FAVORITOS: Os doce-salgadinhos de Seattle que fisgaram Obama. Foto: Amanda Koster/NYT Há muito a combinação de caramelo e sal encanta chefs franceses e americanos. Mas no ano passado ela se tornou um daqueles raros sabores que, de uma obsessão da elite culinária, chega ao grande mercado consumidor americano. Em abril, a Häagen-Dazs lançou um sorvete sabor caramelo salgado. Seis meses depois, a Starbucks começou a vender um chocolate quente com a mesma combinação. No início de dezembro, o caramelo salgado apareceu numa caixa de chocolates trufados do Wal-Mart. Como se não bastasse a onda sal-caramelística ter desembocado nesses lançamentos de grande apelo popular, descobriu-se que "ele", o próprio presidente Barack Obama, tem um quê pelo caramelo salgado. Seu preferido é um coberto com chocolate escuro salpicado com sal marinho defumado, feito por um confeiteiro de Seattle. Nem das melhores cabeças do marketing poderia sair uma campanha tão bem-sucedida, avalia Lynn Dornblaser, analista de novos produtos da Mintel, grupo de pesquisa do consumidor. "Tudo encaixou perfeitamente, na hora exata." Em apenas uma década (pouco tempo quando se trata de tendências alimentares, segundo especialistas), derrotando emergentes como o queijo asiago e o wasabi, o caramelo salgado saiu de umas poucas pâtisseries parisienses para as grandes lojas americanas. No caso dos Estados Unidos, a influência veio diretamente da França. Caramelos amanteigados com bastante sal são tradição na região francesa da Bretanha. Mais recentemente, Pierre Hermé, pâtissier francês conhecido por suas experimentações, inventou um macaron com caramelo salgado que inspirou uma tendência cult entre chefs americanos no fim dos anos 90. Correndo por fora, enquanto isso, vinha uma tendência parecida, o chocolate salgado. Hermé salpicou chocolate com flor de sal . Em 1998, o chocolateiro Michael Recchuiuti, de São Francisco, já vendia os próprios caramelos com flor de sal cobertos de chocolate. Por volta de 2000, chefs pâtissiers de grandes restaurantes de Nova York como Gramercy Tavern, Le Cirque e Petrossian já haviam caído de amores pelo modo como um salzinho extra pode envolver coisas doces. Sobre tortas de caramelo e chocolate, ou bolos de chocolate derretido, eles punham lasquinhas crocantes de sal caro e cobriam com sorvete. O caramelo salgado chegou às lojas de culinária de luxo e feiras da indústria de alimentos. Em 2004 a revista Gourmet publicou uma receita com caramelo e flor de sal. A partir daí a combinação marcou presença nas cadeias de restaurantes e no Starbucks, onde o chocolate quente com caramelo salgado se tornou um drinque popular de inverno, "pegando" até em regiões avessas às novidades. O impulso dado por Obama não pode ser desprezado. Alguém do alto escalão de campanha apresentou ao presidente e sua mulher, Michelle, os caramelos salgados do Fran’s. Logo os pedidos em nome do então candidato se tornaram regulares. Reggie Love, assessor pessoal de Obama, garantia o fornecimento desse e de outros favoritos do presidente, como o chiclete Nicorette, para parar de fumar, e o Planters Trail Mix, um combinado de frutas secas, nozes amendoim, cereais. O caramelo salgado não chegou onde está sem ajuda. Um fator que não pode ser ignorado é o antigo gosto dos americanos pela combinação doce-salgado. Sundaes, barrinhas "turtlle", de caramelo, manteiga e chocolate , pralines há muito constam dos cânones da culinária nacional. O Cracker Jack (amendoim torrado e pipoca com melado) é de 1893. Os Snickers (barrinhas de amendoim, caramelo e chocolate) e a manteiga de amendoim Reese são dos anos 20. Dois outros fatores ajudaram: a difusão do sal gourmet, como a flor de sal francesa, o sal vermelho do Havaí, e o sal inglês Maldon; e o doce de leite, que saiu da América do Sul, cruzou as fronteiras e se popularizou nos Estados Unidos. TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ
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