Arimbá: o caminho da roça no meio de São Paulo


Casa de Angelita Gonzaga renova a fé em coisas humanas e simples

Por José Orenstein

Entre uma e outra ida ao restaurante Arimbá, em Perdizes, me assombrava a noção de que a vida virou um breve intervalo entre o Whatsapp e o Facebook, com pausas para Instagram, Twitter, e-mail etc. É rota sem volta, pensava, não vai sobrar fiapo de coisa real, smartphones cada vez mais smart vão ganhar feições humanas. Robôs vão vigiar o mundo. Minha tecnoparanoia, porém, não resistiu a umas lufadas de fumaça de lenha queimando, goles de caipirinha de limão-cravo e dentadas num pastel de angu.

Bons restaurantes, como o Arimbá, renovam a fé nas coisas humanas e simples. Autômato nenhum vai sacar o que é entrar numa casa de madeira aconchegante e sentir que se está num restaurante com alma – e, melhor, uma alma caipira. A comida, boa e de verdade, é uma resistência. O Arimbá resiste.

Fogão a lenha, jarros de cachaça e pastéis de angu para começar a prosa Foto: ALEX SILVA| ESTADÃO
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Visitar o restaurante é fazer uma viagem para o interior do Brasil, que começa por andar pelas ruas pacatas de Perdizes. Lá dentro, veem-se jarrões de cachaça curtindo, um fogão a lenha e um cardápio convidativo. A vontade é pedir tudo da seção “caipirices para começar”: o caldinho de feijão-manteiga, a banana-da-terra na brasa, as linguiças e os embutidos. Provei as bem-feitas frituras, como o pastel de angu com carne, o bolinho de farinha de milho e galinha, o de arroz com palmito. E uma das grandes, porque absolutamente simples, ideias da comida caipira: milho assado na brasa, que aqui vem com leve manteiga de ervas por cima. (Quando eu tiver um robô, ele vai assar milho para mim todos os dias.)

Sobre o mesmo fogo que vai o milho vai o rojão. É um varão de madeira de grosso calibre, onde é espetada carne moída e temperada de porco. Ótima descoberta da chef Angelita Gonzaga, vem de fornecedores de Ribeirão Grande, interior de São Paulo. O espeto, que é uma entrada, mas também é servido como prato principal, recebe o calor do fogo e chega bronzeado à mesa com vinagrete, farofa e ótimo molho de maracujá e pimenta.

Há, então, seis opções de “rancharias”, os principais. São quatro variações de cozidos de costela, peito bovino e galinha (este com fubá, e o de menos sabor do conjunto), e duas carnes, bisteca de copa lombo e chuleta bovina, feitas no arado – disco de ferro com que se ara a terra e que vira uma chapa para cozinhar em fazendas Brasil afora.

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‘Cafta caipira’ é de carne de porco e pode ser entrada ou prato principal Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Quatro ricos arrozes, como o precioso carreteiro, com charque de Bagé e banana-da-terra, e um encorpado feijão tropeiro acompanham os principais e fecham o grosso do cardápio salgado.

Os doces vão também pela trilha do simples e saboroso: pudim de milho com canela, churros de milho com doce de leite, canjica branca com creme de café. E o café, propriamente, que vem de Andradas, Minas Gerais, é passado na mesa, em xicrinhas de ágata e coador de pano.

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A viagem ao Arimbá recompensa, acolhe, a comida é despretensiosa, mas não descuidada, os preços são honestos. Só não é totalmente feliz o programa porque os pratos podem demorar quando a casa está mais cheia no fim de semana. E porque uma televisão permanece ligada o tempo inteiro, no National Geographic. Ah, e uma trilha sonora com modas de viola cairia bem em vez de Seu Jorge, Renato Russo, Marina Lima e afins.

