Cardápio em QR Code? Nada disso: restaurantes resistem com menus físicos


Para alguns donos de restaurantes, o menu em papel é ato de resistência e pode voltar após cansaço do mundo digital

Por Matheus Mans
Gabriela Barreto aposta em cardápio físico no Chou, com prancheta e papel Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Desde a pandemia de covid-19, virou rotina ver pessoas apontando seus celulares em busca de QR Codes nas mesas de restaurantes -- aquele código que te leva para um cardápio digital. Com ele, não só os restaurantes viram uma oportunidade de reduzir gastos, como também foi uma medida para evitar a contaminação com o cardápio físico. Mas, passados quase três anos de pandemia, os consumidores começam a sentir falta do papel.

Nas redes sociais, é comum ver clientes reclamando dessa moda de restaurantes que só contam com QR Code. Um tuíte pedindo para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva acabar com os cardápios digitais já tem mais de 50 mil curtidas. Nas respostas ao comentário, usuários do Twitter debatem: alguns dizem que é uma tecnologia que veio pra ficar, outro diz que deixou de ir em restaurantes já que seu celular não lê QR Codes. 

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O fato é que, enquanto isso, alguns restaurantes batem o pé e voltam de vez para cardápios físicos -- daquele que dá pra pegar na mão, sentir e folhear. No Chou, por exemplo, Gabriela Barreto não oferece cardápios digitais. Para ela, que é formada em letras, o menu físico tem uma importância ímpar: descrever os pratos, pra que eles “soem” apetitosos. O menu digital, para Gabriela, perde um pouco da graça e encantamento.

“Nosso cardápio tem o formato físico mais ou menos igual há quase 15 anos. É uma prancheta com folhas. Sempre foi importante ter um modelo para imprimirmos na casa, já que temos um cardápio que entra e sai coisas com frequência. Até pela coisa da estação, de trabalhar com coisas frescas. Não tem beterraba? Tira”, explica Gabriela ao Paladar. “Além disso, quando você tá com o celular na mão, você se distrai. Aparece mensagem e você já sai do cardápio. Não tem foco. Isso, no Chou, é algo que influencia na experiência”.

Um cardápio para contar histórias

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Outro restaurante que aposta no cardápio físico é o Shuk, que serve comida de rua do Oriente Médio. “A gente tem cardápio com QR Code, mas odiamos. A gente esconde”, diz Mauro Brosso, designer e um dos sócios da casa. Segundo ele, o cardápio foi uma peça essencial na comunicação do restaurante no início da casa, quando se propuseram a servir essa comida que é bem diferente do que é visto nos restaurantes de gastronomia árabe. 

“A forma como organizamos as categorias no cardápio explica o motivo da gente ter pensando nesse nosso conceito. Isso não é possível com o cardápio digital”, explica o sócio do restaurante. “É um momento de leitura diferente do celular. No digital, você não tem um ponto de foco. Se quiser ver as bebidas, vai direto pra lá, depois precisa rolar de volta para ver os pratos. No físico é diferente. Cardápio é função. Afinal, ele precisa guiar o cliente na experiência no restaurante, dar agilidade, tirar dúvidas. É um garçom de apoio”.

Mais do que um guia, o Shoshana Delishop, que abriu depois do começo da pandemia, vê o cardápio físico como um ponto de comunicação da casa com o consumidor. Enquanto o Chou e o Shuk apostam na simplicidade em seus menus físicos, para que o cliente faça todo o “passeio” pelo cardápio com um único olhar, o Shoshana encontra espaço para explicar a origem do bolinho de peixe ou, ainda, as diferenças no funcionamento da casa. 

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“A gente imagina o cardápio como uma paisagem onde é possível enxergar tudo de uma vez”, explica um dos sócios, Benjamin Seroussi. O Shoshana não tem e nunca terá, a depender de sua vontade, cardápio em QR Code -- não à toa, a casa nem faz delivery, já que preza pelas trocas entre as pessoas no ambiente. E Benjamin, mostrando como não gosta do digital mesmo, avisa: o celular está matando a experiência nos restaurantes. 

