onde estas mudas foram plantadas e adaptadas, as frutas costumam ser sapecadas sobre brasas para cozinhar e abrandar a polpa, como se faz também no Taiti. Além de ganhar maciez, adquire sabor defumado – foi este o destino de uma das que vieram na minha bagagem, de Gandu. Basta colocar a fruta inteira sobre brasas e ir virando até que a pele fique queimada. Depois, só precisa descascar, cortar e servir como acompanhamento de carnes e peixes, como ingrediente de outros pratos ou simplesmente regada com manteiga. 

No Brasil, a planta foi introduzida a partir do Pará e Maranhão com o apelo de ser uma boa fonte energética embalando boas doses de vitaminas e minerais. A planta é rústica e produz rápido, em cerca de 3 anos ou até antes a depender da técnica de enxerto. Sendo que um só fruto pode alimentar uma família de cinco pessoas. Ou seja, este sim é um super alimento. 

Atualmente é bem adaptada em regiões tropicais quentes e úmidas. É uma planta rústica. Em São Paulo, nunca vi a planta produzindo. Mas, pelo menos agora, e só descobri isto nesta semana, encontrei a fruta pra comprar em camelôs nos fundos do Mercado da Lapa. 

Vivo a me lamentar de não ter esta fruta por perto porque não basta substituí-la por mandioca ou qualquer outro ingrediente rico em carboidratos – daí o nome fruta-pão. Ela tem um sabor único e muito agradável que, em combinação com manteiga a derreter sobre seus pedaços recém-cozidos, parece transcender a um outro patamar de gostosura. Outra razão para se querer ter a espécie por perto é que a árvore é ornamental com lindas folhas recortadas que chegam a ter o tamanho do tronco humano e são medicinais – usadas para acalmar dores reumáticas quando colocadas aquecidas sobre o local dolorido. Com elas podemos ainda embrulhar peixes para assar, à moda das folhas de bananeira, ainda que sejam menos flexíveis. 

Apesar de ser mais comum as frutas sem sementes – ou com sementes atrofiadas, conhecidas como frutas de massa, produzidas a partir de estacas, há plantas que dão frutos com muitos caroços, oriundas de germinação de sementes. Destas, não se come a polpa, que não tem. Em compensação, as sementes que carregam são como castanhas e, cozidas, são mais apreciadas que as sementes de jaca, sua parente da família das Moráceas. Elas são nutritivas, ricas em proteínas e podem virar farinha para substituir parte do trigo em bolos e pães ou usada pura em mingaus. 

E falando em farinha, a polpa da fruta-pão verde também pode ser seca e transformada em pó. Esta farinha fina serve a vários preparos sem glúten ou para substituir parte do trigo em pães. E as próprias fatias de fruta-pão podem ser fatiadas bem finas e fritas. Fazem, assim, as vezes de tacos flexíveis e firmes o suficiente para conter vários tipos de recheios. 

A fruta se conserva verde e bonita quando fresca – pode ser deixada dentro de uma bacia com água fria, para se conservar assim por mais tempo. Escurece a casca ao ser refrigerada, mas não perde a qualidade da polpa, e é um jeito de conservá-la por mais tempo se não quiser que amadureça. Se amadurecer, não se preocupe, pois a fruta ganha outras características como mais sabor, maciez e doçura. E assim pode ser consumida ao natural ou usada para fazer sobremesas com sabor que sabe a abacate – cremes, bolos, pudins ou sorvetes. Se, no entanto, ela for esquecida fora da geladeira e amadurecer demais, poderá fermentar e até aumentar a temperatura interna. Ainda assim poderá ser usada para receitas doces com o acréscimo de uma leve acidez. A tendência à rápida fermentação faz dela um excelente ingrediente para uma versão de poi no Havaí.

O mais comum é fazer poi de inhame-japonês (taro) – trata-se de um creme feito unicamente do inhame cozido, transformado em pasta e deixado a fermentar. O poi de fruta-pão se faz da mesma forma. Como a mandioca, rica em amido, também é um ingrediente promissor para bebidas fermentadas, como as cervejas que já são feitas no Havaí. 