A chef Angelita Gonzaga Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Caipira capixaba

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O restaurante Arimbá foi inaugurado em setembro de 2015. É da chef autodidata Angelita Gonzaga, capixaba que estava à frente da cozinha do Garimpos do Interior, na Vila Romana, onde já explorava o repertório da cozinha caipira.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

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O rojão. Cafta caipira é uma boa forma de descrever o saboroso espeto de carne.

O tropeiro, de feijão guandu, bacon, linguiça, couve, ovo, farinha de milho – acompanhamento com força de principal.

Pastel de angu. A massa de fubá de moinho d'água é leve, envelope ideal para carne ou queijo.

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EVITE

O carijó, um frango guisado com bom ponto de cozimento, mas sem sabor.

Ir no meio da tarde, no fim de semana. A espera pode ser longa (mas uma cachaça pode ajudar).

Churros de milho servido com doce de leite e doce de rapadura Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Estilo de cozinha: Brasileira, caipira e interiorana.

Bom para: Uma tarde preguiçosa, em mesa grande para dividir tudo com amigos ou família. 

Acústica: A madeira que recobre as paredes abafa bem o ruído. Mas a música é mais para alta. O clima descontraído aumenta o volume das conversas.

Vinho: Apenas um produtor na carta, a brasileira Casa Valduga, com dois espumantes, um branco e cinco tintos, entre R$ 48 e R$ 84. (O forte da casa é cachaça!). Taxa de rolha: R$ 30.

Cerveja: Quatro boas especiais brasileiras, como a Capitu (R$ 23,60, 600 ml), ao lado de outras convencionais (Original, Brahma e Serra Malte, de R$ 10,50 a R$ 13,50).

Água e café: Garrafinhas a R$ 3,90 – a água filtrada da casa parece mesmo que não pegou em São Paulo. Café só coado, ótimo (R$ 4,50).

Preços: Entradas e petiscos, de R$ 6,50 a R$ 44,90; pratos e acompanhamentos, de R$ 39,50 a R$ 46,50; sobremesas (de R$ 15,50 a R$ 16,50).

Vou voltar? Sim, com amigos gringos e brasileiros que queiram conhecer e rever a comida caipira.

SERVIÇO - ARIMBÁ  R. Ministro Ferreira Alves, 464-b, Perdizes. Tel.: 3477-7063. Horário de funcionamento: 12h/16h (sex. e sáb., 12h/23h; dom., 12h/ 18h; fecha seg.). Não tem bicicletário. Ciclorrota na própria rua (ciclovia na Av. Sumaré, a 1 km). Não tem valet.

>>Veja a íntegra da edição de 21/1/2016

Entre uma e outra ida ao restaurante Arimbá, em Perdizes, me assombrava a noção de que a vida virou um breve intervalo entre o Whatsapp e o Facebook, com pausas para Instagram, Twitter, e-mail etc. É rota sem volta, pensava, não vai sobrar fiapo de coisa real, smartphones cada vez mais smart vão ganhar feições humanas. Robôs vão vigiar o mundo. Minha tecnoparanoia, porém, não resistiu a umas lufadas de fumaça de lenha queimando, goles de caipirinha de limão-cravo e dentadas num pastel de angu.

Bons restaurantes, como o Arimbá, renovam a fé nas coisas humanas e simples. Autômato nenhum vai sacar o que é entrar numa casa de madeira aconchegante e sentir que se está num restaurante com alma – e, melhor, uma alma caipira. A comida, boa e de verdade, é uma resistência. O Arimbá resiste.

Fogão a lenha, jarros de cachaça e pastéis de angu para começar a prosa Foto: ALEX SILVA| ESTADÃO

Visitar o restaurante é fazer uma viagem para o interior do Brasil, que começa por andar pelas ruas pacatas de Perdizes. Lá dentro, veem-se jarrões de cachaça curtindo, um fogão a lenha e um cardápio convidativo. A vontade é pedir tudo da seção “caipirices para começar”: o caldinho de feijão-manteiga, a banana-da-terra na brasa, as linguiças e os embutidos. Provei as bem-feitas frituras, como o pastel de angu com carne, o bolinho de farinha de milho e galinha, o de arroz com palmito. E uma das grandes, porque absolutamente simples, ideias da comida caipira: milho assado na brasa, que aqui vem com leve manteiga de ervas por cima. (Quando eu tiver um robô, ele vai assar milho para mim todos os dias.)

