O encontro da gastronomia com a sustentabilidade

Na cadeia dos alimentos, economia e sustentabilidade andam lado a lado


Países aproveitam a reconstrução do pós pandemia para se desfazer de sistemas obsoletos e investir em uma economia mais verde; e os resultados são positivos

Por Roberto Smeraldi
Atualização:

Os clichês são repetidos como mantras. "Diminuir desmatamento significa ter menos comida... Orgânico é legal mas é caro.... Comida saudável é para elites, o povo mata fome com ultraprocessados".

Pressupostos que mais parecem preconceitos,assumidos até mesmos por quem os questiona. Pois normalmente o argumento usado é de que saúde, biodiversidade ou cultura seriam mais importantes do que a economia, assim reforçando o que é chamado de "trade off", isto é a idéia de que escolher um dos fatores implica abrir mão do outro.

Nos últimos meses países europeus, Coreia do Sul, Colômbia, Nova Zelândia, Canadá - e em parte China - têm liderado o conceito de "retomada verde" como medida para sair da recessão pós-pandemia com uma perspectiva sustentável, além de subsídios para o consumo de curto prazo.

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Estudo aponta que não é preciso escolher entre lucro e sustentabilidade Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A idéia é simples: aproveitar o fato que seremos obrigados a investir pesadamente e reconstruir a economia... para inovar e se desfazer de sistemas de produção e consumo obsoletos. Com o resultado das eleições americanas, sabemos agora que os EUA vão também escolher esse caminho.

O desfecho do desafio se decide, em grande parte, nas cadeias da comida. Nas tecnologias, nos sistemas de produção, na distribuição e logística, no consumo: com a cozinha como grande aglutinador de todos esse elos.

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E será que temos então de escolher entre desnutrição e diabete? Entre queimadas e desemprego? Entre desperdício e lixo plástico? Entre agrotóxicos e pobreza rural?

Acaba de ser publicado na Science Advances, em novembro, um estudo realizado por dez grandes universidades e institutos de pesquisa especializados de três continentes, que apresenta uma perspectiva completamente inédita. Em vez de realizar pesquisa primária, que muitas vezes carece de escala na amostra, os pesquisadores mobilizaram um esforço monumental para captar os resultados gerados por seus pares em milhares de pesquisas recentes. É o que se chama de meta-análise de segundo grau, ou seja um trabalho que considera 98 meta-análises existentes, que por sua vez abrangem 5.160 estudos setoriais realizados nas condições e países mais diferentes. Foram assim considerados os resultados de 41.946 sistemas produtivos, com os padrões tecnológicos mais diversos.

Os resultados vão na direção contrária ao clichê do trade-off. Em quase dois terços dos casos documentados mundo afora (63%) a adoção de práticas ambientalmente sustentáveis não afetou - ou afetou positivamente - a produtividade.

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É interessante notar que, de maneira contraintuitiva, o resultado positivo de práticas de conservação sobre indicadores ambientais não é generalizado, sendo registrado em 70% doas casos. Ou seja, a diferença entre impactos ambientais e econômicos positivos dessas práticas é modesta. Fatores como melhora no ciclo de nutrientes, na fertilização dos solos, no ciclo hídrico e na polinização podem contribuir para entender melhor esses dados.

Como conclui o estudo, "na maior parte dos casos a diversificação representa um ganha-ganha entre serviços ambientais e produtividade". Com uma necessidade urgente: desonerar o sistema de saúde que não tem mais como pagar a conta do sistema alimentar.

Fica claro assim o grande desafio para os investimentos da "retomada verde": favorecer os arranjos no beneficiamento da comida que estejam alinhados com esse ganha-ganha. Por exemplo, todo o conjunto de serviços, tecnologia, taxação, infraestrutura, educação... condizentes com práticas de origem, diversidade, beneficiamento artesanal, transparência, cultura. Seja localmente, seja globalmente.

Os clichês são repetidos como mantras. "Diminuir desmatamento significa ter menos comida... Orgânico é legal mas é caro.... Comida saudável é para elites, o povo mata fome com ultraprocessados".

Pressupostos que mais parecem preconceitos,assumidos até mesmos por quem os questiona. Pois normalmente o argumento usado é de que saúde, biodiversidade ou cultura seriam mais importantes do que a economia, assim reforçando o que é chamado de "trade off", isto é a idéia de que escolher um dos fatores implica abrir mão do outro.

Nos últimos meses países europeus, Coreia do Sul, Colômbia, Nova Zelândia, Canadá - e em parte China - têm liderado o conceito de "retomada verde" como medida para sair da recessão pós-pandemia com uma perspectiva sustentável, além de subsídios para o consumo de curto prazo.

Estudo aponta que não é preciso escolher entre lucro e sustentabilidade Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A idéia é simples: aproveitar o fato que seremos obrigados a investir pesadamente e reconstruir a economia... para inovar e se desfazer de sistemas de produção e consumo obsoletos. Com o resultado das eleições americanas, sabemos agora que os EUA vão também escolher esse caminho.

O desfecho do desafio se decide, em grande parte, nas cadeias da comida. Nas tecnologias, nos sistemas de produção, na distribuição e logística, no consumo: com a cozinha como grande aglutinador de todos esse elos.

E será que temos então de escolher entre desnutrição e diabete? Entre queimadas e desemprego? Entre desperdício e lixo plástico? Entre agrotóxicos e pobreza rural?