Para os bolinhos, fiz uma combinação de dois ingredientes que costumam frequentar os mesmos ambientes, com um chutney também bem tropica

Bolinhos de fruta-pão Foto: Neide Rigo|Estadão

Ela sempre vem comigo na mala, não da Malásia, um dos prováveis lugares de origem, mas das viagens em tempo de sorte por aqui mesmo, terra onde tão bem se adaptou, especialmente na costa litorânea quente e úmida que vai do litoral norte de São Paulo até o Pará. Considero-me sortuda quando nossos momentos coincidem, ainda que ela frutifique durante quase todo o ano, com dois picos de safras. A bagagem de ida tem que ir com pelo menos três quilos de folga para caber ao menos uma fruta na volta. Sim, elas podem atingir 3 quilos ou até mais. 

Fruta-pão Foto: Neide Rigo| Estadão

No último mês fui duas vezes para a Bahia e, na feira de São Joaquim, em Salvador, pude escolher sem pressa já que havia para todo o gosto – verdes, maduras, mais cilíndricas, mais compridas. As boas para cozinhar são as verdes claras, de pele esticada, firmes ao toque – mas são comestíveis em qualquer estágio. Já em Gandu, no Baixo Sul da Bahia, fiquei impressionada com a beleza e a abundância de frutos muito frescos dispostos sobre papelões espalhados pelo chão nos limites da feira da cidade, compondo quadros tropicais com bananas-da-terra, jacas, araticuns, cocos e inhames. 

Como a banana, o mamão e a jaca, por exemplo, a fruta-pão, Artocarpus altilis, pode ser preparada e consumida como legume quando verde ou como fruta doce e macia que se come crua. Porém, diferentemente das primeiras, seu estágio mais convencional é o verde e o uso mais comum é como legume cozido. Pelo menos entre nós. É só cortar em pedaços, tirar o miolo e cozinhar em água levemente salgada até amaciar. Cerca de 15 minutos bastam. Vapor, forno e brasa também funcionam. 

Como a consistência amilácea e sabor neutro da polpa da fruta verde depois de cozida faz lembrar aipim ou macaxeira, é um ótimo substituto para o pão, como presume o nome e também era mesmo de esperar seu emprego em nhoques, escondidinhos, sopas, purês, bolos e bolinhos, como de fato acontece. Mas na cidade de Gandu são preparados outros pratos com ele, como a paçoca e o Lelê. Originalmente, o lelê é feito com canjiquinha de milho, leite de coco, açúcar e cravo. Cozido como um manjar, deixa-se firmar e corta-se em pedaços. Com a fruta-pão se faz igual, porém no lugar do milho entra sua polpa. A paçoca doce também é tradição – feita com a polpa da fruta verde cozida e machucada à qual se junta coco ralado fresco e açúcar. Além destes, há vários pratos baianos adaptados para a fruta-pão. Vatapá, moqueca, sopa e bolinhos fritos são exemplos salgados. 

Fruta-pão assada e cortada Foto: Neide Rigo|Estadão

Se por aqui adaptações não faltam, imagine a imensidão de técnicas de preparo e receitas que encontramos em seus locais de origem (Indomalásia e Malásia)  ou em outros países para onde a planta foi levada. A busca da espécie pelos ingleses para levar às colônias recém conquistadas nas Antilhas, no século XVIII, como comida barata e nutritiva para alimentar escravos, foi uma epopeia que virou filme – O Grande Motim, 1962. Na Jamaica, onde estas mudas foram plantadas e adaptadas, as frutas costumam ser sapecadas sobre brasas para cozinhar e abrandar a polpa, como se faz também no Taiti. Além de ganhar maciez, adquire sabor defumado – foi este o destino de uma das que vieram na minha bagagem, de Gandu. Basta colocar a fruta inteira sobre brasas e ir virando até que a pele fique queimada. Depois, só precisa descascar, cortar e servir como acompanhamento de carnes e peixes, como ingrediente de outros pratos ou simplesmente regada com manteiga. 