Sobre o mesmo fogo que vai o milho vai o rojão. É um varão de madeira de grosso calibre, onde é espetada carne moída e temperada de porco. Ótima descoberta da chef Angelita Gonzaga, vem de fornecedores de Ribeirão Grande, interior de São Paulo. O espeto, que é uma entrada, mas também é servido como prato principal, recebe o calor do fogo e chega bronzeado à mesa com vinagrete, farofa e ótimo molho de maracujá e pimenta.

Há, então, seis opções de “rancharias”, os principais. São quatro variações de cozidos de costela, peito bovino e galinha (este com fubá, e o de menos sabor do conjunto), e duas carnes, bisteca de copa lombo e chuleta bovina, feitas no arado – disco de ferro com que se ara a terra e que vira uma chapa para cozinhar em fazendas Brasil afora.

‘Cafta caipira’ é de carne de porco e pode ser entrada ou prato principal Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Quatro ricos arrozes, como o precioso carreteiro, com charque de Bagé e banana-da-terra, e um encorpado feijão tropeiro acompanham os principais e fecham o grosso do cardápio salgado.

Os doces vão também pela trilha do simples e saboroso: pudim de milho com canela, churros de milho com doce de leite, canjica branca com creme de café. E o café, propriamente, que vem de Andradas, Minas Gerais, é passado na mesa, em xicrinhas de ágata e coador de pano.

A viagem ao Arimbá recompensa, acolhe, a comida é despretensiosa, mas não descuidada, os preços são honestos. Só não é totalmente feliz o programa porque os pratos podem demorar quando a casa está mais cheia no fim de semana. E porque uma televisão permanece ligada o tempo inteiro, no National Geographic. Ah, e uma trilha sonora com modas de viola cairia bem em vez de Seu Jorge, Renato Russo, Marina Lima e afins.

A chef Angelita Gonzaga Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Caipira capixaba

O restaurante Arimbá foi inaugurado em setembro de 2015. É da chef autodidata Angelita Gonzaga, capixaba que estava à frente da cozinha do Garimpos do Interior, na Vila Romana, onde já explorava o repertório da cozinha caipira.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

O rojão. Cafta caipira é uma boa forma de descrever o saboroso espeto de carne.

O tropeiro, de feijão guandu, bacon, linguiça, couve, ovo, farinha de milho – acompanhamento com força de principal.

Pastel de angu. A massa de fubá de moinho d'água é leve, envelope ideal para carne ou queijo.

EVITE

O carijó, um frango guisado com bom ponto de cozimento, mas sem sabor.

Ir no meio da tarde, no fim de semana. A espera pode ser longa (mas uma cachaça pode ajudar).

Churros de milho servido com doce de leite e doce de rapadura Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Estilo de cozinha: Brasileira, caipira e interiorana.

Bom para: Uma tarde preguiçosa, em mesa grande para dividir tudo com amigos ou família. 

Acústica: A madeira que recobre as paredes abafa bem o ruído. Mas a música é mais para alta. O clima descontraído aumenta o volume das conversas.

Vinho: Apenas um produtor na carta, a brasileira Casa Valduga, com dois espumantes, um branco e cinco tintos, entre R$ 48 e R$ 84. (O forte da casa é cachaça!). Taxa de rolha: R$ 30.

Cerveja: Quatro boas especiais brasileiras, como a Capitu (R$ 23,60, 600 ml), ao lado de outras convencionais (Original, Brahma e Serra Malte, de R$ 10,50 a R$ 13,50).

Água e café: Garrafinhas a R$ 3,90 – a água filtrada da casa parece mesmo que não pegou em São Paulo. Café só coado, ótimo (R$ 4,50).