“Restaurante é uma experiência do corpo. Aí a pessoa entra no restaurante, senta e pega o celular? Elas estão aqui para conversar, apontar coisas no cardápio, perguntar para o garçom. Isso faz parte da experiência”, explica Benjamin. “Acho triste, de fato, as pessoas irem ao restaurante e, a primeira coisa que elas fazem, é pegar o celular. Ter um cardápio impresso quebra isso e faz com que a experiência, no geral, seja mais interessante”.

E o custo?

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Recentemente, em entrevista ao Paladar, o chef Erick Jacquin falou com orgulho de seu cardápio no Lvtetia, casa italiana que passa pelo olhar francês de Jacquin -- e apenas a alguns metros do badalado Président. Assim como tudo na casa, que foi pensada até nos mínimos detalhes pelo jurado do MasterChef, o menu foi pensado por ele, que nem sabe se tem cardápio com QR Code. “A gente tem cardápio digital? Mesmo?”, perguntou o chef, questionando o gerente da casa que estava ao seu lado. “Não sei pra que. Gosto do físico”.

Érick Jacquin e o cardápio físico do restaurante francês-italiano Lvtetia Foto: FELIPE RAU/ESTADAO

Na capa do cardápio, há uma bagunça visual divertidíssima: refletindo a proposta da casa, estão lá Asterix, Obelix e o Papa Francisco. É uma junção de dois quadros que estão na parede do Lvtetia e que também estampam o menu. “É algo que dá gasto, mas não tem como fugir. É outra experiência pegar o cardápio na mão, sentir”, diz Jacquin. “Eu mesmo, adoro ir em restaurantes e levar o cardápio pra casa. Tenho alguns expostos no Président”.

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É a mesma aposta do chef Tsuyoshi Murakami, que comanda o restaurante que leva seu sobrenome. Aqui, o cliente leva o cardápio do omakase para casa no final da experiência. “É algo que dá trabalho. Todo dia fazemos o cardápio, em um bom papel. Mas a gente acredita que é uma forma, também, de fidelizar o cliente. Ele leva pra casa, vai lembrar do dia que veio aqui. Nunca pensamos em parar com isso”, contou o chef ao Paladar.

Com isso, ainda que o cardápio físico pareça estar entrando em uma briga bem parecida que os livros travam com as edições digitais há alguns anos, os chefs seguem as ondas das redes sociais e apostam na longa vida dos menus em papel. “Não acho que vai substituir o digital, mas coexistir. O QR Code veio como uma necessidade, mas acredito que temporária. Não sei se é geracional, mas a maioria das pessoas que a gente conversa, que é do meio, gosta do cardápio impresso. Acho que o cardápio voltou pra ficar, de novo”, diz.

Mas é sempre bom se lembrar daquela expressão: “nem tanto ao mar nem tanto à terra”. Gabriela Barreto não abre exceção para o cardápio físico no Chou. Mas no Futuro Refeitório, outra casa com ela à frente dos negócios, a coisa é diferente. “Lá, você pode fazer tudo pelo celular. Ver o cardápio, escolher, pagar”, explica. “Vai muito da experiência que o restaurante quer entregar. Isso é o importante na hora de escolher seu formato”. 

Gabriela Barreto aposta em cardápio físico no Chou, com prancheta e papel Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Desde a pandemia de covid-19, virou rotina ver pessoas apontando seus celulares em busca de QR Codes nas mesas de restaurantes -- aquele código que te leva para um cardápio digital. Com ele, não só os restaurantes viram uma oportunidade de reduzir gastos, como também foi uma medida para evitar a contaminação com o cardápio físico. Mas, passados quase três anos de pandemia, os consumidores começam a sentir falta do papel.

Nas redes sociais, é comum ver clientes reclamando dessa moda de restaurantes que só contam com QR Code. Um tuíte pedindo para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva acabar com os cardápios digitais já tem mais de 50 mil curtidas. Nas respostas ao comentário, usuários do Twitter debatem: alguns dizem que é uma tecnologia que veio pra ficar, outro diz que deixou de ir em restaurantes já que seu celular não lê QR Codes. 

O fato é que, enquanto isso, alguns restaurantes batem o pé e voltam de vez para cardápios físicos -- daquele que dá pra pegar na mão, sentir e folhear. No Chou, por exemplo, Gabriela Barreto não oferece cardápios digitais. Para ela, que é formada em letras, o menu físico tem uma importância ímpar: descrever os pratos, pra que eles “soem” apetitosos. O menu digital, para Gabriela, perde um pouco da graça e encantamento.