No Brasil, a planta foi introduzida a partir do Pará e Maranhão com o apelo de ser uma boa fonte energética embalando boas doses de vitaminas e minerais. A planta é rústica e produz rápido, em cerca de 3 anos ou até antes a depender da técnica de enxerto. Sendo que um só fruto pode alimentar uma família de cinco pessoas. Ou seja, este sim é um super alimento. 

Atualmente é bem adaptada em regiões tropicais quentes e úmidas. É uma planta rústica. Em São Paulo, nunca vi a planta produzindo. Mas, pelo menos agora, e só descobri isto nesta semana, encontrei a fruta pra comprar em camelôs nos fundos do Mercado da Lapa. 

Vivo a me lamentar de não ter esta fruta por perto porque não basta substituí-la por mandioca ou qualquer outro ingrediente rico em carboidratos – daí o nome fruta-pão. Ela tem um sabor único e muito agradável que, em combinação com manteiga a derreter sobre seus pedaços recém-cozidos, parece transcender a um outro patamar de gostosura. Outra razão para se querer ter a espécie por perto é que a árvore é ornamental com lindas folhas recortadas que chegam a ter o tamanho do tronco humano e são medicinais – usadas para acalmar dores reumáticas quando colocadas aquecidas sobre o local dolorido. Com elas podemos ainda embrulhar peixes para assar, à moda das folhas de bananeira, ainda que sejam menos flexíveis. 

Apesar de ser mais comum as frutas sem sementes – ou com sementes atrofiadas, conhecidas como frutas de massa, produzidas a partir de estacas, há plantas que dão frutos com muitos caroços, oriundas de germinação de sementes. Destas, não se come a polpa, que não tem. Em compensação, as sementes que carregam são como castanhas e, cozidas, são mais apreciadas que as sementes de jaca, sua parente da família das Moráceas. Elas são nutritivas, ricas em proteínas e podem virar farinha para substituir parte do trigo em bolos e pães ou usada pura em mingaus. 

E falando em farinha, a polpa da fruta-pão verde também pode ser seca e transformada em pó. Esta farinha fina serve a vários preparos sem glúten ou para substituir parte do trigo em pães. E as próprias fatias de fruta-pão podem ser fatiadas bem finas e fritas. Fazem, assim, as vezes de tacos flexíveis e firmes o suficiente para conter vários tipos de recheios. 

A fruta se conserva verde e bonita quando fresca – pode ser deixada dentro de uma bacia com água fria, para se conservar assim por mais tempo. Escurece a casca ao ser refrigerada, mas não perde a qualidade da polpa, e é um jeito de conservá-la por mais tempo se não quiser que amadureça. Se amadurecer, não se preocupe, pois a fruta ganha outras características como mais sabor, maciez e doçura. E assim pode ser consumida ao natural ou usada para fazer sobremesas com sabor que sabe a abacate – cremes, bolos, pudins ou sorvetes. Se, no entanto, ela for esquecida fora da geladeira e amadurecer demais, poderá fermentar e até aumentar a temperatura interna. Ainda assim poderá ser usada para receitas doces com o acréscimo de uma leve acidez. A tendência à rápida fermentação faz dela um excelente ingrediente para uma versão de poi no Havaí.

O mais comum é fazer poi de inhame-japonês (taro) – trata-se de um creme feito unicamente do inhame cozido, transformado em pasta e deixado a fermentar. O poi de fruta-pão se faz da mesma forma. Como a mandioca, rica em amido, também é um ingrediente promissor para bebidas fermentadas, como as cervejas que já são feitas no Havaí. 

Para os bolinhos, fiz uma combinação de dois ingredientes que costumam frequentar os mesmos ambientes, com um chutney também bem tropica

Bolinhos de fruta-pão Foto: Neide Rigo|Estadão

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