Preços: Entradas e petiscos, de R$ 6,50 a R$ 44,90; pratos e acompanhamentos, de R$ 39,50 a R$ 46,50; sobremesas (de R$ 15,50 a R$ 16,50).

Vou voltar? Sim, com amigos gringos e brasileiros que queiram conhecer e rever a comida caipira.

SERVIÇO - ARIMBÁ  R. Ministro Ferreira Alves, 464-b, Perdizes. Tel.: 3477-7063. Horário de funcionamento: 12h/16h (sex. e sáb., 12h/23h; dom., 12h/ 18h; fecha seg.). Não tem bicicletário. Ciclorrota na própria rua (ciclovia na Av. Sumaré, a 1 km). Não tem valet.

>>Veja a íntegra da edição de 21/1/2016

Entre uma e outra ida ao restaurante Arimbá, em Perdizes, me assombrava a noção de que a vida virou um breve intervalo entre o Whatsapp e o Facebook, com pausas para Instagram, Twitter, e-mail etc. É rota sem volta, pensava, não vai sobrar fiapo de coisa real, smartphones cada vez mais smart vão ganhar feições humanas. Robôs vão vigiar o mundo. Minha tecnoparanoia, porém, não resistiu a umas lufadas de fumaça de lenha queimando, goles de caipirinha de limão-cravo e dentadas num pastel de angu.

Bons restaurantes, como o Arimbá, renovam a fé nas coisas humanas e simples. Autômato nenhum vai sacar o que é entrar numa casa de madeira aconchegante e sentir que se está num restaurante com alma – e, melhor, uma alma caipira. A comida, boa e de verdade, é uma resistência. O Arimbá resiste.

Fogão a lenha, jarros de cachaça e pastéis de angu para começar a prosa Foto: ALEX SILVA| ESTADÃO

Visitar o restaurante é fazer uma viagem para o interior do Brasil, que começa por andar pelas ruas pacatas de Perdizes. Lá dentro, veem-se jarrões de cachaça curtindo, um fogão a lenha e um cardápio convidativo. A vontade é pedir tudo da seção “caipirices para começar”: o caldinho de feijão-manteiga, a banana-da-terra na brasa, as linguiças e os embutidos. Provei as bem-feitas frituras, como o pastel de angu com carne, o bolinho de farinha de milho e galinha, o de arroz com palmito. E uma das grandes, porque absolutamente simples, ideias da comida caipira: milho assado na brasa, que aqui vem com leve manteiga de ervas por cima. (Quando eu tiver um robô, ele vai assar milho para mim todos os dias.)

Sobre o mesmo fogo que vai o milho vai o rojão. É um varão de madeira de grosso calibre, onde é espetada carne moída e temperada de porco. Ótima descoberta da chef Angelita Gonzaga, vem de fornecedores de Ribeirão Grande, interior de São Paulo. O espeto, que é uma entrada, mas também é servido como prato principal, recebe o calor do fogo e chega bronzeado à mesa com vinagrete, farofa e ótimo molho de maracujá e pimenta.

Há, então, seis opções de “rancharias”, os principais. São quatro variações de cozidos de costela, peito bovino e galinha (este com fubá, e o de menos sabor do conjunto), e duas carnes, bisteca de copa lombo e chuleta bovina, feitas no arado – disco de ferro com que se ara a terra e que vira uma chapa para cozinhar em fazendas Brasil afora.

‘Cafta caipira’ é de carne de porco e pode ser entrada ou prato principal Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Quatro ricos arrozes, como o precioso carreteiro, com charque de Bagé e banana-da-terra, e um encorpado feijão tropeiro acompanham os principais e fecham o grosso do cardápio salgado.

Os doces vão também pela trilha do simples e saboroso: pudim de milho com canela, churros de milho com doce de leite, canjica branca com creme de café. E o café, propriamente, que vem de Andradas, Minas Gerais, é passado na mesa, em xicrinhas de ágata e coador de pano.

