Você já provou mangarito? Está em plena safra, mas vamos admitir: não é fácil encontrar esse tubérculo de cultivo delicado e manhoso. Talvez seja por seu aspecto disforme e pouco atraente que o mangarito ainda esteja longe das cozinhas. Também dá trabalho consegui-lo e é preciso disposição na hora de usá-lo. Mas seu sabor amendoado e versatilidade valem o esforço. A chef Mara Salles, do restaurante Tordesilhas, usa o mangarito há três anos e já preparou um menu inteiro com o ingrediente. Entusiasmada em tirar dele o melhor, faz questão de limpar um a um. Depois os mangaritos são cozidos e descascados. E podem ser comidos assim ou passados na manteiga. ?Também são ótima companhia para assados, frangos ensopados e carnes de panela?, ensina Mara, que também faz nhoque de mangarito. ?Mas a receita que mais surpreendeu meus clientes foi a do ceviche de peixe branco com pimentas amazônicas e mangaritos em melado de cana?, conta a chef. Embora hoje seja um ingrediente mais encontrado em plantios próprios, no fundo do quintal, o mangarito, muito parecido com um inhame, já foi muito popular. Antigamente, principalmente nas áreas rurais, era comum o seu consumo no café da manhã. Porém, ao longo dos anos ele foi sumindo do mercado, a ponto de hoje só poder ser comprado por encomenda, com os poucos produtores que ainda insistem em plantá-lo, tentando evitar sua extinção. ?Há 50 anos era comum encontrar o mangarito na feira?, afirma um dos poucos produtores do tubérculo João Lino. Lino conta que começou a produzir o mangarito em 2001, quando encontrou o tubérculo em uma feira na cidade mineira de Uberlândia. ?Eu não acreditei, fazia décadas que eu não me deparava com o mangarito?, diz. Desde então ele passou a produzir e hoje recebe pedidos e envia pequenas quantidades (de 5 a 50 quilos) de mangarito para todas regiões do País. ?Já enviei até para os EUA e Europa?, afirma. Atualmente a produção de Lino é pequena. Ao todo, ele diz que consegue colher por ano cerca de 500 quilos do produto, que é cultivado em sítios nos municípios de Embu Guaçu, Sarapuí e São José dos Campos. ?Já cheguei a colher mais de 2 toneladas, em safras melhores.? O produtor diz incentivar as pessoas a plantar os rizomas para evitar a extinção da planta. ?Eu costumo brincar com quem me liga para fazer pedidos dizendo que eu não vendo para comerem, mas sim para plantarem?, comenta. Porém, poucos são os que conseguem com sucesso produzir o mangarito. Segundo Lino porque o cultivo é trabalhoso. ?É uma planta que gosta de regiões de baixada e de terra fofa, com boa adubação e irrigada com cuidado, pois não vai bem em terra encharcada. Além disso, a colheita é delicada. Se ele for colhido úmido apodrece muito rapidamente?. Para o coordenador técnico da área de hortaliças da Emater-MG, Georgeton Silveira a questão comercial é a principal responsável pela queda drástica do cultivo do mangarito. ?Ao longo dos anos os produtores foram optando por hortaliças de propagação mais fácil, mais produtivas e que são consequentemente mais lucrativas?, analisa. Silveira conta que há dois anos a Emater-MG, em parceria com a Embrapa, deu início, em Sete Lagoas (MG), a um trabalho de preservação de diversas espécies de hortaliças não convencionais. Além do mangarito, estão sendo propagadas em hortas a araruta, o inhame, o jambu, entre outros. ?Criamos bancos de multiplicação e em breve teremos material suficiente para distribuir paras as comunidades locais que tiverem interesse em cultivar essas plantas.? Silveira ressalta a importância de se fazer esse resgate já que a variedade de alimentos produzidos comercialmente vem diminuindo muito e influenciando os hábitos alimentares das pessoas. ?Nossa intenção é resgatar a visibilidade dessas plantas, que têm potencial para serem exploradas comericalmente se passarem por um processo de melhoramento.? Colaborou Lucinéia Nunes