“Nosso cardápio tem o formato físico mais ou menos igual há quase 15 anos. É uma prancheta com folhas. Sempre foi importante ter um modelo para imprimirmos na casa, já que temos um cardápio que entra e sai coisas com frequência. Até pela coisa da estação, de trabalhar com coisas frescas. Não tem beterraba? Tira”, explica Gabriela ao Paladar. “Além disso, quando você tá com o celular na mão, você se distrai. Aparece mensagem e você já sai do cardápio. Não tem foco. Isso, no Chou, é algo que influencia na experiência”.

Um cardápio para contar histórias

Outro restaurante que aposta no cardápio físico é o Shuk, que serve comida de rua do Oriente Médio. “A gente tem cardápio com QR Code, mas odiamos. A gente esconde”, diz Mauro Brosso, designer e um dos sócios da casa. Segundo ele, o cardápio foi uma peça essencial na comunicação do restaurante no início da casa, quando se propuseram a servir essa comida que é bem diferente do que é visto nos restaurantes de gastronomia árabe. 

“A forma como organizamos as categorias no cardápio explica o motivo da gente ter pensando nesse nosso conceito. Isso não é possível com o cardápio digital”, explica o sócio do restaurante. “É um momento de leitura diferente do celular. No digital, você não tem um ponto de foco. Se quiser ver as bebidas, vai direto pra lá, depois precisa rolar de volta para ver os pratos. No físico é diferente. Cardápio é função. Afinal, ele precisa guiar o cliente na experiência no restaurante, dar agilidade, tirar dúvidas. É um garçom de apoio”.

Mais do que um guia, o Shoshana Delishop, que abriu depois do começo da pandemia, vê o cardápio físico como um ponto de comunicação da casa com o consumidor. Enquanto o Chou e o Shuk apostam na simplicidade em seus menus físicos, para que o cliente faça todo o “passeio” pelo cardápio com um único olhar, o Shoshana encontra espaço para explicar a origem do bolinho de peixe ou, ainda, as diferenças no funcionamento da casa. 

“A gente imagina o cardápio como uma paisagem onde é possível enxergar tudo de uma vez”, explica um dos sócios, Benjamin Seroussi. O Shoshana não tem e nunca terá, a depender de sua vontade, cardápio em QR Code -- não à toa, a casa nem faz delivery, já que preza pelas trocas entre as pessoas no ambiente. E Benjamin, mostrando como não gosta do digital mesmo, avisa: o celular está matando a experiência nos restaurantes. 

“Restaurante é uma experiência do corpo. Aí a pessoa entra no restaurante, senta e pega o celular? Elas estão aqui para conversar, apontar coisas no cardápio, perguntar para o garçom. Isso faz parte da experiência”, explica Benjamin. “Acho triste, de fato, as pessoas irem ao restaurante e, a primeira coisa que elas fazem, é pegar o celular. Ter um cardápio impresso quebra isso e faz com que a experiência, no geral, seja mais interessante”.

E o custo?

Recentemente, em entrevista ao Paladar, o chef Erick Jacquin falou com orgulho de seu cardápio no Lvtetia, casa italiana que passa pelo olhar francês de Jacquin -- e apenas a alguns metros do badalado Président. Assim como tudo na casa, que foi pensada até nos mínimos detalhes pelo jurado do MasterChef, o menu foi pensado por ele, que nem sabe se tem cardápio com QR Code. “A gente tem cardápio digital? Mesmo?”, perguntou o chef, questionando o gerente da casa que estava ao seu lado. “Não sei pra que. Gosto do físico”.

Érick Jacquin e o cardápio físico do restaurante francês-italiano Lvtetia Foto: FELIPE RAU/ESTADAO

Na capa do cardápio, há uma bagunça visual divertidíssima: refletindo a proposta da casa, estão lá Asterix, Obelix e o Papa Francisco. É uma junção de dois quadros que estão na parede do Lvtetia e que também estampam o menu. “É algo que dá gasto, mas não tem como fugir. É outra experiência pegar o cardápio na mão, sentir”, diz Jacquin. “Eu mesmo, adoro ir em restaurantes e levar o cardápio pra casa. Tenho alguns expostos no Président”.