A viagem ao Arimbá recompensa, acolhe, a comida é despretensiosa, mas não descuidada, os preços são honestos. Só não é totalmente feliz o programa porque os pratos podem demorar quando a casa está mais cheia no fim de semana. E porque uma televisão permanece ligada o tempo inteiro, no National Geographic. Ah, e uma trilha sonora com modas de viola cairia bem em vez de Seu Jorge, Renato Russo, Marina Lima e afins.

A chef Angelita Gonzaga Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Caipira capixaba

O restaurante Arimbá foi inaugurado em setembro de 2015. É da chef autodidata Angelita Gonzaga, capixaba que estava à frente da cozinha do Garimpos do Interior, na Vila Romana, onde já explorava o repertório da cozinha caipira.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

O rojão. Cafta caipira é uma boa forma de descrever o saboroso espeto de carne.

O tropeiro, de feijão guandu, bacon, linguiça, couve, ovo, farinha de milho – acompanhamento com força de principal.

Pastel de angu. A massa de fubá de moinho d'água é leve, envelope ideal para carne ou queijo.

EVITE

O carijó, um frango guisado com bom ponto de cozimento, mas sem sabor.

Ir no meio da tarde, no fim de semana. A espera pode ser longa (mas uma cachaça pode ajudar).

Churros de milho servido com doce de leite e doce de rapadura Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Estilo de cozinha: Brasileira, caipira e interiorana.

Bom para: Uma tarde preguiçosa, em mesa grande para dividir tudo com amigos ou família. 

Acústica: A madeira que recobre as paredes abafa bem o ruído. Mas a música é mais para alta. O clima descontraído aumenta o volume das conversas.

Vinho: Apenas um produtor na carta, a brasileira Casa Valduga, com dois espumantes, um branco e cinco tintos, entre R$ 48 e R$ 84. (O forte da casa é cachaça!). Taxa de rolha: R$ 30.

Cerveja: Quatro boas especiais brasileiras, como a Capitu (R$ 23,60, 600 ml), ao lado de outras convencionais (Original, Brahma e Serra Malte, de R$ 10,50 a R$ 13,50).

Água e café: Garrafinhas a R$ 3,90 – a água filtrada da casa parece mesmo que não pegou em São Paulo. Café só coado, ótimo (R$ 4,50).

Preços: Entradas e petiscos, de R$ 6,50 a R$ 44,90; pratos e acompanhamentos, de R$ 39,50 a R$ 46,50; sobremesas (de R$ 15,50 a R$ 16,50).

Vou voltar? Sim, com amigos gringos e brasileiros que queiram conhecer e rever a comida caipira.

SERVIÇO - ARIMBÁ  R. Ministro Ferreira Alves, 464-b, Perdizes. Tel.: 3477-7063. Horário de funcionamento: 12h/16h (sex. e sáb., 12h/23h; dom., 12h/ 18h; fecha seg.). Não tem bicicletário. Ciclorrota na própria rua (ciclovia na Av. Sumaré, a 1 km). Não tem valet.

>>Veja a íntegra da edição de 21/1/2016

Entre uma e outra ida ao restaurante Arimbá, em Perdizes, me assombrava a noção de que a vida virou um breve intervalo entre o Whatsapp e o Facebook, com pausas para Instagram, Twitter, e-mail etc. É rota sem volta, pensava, não vai sobrar fiapo de coisa real, smartphones cada vez mais smart vão ganhar feições humanas. Robôs vão vigiar o mundo. Minha tecnoparanoia, porém, não resistiu a umas lufadas de fumaça de lenha queimando, goles de caipirinha de limão-cravo e dentadas num pastel de angu.

Bons restaurantes, como o Arimbá, renovam a fé nas coisas humanas e simples. Autômato nenhum vai sacar o que é entrar numa casa de madeira aconchegante e sentir que se está num restaurante com alma – e, melhor, uma alma caipira. A comida, boa e de verdade, é uma resistência. O Arimbá resiste.

