A Amazônia voltou às manchetes do mundo inteiro por conta da emergência de desmatamento e fogo descontrolado. Em Nova York (de onde escrevo esta coluna), nos próximos dias, o tema será destaque da Cúpula das Nações Unidas. Prevalece no público a sensação de impotência e frustração. As pessoas me perguntam com ceticismo: será que eu posso fazer alguma coisa?
O lugar onde cada um pode fazer mais a diferença a respeito do que acontece na Amazônia... é sua própria cozinha. Vamos ver quatro atitudes que poderiam rapidamente reverter a crise amazônica sem precisar de grandes planos governamentais, apenas a partir da comida.
1. Sabemos que a pecuária bovina é o mais difuso vetor de desmatamento e uso do fogo. Mas não pensem que a solução é parar de comer carne. Pelo contrário, assim fazendo desestimulamos o investimento em tecnologia que é necessário para a pecuária da Amazônia passar a ocupar uma área muito inferior àquela ocupada atualmente. A produção de carne da Amazônia é pequena, não chega a um quinto do total nacional, pois a pecuária é pouco produtiva. Os bons produtores abandonaram há tempo o uso do fogo e do desmatamento. Gerar demanda para carne sustentável amazônica é algo que pode rapidamente alterar a forma de ocupação da região e quase eliminar o emprego do fogo.
2. A soja é um dos insumos mais difíceis de ser identificados pelo consumidor, porque não é percebido: está no porco e no frango em forma de ração, na fritura em forma de óleo, nos sorvetes, molhos, bolachas... Por outro lado, a vantagem é que esses produtos em geral são oferecidos por grandes indústrias. Dessa forma é mais fácil exigir rotulagem e garantias de que a soja que elas utilizam seja livre de desmatamento, o que hoje já é possível certificar.
3. Os pescados da Amazônia oferecem opções diversas e atrativas para todos os gostos, ao mesmo tempo que têm o potencial, tanto na piscicultura quanto na pesca, de empregar um grande contingente de pessoas, gerando assim alternativas econômicas à destruição da floresta. Para ter rios e açudes preservados, é preciso manter a floresta em boas condições. Consumir pescados amazônicos, como tambaqui e pirarucu, é portanto uma excelente opção.
4. A população tradicional e indígena da Amazônia é, desde sempre, a melhor guardiã da floresta. O conjunto de produtos agroflorestais oriundos de suas comunidades e cooperativas é enorme, sejam frescos, sejam processados: frutas, geleias, castanhas, pimentas, tapiocas, farinhas, tucupi, cogumelos, temperos, mel, chocolate... Consumir esses produtos amazônicos não significa só ter uma cozinha mais variada, saudável e cativante. Também permite que essas populações sigam conservando suas reservas e territórios.
Se pensarmos que em toda a área rural da Amazônia vivem cerca de 7 milhões de pessoas – aproximadamente um terço da população da Grande São Paulo – o volume de consumo que pode fazer a diferença é relativamente modesto e fácil de alcançar. Em vez de esperar pelo governo, que tal começar com uma costelinha de tambaqui assada, uma tigela de açaí, farofa de castanha e uma pimentinha jiquitaia?
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Onde comprar produtos da Amazônia em SP
● Box Amazônia no Mercado Municipal de Pinheiros. Rua Pedro Cristi, 89, Pinheiros, 3032-0875 ● Combu da Amazônia. Rua Martiniano de Carvalho, 97, Bela Vista, 2307-7100 ● Casa Santa Luzia. Al. Lorena, 1.471, Jd. Paulista, 3897-5000 ● Empório Poitara. Encomendas por 97310-5024 ou toni.ginger@gmail.com ● Açougue Santa Bárbara. Rua dos Três Irmãos, 524, Morumbi, 2176-8400 (vende peixes como pirarucu) ● Chocolates feitos com cacau amazônico e marcas como Manioca (de farinha, tucupi, geleias e temperos) já podem ser encontrados em grandes supermercados