É a mesma aposta do chef Tsuyoshi Murakami, que comanda o restaurante que leva seu sobrenome. Aqui, o cliente leva o cardápio do omakase para casa no final da experiência. “É algo que dá trabalho. Todo dia fazemos o cardápio, em um bom papel. Mas a gente acredita que é uma forma, também, de fidelizar o cliente. Ele leva pra casa, vai lembrar do dia que veio aqui. Nunca pensamos em parar com isso”, contou o chef ao Paladar.

Com isso, ainda que o cardápio físico pareça estar entrando em uma briga bem parecida que os livros travam com as edições digitais há alguns anos, os chefs seguem as ondas das redes sociais e apostam na longa vida dos menus em papel. “Não acho que vai substituir o digital, mas coexistir. O QR Code veio como uma necessidade, mas acredito que temporária. Não sei se é geracional, mas a maioria das pessoas que a gente conversa, que é do meio, gosta do cardápio impresso. Acho que o cardápio voltou pra ficar, de novo”, diz.

Mas é sempre bom se lembrar daquela expressão: “nem tanto ao mar nem tanto à terra”. Gabriela Barreto não abre exceção para o cardápio físico no Chou. Mas no Futuro Refeitório, outra casa com ela à frente dos negócios, a coisa é diferente. “Lá, você pode fazer tudo pelo celular. Ver o cardápio, escolher, pagar”, explica. “Vai muito da experiência que o restaurante quer entregar. Isso é o importante na hora de escolher seu formato”. 

Gabriela Barreto aposta em cardápio físico no Chou, com prancheta e papel Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Desde a pandemia de covid-19, virou rotina ver pessoas apontando seus celulares em busca de QR Codes nas mesas de restaurantes -- aquele código que te leva para um cardápio digital. Com ele, não só os restaurantes viram uma oportunidade de reduzir gastos, como também foi uma medida para evitar a contaminação com o cardápio físico. Mas, passados quase três anos de pandemia, os consumidores começam a sentir falta do papel.

Nas redes sociais, é comum ver clientes reclamando dessa moda de restaurantes que só contam com QR Code. Um tuíte pedindo para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva acabar com os cardápios digitais já tem mais de 50 mil curtidas. Nas respostas ao comentário, usuários do Twitter debatem: alguns dizem que é uma tecnologia que veio pra ficar, outro diz que deixou de ir em restaurantes já que seu celular não lê QR Codes. 

O fato é que, enquanto isso, alguns restaurantes batem o pé e voltam de vez para cardápios físicos -- daquele que dá pra pegar na mão, sentir e folhear. No Chou, por exemplo, Gabriela Barreto não oferece cardápios digitais. Para ela, que é formada em letras, o menu físico tem uma importância ímpar: descrever os pratos, pra que eles “soem” apetitosos. O menu digital, para Gabriela, perde um pouco da graça e encantamento.

“Nosso cardápio tem o formato físico mais ou menos igual há quase 15 anos. É uma prancheta com folhas. Sempre foi importante ter um modelo para imprimirmos na casa, já que temos um cardápio que entra e sai coisas com frequência. Até pela coisa da estação, de trabalhar com coisas frescas. Não tem beterraba? Tira”, explica Gabriela ao Paladar. “Além disso, quando você tá com o celular na mão, você se distrai. Aparece mensagem e você já sai do cardápio. Não tem foco. Isso, no Chou, é algo que influencia na experiência”.

Um cardápio para contar histórias

Outro restaurante que aposta no cardápio físico é o Shuk, que serve comida de rua do Oriente Médio. “A gente tem cardápio com QR Code, mas odiamos. A gente esconde”, diz Mauro Brosso, designer e um dos sócios da casa. Segundo ele, o cardápio foi uma peça essencial na comunicação do restaurante no início da casa, quando se propuseram a servir essa comida que é bem diferente do que é visto nos restaurantes de gastronomia árabe. 

“A forma como organizamos as categorias no cardápio explica o motivo da gente ter pensando nesse nosso conceito. Isso não é possível com o cardápio digital”, explica o sócio do restaurante. “É um momento de leitura diferente do celular. No digital, você não tem um ponto de foco. Se quiser ver as bebidas, vai direto pra lá, depois precisa rolar de volta para ver os pratos. No físico é diferente. Cardápio é função. Afinal, ele precisa guiar o cliente na experiência no restaurante, dar agilidade, tirar dúvidas. É um garçom de apoio”.