Fogão a lenha, jarros de cachaça e pastéis de angu para começar a prosa Foto: ALEX SILVA| ESTADÃO

Visitar o restaurante é fazer uma viagem para o interior do Brasil, que começa por andar pelas ruas pacatas de Perdizes. Lá dentro, veem-se jarrões de cachaça curtindo, um fogão a lenha e um cardápio convidativo. A vontade é pedir tudo da seção “caipirices para começar”: o caldinho de feijão-manteiga, a banana-da-terra na brasa, as linguiças e os embutidos. Provei as bem-feitas frituras, como o pastel de angu com carne, o bolinho de farinha de milho e galinha, o de arroz com palmito. E uma das grandes, porque absolutamente simples, ideias da comida caipira: milho assado na brasa, que aqui vem com leve manteiga de ervas por cima. (Quando eu tiver um robô, ele vai assar milho para mim todos os dias.)

Sobre o mesmo fogo que vai o milho vai o rojão. É um varão de madeira de grosso calibre, onde é espetada carne moída e temperada de porco. Ótima descoberta da chef Angelita Gonzaga, vem de fornecedores de Ribeirão Grande, interior de São Paulo. O espeto, que é uma entrada, mas também é servido como prato principal, recebe o calor do fogo e chega bronzeado à mesa com vinagrete, farofa e ótimo molho de maracujá e pimenta.

Há, então, seis opções de “rancharias”, os principais. São quatro variações de cozidos de costela, peito bovino e galinha (este com fubá, e o de menos sabor do conjunto), e duas carnes, bisteca de copa lombo e chuleta bovina, feitas no arado – disco de ferro com que se ara a terra e que vira uma chapa para cozinhar em fazendas Brasil afora.

‘Cafta caipira’ é de carne de porco e pode ser entrada ou prato principal Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Quatro ricos arrozes, como o precioso carreteiro, com charque de Bagé e banana-da-terra, e um encorpado feijão tropeiro acompanham os principais e fecham o grosso do cardápio salgado.

Os doces vão também pela trilha do simples e saboroso: pudim de milho com canela, churros de milho com doce de leite, canjica branca com creme de café. E o café, propriamente, que vem de Andradas, Minas Gerais, é passado na mesa, em xicrinhas de ágata e coador de pano.

A viagem ao Arimbá recompensa, acolhe, a comida é despretensiosa, mas não descuidada, os preços são honestos. Só não é totalmente feliz o programa porque os pratos podem demorar quando a casa está mais cheia no fim de semana. E porque uma televisão permanece ligada o tempo inteiro, no National Geographic. Ah, e uma trilha sonora com modas de viola cairia bem em vez de Seu Jorge, Renato Russo, Marina Lima e afins.

A chef Angelita Gonzaga Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Caipira capixaba

O restaurante Arimbá foi inaugurado em setembro de 2015. É da chef autodidata Angelita Gonzaga, capixaba que estava à frente da cozinha do Garimpos do Interior, na Vila Romana, onde já explorava o repertório da cozinha caipira.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

O rojão. Cafta caipira é uma boa forma de descrever o saboroso espeto de carne.

O tropeiro, de feijão guandu, bacon, linguiça, couve, ovo, farinha de milho – acompanhamento com força de principal.

Pastel de angu. A massa de fubá de moinho d'água é leve, envelope ideal para carne ou queijo.

EVITE

O carijó, um frango guisado com bom ponto de cozimento, mas sem sabor.

Ir no meio da tarde, no fim de semana. A espera pode ser longa (mas uma cachaça pode ajudar).

Churros de milho servido com doce de leite e doce de rapadura Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Estilo de cozinha: Brasileira, caipira e interiorana.

Bom para: Uma tarde preguiçosa, em mesa grande para dividir tudo com amigos ou família. 