Acaba de ser publicado na Science Advances, em novembro, um estudo realizado por dez grandes universidades e institutos de pesquisa especializados de três continentes, que apresenta uma perspectiva completamente inédita. Em vez de realizar pesquisa primária, que muitas vezes carece de escala na amostra, os pesquisadores mobilizaram um esforço monumental para captar os resultados gerados por seus pares em milhares de pesquisas recentes. É o que se chama de meta-análise de segundo grau, ou seja um trabalho que considera 98 meta-análises existentes, que por sua vez abrangem 5.160 estudos setoriais realizados nas condições e países mais diferentes. Foram assim considerados os resultados de 41.946 sistemas produtivos, com os padrões tecnológicos mais diversos.

Os resultados vão na direção contrária ao clichê do trade-off. Em quase dois terços dos casos documentados mundo afora (63%) a adoção de práticas ambientalmente sustentáveis não afetou - ou afetou positivamente - a produtividade.

É interessante notar que, de maneira contraintuitiva, o resultado positivo de práticas de conservação sobre indicadores ambientais não é generalizado, sendo registrado em 70% doas casos. Ou seja, a diferença entre impactos ambientais e econômicos positivos dessas práticas é modesta. Fatores como melhora no ciclo de nutrientes, na fertilização dos solos, no ciclo hídrico e na polinização podem contribuir para entender melhor esses dados.

Como conclui o estudo, "na maior parte dos casos a diversificação representa um ganha-ganha entre serviços ambientais e produtividade". Com uma necessidade urgente: desonerar o sistema de saúde que não tem mais como pagar a conta do sistema alimentar.

Fica claro assim o grande desafio para os investimentos da "retomada verde": favorecer os arranjos no beneficiamento da comida que estejam alinhados com esse ganha-ganha. Por exemplo, todo o conjunto de serviços, tecnologia, taxação, infraestrutura, educação... condizentes com práticas de origem, diversidade, beneficiamento artesanal, transparência, cultura. Seja localmente, seja globalmente.

Os clichês são repetidos como mantras. "Diminuir desmatamento significa ter menos comida... Orgânico é legal mas é caro.... Comida saudável é para elites, o povo mata fome com ultraprocessados".

Pressupostos que mais parecem preconceitos,assumidos até mesmos por quem os questiona. Pois normalmente o argumento usado é de que saúde, biodiversidade ou cultura seriam mais importantes do que a economia, assim reforçando o que é chamado de "trade off", isto é a idéia de que escolher um dos fatores implica abrir mão do outro.

Nos últimos meses países europeus, Coreia do Sul, Colômbia, Nova Zelândia, Canadá - e em parte China - têm liderado o conceito de "retomada verde" como medida para sair da recessão pós-pandemia com uma perspectiva sustentável, além de subsídios para o consumo de curto prazo.

Estudo aponta que não é preciso escolher entre lucro e sustentabilidade Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A idéia é simples: aproveitar o fato que seremos obrigados a investir pesadamente e reconstruir a economia... para inovar e se desfazer de sistemas de produção e consumo obsoletos. Com o resultado das eleições americanas, sabemos agora que os EUA vão também escolher esse caminho.

O desfecho do desafio se decide, em grande parte, nas cadeias da comida. Nas tecnologias, nos sistemas de produção, na distribuição e logística, no consumo: com a cozinha como grande aglutinador de todos esse elos.

E será que temos então de escolher entre desnutrição e diabete? Entre queimadas e desemprego? Entre desperdício e lixo plástico? Entre agrotóxicos e pobreza rural?

Acaba de ser publicado na Science Advances, em novembro, um estudo realizado por dez grandes universidades e institutos de pesquisa especializados de três continentes, que apresenta uma perspectiva completamente inédita. Em vez de realizar pesquisa primária, que muitas vezes carece de escala na amostra, os pesquisadores mobilizaram um esforço monumental para captar os resultados gerados por seus pares em milhares de pesquisas recentes. É o que se chama de meta-análise de segundo grau, ou seja um trabalho que considera 98 meta-análises existentes, que por sua vez abrangem 5.160 estudos setoriais realizados nas condições e países mais diferentes. Foram assim considerados os resultados de 41.946 sistemas produtivos, com os padrões tecnológicos mais diversos.

Os resultados vão na direção contrária ao clichê do trade-off. Em quase dois terços dos casos documentados mundo afora (63%) a adoção de práticas ambientalmente sustentáveis não afetou - ou afetou positivamente - a produtividade.

É interessante notar que, de maneira contraintuitiva, o resultado positivo de práticas de conservação sobre indicadores ambientais não é generalizado, sendo registrado em 70% doas casos. Ou seja, a diferença entre impactos ambientais e econômicos positivos dessas práticas é modesta. Fatores como melhora no ciclo de nutrientes, na fertilização dos solos, no ciclo hídrico e na polinização podem contribuir para entender melhor esses dados.

Como conclui o estudo, "na maior parte dos casos a diversificação representa um ganha-ganha entre serviços ambientais e produtividade". Com uma necessidade urgente: desonerar o sistema de saúde que não tem mais como pagar a conta do sistema alimentar.

Fica claro assim o grande desafio para os investimentos da "retomada verde": favorecer os arranjos no beneficiamento da comida que estejam alinhados com esse ganha-ganha. Por exemplo, todo o conjunto de serviços, tecnologia, taxação, infraestrutura, educação... condizentes com práticas de origem, diversidade, beneficiamento artesanal, transparência, cultura. Seja localmente, seja globalmente.

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