Mais do que um guia, o Shoshana Delishop, que abriu depois do começo da pandemia, vê o cardápio físico como um ponto de comunicação da casa com o consumidor. Enquanto o Chou e o Shuk apostam na simplicidade em seus menus físicos, para que o cliente faça todo o “passeio” pelo cardápio com um único olhar, o Shoshana encontra espaço para explicar a origem do bolinho de peixe ou, ainda, as diferenças no funcionamento da casa. 

“A gente imagina o cardápio como uma paisagem onde é possível enxergar tudo de uma vez”, explica um dos sócios, Benjamin Seroussi. O Shoshana não tem e nunca terá, a depender de sua vontade, cardápio em QR Code -- não à toa, a casa nem faz delivery, já que preza pelas trocas entre as pessoas no ambiente. E Benjamin, mostrando como não gosta do digital mesmo, avisa: o celular está matando a experiência nos restaurantes. 

“Restaurante é uma experiência do corpo. Aí a pessoa entra no restaurante, senta e pega o celular? Elas estão aqui para conversar, apontar coisas no cardápio, perguntar para o garçom. Isso faz parte da experiência”, explica Benjamin. “Acho triste, de fato, as pessoas irem ao restaurante e, a primeira coisa que elas fazem, é pegar o celular. Ter um cardápio impresso quebra isso e faz com que a experiência, no geral, seja mais interessante”.

E o custo?

Recentemente, em entrevista ao Paladar, o chef Erick Jacquin falou com orgulho de seu cardápio no Lvtetia, casa italiana que passa pelo olhar francês de Jacquin -- e apenas a alguns metros do badalado Président. Assim como tudo na casa, que foi pensada até nos mínimos detalhes pelo jurado do MasterChef, o menu foi pensado por ele, que nem sabe se tem cardápio com QR Code. “A gente tem cardápio digital? Mesmo?”, perguntou o chef, questionando o gerente da casa que estava ao seu lado. “Não sei pra que. Gosto do físico”.

Érick Jacquin e o cardápio físico do restaurante francês-italiano Lvtetia Foto: FELIPE RAU/ESTADAO

Na capa do cardápio, há uma bagunça visual divertidíssima: refletindo a proposta da casa, estão lá Asterix, Obelix e o Papa Francisco. É uma junção de dois quadros que estão na parede do Lvtetia e que também estampam o menu. “É algo que dá gasto, mas não tem como fugir. É outra experiência pegar o cardápio na mão, sentir”, diz Jacquin. “Eu mesmo, adoro ir em restaurantes e levar o cardápio pra casa. Tenho alguns expostos no Président”.

É a mesma aposta do chef Tsuyoshi Murakami, que comanda o restaurante que leva seu sobrenome. Aqui, o cliente leva o cardápio do omakase para casa no final da experiência. “É algo que dá trabalho. Todo dia fazemos o cardápio, em um bom papel. Mas a gente acredita que é uma forma, também, de fidelizar o cliente. Ele leva pra casa, vai lembrar do dia que veio aqui. Nunca pensamos em parar com isso”, contou o chef ao Paladar.

Com isso, ainda que o cardápio físico pareça estar entrando em uma briga bem parecida que os livros travam com as edições digitais há alguns anos, os chefs seguem as ondas das redes sociais e apostam na longa vida dos menus em papel. “Não acho que vai substituir o digital, mas coexistir. O QR Code veio como uma necessidade, mas acredito que temporária. Não sei se é geracional, mas a maioria das pessoas que a gente conversa, que é do meio, gosta do cardápio impresso. Acho que o cardápio voltou pra ficar, de novo”, diz.

Mas é sempre bom se lembrar daquela expressão: “nem tanto ao mar nem tanto à terra”. Gabriela Barreto não abre exceção para o cardápio físico no Chou. Mas no Futuro Refeitório, outra casa com ela à frente dos negócios, a coisa é diferente. “Lá, você pode fazer tudo pelo celular. Ver o cardápio, escolher, pagar”, explica. “Vai muito da experiência que o restaurante quer entregar. Isso é o importante na hora de escolher seu formato”. 

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