Um dos virais mais recentes da internet tem envolvido uma polêmica em torno da cerveja e do seu consumo por mulheres. Uma influenciadora digital que usa as redes sociais para falar sobre comportamento e etiqueta recentemente fez uma declaração, alegando que o ato de beber cerveja não é elegante: “Beber cerveja jamais será elegante. Jamais. Ainda que se trate de uma cerveja cara, jamais será elegante, tanto para o homem quanto para a mulher. Para mulher é ainda pior, você sabe disso…”, disse em um vídeo.
Essa fala que atribui um peso muito maior às mulheres infelizmente sintetiza um pensamento antigo, oriundo da discriminação de gênero, e se estende às situações que vão além do consumo, atingindo profissionais do setor cervejeiro.
Julia Reis, mestre-cervejeira e professora, relata um pouco de como esse pensamento misógino se reflete em seu cotidiano laboral: “É algo estrutural. A gente é questionada o tempo todo. Perdi a conta de quantas vezes entrei em sala para dar aula e um aluno, quando não uma aluna, me perguntou quem seria o professor”.
Julia ainda considera que determinados avanços, como a desvinculação do produto com propagandas que hipersexualizavam mulheres, por exemplo, ainda não resolvem definitivamente todas as mazelas que envolvem o ramo: “O setor precisa prestar mais atenção nisso, é preciso mudar a cultura. Não adianta só parar de mostrar o peito e bunda da mulher nos comerciais de cerveja [...] Quando levanto a voz para chamar a atenção para essas questões, sou ‘apenas’ tachada de brava ou nervosa. Fico pensando como reagiriam se fosse uma mulher preta falando”, pondera.
Danielle Nagase, na matéria ‘Mulheres elegantes não só bebem como também produzem e entendem de cerveja’, traz relatos de outras mulheres que operam no setor cervejeiro apontando para a qualidade, a força e, contrariando as más línguas, a elegância de seus trabalhos. Leia na íntegra aqui.