Acústica: A madeira que recobre as paredes abafa bem o ruído. Mas a música é mais para alta. O clima descontraído aumenta o volume das conversas.

Vinho: Apenas um produtor na carta, a brasileira Casa Valduga, com dois espumantes, um branco e cinco tintos, entre R$ 48 e R$ 84. (O forte da casa é cachaça!). Taxa de rolha: R$ 30.

Cerveja: Quatro boas especiais brasileiras, como a Capitu (R$ 23,60, 600 ml), ao lado de outras convencionais (Original, Brahma e Serra Malte, de R$ 10,50 a R$ 13,50).

Água e café: Garrafinhas a R$ 3,90 – a água filtrada da casa parece mesmo que não pegou em São Paulo. Café só coado, ótimo (R$ 4,50).

Preços: Entradas e petiscos, de R$ 6,50 a R$ 44,90; pratos e acompanhamentos, de R$ 39,50 a R$ 46,50; sobremesas (de R$ 15,50 a R$ 16,50).

Vou voltar? Sim, com amigos gringos e brasileiros que queiram conhecer e rever a comida caipira.

SERVIÇO - ARIMBÁ  R. Ministro Ferreira Alves, 464-b, Perdizes. Tel.: 3477-7063. Horário de funcionamento: 12h/16h (sex. e sáb., 12h/23h; dom., 12h/ 18h; fecha seg.). Não tem bicicletário. Ciclorrota na própria rua (ciclovia na Av. Sumaré, a 1 km). Não tem valet.

>>Veja a íntegra da edição de 21/1/2016

Entre uma e outra ida ao restaurante Arimbá, em Perdizes, me assombrava a noção de que a vida virou um breve intervalo entre o Whatsapp e o Facebook, com pausas para Instagram, Twitter, e-mail etc. É rota sem volta, pensava, não vai sobrar fiapo de coisa real, smartphones cada vez mais smart vão ganhar feições humanas. Robôs vão vigiar o mundo. Minha tecnoparanoia, porém, não resistiu a umas lufadas de fumaça de lenha queimando, goles de caipirinha de limão-cravo e dentadas num pastel de angu.

Bons restaurantes, como o Arimbá, renovam a fé nas coisas humanas e simples. Autômato nenhum vai sacar o que é entrar numa casa de madeira aconchegante e sentir que se está num restaurante com alma – e, melhor, uma alma caipira. A comida, boa e de verdade, é uma resistência. O Arimbá resiste.

Fogão a lenha, jarros de cachaça e pastéis de angu para começar a prosa Foto: ALEX SILVA| ESTADÃO

Visitar o restaurante é fazer uma viagem para o interior do Brasil, que começa por andar pelas ruas pacatas de Perdizes. Lá dentro, veem-se jarrões de cachaça curtindo, um fogão a lenha e um cardápio convidativo. A vontade é pedir tudo da seção “caipirices para começar”: o caldinho de feijão-manteiga, a banana-da-terra na brasa, as linguiças e os embutidos. Provei as bem-feitas frituras, como o pastel de angu com carne, o bolinho de farinha de milho e galinha, o de arroz com palmito. E uma das grandes, porque absolutamente simples, ideias da comida caipira: milho assado na brasa, que aqui vem com leve manteiga de ervas por cima. (Quando eu tiver um robô, ele vai assar milho para mim todos os dias.)

Sobre o mesmo fogo que vai o milho vai o rojão. É um varão de madeira de grosso calibre, onde é espetada carne moída e temperada de porco. Ótima descoberta da chef Angelita Gonzaga, vem de fornecedores de Ribeirão Grande, interior de São Paulo. O espeto, que é uma entrada, mas também é servido como prato principal, recebe o calor do fogo e chega bronzeado à mesa com vinagrete, farofa e ótimo molho de maracujá e pimenta.

Há, então, seis opções de “rancharias”, os principais. São quatro variações de cozidos de costela, peito bovino e galinha (este com fubá, e o de menos sabor do conjunto), e duas carnes, bisteca de copa lombo e chuleta bovina, feitas no arado – disco de ferro com que se ara a terra e que vira uma chapa para cozinhar em fazendas Brasil afora.

‘Cafta caipira’ é de carne de porco e pode ser entrada ou prato principal Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Quatro ricos arrozes, como o precioso carreteiro, com charque de Bagé e banana-da-terra, e um encorpado feijão tropeiro acompanham os principais e fecham o grosso do cardápio salgado.

Os doces vão também pela trilha do simples e saboroso: pudim de milho com canela, churros de milho com doce de leite, canjica branca com creme de café. E o café, propriamente, que vem de Andradas, Minas Gerais, é passado na mesa, em xicrinhas de ágata e coador de pano.

A viagem ao Arimbá recompensa, acolhe, a comida é despretensiosa, mas não descuidada, os preços são honestos. Só não é totalmente feliz o programa porque os pratos podem demorar quando a casa está mais cheia no fim de semana. E porque uma televisão permanece ligada o tempo inteiro, no National Geographic. Ah, e uma trilha sonora com modas de viola cairia bem em vez de Seu Jorge, Renato Russo, Marina Lima e afins.

A chef Angelita Gonzaga Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Caipira capixaba

O restaurante Arimbá foi inaugurado em setembro de 2015. É da chef autodidata Angelita Gonzaga, capixaba que estava à frente da cozinha do Garimpos do Interior, na Vila Romana, onde já explorava o repertório da cozinha caipira.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

O rojão. Cafta caipira é uma boa forma de descrever o saboroso espeto de carne.

O tropeiro, de feijão guandu, bacon, linguiça, couve, ovo, farinha de milho – acompanhamento com força de principal.

Pastel de angu. A massa de fubá de moinho d'água é leve, envelope ideal para carne ou queijo.

EVITE

O carijó, um frango guisado com bom ponto de cozimento, mas sem sabor.

Ir no meio da tarde, no fim de semana. A espera pode ser longa (mas uma cachaça pode ajudar).

Churros de milho servido com doce de leite e doce de rapadura Foto: ALEX SILVA|ESTADÃO

Estilo de cozinha: Brasileira, caipira e interiorana.

Bom para: Uma tarde preguiçosa, em mesa grande para dividir tudo com amigos ou família. 

Acústica: A madeira que recobre as paredes abafa bem o ruído. Mas a música é mais para alta. O clima descontraído aumenta o volume das conversas.

Vinho: Apenas um produtor na carta, a brasileira Casa Valduga, com dois espumantes, um branco e cinco tintos, entre R$ 48 e R$ 84. (O forte da casa é cachaça!). Taxa de rolha: R$ 30.

Cerveja: Quatro boas especiais brasileiras, como a Capitu (R$ 23,60, 600 ml), ao lado de outras convencionais (Original, Brahma e Serra Malte, de R$ 10,50 a R$ 13,50).

Água e café: Garrafinhas a R$ 3,90 – a água filtrada da casa parece mesmo que não pegou em São Paulo. Café só coado, ótimo (R$ 4,50).

Preços: Entradas e petiscos, de R$ 6,50 a R$ 44,90; pratos e acompanhamentos, de R$ 39,50 a R$ 46,50; sobremesas (de R$ 15,50 a R$ 16,50).

Vou voltar? Sim, com amigos gringos e brasileiros que queiram conhecer e rever a comida caipira.

SERVIÇO - ARIMBÁ  R. Ministro Ferreira Alves, 464-b, Perdizes. Tel.: 3477-7063. Horário de funcionamento: 12h/16h (sex. e sáb., 12h/23h; dom., 12h/ 18h; fecha seg.). Não tem bicicletário. Ciclorrota na própria rua (ciclovia na Av. Sumaré, a 1 km). Não tem valet.

>>Veja a íntegra da edição de 21/1/2016

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